segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12733: O Nosso Livro de Estilo (8): O que fazer com este blogue ? (Parte III): Joaquim Luís Fernandes (ex-alf mil, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973; e Depósito de Adidos, Brá, 1974)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto  > CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Teixeira Pinbto, 1973) > Visita de Acção Social e Psicológica em Caió, com o camarada tabanqueiro, alf mil médico Mário Bravo e outros camarada da CCaç 3461, alf mil  Moreira que estava “atabancado” em Carenque,  e o alf mil Teixeira,  da CCS, aquando da visita às ilhas de Jeta ou Peciche.

Foto (e legenda): © Joaquim Luís Fernandes (2013). Todos os direitos reservados
Joaquim Luís Fernandes, 
residente em Maceira, Leiria,  
técnico de desenho e projeto 
da indústria de moldes  para 
plásticos, tabanqueiro nº 621
1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973: e Depósito de Adidos, Brá, 1974]:

Data: 19 de Janeiro de 2014 às 02:54

Assunto: P12557- O Nosso Blogue em Números - Divagação -Proposta: A[ssociação] Tabanca Grande


Caro Camarada Luís Graça:

Insigne fundador, administrador, editor do Blogue, de grande sabedoria e mestria como animador e moderador da "comunidade" Tabanca Grande, seu grande e prestigiado Régulo.

Desculpa tantos atributos que te endereço, mas aceita-os como expressão sincera do meu apreço pelo trabalho que tens feito e continuas a desenvolver, tão bem assessorado pela equipa que te acompanha, da qual não posso deixar de referir o nome do Carlos Vinhal, que foi o meu apresentador à Tertúlia e me tem acolhido com grande simpatia e camaradagem. A minha saudação amiga e grata.

Vem esta mensagem na sequência do poste 12557 - O Nosso Blogue em Números - em que, na ocasião comentei, não encontrar palavras que exprimissem o que neles via. Agora, as que me ocorrem, são: Muita vida de muitas vidas.

Perante as dimensões que o Blogue alcançou, em dados, em informações e conhecimentos, na rede de relações, mas principalmente, na massa crítica que elas contêm, então e em jeito de brincadeira e como desafio para a celebração do 10º aniversário do Blogue, lancei a ideia de este poder vir a evoluir até à constituição de uma associação mais formal. Não explicitei o que estava a sugerir ou a pensar, nem manifestei grande convicção no que escrevi, mas não fui inocente e sabia bem que não era fácil e não bastava o que disse. Já tinha em mente esta mensagem.

Também não irei escrever agora tudo o que me vai na cabeça, nem isso interessa, mas sinto que devo transmitir mais do que disse e esperar ser compreendido, para que possa obter algum acolhimento e reflexão, de que aguardarei resultados.

Eu sei que o Blogue tem objetivos editoriais bem definidos, que vem cumprindo com muito mérito, alcançando bons resultados, e deles não proponho que se afaste ; Todos eles são bons e importantes. Sei também das 10 regras a respeitar, que se me afiguram equilibradas, de bom senso e necessárias. Os resultados falam por si.

Porém, dentro destas regras, poderá existir em algumas, uma certa elasticidade, (que já tenho verificado sem qualquer mal) que possa possibilitar dar origem a uma qualquer associação, filha do Blogue, que poderia até herdar o seu nome, Tabanca Grande. Seria constituída por elementos do Blogue, voluntários, ao jeito de outra associação sem fins lucrativos, de índole cultural e informativa, com intervenção ou participação nos média, criando opinião, participando de forma organizada na vida democrática, mas não se confundindo com os partidos. 

Sei que não estou a explicitar tudo o que penso e nem isso interessa agora. Os objetivos seriam: De forma simples e despretensiosa procurar pela sua ação, influenciar a Sociedade, as Organizações Políticas, os Órgãos do Poder, no sentido de obter para os ex-combatentes das Guerras Ultramarinas e em particular os da Guiné, algum reconhecimento público que tem faltado, assim como alcançar algumas condições favoráveis e justas, para a vida dos ex-combatentes ainda vivos.

Dou como exemplo: (i) a redução da idade da reforma;  (ii) apoio extraordinário na área da saúde; e (iii) mais reconhecimento público (e não só) para com os ex-combatentes da Guiné, que por lá ficaram abandonados, que serviram Portugal, lutando ao lado dos soldados da Metrópole e das Ilhas...

O campo de ação será muito mais vasto, mas não entrarei por agora em divagações,

Por fim, devo declarar, que também sou parte interessada. Veja-se o meu caso: farei este ano 63 anos, se Deus quiser. Faço descontos, para a então "Caixa de Previdência" e hoje "Segurança Social", ininterruptos, (exceptuando o tempo da tropa) desde 1968, (já lá vão 45 anos) e o meu horizonte de reforma está a ameaçar afastar-se para os 66 anos (se eu lá chegar). 

Como eu, quantos milhares de ex-combatentes haverá? Entretanto terei que continuar a competir, para sobreviver no mercado do trabalho, com jovens de 30, 40 anos. Coisa injusta para uns e para outros. É mau para o País e pior para mim, digo eu. Mas Que posso fazer?...

Agora alguns números para reflexão:

Dos sete camaradas que nos deixaram mais pobres no Blogue em 2013, um era de 1947, logo com 66 anos; quatro eram de 1948, com 65 anos; dois de 1950 com 63 anos. Média inferior a 65 anos. Mas mais: Tomando como referência as idade dos vinte e nove camaradas do Blogue que já partiram, com menos de 75 anos foram vinte e seis, com uma média de idades de 63,8 anos. Só três acima dos 75 anos. [Negritos e realce a amarelo: editores]

​Sei que estes números não têm valor estatístico do todo nacional, mas não deixam de ser uma amostragem e uma indicação que as mazelas que herdamos da guerra, fazem os seus estragos. Pergunto: Há estudos rigorosos sobre este tema que nos mostrem a quantas andamos? Se houver, tu saberás Luís, será uma da tuas especialidades! Ou estou enganado? Poderás partilhar essas informações com os mortais, que foram carne para canhão?

