sábado, 6 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11810: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (11): Ainda o poste do Cherno Baldé e outros



1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 20 de Fevereiro de 2013:

Aqui vai um texto que será para a minha Guerra a Petróleo.
Penso eu de que...

Um Ab.
António J. P. Costa


A MINHA GUERRA A PETRÓLEO

11 - AINDA O POSTE DO CHERNO BALDÉ E OUTROS

Fiquei deveras surpreendido com a reacção dos participantes no blog a um post onde se descrevia a morte, por fuzilamento, de dois guineenses – dos quais um ex-colaborador das NT durante a guerra colonial – na sequência de uma insubordinação de uma grupo de ex-milícias e ex-soldados do Exército Português, ocorrido em Cuntima, a 14 de Novembro de 1976.

Efectivamente, em pouco tempo, o número de comentários ultrapassou os quarenta e, curiosamente, muitos deles traduziam um antagonismo entre os participantes no blog que ia muito para além do simples comentário ao acontecimento que fora narrado. Na análise de alguns comentários detecta-se até uma espécie de sentimento de culpa que, pelo menos em relação a este facto concreto, não se justificará muito. Para além de estarmos perante algo que sucedeu já em plena independência da Guiné, no fundo, trata-se de uma reacção popular (violenta, é certo) a algo que deveria ser feito e não se fez, embora seja patente que os contestatários, em virtude da sua vivência anterior, não estariam muito dispostos a aceitar as determinações do novo poder. Era de esperar que assim fosse. O mais curioso é que o próprio narrador situa bem o sucedido numa linha de actuação do PAIGC, em relação às populações do país que se incumbiu de governar. Assim, chegado ao poder efectivo havia cerca de um ano (em 10 de Setembro de 1974) procurava afirmar-se nele, como seria lógico. Porém, essa afirmação seria feita não tanto numa acção positiva, materializada pela melhoria das condições de vida das populações, isto é, da acção governativa eficaz, mas antes e pelo contrário de uma acção repressiva que visava manter aquelas num estado de disciplina, mais ou menos imposta pela hierarquia que saíra da vitória na guerrilha.

Enfim, nada que pudesse ser da responsabilidade directa da “guerra” ou das actuações do Exército Português.

Donde veio então este debate de ideias inconciliáveis?

O PAIGC, como movimento guerrilheiro africano do final dos anos cinquenta do Séc. XX, apresentava as práticas de disciplina interna (a tal "disciplina revolucionária" que lhe conhecemos através da documentação de informações) que lhe garantiram a sobrevivência ao longo de uma guerra feroz e desgastante e que lhe teriam sido inculcadas pelos doutrinadores da URSS. Compreende-se. Assim como se deverá compreender que se tenha constituído, após a tomada do poder, como partido único, responsável pelo funcionamento da sociedade guineense. Não é justo que se exija a quem se expôs a tudo e arriscou tudo para tomar o poder que se vá sujeitar a um “referêndum” para partilhar o que tanto lhe custou a ganhar. Depois, com andar dos tempos, ainda se aceita a disputa política, mas naquele momento é sinceramente uma injustiça.

Conhecemos as características das lideranças africanas, quer naquele tempo, quer na actualidade. Porventura mais duras naquele tempo, quando era necessário levar para o combate e sofrimento alguns milhares de guineenses e evitar que desistissem da "luta". Muita da adesão popular foi coercivamente obtida, no início da “guerra”, e mantida por um policiamento apertadíssimo por parte das unidades do partido. Mas o que é inegável é que as deserções de combatentes e fugas da população foram raras, o que não significa que as populações a aceitassem livremente. Por outro lado, após a independência, estender a “disciplina revolucionária” a toda a população não era boa técnica, como já se começava a ver em todos os países onde a doutrina política apontava para o partido único. Além disso, o povo guineense permanecera na sua maior parte sob controlo e protecção das NT o que lhe concedeu um estatuto e condições de vida que o partido cada vez menos podia assegurar. Mas há um outro aspecto importante a considerar, na análise do problema. A ocupação pela força de dado um território (como o PAIGC sustentava que era a situação) nunca pode ser feita sem a colaboração de uma parte mais ou menos considerável da população. Não seria este exactamente o caso da Guiné. As autoridades locais que materializavam a acção do governo central só abusivamente podem ser consideradas como ocupantes, mas dispunham de um considerável número de apoiantes, alguns decididamente colaborantes, outros fazendo-o mais ou menos tacitamente. A retirada de um invasor deixa sempre para trás um número de “colaboracionistas” que não o acompanham na saída. Só a título de exemplo, recordemos a dramática saída dos sul-vietnamitas da embaixada dos Estados Unidos, em Saigão. As características da guerra subversiva aproximam-na muito de uma guerra civil que, frequentemente atinge graus elevados de violência, muitas vezes gratuita, e gera a existência de vencidos da guerra, ou seja, aqueles que combateram por uma causa, perderam a guerra, mas não abandonaram as suas convicções, constituindo-se sempre como resíduos de uma possível contestação aos vencedores.

