sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13047: 10º aniversário do nosso blogue (22): Mensagens de parabéns (Parte I): Virgílio Valente (Macau, China), Albano Costa (Guifões, Matosinhos), Joaquim Luís Fernandes (Maceira, Leiria) e Felismina Costa (Agualva, Sintra)

1. Seleção de mensagens enviadas para a caixa do correio da Tabanca Grande ou comentários a postes anteriores (*):

(i) Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], Macau [ ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74.] [, foto atual à esquerda]

Parabéns à Tabanca Grande pelo 10.º Aniversário.

Parabéns também aos seus mentores e um grande abraço pelo trabalho que vêm fazendo.

É de facto uma Tabanca Grande onde cabem todos os que vêm por bem.

Diariamente acedo ao blogue e diariamente me culpo por ainda não ter contribuído com algo.

Mas tudo virá a seu tempo.

Daqui, de Macau, do longe Oriente, vai um abraço muito especial, neste 10.º Aniversário da Tabanca Grande, para todos os que diariamente constroem e mantém vivo este ponto de encontro.

Para todos os que passaram, viveram e sentiram a Guiné-Bissau um grande abraço.

Para os camaradas da minha CCaç 4142, que estiveram em Gampará, de 1972 a 1974, que lá viveram o 25 de Abril e o primeiro 1.º de Maio, que lá tiveram os primeiros encontros, em paz, com os camaradas do PAIGC e para aqueles que sendo da Guiné se lembram ou estiveram também nesses momentos, um grande Abraço.

Força, ainda há muito para escrever nesse blogue.

Obrigado Luís Graça e restantes Camaradas.
Virgílio Valente
Macau, China.

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(ii) Albano Costa [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74] [., foto à direita  no nosso II Encontro Nacional, Pombal, 2007]

Caros amigos

Não queria deixar passar este dia sem vos agradecer a todos o prazer que me têm dado de vos acompanhar ao longo destes anos todos.

Parece fácil mas não o é, só com pessoas empenhadas como todos os que fazem mover este blogue, desde já os meus agradecimentos, e que Deus vos dê saúde e paciência para continuarem nesta luta que tem feito muitos bem aos ex-combatentes, que os aproximou e fez com que nós todos tenhamos sacudido o pó e que ainda possamos continuar a fazer despertar as nossas mentes para mais estórias.

Um bem haja para todos,
Albano Costa

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(iii) Joaquim Luís Fernandes, Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto à direita]

Caro Luis Graça, Caros Camarigos

24 de abril de 2014; De manhã visitei o blogue e deparei-me com este Post 13030. Apressado li o poema (que já tinha lido noutro post) "Hoje tenho pena de nunca ter escrito a uma madrinha de guerra". Então, senti um tremor e comovi-me até às lágrimas. Senti o impulso de logo comentar e enviar o meu abraço fraterno e os parabéns ao Luís, mas as obrigações profissionais exigiam de mim que saísse do blogue e adiasse o comentário, como tantas vezes acontece.

Foi um dia intenso, exigente. A minha sensibilidade esteve à flor da pele, pelo poema, pelo que me fez sentir, pelo dia em que estava, no muito que me recordava e me fazia reviver em fortes emoções.

Agora já é dia 25, 40 anos depois desse outro dia 25 de abril que me apanhou na Guiné. Apetecia-me escrever muito, exteriorizar os meus sentimentos, registar os meus pensamentos e reflexões sobre esta data e o que ela encerra e me diz, neste confronto de esperanças e desilusões, de interrogações e conclusões, mas não é este o lugar apropriado e também já estou cansado, pelo que vou ser breve.

Quero dizer-te Luís, que gostei muito deste teu poema, em que dizes tanto, naquilo que sentes e expressas e de que comungo. Nesta confissão, vejo a grandeza da tua alma e o teu grande talento. Mas permite-me que te diga: Não tenhas medo do Sagrado. Ele está perto de ti. Ele está em ti e nada te rouba, apenas te engrandece e te devolve em ti, a plenitude do teu Ser.

Postal de aniversário. Autor: Miguel Pessoa
Eu também nunca tive uma madrinha de guerra, mas tinha uma namorada/noiva/mulher. Tinha deixado também a rezar por mim, mãe, pai, futura sogra, irmãs, irmãos. Escrevi e recebi centenas de cartas e aerogramas. Eles foram para mim um bálsamo. Ler e escrever era o meu momento de encontro comigo próprio, livrando-me da alienação da guerra. Momento de interiorização e de equilíbrio emocional.