Presumo, que no nosso universo de ex-combatentes na Guiné, as estatísticas que têm justificado, com o aumento da esperança de vida, o aumento da idade das pensões e reformas, são uma balela e como tal, devem ser denunciadas e combatidas, reivindicando um ajustamento da Lei, que contemple esta situação especial, desfavorável para nós.

Caro camarada e amigo Luís Graça, se me excedi, desculpa o atrevimento. Eu sei, que tudo neste Blogue começou em ti e por ti tem vivido. Eu sou um pira, um quase nada nesta comunidade, com fraca participação e sem qualquer legitimidade de apropriação das suas potencialidades, o que aliás, não pretendo.

O conhecimento que fui adquirindo do Blogue e da tua grandeza de alma, deu-me a ousadia de sonhar. Eu sei sei que sou um sonhador e por vezes os pés descolam da terra. António Gedeão cantou: " O Sonho Comanda a Vida" e Sebastião da Gama escreveu " Pelo Sonho é que Vamos". Eu também quero deixar-me embalar em sonhos... de mais Verdade, mais Respeito, mais Justiça. mais Solidariedade, mais Amor....  

Mas irei com calma, mesmo continuando a sonhar.

Creio que transmiti a ideia. Se houver alguma dúvida, fico inteiramente ao dispor para esclarecer o que me for possível. Mas deixo tudo ao teu mais elevado critério e sem o mínimo de pressão. Faz desta mensagem o que considerares melhor e eu aceitarei qualquer desfecho, sem mágoa ou azedume. Só tenho que me penitenciar por ter sido tão longo e agradecer-te a paciência de me teres lido.
Aproveito para desejar-te boa saúde e expressar os meus votos, de que a intervenção cirúrgica que anunciaste para breve, seja bem sucedida, que tudo corra bem e fiques como novo e cheio de força, para muitos quilómetros neste nosso encantador Portugal.

Muito obrigado e um forte abraço
Joaquim Luís Fernandes

___________________

Nota do editor:

Postes desta série:

7 de dezembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10770: O Nosso livro de estilo (7): Cerca de 400 abreviaturas, siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, gíria, calão, crioulo... Para rever, aumentar, melhorar...

20 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10409: O Nosso Livro de Estilo (6): O que fazer com este blogue ? (Parte II ): Depoimentos de A. Pires, C. Pinheiro, D. Guimarães, L. Ferreira, B. Santos, C. Rocha, F. Súcio, B. Sardinha , T. Mendonça e JERO

18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10402: O Nosso Livro de Estilo (5): O que fazer com este blogue ? (Parte I) : Depoimentos de H. Cerqueira, L. Graça, A. Branquinho, J. Manuel Dinis, J. Mexia Alves, J. Amado, Manuel L. Sousa, José Martins, Hélder Sousa e Eduardo Estrela

15 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8675: O Nosso Livro de Estilo (4): O que nós (não) somos... Em dez pontos!


12 de agosto de  2011 >Guiné  63/74 - P8662: O Nosso Livro de  Estilo (2): Comentar  (nem sempre) é fácil...

22 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8588: O Nosso Livro de Estilo (1): Política editorial do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

2 comentários:

Anónimo disse...

Caros Combatentes:

O nosso camarada Joaquim Fernandes pôs o dedo na ferida.De facto o blog precisa dos contributos de todos mas muitas vezes andamos por aqui a dizer coisas que pouco nos interessam. Esta é uma questão com uma importância crucial. Muitos andam entretidos com o aumento da longevidade a pensar que vão chegar aos setenta ou oitenta anos.Este paleio interessa aos governantes para nos irem adormecendo. O Joaquim Fernandes teve o cuidado e o trabalho de fazer as continhas e a média das idades dos combatentes da Guiné. Devemos-lhe isso e é preciso abrir os olhinhos. Ou as pessoas pensam que aqueles dois anos a beber água suja e a comer comida estragada não causaram danos?!. Caros combatentes, é imperioso que as diferentes associações de combatentes e mesmo nós aqui neste blog, façamos barulho em relação a este assunto. No meu ponto de vista, todos os combatentes que estiveram em territórios de guerra, deviam ser reformados com uma antecipação de pelo menos 5 anos. Não falo por mim que já estou reformado mas incomoda-me ver combatentes que passaram 24 meses dentro de um abrigo, com sessenta e mais anos a trabalhar na construção civil e noutras áreas. Isto é uma sacanice e um roubo que se está a cometer em relação a esta gente. A maior parte deles, depois de dezenas de anos de trabalho duro e contribuições, irão morrer sem usufruírem qualquer período de reforma. Há que fazer chegar à A.R. moções nesse sentido e votar em deputados que se comprometam em corrigir esta grave injustiça.
Um abração
Carvalho de Mampatá


Anónimo disse...

Importante trabalho apresentado por este camarada de armas.
Merece reflexão de todos nós sobre os problemas de reconhecimento e saúde dos antigos ex-combatentes, quando as actuais forças armadas continuam a bater-se por um tratamento diferenciado adequado às situações.
Tal como o Carvalho, estou numa situação de vantagem em relação a muitos outros que, tal como ele refere, não conhecem na vida outra coisa se não serem "bestas" de trabalho, depois de uma vida dada em pleno pelo País.
Proporcionem a todos os ex-combatentesde uma vida digna, com apoio médico e sanitário e algum descanso.
BS
BS
BS