E não se podem matar todos!...

Sinais dos tempos, pois antigamente e em muitas situações podiam exterminar-se na totalidade. A História está aí para no-lo mostrar e, com se sabe, quanto mais “velho” é um país mais fácil é recolher, no seu passado, bons e maus exemplos…

A retirada das Forças Armadas Portuguesas da Guiné foi feita sob diversas pressões das quais podemos referir apenas as duas principais: uma interna, consequência da fadiga e revolta inerentes a 13 anos de guerra que já fazia parte do nosso “dia-a-dia” e outra externa, proveniente do PAIGC que, nunca tendo esperado que a vitória lhe surgisse assim, ficou ébrio e nada mais queria do que assumir o poder. Claro que há aqui um erro de avaliação. O partido não tinha estruturas nem quadros que lhe permitissem desenvolver a sua acção político-administrativa e, mesmo tendo necessidade dela, a colaboração da administração portuguesa era a última que lhe conviria para o apoiar ou auxiliar.

É à luz destes dois parâmetros que deve ser vista a saída dos militares portugueses da Guiné, deixando para trás muitos guineenses que tinham colaborado, por vezes muito activamente, com as FA de Portugal.

Cheguei a admitir que a maturidade do partido e as raízes unitárias com que foi constituído poderiam ser a garantia de que o ambiente se pacificaria. Não me surpreendeu, por isso, que o PAIGC tivesse assumido como guineenses os “colaboracionistas com as FA” e/ou os “vencidos da guerra civil”. Confesso que tive dúvidas, pois conhecia aquele povo e o partido que tomara o poder, mas… podia ser que fosse assim.

Não contei com uma manobra (de longo alcance) do PAIGC que lhe permitiu constituir um bode expiatório para os seus falhanços e um exemplo para mostrar aos contestatários das suas opções políticas e económicas. Se os "traidores guineenses que tinham lutado do lado dos colonialistas” fossem considerados portugueses seriam intocáveis, por serem estrangeiros, e poderiam sair da Guiné se o desejassem ou serem a tal obrigados pelas novas autoridades. No fundo seria uma forma de punição: a perda da nacionalidade.

Esta actuação do PAIGC, ocorrida em Novembro de 1976, foi assim uma tentativa de disfarçar a sua incapacidade de reconstruir o país. Recorreu a demonstrações de força (esta e outras), a cargo de militantes seus de uma fidelidade canina, capazes de extrema violência, mas dotados de pouca cultura e abdicando do uso da inteligência. Aterrorizar as populações, especialmente as das áreas onde tinha menor implantação ou em que os contornos éticos lhe fossem mais dissonantes passou a ser possível. Se acrescentarmos a prepotência e as vaidades de quem tem “o rei na barriga”, temos todas as condições para que estas situações ocorressem e continuem a ocorrer. Agora, porém, a ligação ao colonialismo é mais difícil, mas é sempre possível de estabelecer. Como já disse, estes exemplos proliferaram por todo o continente na sequência das independências, ganhas ou concedidas, e, às vezes para meu desespero, eram bem previsíveis. Mas não era politicamente correcto anunciá-los…

Tenho para mim que se o Amílcar Cabral fosse vivo naquela altura – e até alguns anos depois – isto também sucederia. O ambiente e os factos, nomeadamente a cisão do partido em PAIG e PAICV confirmam o que digo.

