domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12762: Manuscrito(s) (Luís Graça) (22): O espírito de corpo ou a navalha de ponta e mola da solidariedade entre combatentes: recordando 3 episódios do meu tempo e lugar




Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba. A tabanca, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis, nosso colaborador permanente,  e o saudoso 1º cabo José Marques Alves, de alcunha "Alfredo" (1947-2013)...(Natural de Campanhã, Porto, vivia em Fânzeres, Gondomar).

Foto do Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luíos Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Quantas vezes, à noite em Bambadinca, fumando um cigarro, depois do jantar, descontraídos, de copo de uísque na mão, gozando o merecido repouso dos guerreiros, nas traseiras do aquartelamento, no conforto relativo  do bar e messe de sargentos,  sobranceiro à bolanha, não assistimos ao "fogo de artifício", ao longe, ao mesmo tempo que tentávamos advinhar, em voz alta,  quase em disputa uns com os outros, quem eram os "desgraçados", tabanca em autodefesa, destacamento  ou aquartelamento, dentro ou fora do setor L1, que estavam a "embrulhar", a levar porrada, o tipo de granadas que explodiam, os quilómetros que distavam da nossa posição,  enfim, cronometrando o ataque ou a flagelação, estimando baixas...Por vezes, os gajos do PAIGC usavam inclusive balas tracejantes, tornando ainda mais real,  e ao mesmo tempo fantasmagórico,  o "espetáculo"...

E tudo isto, sem nada fazer ou sem nada poder fazer... Nessas noites tínhamos pelo menos a certeza de poder dormir numa cama com lençóis lavados, na nossa cama, com colchão de espuma... Era dia (ou noite) de folgar as costas, de poupar o coirão, e, se possível, sonhar com coisas boas...

2. Mas também é verdade que éramos capazes de pegar na trouxa e zarpar, em socorro de camaradas em perigo, de dia ou de noite. Ou de trazer às costas os nossos mortes e feridos, ou os mortos e feridos de outras companhias... De resto, o ser humano em grupo é capaz de fazer o melhor e o pior, as coisas mais sublimes como as mais perversas (como, por exemplo, acordar de noite e limpar a parada de Bambadinca de todos os cães vadios que nos perturbavam o sono...).

Podía contar aqui alguns episódios do tal "espírito de corpo": lembro-me, por exemplo, de um coluna de socorro a Nhabijões, justamente quando eu lá estava destacado, a comandar aquela tropa fandanga, e houve uma alerta de turras na tabanca (que estava em fase de reordenamento)... Sei que recebi, de imediato, o reconfortante apoio do piquete de Bambadinca, reforçado por mais alguns voluntários, entre os quais o Beja Santos... E nessa noite pude dormir mais descansado (mas já não me lembro se, mesmo assim,  o consegui...). O destacamento era constituído por "básicos" e "convalescentes"... E a enorme tabanca (c. de 1600 habitantes, maioritariamente balantas e alguns mandingas) era considerada, desde o início da guerra,  como estando "sob duplo controlo",,,

Nessa noite, alguns elementos IN (provavelmente pop e não propriamente guerrilheiros) tinham entrado na povoação, para se abastecer, como o faziam regularmente. Nhabijões era jum "entreposto" do PAIGC...A populaçaõ abastecia-se em Bambadinca (no Zé Maria,no Rendeiro...).

Nessa noite, em data que já posso precisar, os nossso "bufos" deram o alerta, mas a notícia de "turras na tabanca" era manifestamente exagerada...Se nessa noite vieram turras, armados, a acompanhar a população, eles ficaram só para jantar e deixaram as Kalash no bengaleiro... Aliás, não era do seu interesse alterar o "status quo"...De dia a tabanca era "nossa", de noite eles entravam e saíam com a maior das calmas (, pelo menos aparente...), cambando o rio Geba para o outro lado (, Enxalé e Cuor) ou metendo-se a pé a caminho do Baio Buruntoni, no subsetor do Xime

Repare-se que, de noite, e nestas circunstâncias, as nossas viaturas arriscavam a pisar uma mina... Como nos acontecerá uns meses depois, aos 20 meses de comissão, à entrada (ou à saída) de Nhabijões, em 13 de janeiro de 1971... Mas, quando se vai em missão de socorro, subestimamos os riscos e sobrevalorizamos as nossas forças, fazendo apelo ao tal espírito de corpo para o qual fomos treinados...


