segunda-feira, 31 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12918: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (25): E Vendas Novas, onde funcionou a Escola Prática de Artilharia ?...Será que vai ser recordada apenas pelas bifanas ? (Luís Graça)


Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia (EPA) >  1969

Foto  © Carlos Vinhal  (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia (EPA) >  1967 > O Torcato Mendonça, à esquerda,. sentado, num exercío de instrução sobre a G3... 2º ciclo do COM.

Foto: © Torcato Mendonça (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]


Vendas Novas > Março de 2014 > "Outdoor" com o anúncio da maraca registada "Bifanas de Vendas Novas"


Vendas Novas > Março de 2014 > As famosas "bifanas", prontas a comer (1)...


Vendas Novas > 1 de março de 2014 > As famosas "bifanas", especilaidade da terra



Fotos (e legendas): ©  Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. 


1. Sobre Vendas Novas já temos, no nosso blogue, mais de um dúzia de referências. Muitos dos nossos camaradas artilheiros passaram por lá antes de irem parar à Guiné. Estou-me a lembrar do Carlos Vinhal, do Torcato Mendonça, do Jorge Cabral, do Jorge Picadio, do Vasco Pires, do Fernando Valente (Magro), do João Martins, e de  tantos outros. O nosso colaborador permanente José Marcelino Martins já aqui fez o historial da Escola Prática de Artilharia (EPA), incluindo o seu papel no 25 de abril de 1974.

De qualquer modo, faltam-nos histórias vividas em Vendas Novas, do tempo da recruta e da especialidade... Temos algumas, mas queremos mais... O Carlos Vinhal sei que tem uma, pronta (ou quase pronta) a editar... Mas era bom que os nossoa arilheiros mandassem aí umas "obusadas", para enriquecer a série "A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG" (*)....

Até porque temos uma ideia algo estereotipada sobre aquela, hoje, cidade que aparentemente cresceu ao longo de uma estrada nacional, a N4... É, historicamente,  um sítio de "passagem", aparentemente sem grandes histórias para contar... Até 1962, era uma simples fregueseia do concelho de Montijo. Em 1970, o concelho tinha c. de 8500 habitantes, hoje terá menos de 12 mil, a grande maioria vivendo na sede.

Diz a Wikipédia que "a origem de Vendas Novas remonta à criação da Posta Sul, por ordem de D. João III. Foi então aberto um caminho de Aldeia Galega (Montijo) a Montemor,  de modo a reduzir o percurso e o tempo das viagens. Foi nesse caminho que o rei mandou construir uma estalagem, no local onde hoje se encontra Vendas Novas. Alguns anos mais tarde, por ordem de D. Teodósio, uma nova pousada foi construída nas Vendas Novas. O nome do povoado terá provavelmente origem nas construções - "Estalagens" ou "Vendas" - que por serem de recente construção, eram novas, denominadas pelos viajantes como "as Vendas Novas". A povoação mais antiga do concelho é, no entanto a Landeira, hoje freguesia do concelho, de que existem referências de sua existência nos inícios do Séc. XII." (...) 

Para mim, e para muitos portugueses em viagem,  que ali fazem uma paragem "técnico-gastronómica", Vendas Novas é apenas a capital da bifana.. Seria injusto esquecer o Museu da Escola Prática de Artilharia e de outros centros de interesse. Curiosamente, o Museu não tem ainda uma página na Net. E a página do munícípio é muito fraquinha, em matéria de informação turística...(Eu diria que é uma grande pobreza!).

Confesso que ainda não o conheço o museu da EPA... Há um mês atrás, parei lá, em Vendas Novas, mas apenas para comer a "sandocha" da ordem..."O pró lá e ó pró cá!, como se diz no norte...  Eu, a Alice e e mais um casal, os meus cuhados... Neste caso, e já não tendo 20 anos (e a "galga" dos 20 anos!), pedimos só... oito "bifanas", mais 4 empadas, e umas cervejolas pretas, fresquinhas, mais os cafezinhos da ordem, no fim...  Um almoço "light", o suficiiente para a viagem, de 45 minutos, até Lisboa... Julgo que pagámos 7 euros por cabeça, neste caso, por boca...

Enfim, são valores do século passado, A.T. (antes da Troika)... Perguntam-me onde ? Passe a publicidade, no Snack-bar e Café "A Chaminé", que é com o café Boavista o "tasco" que disputa a fama e o proveito das melhores bifanas de Vendas Novas... Faço aqui a minha declaração de conflito de interesses:  não sou sócio, não conheço ninguém, não tenho lá amigos nem parentes, mas já lá fui 3 vezes e fiquei fã... E nestas coisas, o povo é quem mais "ordenha"...

Não sei porquê mas as bifanas de Vendas Novas ganharam  fama e proveito de há 20 ou 30 anos para cá... E são hoje uma das nossas especialidades da chamada "street food" (, comida de rua, que a gente já conhece desde o tempo da tropa!)... Têm alguns segredos, como se pode ler no ponto 2, a seguir... 

