domingo, 19 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12604: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (4): Sexo, História, muita fruta das Caldas da Rainha, e dois poemas do clássico do erotismo chinês Jin Pin Mei (António Graça de Abreu)

Sexo, História, muita fruta nas Caldas da Rainha, ou na Guiné 

por António Graça de Abreu [, foto atual à esquerda, com a esposa, a dra. Hai Yan, de quem tem dois filhos]Isto de ir parar às Caldas, terra de gente dura e tesa, tem toneladas de histórias para contar. 

Da minha parte, apenas dois apontamentos.

1. Os meus pais eram de Lisboa, a família lisboeta era, mas nasci e cresci (até aos 18 anos) no meu querido Porto, terra, amigos e cidade. Mas sou sportinguista, gosto do meu Sporting, de todo o Portugal, bem mais enriquecedor e bonito do que portos, benficas, mais uns tantos clubes regionais. Verde só há um, o da Natureza recatada e exuberante, e o das camisolas das gentes de Alvalade.

Os meus pais, bons portugueses, nos anos cinquenta e sessenta do século passado, vinham frequentemente a Lisboa, no nosso Renault Joaninha, depois num Austin A 35. E costumávamos parar nas Caldas, para atestar o carro com fruta e legumes de excepcional qualidade, comprados no Mercado da Fruta, ali na praça no centro das Caldas.

Nunca mais esqueci.

2. Há uma dúzia de anos atrás, fui convidado pela Associação Portuguesa dos Professores de História para, no seu Congresso Anual, realizado nas Caldas da Rainha, no Museu José Malhoa,  dizer umas palavras sobre a China Antiga, a propósito da inauguração de uma exposição de peças, vasos, recipientes, cálices em bronze, disponibilizada pela Embaixada da República Popular da China em Portugal. Eram tudo cópias recentes de elaboradas peças a apontar para um passado de 25 séculos. Lá fiz a palestra, o meu trabalho possível de divulgação entre os professores de História da maravilha dos antiquíssimos bronzes chineses. 


Museu José Malhoa [, foto da fachada principal, à esquerda, imagem do domínio público, cortesia da Wikipédia] 


Na inauguração da exposição, esteve presente o Embaixador da República Popular da

China em Portugal. Para chegar aos bronzes, atravessava-se parte de entrada do museu onde sobressaía num grande e excelente quadro do pintor Eduardo Malta, uma jovem impecavelmente despida, nua e doce mostrando todos os atributos que fazem do encantatório feminino o lado mais perfeito da espécie humana. Um corpo de jade e alabastro, um convite a todas as loucuras, reverências e silêncios.

O problema dos camaradas da Embaixada da China era o embaixador. Não podia chegar ao Museu das Caldas e dar de caras com a nudez asfixiante, esfusiante, entusiasmante da mulher no quadro do Eduardo Malta. Queriam que ele entrasse por outra porta e passasse ao lado, queriam que ele não lobrigasse a menina nua. 

Mas o senhor Embaixador da China avançou exactamente por onde devia e, pelo canto do olho, demorou-se quanto pôde, na contemplação do corpo perfeito da donzela lusitana.

A propósito de sexo nas Caldas, ou na China, das coisas do homem e da mulher, não resisto a transcrever dois poemas chineses, na minha tradução da金瓶梅Jin Pin Mei, a obra clássica do erotismo chinês, atribuída com muitas dúvidas a Wang Shizhen (1526-1590). Aí vai. Depois digam-me se isto tem ou não ver com as coisas das Caldas e com as coisas de todo o Portugal ou toda a Guiné, ou seja, com as coisas de todo o nosso vasto mundo:

A coisa, com seis polegadas

Há uma coisa, com cerca de seis polegadas,
às vezes mole, às vezes dura.
Quando mole, cai para leste ou oeste,
como um bêbado,
quando dura, viaja para cima e para baixo, 
como um monge enlouquecido.
Tem talento para esgravatar qualquer buraco,
habita sob a região do umbigo,
no reino das Virilhas Fumegantes,
por natureza, faz companhia a dois filhos.
Sim, quantas vezes, a felicidade na luta
com uma mulher formosa?

A coisa, como uma flor de lótus

Quente, firme, perfumada e húmida,
suave misteriosa e sensível,
tem lábios como flores de lótus.
Se feliz, mostra a língua,
abre a boca para sorrir.
Se cansada, adormece,
abandona-se ao desejo do homem.
Habita num antigo jardim,
numa encosta com erva,
no reino do Grande Regaço.
Quando encontra um macho possante
está pronta para a luta,
mas não diz uma palavra.

[Fonte: Jin Pin Mei. Tradução de António Graça de Abreu. Ilustração, acima:  edição chinesa de 1617, imagem do domínio público, cortesia de Wikipedia.]
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12599: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (3): Tavira, uma terra com história... (António Manuel Conceição Santos, ex-fur mil op esp, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique, Nhacra, 1972/74)

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