Não vejo, por isso motivo para nos culpabilizarmos por este caso ou casos similares. Outra atitude do PAIGC, mais madura e justa, poderia tê-lo até dado a maior respeito interno e internacional. Era o que se esperava de um partido velho, com muito tempo de luta violenta e dotado de uma maior maturidade, o que não sucedera a tantos outros a quem a independência foi dada de bandeja. Mas a sua opção foi noutra e isso só aos guineenses diz respeito.

Admiti que o povo da Guiné poderia ganhar muito com a independência em áreas como a agricultura, pescas e pecuária, agora que apenas dependia de si mesmo para atingir os seus objectivos e afinal enganei-me.

Talvez seja sina da África ser governada por sistemas de partido único, constituídos por homens imbecis, ou até válidos e bem-intencionados, mas que rapidamente embrutecem e se tornam insuportáveis. Aí não posso, nem devo, nem quero fazer nada (para além de simples conselhos). Será uma espécie de via-sacra que os povos têm que seguir até que, a sua cultura e (porque não dizê-lo?) a sua maturidade lhes permitam reduzir, que não anular, este tipo de procedimentos.

Contudo, estávamos no Séc. XX (e agora já XXI) e, por isso, seria bom que cada povo aproveitasse a experiência dos outros e, pelo menos tentasse evitar cair nos erros cometidos. Não me sinto culpado de nada do que sucedeu na Guiné depois da independência e, muito mais agora que aquele povo “tomou o seu destino nas próprias mãos” há quase 40 anos (duas gerações). Limito-me a observar de longe e constatar que ali não houve excepção relativamente ao sucedido noutros países da mesma área geográfica.

Parece-me, isso sim, que, com a vitória, o PAIGC contraiu uma série de responsabilidades, nomeadamente no que respeita aos seus heróis e à sua história que é uma fracção já considerável da História da Guiné e que lhe deverá servir de arrimo ao seu percurso político.

Por favor não aceitem as culpas que não temos e se digladiem por causa delas.

Não esqueçam que, em Direito, os principais responsáveis são sempre os autores materiais do crime. O facto de existirem “condições” não quer dizer que o crime seja cometido.

António José P. da Costa
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Notas do editor

Ilustração retirada da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), unidade que foi rendida pelo BCAÇ 4612/74 (Mansoa, 1974)... 
Um exemplar da história desta unidade, o BCAÇ 4612/72, foi-nos oferecido, em formato papel e em pdf, pelos nossos camaradas Agostinho Gaspar e Jorge Canhão (ex-Fur Mil 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).
Este documento tem cerca de uma dúzia de interessantes (e raras) ilustrações, feitas por um ilustre desconhecido, a estilete sobre "stencil"...
Imagens: Cortesia de Jorge Canhão (2011).

Último poste da série de 28 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11172: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (9): A praxe da Ivone

Guiné 63/74 - P11809: Os nossos médicos (59): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (2): Guiné II e III

1. Continuação da publicação das memórias do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho, BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), chegadas até nós através do nosso camarada Mário Vasconcelos, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872.



Galomaro > O Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho e o Alf Mil TRMS Mário Vasconcelos

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 5 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11808: Os nossos médicos (58): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (1): Guiné I (Mário Vasconcelos / Rui Vieira Coelho)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11808: Os nossos médicos (58): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (1): Guiné I

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos [foto à direita] (ex-Alf Mil TRMS, CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, nos anos de 1973/74), com data de 1 de Julho de 2013:

Caros camaradas:
Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro.
Sou o tabanqueiro nº 615 - Mário Alberto Lage Sampaio de Vasconcelos.

Junto em anexo três blocos de texto (designados por Guiné I, II e III), de autoria do ex-alf médico Rui Vieira Coelho, licenciado pela faculdade de medicina do Porto, e especialidade hospitalar de Cirurgia Geral.
Este camarada e amigo, esteve colocado nos batalhões 3872 e 4518, sediados em Galomaro no período de 73/74.
Rendeu em 1973 o ex-alf méd António Manuel Pereira Coelho, igualmente pertencente ao BCAÇ 3872.
Igualmente junto outros dois textos, do mesmo autor e denominados Memórias da Guiné - 1973/74 (BINTA) e Galomaro 1973 (JAMBA).