De qualquer modo, pergunto à rapaziada da artilharia que por lá pssei se não haveria já bifanas à maneira,  nos anos 60/70, em Vendas Novas, quando por lá passaram ?  Seguramente que sim, e estas devem ser filhas da tropa... 

Importa documentar onde e com quê se matava a malvada naquele tempo, em Vendas Novas... E só por ver as fotos das bifaninhas, já fiquei com hipoglicemia...


2. Excerto, com a devida vénia, do blogue Mesa Reservada, de Rui Barradas Pereira >  4 de julho de 2013 > A Bifana de Vendas Novas


(...) Depois de durante o ano passado ter falado desta, daquela e de outra bifana,  havia uma grave omissão no meu estudo bifanófilo. Ainda mais sendo a minha família oriunda da zona de Vendas Novas, era difícil explicar como é que ainda não tinha escrito aqui sobre a mítica bifana de Vendas Novas. 

Apesar de os meus pais terem uma casa perto de Vendas Novas onde passam uma boa parte do tempo e de eu lá ir várias vezes durante ano, a proximidade da cozinha da minha mãe,  acabava por nunca proporcionar uma ida a uma das casas de bifanas em Vendas Novas.

Diz a lenda que a bifana de Vendas Novas teve origem numa das casas de bifanas ainda existente: o Café Boavista. A principal característica distintiva da bifana de Vendas Novas é ser feita com um bife de porco do lombo que [ é ] batido até se transformar numa fina película de carne. A bifana é feita no molho numa espécie de frigideira desenhada para o efeito e o pão é ligeiramente torrado e passado pelo molho.

Esta minha incursão pela bifana de Vendas Novas não teve lugar no Café Boavista mas sim no Café Chaminé que fica do outro lado rua. Diz também a lenda ter sido aberto por um ex-empregado do Café Boavista e que trouxe consigo os segredos da bifana do Café Boavista. Estas duas casas são as mais afamadas casas de bifanas de Vendas Novas e a discussão sobre qual das duas é a melhor inflama paixões entre os mais fiéis apreciadores das bifanas de Vendas Novas.


Esta bifana pede mostarda. Só com a mostarda é que o tempero da carne sobressai. Em termos de tempero até prefiro outras. Mas a carne é finíssima e de boa qualidade, quase demasiado fina, e o pão ligeiramente torrado dá-lhe um crocante que faz toda a diferença. Para acompanhar uma Sagres Preta. Porquê? Porque sim... (...)
___________________


Nota do editor:

(*) Vd último poste da série > 23 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12891: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (24): Um longo percurso que começou em Vendas Novas, passando por Cascais, Torres Novas, Queluz, Lisboa, acabando em Mafra

9 comentários:

Torcato Mendonca disse...

No meu tempo não havia bifanas famosas...

Havia instrução pura e dura dada por um Capitão Comando (hoje General) e era a doer...

A foto é de limpeza de G3, que, segundo o Director (?) da Instrução, o tal Capitão, era mais um membro do nosso corpo...o 5º ou 6º?...nunca houve lata de fazer a pergunta.

Tenho um escrito com este tema: as cidades (vilas) que amei ou detestei, logo teclo um dia.

Abraço,Luís graça

Hilario Peixeiro disse...

Quando acabei o Tirocínio em Mafra fui dar uma recruta a soldados em Braga. Antes do final mandaram-me para Vendas Novas instruir um pelotão de CSM de serviços auxiliares. Tinha instruendos com as mais variadas doenças desde cardíacos a asmáticos passando por um que em sentido ficava com os joelhos unidos e os pés um palmo afastados. E tinha dois, um que jogava rugby no CDUL e o Pedro de Almeida campeão nacional de salto em altura que "sofriam" de excesso de altura.
HPeixeiro

Luís Graça disse...

Obrigado, manda esse escrito, que o Carlos (ou eu) publica...

Mas não me digas que os homens (e as mulheres) das "Vendas Novas" não tinham jeito para o negócio...

Com centenas de mancebos, cheios de larica, por ali à volta, havia um marcado com elevado potencial para a "indústria da sandocha"... Ou não ?

Agora o que havia era a "marca registada"... Como sabes, hoje já há "franchising" das "bifanas de Vendas Novas"...

Um abraço, Luis

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro Luis Graça

Claro que há muitas histórias das tascas, cafés e outra em Vendas Novas, como em qualquer lugar não fugia à regra onde havia instalações, para mais uma escola militar. Para os que lá passaram e lá ficaram como eu, quem não se lembra das meninas catatuas da Câmara, do café das Patas que tudo era servido menos comida, quem não se lembra da pensão Alvarez, das bifanas em Bombel, das meninas dos Correios, dos achegãs de escabeche na tasca junto ao polígono e muito mais que por lá havia.........