Por fim quero manifestar mais uma vez o meu apreço pelo Blogue. Endereçar-te os parabéns pelo seu 10º aniversário, que torno extensivos aos camaradas co-editores a a todos os camarigos de tertúlia. Peço compreensão pela minha parca participação. Quando tiver mais tempo disponível, escreverei mais. Há muitas reflexões e vivências que gostaria de partilhar e perguntas a fazer. Há enormes hiatos na minha compreensão do que foi aquela guerra, que gostaria de esclarecer. Haja tempo para isso.

E por aqui me fico por hoje.

Um forte abraço
JLFernandes

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(iv) Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa de Agualva, Sintra

Ao seu criador Luís Graça,
Aos Editores Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro, e à tertúlia em geral.

É com muita amizade que saúdo o Décimo Aniversário da existência deste Blogue, seu criador e editores, e bem assim quantos que, com o seu testemunho, fazem com que o propósito da sua criação tenha atingido um nível tão alto e tão diverso, tal como foram as vivências aqui relatadas, suas ideias, suas convicções, suas dores, mágoas e alegrias...

Ele, é a página que relata, treze anos de vida da Juventude Portuguesa, perdida numa luta sem sentido, por terras da Guiné entre 1961/1974, e onde os participantes sobreviventes dão testemunho da sua experiência, do seu crescimento e amadurecimento, e o palco do reencontro de velhos camaradas e amigos!

Ele, o Blogue, reuniu uma grande família, que cresceu e se multiplicou nos anos de ausência, na análise do passado, do vivido e aprendido, nos valores da fraternidade que toda a vivência produz!

Aqui, eu mesma, reencontro o tempo, a ligação ao passado, a amizade coexistente num tempo em que também fui "espectadora" ausente e preocupada. Com ele, julgo, também tenho crescido um pouco na compreensão do tema uno.

Ganhei amigos que fazem parte do meu presente, que preenchem as minhas horas, que são tema das minhas referências, com quem partilho vivências, ideias, alegrias e tristezas, pois que é de tudo isso que a vida se faz!

Felicito o tempo de vida desta Página, a Grande Obra, onde se regista muito do vivido "Naquele Tempo"! 

Felicito o seu Criador na Pessoa do Dr. Luís Graça.

Felicito os seus editores, nas Pessoas de Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães Ribeiro.

Todos os seus Colaboradores, todos os que participam com o testemunho da sua vivência e da sua amizade e suas respectivas famílias. Eu, sou-vos devedora, da vossa amizade e do orgulho que sinto por tudo o que atrás refiro.

Desejo a continuação deste Diário, desta Obra-Prima de Organização e testemunho, por muitos anos, que é o relato em primeira mão de uma grande página da História dos Povos.

Bem-hajam Amigos! Obrigada!
Felismina Mealha

4 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Estive agora em Macau e telefonei ao Virgílio Valente. Combinámos encontrar-mo-nos mas acabou por não dar, o meu tempo foi curto e tinha ainda o Japão e Xangai para fazer em mais um mês de Extremo Oriente.
Mas deu para descobrir em Macau mais uns tantos camaradas da Guiné, até o Santos, cozinheiro nas LDGs de 72 a 74 e hoje dono de um dos mais famosos restaurantes de Macau,(até os homens dos Roling Stones lá estiveram em Março passado), o Santos na rua do Cunha, ilha da Taipa, e também o Afonso, com um restaurante, o Afonso III, na rua Central, em Macau.
Macau é um manancial de histórias com camaradas nossos radicados há muitos anos na cidade, a viver o bem bom (às vezes avinagrado!)das coisas de Macau, até, ainda hoje, a espingardear em bajudas chinesas, de jade e de seda.
Quando voltar a Macau, prometo um texto completo.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...



Amigo JL Fernandes

Para a Guiné levei a minha desilusão e o meu desencanto. Ja tinha passado por todas as crises existenciais sem ter resolvido alguma. Zangado com Deus que não me dava mostras da sua existência e zangado com a Pátria que me enviava para caminhos da guerra que eu não gostava de trilhar. Não tive madrinhas de guerra ou namoradas, não tive nem quis ter. Sempre acreditei que voltaria.
Voltei com a alma e o corpo marcados por desencantos que já levei e se agravaram e por abusos e desgostos que, como muitos, prefiro calar. Um homem precisa sempre duma mulher. Eu devia ter procurado essa madrinha de guerra de que fala o nosso poeta!