Solicito a sua publicação, a seu pedido, pois não está inscrito como tabanqueiro, mas deu autorização das publicações.
A forma de publicação fica ao vosso critério, pois entendo alguma extenção na sua globalidade e /ou temas.
Até à sua publicação, ficarei ao dispor para eventuais necessidades e/ou esclarecimentos.

Abraço colectivo aos tabanqueiros-mores.
Mário Vasconcelos


2. Comentário do editor:
Vamos publicar os textos do Dr. Rui Vieira Coelho em três postes, começando pela "Guiné (Parte I)".

Ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho em Galomaro

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11796: Os nossos médicos (57): A CART 3493 nunca teve médico - diz António Eduardo Ferreira; resposta ao inquérito por Jorge Picado

Guiné 63/74 – P11807: Memórias de Gabú (José Saúde) (30): Rescaldo da apresentação de “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, em Beja

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem. 


Rescaldo da apresentação de “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, em Beja

Registo positivo

Manuel Mantinhas, um inestimável amigo e também camarada de armas na Guiné, foi o meu “velho” companheiro que se ocupou, e muito bem, em traçar as linhas gerais sobre a apresentação da minha 5ª obra – GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74 – no passado dia 4 de julho na Biblioteca Municipal de Beja, José Saramago.

O meu prezado amigo Mantinhas foi outrora camarada do nosso colaborar permanente Torcato Mendonça (blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné) durante a sua comissão militar na Guiné, sendo que a sua amizade permanece inalterável no tempo. Um facto por mim constatado e que muito me orgulhou, tendo em conta o espírito de camaradagem que a guerrilha guineense nos proporcionou.

O evento da apresentação do livro contou com uma plateia quase repleta, ressaltando do acontecimento um mote de amiudadas conversas que se estenderam ao longo de uma noite quente onde um possível “batalhão de mosquitos” deu uma apaziguada trégua.

Abordámos inquestionáveis situações sobre a temática exposta na obra, sabendo-se, porém, que a narração dos factos relatados cruza gerações e que todos partilhámos situações idênticas ou parecidas.

A curiosidade do tema despertou, também, um renovado interesse a alguns jovens presentes no anfiteatro que se extasiaram com a dissertação de homens que tão bem conheceram os horrores da guerra. Ficou ainda a certeza que enquanto essa geração que pisou o palco da guerrilha nas antigas províncias ultramarinas permanecer ao cimo deste cosmos terrestre, esse tema será por nós preservado e trazido à estampa sempre que necessário.

Aliás, nós, antigos combatentes, jamais deveremos deixar cair no limbo do esquecimento a passagem de parte de uma vida que nos foi atroz e que deixou marcas em jovens que se deparavam com rigor para enfrentar a construção de um futuro que se perspetiva risonho. E muitos foram aqueles que, infelizmente, ficaram pelo caminho. Outros existem que convivem ainda com graves sequelas.

“Filhos do Vento” foi uma proposta lançada por mim neste blogue que visou lembrar “frutos” que vieram à vida e que jamais conheceram os seus verdadeiros progenitores. A mãe, única tutora, encarregar-se-ia de lhe transmitir todo o seu amor, mas do pai nunca terão tido conhecimento. Partiu. Foi uma rajada de vento que se espalhou num horizonte nebuloso.

Esses “filhos do vento” que narro também nesta minha última obra, suscitaram motivos de interesse alargado. Catarina Gomes, jornalista de “O PÚBLICO”, trará à estampa no próximo dia 14 de julho de 2013, domingo, uma reportagem sobre o tema, sendo que o título foi por mim autorizado, dado que fui solicitado a emitir uma opinião sobre a razão da referida expressão. 

Continuemos, pois, a luta para reavivar memórias de gentes que lidaram com o imprevisto de uma guerra que a cada instante impunha quadrantes, quiçá desiguais, ao mais singular soldado enviado para as frentes de combate. 


Mesa - Dra. Paula Santos, responsável pela Biblioteca, eu, José Saúde e Manuel Mantinhas

Trocando impressões com Vítor Maio, antigo camarada na Guiné e Ranger 

Com José Guerreiro, um camarada que esteve na Guiné no início da guerra

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
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Notas de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P11806: Tabanca Grande (403): Fernando de Pinho Valente Magro, ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72), tertuliano n.º 622

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Magro [foto à esquerda], (ex-Fur Mil Amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), com data de 30 de Junho de 2013:

Caro camarada do capim, das bolanhas e das bajudas:

Finalmente recebi algumas fotos do nosso Cap Valente.