Um abraço

Mário Pinto

Rui Barradas Pereira disse...

Caro Luís,

Obrigado pela referência ao meu post sobre as Bifanas de Vendas Novas.

Cumprimentos,

Rui Barradas Pereira

Anónimo disse...

Pouco me lembro ou quase nada de Vendas Novas..é que chegado o fim de semana..ala que se faz tarde para a capital do império...ou para a santa terrinha.

Durante a semana aquilo era duro e no final do dia apenas queria descansar..quando não havia instrução nocturna.

Um episódio que me marcou porque quase ia "lerpando" prematuramente..diga-se.

Ainda não era nem pouco mais ou menos "catedrático" em artilharia...aliás era completamente analfabeto da coisa..fomos levados para o campo para nos ser mostrado como é que aquelas "bizarras" funcionavam.

Comandados por um tenente do QP..uma jóia de pessoa,diga-se..que na apresentação se confessou um civil fardado..apenas era militar porque o Pai(brigadeiro muito conhecido) assim o quis..

Fez o trabalho dele (orientar o obus..colocar os elementos de tiro..carregar o obus..etc.

Quando foi necessário disparar aquela "bizarra"..voltou-se para mim e disse..isto não custa nada ..é só puxar este cordel..

Confesso que estava um pouco receoso...e coloquei-me o mais longe possível..à voz de "fogo" puxei o cordel com toda a força..ouvi um estrondo ensurdecedor e quase simultâneamente um clik de qualquer coisa a partir-se..já estraguei esta merda..pensei..para inicio de artilheiro não começava nada mal..
Passado algum tempo ouviu-se o rebentamento da granada..grande alarido..do polígono de tiro comunicavam que o rebentamento não tinha sido observado..

O que é que aconteceu ?

O obus 14 tinha uma barra de aço no reparo para evitar que se houvesse uma fuga de óleo,quando rebocado, o tubo não saísse..e como é óbvio tinha que ser retirado quando estivesse em posição para fazer fogo.

Quando disparei o tubo recuou e partiu a tal barra de aço que se enterrou no solo..se me tivesse colocado atrás do tubo tinha-me cortado ao meio..adiante..a granada caiu num palheiro de um "monti" próximo do polígono, que além de o ter destruído matou três vacas..

Veio o inspector da arma que concluiu que o aparelho de pontaria estava avariado..claro que alguém se encarregou de o fazer..a EPA pagou uma pipa de massa de indemnização ao proprietário..o tenente passou a leccionar fotografia aérea..continuou a ser um porreiraço.. e cada vez que nos encontrávamos pedia-me desculpa..pudera não ganhei para o susto..

Ora digam lá se não comecei bem a minha vida de artilheiro...no primeiro tiro que fiz.. destruí um palheiro e limpei o sebo a três vacas..

Tenho mais algumas "estórias"..não tão dramáticas como esta.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Dramática era a vida dos "sucateiros"..civis que se dedicavam ao levantamento das granadas que não explodiam..após retirarem a espoleta e o explosivo.. vendiam-nas por bom preço

Quando a coisa corria mal..apanhava-se uma porção de terra para colocar no caixão.

Assisti a uma situação dessas quando estava no abrigo de P.C.T...no polígono.

Perguntou onde é que tinha caído a granada e dirigiu-se para o local em bicicleta..vi-o debruçar-se sobre a granada..ouviu-se uma explosão seguida de uma enorme nuvem de pó..pobre homem.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Há uns tempos passei por Vendas Novas e o obus 14 em exposição à porta de armas estava muito bem conservado, pintadinho e tudo, só que estava envolto em teias de aranha..velhinho sim, mas não era preciso exagerar.

C.Martins

Anónimo disse...

"Pouco me lembro ou quase nada de Vendas Novas..é que chegado o fim de semana..ala que se faz tarde para a capital do império...ou para a santa terrinha.

Durante a semana aquilo era duro e no final do dia apenas queria descansar..quando não havia instrução nocturna." C. Martins

Caríssimos,

Faço minhas,"data venia", as palavras acima, do Nobre Artilheiro C. Martins.

Acrescento, que o tratamento era bem melhor que na recruta, a distância entre o aluno e os Oficiais encurtou, e o nível intelectual deles era acima da
média. Menos gente, em 69 havia dois pelotões, PCT e IOL (o meu),talvez trinta e poucos nos total, e havia ambiente de boa camaradagem, isso, apesar do "Jornal da Caserna" ter informado em "primeira página" que os primeiros colocados não seriam mobilizados.
Da cidade, só lembro que tinha um restaurante (bar?) que tinha bancos altos no balcão.

Algum tempo atrás, troquei e-mail sobre o assunto, com o Camarada Carlos Vinhal que foi contemporâneo, mas nem assim avivou a minha memória sobe a cidade.

E siga a Artilharia...

forte abraço a todos

Vasco Pires
Ex Soldado-cadete 1969