Guiné >  Região de Bafatá > Antiga Estrada Xime - Bambadinca > 1997 > A antiga Ponte do Rio Udunduma, vista da nova estrada Xime-Bambadinca. Neste destacamento estava permanente um Grupo de Combate da CCAÇ 12, que vivia em buracos como as toupeiras (rodava todas as semanas). Ou melhor dizendo: eram três apartamentos subterrâneos tipo T Zero" (HR)...

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor de Bambadinca)


3. Mas houve mais outros episódios em que a solidariedade entre combatentes funcionava como uma verdadeira navalha de ponte e mola...

Recorde-se aqui uma história, já contado pelo Humberto Reis, na I Série, há manga de tempo, e que tem a ver com o destacamento da ponte do Rio Udunduma:

"Com este destacamento [do ponte do Rio Udunduma] passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais [...].

"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer).

"Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o Fur Mil Lopes, do Pelotão de Morteiros com uma esquadra - o Lopes, natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).

"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim dois Km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. [Amedalai ficava a caminho do Xime, antes da temível Ponta Coli]...

"Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços desarmou a tenda, fez a mala e foi-se embora" [Relato de Humberto Reis]...


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Finete-Missirá > 17 de outuibro de 1969 > O fur mil op esp Humberto Reis (à esquerda) e o alf mil at inf António Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12, vistoriando, no dia seguinte,  os restos da viatura (Unimog 404) em que seguia o alf mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé (entre Finete e Missirá: vd. carta de Bambadinca, de 1/50.000).

Foto: © Humberto Reis (2006)/Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


4. Outro episódio de que me lembro bem,  foi  quando o Beja Santos e parte do seu Pel Caç Nat 52 caíram num mina A/C, seguida de emboscada, quando iam de  regresso a Missirá, já ao fim da tarde... Na história oficial ou oficiosa das crónicas da Guiné, o evento foi assim secamente relatado:

"Em 16 [de Outubro de 1969] , IN não estimado emboscou no lado direito da estrada Finete-Missirá, próximo de Canturé, uma coluna de reabastecimerntos do Pel Caç Nat 52, composto por 15 elementos, simultaneramente ao accionamento de mina A/C, causando 1 morto e 3 feridos graves às NT. O IN sofreu 1 morto quando provocava assalto." (Fonte:Históira da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Lembro-me bem deste fatídico acontecimento, que causou emoção em Bambadinca, até porque integrei a coluna de socorro que partiu daqui, atravessando o Rio Geba, de piroga,   e a bolanha de Finete, a pé. Tudo se passou quase à nossa frente. O local da emboscada estava inclusive ao alcance dos nossos morteiros. Na altura ainda não havia obuses em Bambadinca, mas apenas um esquadrão do Pel Mort 2106 (espalhado, de resto, pelos ouytros aquartelamentos do Setor L1: Xime, Mansambo, Xitole, Saltinho).

Mal ouvimos a explosão, foi de pronto organizada um coluna de socorro, composta pelo pelotão de piquete, o  2º Gr Comb do lf mil Carlão e dos furriéis mil Humberto Reis e Tony Levezinho,  reforçado com  Pel Rec Inf da CCS/BCAÇ 2852.

Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o "tigre de Missirá" (nome de guerra que lhe terá sido posto pelo "major elétrico", 2º comandante do BCAÇ 2852) tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto num dos muitos postes que ele já escreveu, com as suas memórias deste tempo e lugar:

"A 15 [, ou melhor, 16] de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só [antigo futebolista dos balantas de Mansoa] já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos" (...).

De facto, não foi a 15, mas sim a 16. Felizmente que o Corca Só não levou para Madina/Belel o escalpe do Beja Santos. Pelo contrário, voltou para casa com um morto às costas. Nesse dia, ficámos quites, foi um jogo de empate, se é que podemos brincar com uma tragédia como esta, em que houve mortos e feridos de um lado e do outro...

O Beja Santos não foi apanhado à mão por um triz. E isso é o mais importante: ele hoje está vivo e entre nós, partilhando connosco as alegrias e as tristezas de um tempo e de um espaço que nos coube em sorte, nos nossos verdes (e loucos) vinte anos.

PS - O episódio da emboscada com mina, em Canturé, em 16/10/1969,  passou-se antes do episódio de Nhabijões...Que terá sido no 1º trimestre de 1970, estava já o Beja Santos em Bambadinca, com o seu Pel Caç Nat 52, a terminar a sua comissão, de rendição individual... Não posso, de momento, precisar a data e o mês. De qualquer modo, eu e o Beja Santos ficámos quites... Mas também na guerra o altruísmo é egoista: é um por todos e todos por um...

9 comentários:

Anónimo disse...