A demora também se deveu ao facto de eu me encontrar na "Reforma Agrária" e o nosso Capitão as ter enviado para o Quartel de Rio Tinto. Assim, tive de aguardar a coluna de reabastecimento para as receber e o mesmo aconteceu para as "sacanear".

Não são fotos de grandes acontecimentos, apenas fotos pessoais, mas é um começo...

Também não me parece lógico publicá-las num qualquer post meu. Lembrei-me, então, de te colocar duas questões e que têm a ver com o facto de o "mano-velho" gostar de escrevinhar umas coisas e de não perceber a "ponta dum chavelho" de computadores (complicadores).

As questões são as seguintes:

(i) Posso "alistá-lo" eu na Tabanca Grande, enviando as 2 fotos da praxe?

(ii) Ele envia-me os textos manuscritos, eu digito-os no PC (sou Amanuense, carago!) e envio-o a vós?

Ainda não lhe falei nesta hipótese, mas não o queria "assediar" antes de ter a certeza que as altas chefias concordam e que a "coisa" cumpre cabalmente o RDM

Abílio Magro


2. Comentário do editor:

Já foram dadas as respostas às perguntas formuladas pelo nosso camarada Abílio Magro quanto à legalidade da admissão do nosso novo tertuliano Fernando Magro, via irmão Abílio.

Reunida em assembleia geral, a tertúlia votou por unanimidade e aclamação a entrada nesta Tabanca Grande do ex-Cap Mil Art Fernando de Pinho Valente [Foto à direita] que prestou serviço no BENG 447, Bissau, entre 1970 e 1972.

Pesou de sobremaneira nesta decisão o facto do nosso piriquito Fernando Valente já ter três entradas no nosso Blogue - vd. postes P10935 e P10940, do seu irmão Abílio, e poste P11637, recensão de Mário Beja Santos ao seu livro "Memórias da Guiné".

Para fins estatísticos, é o nosso tertuliano n.º 622.

Fernando Valente (Magro) é autor do Blogue Portugal e o Passado de onde retiramos os elementos que se seguem:

(i) nasceu em Arouca em 1936;

(ii) é engenheiro técnico civil;

(iii) é membro da Associação Portuguesa de Escritores;

(iv) +e  autor das seguintes obras: "Menina do Meu Pensar"; "A Canção Arábica"; "Memórias da Guiné"; "Um Olhar Abrangente" e "As Aventuras de Robin dos Bosques".

Esperamos ver aqui um dia esplanadas as memórias e as fotos do camarada Fernando Magro, mesmo recorrendo ao seu irmão Abílio para o efeito.

Hoje fica um cheirinho das suas fotos que nos enquadra numa outra maneira de viver a guerra na Guiné, desta feita, em Bissau com o aconchego da família.
Caso para dizer, do mal o menos, já que o camarada Fernando foi mais um dos Cap Mil formados à pressão para serem integrados em teatro de guerra.


O Cap Mil Valente acompanhando o Comandante Militar, Brig. Reimão Nogueira (??) e o Governador da Guiné, General Spínola.


A esposa Maria Helena e a empregada Inácia


O seu filho Fernando Manuel com duas jovens da Guiné junto de um Reordenamento Populacional, cujas obras se encontravam na sua fase terminal



A esposa Maria Helena junto a um Reordenamento Populacional


O carro do Cap Mil Valente estacionado em frente da sua moradia em Bissau, na Av. Arnaldo Schulz. Na varanda a mulher e o filho.

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11742: Tabanca Grande (402): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74), residente em Maceira / Leiria, tabanqueiro nº 621

Guiné 63/74 - P11805: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (8): Um casamento fula no Xitole... Ou a tradição que já não é o que era no nosso tempo...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula > O felizardo pai da noiva, o nosso amigo Mamadu Aliu


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: Mulheres festejando ao som do batuque (1)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: Mulheres festejando ao som do batuque (2)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: Almoço. O Francisco Silva, à direita.


O Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: o pai da noiva com sua mulher e um irmão com sua esposa.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: Uma foto para mais tarde recordar


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Casamento fula: Agradecimentos e despedida dos convidados tugas, de partida para Bissau.


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem
complementar: LG]



1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VIII

por José Teixeira


O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... 

É desse evento que trata a 8ª crónica:  os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que,  em jovem,  era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole.  A crónica anterior  foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ]  com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Cusselinta em tempo de seca (1)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 5 de maio de 2013 > Cusselinta em tempo de seca (2)



Vídeo (43''):. Alojado no You Tube > José Teixeira    Não há casamento  sem alegria, sem música, sen festa...


Crónicas de uma viagem à Guiné (8) > Um Casamento na etnia Fula no século XXI.

Mudam-se os tempos, muda a forma de estar em sociedade, para melhor, como é o caso na perspetiva de um europeu. A sociedade guineense está a mudar. Creio que todos quantos passaram pelo teatro de guerra da Guiné, tomaram conhecimento da forma como se “arranjavam” os casamentos, com pequenas variações conforme a etnia.

Foi-me dada a oportunidade de participar num casamento em 1968 numa família de etnia Fula. Sei que o pai da noiva recebeu duas vacas e três carneiros como prémio por ter autorizado a sua filha a casar. Confesso que não cheguei a ver o noivo. Chegou ao fim da tarde embrulhado num pano branco às costas de um homem, talvez o pai ou o irmão mais velho. Parece que ainda estou a vê-lo, passados quarenta e cinco anos, depois de um dia cheio de festas e batucadas que acompanhei com curiosidade. Não faltou arroz para toda a gente salteado com carneiro, se bem me lembro, com molho de chabéu. Com a chegada do noivo,  a prometida, que estivera durante todo o dia rodeada das suas amigas, desapareceu como por encanto e nunca mais lhe pus o olho em cima, até hoje.

Em 2008, no Saltinho, conversava com um casal amigo dos tempos de Mampatá, quando ouço uma algazarra de jovens mulheres com um pano branco, com resíduos de sangue, pendurado num pau. Estranhei tal festa e tentei saber das razões. Pude,  assim, confirmar quarenta anos depois,  o que se dizia na altura, ou seja em 1968, sobre a forma de se detetar se a noiva estava ou não virgem na noite de núpcias. Dizia-se então que na manhã seguinte algumas mulheres grandes iam confirmar através dos eventuais sinais de sangue no lençol, o qual era posto em local que pudesse ser visionado para se confirmar a virgindade da noiva.

Na verdade, cada terra tem seu uso, o qual deve ser respeitado por todos, os autóctones e quem é de fora da terra. Eu, sendo estranho na terra, ouvi e respeitei, embora a curiosidade me tivesse tentado a que na manhã seguinte fosse rondar a porta da morança da noiva na expetativa de poder confirmar tal facto.

Mas os tempos vão mudando. Se é verdade que tenho conhecimento que há pouco tempo um guineense na diáspora, já sexagenário, voltou à sua terra e “comprou” uma bajuda para sua terceira mulher, também é verdade porque pude comprovar na Tabanca do Xitole que há casamentos por amor em que os interesses familiares (do pai da noiva) são dispensados e os eventuais valores a pagar pelo pai do noivo é revertido a favor do jovem casal.

Assim aconteceu de facto com a filha do nosso amigo Mamadu Aliu.

Mas comecemos pelo princípio. Há dias quando passámos pelo Xitole [em 1 de maio], tivemos como cicerone o Mamadu. Excelente cicerone que ajudou,  e de que maneira,  o Francisco Silva a aterrar de novo naquela linda tabanca.

Na despedida, depois de umas horas de animada cavaqueira enquanto visitávamos religiosamente todos os lugares que de algum modo estavam retidos na memória do Francisco, o Mamadu lembrou-se de nos convidar para o casamento da sua filha que estava marcado para o dia quatro, ou seja,  a data prevista para o nosso regresso a Bissau.

