sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12689: Blogpoesia (367): O passado e o presente no futuro (José Teixeira)

José Teixeira e as crianças da Guiné-Bissau que sonham com o futuro
Foto: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2014, a propósito do seu aniversário:

Carlos
Gostava de agradecer a todos os camaradas que neste dia muito especial me dispensaram o seu afeto e carinho.
Creio que nada melhor que oferecer-lhe um poema que escrevi.


O passado e o presente no futuro

O palácio que construí no tempo,
É um local aprazível para habitar.
Nele repousam os eventos que me deram vida,
E foram razão do meu peregrinar.
Os sonhos realizados e os que ficaram pelo caminho,
Os gostos e os desgostos…
Os gestos de amor e carinho –
Tudo lá está guardado num cantinho.
E repouso confortavelmente neste passado,
Cujo tempo me foi roubado.

E não gosto do presente,
Que me arrebata o tempo, para saborear a vida
Pelo seu andar tão apressado.
Já é tempo de fazer parar o tempo e a sua influência,
Deixar-me de correrias, nesta vida repartida,
E viver cada dia que nasce,
Com se fosse o último da minha existência.

Abeira-me do futuro a largo passo,
Com a sua incongruência.
Pintam-no com sinais de esperança,
Salpicados com profundos laivos de terror,
Tornando o tempo do futuro, assustador.
E quanto mais rasgo o horizonte,
Menos tempo tenho para viver,
Porque futuro aproxima-me do tempo de morrer.

E eu apenas quero viver.
Viver a realidade dos acontecimentos,
E tudo o que existe em meu redor
Comedidamente,
Saborosamente,
E serenamente,
Como quem não tem nada a perder.
Perdido no tempo que não deixa de correr,
E com estrita obediência,
Ao que me ditar a minha consciência.

José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12584: Blogpoesia (366): Por uma simples questão de aritmética, cheguei à conclusão que o inferno não existe... [Ou, se existe, só pode ser cá na terra, Joaquim!... LG]

3 comentários:

manuel amaro disse...

Grande Zé,

Sabes que não tens nada a perder.
Deixa o tempo correr.
E só deves obediência.
Ao que diz a tua consciência.

Gostei.

Um Abraço

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caro Camarada José Teixeira

Para os Homens bons como tu, a vida não termina;
O tempo passa, mas apenas a renova, como na primavera.
E apesar dos espinhos, dos golpes e das dores...
Brotarão vida nova, em novos ramos e flores.

Um grande e afetuoso abraço
JLFernandes

Luís Graça disse...

Obrigado, Zé, pelo teu poema.

Engraçado: quando tínhamos 22, 23, 24 anos (, e eu fiz lá, no TO da Guiné, os 23 e os 24), não temíamos a morte, mesmo quando a olhávamos de frente... E tu e eu vimo-la várias vezes...

Hoje, na curva descendente da vida, à beira de atingir a nossa esperança média de vida à nascença, temos tendência para falar "dela", a morte, mais vezes, como se a temessemos...

Envelhecer é uma arte e uma ciência... A verdade é que agora descobrimos, mais facilmente, que somos "vulneráveis" e, seguramente, "mortais"...

Aos vinte anos experimentamos a ilusão de que temos a vida toda pela frente e que nada nos mete medo: a doença, o sofrimento, a incapacidade, a morte...

Mass tu, Zé, tens-nos dado fartos exemplos como se pode continuar ativo, produtivo, solidário e saudável, mesmo com a canga do tempo em cima das costas...

Muita saúde e longa vida, porque tu mereces tudo!... Luís