LUÍS

Nessa noite quem estava destacado na ponte era eu.Lembro-me do nosso Alferes Rodrigues se ter agarrado a mim à chegada, muito preocupado, a perguntar se eu estava bem,e eu disse que o ataque era em Amedalai.

Um abraço

António Fernando Marques



Luís Graça disse...

Obrigado, Marques, pelo teu comentário. Vamos juntando as peças do "puzzle". E já que evocas o nome do alferes Rodrigues, paz à sua alma. Já se despediu, há muito da terra da alegria... Não sei se era casado, se tinha filhos... Só sei que trabalhava na Segurança Social, aqui em Lisboa...

Os efetivos na ponte eram de um Gr Comb, menos... Duas secções ou coisa assim. Comandadas por um furriel. Era um forma de nos pouparmos uns aos outros... A ponet era uma semana de degredo...Um abraço. Luis

PS - Também, quando te levei, já em estado de coma, de Nhabijões para Bambadinca, no fatídio dia 13 de janeiro de 1971, para apanhar o heli que te salvaria a vida, não pensei duas vezes antes de me pôr a caminho... Eu sabia que tu farias o mesmo por mim, se eu tivesse na tua situação... Somos "irmãos de sangue"...

Anónimo disse...

"...passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiam assobiar e não os que viviam no bem bom, dentro dos arames farpados, e que nunca sentiram o medo de levar um tiro)."

Epah...

Estamos sempre aprendendo, estava lendo o poste, e, eis senão quando, mais de quarenta anos depois, descubro que durante dois anos em Guiné-Bissau, não era operacional.

Seria então, eu, soldado de Artilharia, um não-operacional, ou tem neologismo para a função?

Qual, então o caráter que presidia aos outros, os que não eram operacionais?

forte abraço a todos, operacionais ou não.

Vasco Pires
Ex-Comandante do 23° Pel. Art.
Gadamael Porto

Luís Graça disse...

Tens razão, Vasco, essa definição de "operacional", dada pelo Humberto Reis, não é feliz, não é inclusiva, dá aso a más interpretações... Decidi omiti-la no texto, de resto trata-se de um excerto recolhido e citado por mim:

(...) "(operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiam assobiar e não os que viviam no bem bom, dentro dos arames farpados, e que nunca sentiram o medo de levar um tiro)"...

Vasco, para tentar perceber melhor o pensamento do Humberto Reis, Bambadinca no nosso tempo era segura... Não havia pelotão de artilharia... Tínhamos apenas armas pesadas de infantaria (mortei81 e metralhadora Brownning...).

Todos as noites ficava um gr de comb, destacado na "Missão do Sono", a menos de 1 km de distância da cama do senhor tenente coronel e dos senhores majores do batalhão...

Retirei essa passagem (sobre o conceito de "operacional"...) porque poderia ser ofensiva para todos os combatentes das unidades de quadrícula bem como das companhias de comando e serviço... No CTIG, todos éramos operacionais, desde o capelão ao cangalheiro... E não havia sítio nenhum do território que não pudesse ser atacado ou flagelado, mesmo Bissau, mesmo Bafatá, mesmo Bolama...

Longe de mim (e do Humberto Reis) querer lançar uma "guerra" entre infantes, artilheiros, cavaleiros, engenheiros, e demais especialistas das diferentes especialidades e armas, Exército, Marinha, Força Aérea...

A língua portuguesa, de resto, é tramada... Agradeço-te o oportuno e irónico comentário...

Vamos lá então ver o que diz o dicionário:

o·pe·ra·ci·o·nal
(latim operatio, -onis, operação + -al)

adjectivo de dois géneros

1. Que é relativo a operação.
2. Que está em condições de funcionar. = FUNCIONAL ≠ INOPERACIONAL
3. Que é relativo às operações militares ou ao aspecto especificamente militar da estratégia.

substantivo de dois géneros

4. Militar que integra ou pode integrar uma operação.

"operacional", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/operacional [consultado em 23-02-2014].

Anónimo disse...

Luís
Eu por tí faria o mesmo,embora não saiba se o conseguiria fazer tão bem.
O alferes Rodrigues era casado e tinha uma filha.
Fui ao velório mais o Reis e o Levezinho na igreja próxima da residência nas proximidades do Hospital de S.José.
Foi sepultado em Caminha a seu pedido,terra que adorava e onde passava férias,mas não me foi possível acompanhá-lo até lá.
Camninha no Alto Minho, creio que era a terra donde era natural o pai,a mãe,ou ambos.

Um abraço

António Fernando Marques

Anónimo disse...

Caríssimo Luis,

"As palavras são como as cerejas..."

Ainda o operacional...