Há que aproveitar tão honroso convite. Programámos o nosso tempo para chegar pelo meio-dia, mas esta coisa de tempo e horários não se coaduna com gente que está ávida de (re)viver a Guiné. Os convites são tentadores, as picadas são más e o tempo voa. Chegamos pelas duas da tarde depois de uma paragem no Saltinho para dar um último abraço a gente amiga e uma visita “rapidinha” aos rápidos de Cussilinta, pois quem vai à Guiné, e não vai ao Saltinho e a Cusselinta, perde a uma grande oportunidade de apreciar o paraíso.

A nossa chegada coincidiu com o climax da festa, ou seja a hora do almoço. Simples almoço de bianda com uns restos de peixe muito bem temperado que “soube demais”. Três amplos alguidares bem cheios e uma mão cheia de comilões, os homens, pois as mulheres resguardadas dentro da morança saboreavam possivelmente um petisco mais saboroso.

Foi tempo para eu e o Francisco Silva regressarmos rapidamente aos tempos de juventude e fazer bolinhas de arroz na palma da mão e meter à boca, depois de ter o cuidado de lavar bem as manápulas. Que prazer o nosso, ali aninhados lado a lado com aquela gente que educadamente nos cedeu espaço para partilharmos tão gostoso momento, numa algazarra própria de um dia feliz, não fora estarmos no terreiro do pai da noiva. As nossas companheiras de vida e de viagem contentaram-se em arranjar uma colher e aproveitar a ocasião única, para se sentirem “fulas” de verdade.

Seguiu-se uma tarde de arromba. O som do batuque bem alimentado por três incansáveis batucadores estendeu-se por toda a tabanca, fazendo convergir ao local as mulheres mais lindas e vistosas, com os seus trajes de festa, vontade de dançar e pilhas bem carregadas. Espetáculo digno de se ver, a dança a um ritmo diabólico acompanhado com palmas e a algazarra que faziam entrando e saindo da arena. Com a chegada da família do noivo cresceu ainda mais este frenesim esfuziante, que só com o cair da noite se apagou.

O pai da noiva era um homem feliz. Quando se apercebeu que a “miúda” estava a ser cotejada pelo mancebo, teve o cuidado de lhe perguntar se efetivamente gostava do rapaz e obteve um risonho SIM. Então foi ter com o candidato à mão de sua filha e fez-lhe idêntica pergunta, obtendo um vigoroso SIM. Esperou pacientemente que crescessem um pouco e foi acertar contas com os pais do felizardo e fez negócio. Para ele, desprezando os direitos de tradição étnica, não queria nada, mas para o jovem casal, sim. O mais possível, para montarem o seu lar lá na cidade, onde a jovem ia continuar os estudos em informática. Com o genro a trabalhar e uma filha casada por amor, quem não se sentiria feliz naquele dia?!

A noiva estava a conviver ali perto em casa da mãe, a outra mulher do Mamadu, com as bajudas companheiras da sua infância e juventude. O noivo algures noutra tabanca,  possivelmente engalanada, esperava pacientemente que a noiva chegasse ao cair da noite embrulhada num pano branco para se cumprir a tradição. Foi-nos dada a permissão para irmos visitar e felicitar a jovem noiva que em traje casamenteiro se divertia numa animada festa ao som de uma música apropriada que um leitor de CD debitava em alto som.

Belo! As fotos da praxe para mais tarde recordar, uns beijinhos com votos de felicidade e há que deixar a juventude viver a sua juventude. Regressámos a casa do pai da noiva e, porque o tempo não perdoa, e pensando nos quilómetros que ainda tínhamos pela frente para chegarmos a Bissau, iniciámos as despedidas.

Abraços e beijos, sorrisos e mais sorrisos. “Quando bó na volta?” Pergunta repetida muitas vezes para a qual tiveram como resposta um sorriso que refletia apenas uma vontade de voltar, mas não sei quando.