Um grande abraço

Francisco Baptista

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caro amigo Francisco Baptista

Interpelas-me e eu devo-te resposta. Acolho o teu comentário com respeito, compreensão e amizade. Gostaria de ter palavras sábias que te ajudassem a curar as feridas incrustadas na tua sensibilidade, que as desilusões e os sofrimentos vão deixando, mais ou menos profundas e de que a passagem pela tropa e pela Guiné, terá sido fértil. Uma palavra amiga pode ajudar, mas o trabalho principal será teu.

Cada um de nós é singular e irrepetível. Ele e as suas circunstâncias. Mas sempre temos muito em comum.
É-nos comum a necessidade de amar e de ser amados, de ser válidos na relação com os outros, de ser autónomos e respeitados na consciência do seu ser e do seu sentir.

Que mais te posso dizer? Se estivéssemos geograficamente mais próximos, propunha que um dia destes nos encontrássemos para conversarmos, mas assim... pode ser que um dia calhe, quem sabe?!

Francisco,o que me ocorre em pensamento é a memória dessa Mulher, a Mãe, que nos amou incondicionalmente, onde sempre se deseja regressar e repousar no seu regaço. A minha e decerto a tua, já partiram e onde quer que estejam velam por nós. Velaram e rezaram por nós quando andamos desterrados no ambiente hostil da Guiné, para que regressássemos sãos e salvos. Velam e intercedem por nós hoje, noutra dimensão, a da vida eterna, no seu incomensurável amor de mãe.

Para mim, esse amor de mãe, é um raio da Luz, dessa fonte luminosa do Amor Infinito que é Deus. Ele, não se demonstra sem se prova no laboratório, pese embora, toda a Natureza O proclame. Não se impõe pela força mas também não entra em desafios, antes nos desafia a descobri-Lo em nós e nos outros. Ele não vagueia no vazio, está em potência na essência do nosso ser. Queiramos nós deixá-lo tomar o lugar que é Seu, completando em nós o que a sua ausência reclama: A Plenitude da Vida enquanto Homens.

Amigo Francisco,desculpa as minhas limitações. Não me tomes pelo que não sou. Eu sou um cristão imperfeito e pecador, limitado e incoerente. Apenas tenho a ousadia de por vezes abrir o coração e deixar que este fale. Por vezes com acerto mas outras vezes errando. O que me caracteriza é a boa vontade e o reconhecimento de que erro e o desejo de correção, Afinal coisa comum a muitos de nós.

E por hoje é tudo.

Um forte abraço
JLFernandes

Anónimo disse...



Amigo J.L. Fernandes;

Tub és dos bons homens que conheço, tens autenticidade, coragem e mostras ser amigos dos outros.
Peço desculpa pelo meu comentário anterior, demasiado dramatizado provavelmente escrito em dia de chuva e nevoeiro.
Realmente levei para a Guiné muitas duvidas que não resolvi e por força do ambiente e das circunstâncias procurei esquecer da pior maneira. Em Buba durante quase 17 meses vivi num ambiente de casino,cerveja, whisky, jogos de cartas, todos, desde a sueca, o a lerpa, o poquer, só não havia mulheres.
Não gostei do tratamento que tive qundo a companhia de Buba regressou a Portugal e eu fui enviado para Mansabá, enquanto dois alferes com menos tempo do que eu ficaram colocados em Bissau. Confesso que por outro lado não sei se me iria acomodar em Bissau a aturar as hierarquias do ar condicionado.
De resto meu grande amigo em Buba pasei por algumas experiências de guerra que foram um pouco as dos outros que como tu e eu estiveram nos quarteis do interior.
Acredito que tu sejas mais feliz do que eu e do que muitos de nós porque tu tens uma vida interior muito rica, pois tu és um crente e para ti tudo tem explicação e significado, o passado, o presente e o futuro.
Falas das nossas mães, para todos e cada um de nós as melhores mulheres do mundo. A minha mãe era tão crente, tão amiga de Deus e dos santos como dos filhos.
Já pensei que acreditando como ela me poderia vir a encontrar com ela depois da morte. Mas como tu bem sabes a fé não é um acto da razão, nem se transmite através do amor materno.

Um grande abraço

Francisco Baptista