Acredito eu, que inoperacional, é o que não está operacional,não sendo adequado para o que não é operacional.

forte abraço

Vasco Pires

Luís Graça disse...

Claro que éramos todos operacionais, até o major de operações que planeava as ditas no seu gabinete e depois ia de D0 27 fazer RVIS, espantar a pardalada, fazer PCV PCV [ Posto de Comando Volante ]... (antes dos Strela, claro!)...

Tive operações em que soube dar valor aos artilheiros, quando no Xime as granadas de obus 10.5 voavam por cima do pessoal, a apoiar a nossa retirada, depois de uma emboscada ou de golpe de mão... Nunca senti, na guerra, nada mais "reconfortante" do que o obus e o helicanhão... Um homem ganhava uma alma nova, quando os sentia por perto...

Voltando à definição (redutora) do Humberto Reis:

um artilheiro como tu era 100% e 24 horas por dia operacional:

(i) Em Gadamael, não ias para o mato, já lá estavas;

(ii) sentia-as a assobiar;

(iii) não vivias no bem bom;

(iv) e, mesmo dentro do arame, estavas sujeito a levar um tiro, um,a morteirada, uma roquetada, uma canhoada...

Em boa verdade, como em todos conceitos ou definições, temos que saber quais são os critérios de inclusão/exclusão...

Um alfabravo bem humorado... LG


manuel carvalho disse...

Caros camaradas
Ainda acerca de operacionais,claro que eramos todos operacionais até porque a Guiné era totalmente zona de 100%.Agora o que o Camarada Humberto julgo eu queria dizer é que estar dentro do arame farpado não é amesma coisa que estar no meio de uma mata, assim como estar atras de um baga-baga não é a mesma coisa que estar no meio de uma bolanha rapada e isto não quer dizer que eu dentro de um quartel não possa morrer e o fulano que vai para o mato não lhe aconteça nada. De resto todos nós conhecemos camaradas que andaram em grande fogachal e não lhes aconteceu nada e vieram morrer a Bissau de acidente.De resto todos nós conhecemos camaradas que usavam milhentos pretextos para ficarem dentro do arame farpado, chegando alguns a ferirem-se propositadamente nos pés.Eu um dia sonhei que ia morrer e fingi-me de doente para não ir à operação e como foi a primeira vez acreditaram em mim e não fui.O que eu quero dizer é que uma coisa é meter os pés ao caminho e ir assaltar o acampamento ou levar com uma emboscada e outra coisa é ficar no quartel á espera que eles cheguem ou então ir por cima na DO a ensinar o caminho.E volto a dizer o que pensa que está bem resguardado pode levar com uma morteirada em cima e o que foi para o mato pode não lhe acontecer nada.Espero que não me interpretem mal.Um abraço.
Manuel Carvalho

Mário Beja Santos disse...

Meu bom Luís, passei o fim-de-semana em jejum bloguístico, queria ir à Feira da Ladra, estar com a Benedita e fechar-me a trabalhar, como aconteceu. Acabo de ler as tuas recordações que me tocaram muito. Nunca resolvi aquele problema de irresponsabilidade, ninguém se mete ao caminho no lusco-fusco. O Manuel Guerreiro Jorge, condutor da CCS/BCAÇ 2852, pediu-me insistentemente em Finete para irmos na manhã seguinte, acresce que a equipa de picadores passara de manhã e com a progressiva escassez de recursos um grupo juntara-se à coluna que viera de Missirá para ir a Mato de Cão. Foi um desastre horrível, dos sete feridos quatro eram muito graves e a morte do Guerreiro Jorge um sofrimento doloroso de ver e ouvir. A solidariedade foi imensa, mal cheguei à messe de oficiais, visivelmente transtornado (não tem graça uma mina daquelas, o lusco-fusco pôs-se de meu lado na emboscada), prontamente se preparou uma equipa que veio até Finete, segui para Missirá na manhã seguinte, quis dar um ar de normalidade depois da tragédia. Fomos transferidos para Bambadinca em novembro, a meu contragosto, já sabia muito bem que ia ser moço de recados, associado às emboscadas na periferia, já tinha informações da tragicomédia da Ponte do Rio de Undunduma, metido a martelo naquelas operações em que ninguém esclarecia patavina. Assim foi até finais de julho de 1970. Deu para conhecer a região da Ponta do Inglês e Ponta Varela, comandar aquelas maratonas até ao Xitole… e deu para acamaradar com a inesquecível CCAÇ 12, a tua unidade. Agradeço-te a lembrança do 16 de outubro, data que andará comigo, a remoer-me, até ao final dos tempos. Um abraço do Mário