Chegamos a Bissau a tempo de jantar.
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Nota do editor:

Últuimo poste da série > 28 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11772: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (7): O Xitole e o "alfero" Francisco Silva (CART 3492, 1971/73), a emoção de um regresso

Guiné 63/74 - P11804: Notas de leitura (497): Guineidade e Africanidade, por Leopoldo Amado (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Março de 2013:

Queridos amigos,
O nosso confrade Leopoldo Amado fez bem em coligir sob a forma de livro cerca de cinco dezenas de textos que vão desde a historiografia a intervenções públicas enquanto cidadão guineense.
O livro inclui alguns dos seus textos obrigatórios como “A literatura colonial guineense”, “Da embriologia nacionalista à guerra de libertação na Guiné-Bissau” ou “Guiné-Bissau: 30 anos de independência”.
Deve-se também a Leopoldo Amado a análise da literatura da guerra colonial, no caso da Guiné foi pioneiro.
É um acervo enorme, razão pela qual desdobro a recensão acerca de um livro cuja leitura é de grande importância para entender a luta de libertação e as disfunções do Estado, ao longo destas décadas.

Um abraço do
Mário


Guineidade e Africanidade, por Leopoldo Amado

Beja Santos

Como escreve Inocência Mata no prefácio, “São 51 textos de proveniência vária, desde ensaios e recensão de livros a artigos de opinião, crónicas e apontamentos reflexivos (…) Esses textos focalizam assuntos vários (da história à literatura, da sociologia à antropologia, da ciência política à sociologia da cultura), tratados com uma transversalidade disciplinar e revelando uma abordagem muito atualizada das problemáticas do seu país e do seu continente. A intensidade com que vive, perceciona e reflete sobre a realidade guineense revela, se alguém ainda sobre essa matéria tivesse dúvidas, que não se estar geograficamente no país não significa não contribuir para o desenvolvimento do país através de uma participação ativa e construtiva”.

O historiador Leopoldo Amado, nosso confrade, na coletânea recentemente dada à estampa, edições Vieira da Silva, 2013, recupera alguns dos seus ensaios mais emblemáticos, de leitura obrigatória no contexto dos eventos da luta armada, da literatura colonial e da guerra colonial, do balanço sobre décadas de independência, a saber: a literatura colonial guineense; da embriologia nacionalista à guerra de libertação na Guiné Bissau; Guiné-Bissau: 30 anos de independência; simbólica de Pindjiguiti na ótica libertária da Guiné-Bissau; diapasão e persistências na novíssima literatura da guerra colonial: o caso da Guiné-Bissau.

O seu trabalho sobre a literatura colonial guineense foi pioneiro, pela primeira vez se procedeu a um arco histórico sobre eventos do último quartel do século XIX até ao início da luta armada que permitiram medir o pulso à vida intelectual em Bolama, às mudanças operadas pela República no conceito de autonomia, ao aparecimento de Fernanda de Castro na produção literária-colonial com destaque para o seu best-seller “Mariazinha em África”; e também a importância de “O Comércio da Guiné”, onde escreveram Fausto Duarte, Juvenal Cabral e Alberto Gomes Pimentel, entre outros. O aparecimento de Afonso Correia e o seu livro Bacomé Sambú, a história de um nalú assimilado pelos brancos, definido por conceitos ocidentais de miséria e felicidade e inserido num ambiente de cores guineenses sempre com as marcas de água da fauna selvagem, do exotismo, do mistério e do tédio. Segue-se Fausto Duarte e o seu livro Auá, um livro importante de alguém a quem a Guiné muito deve, ele foi o responsável por dois livros de leitura obrigatória, Os Anuários da Guiné de 1946 e 1948. A chegada de Sarmento Rodrigues traz uma viragem que deu pelo nome do “Boletim Cultural da Guiné Portuguesa”. Impuseram-se títulos de grande significado como os “Contos Fulas”, por Pereira Gomes, os “Contos Mandingas”, por Manuel Belchior e os "Contos de Caramó”, por Viriato Augusto Tadeu. “Terra Ardente”, de Norberto Lopes, e “Guinéus”, de Alexandre Barbosa, são outros títulos importantes a registar.

Já virado para a literatura da guerra colonial, Leopoldo Amado chama a atenção para “O Lugar de Massacre”, de José Martins Garcia, “Tarrafo” de Armor Pires Mota, e queda-se por aqui. O estudo sobre o nacionalismo guineense é de primordial importância, faz parte aliás da investigação que Leopoldo Amado desenvolveu para a sua tese de doutoramento que o IPADE publicou em 2011 sob o título “Guerra Colonial & Guerra de Libertação Nacional 1950-1974”. Recria o ambiente dos anos 1950, em Bissau, regista o nome dos intervenientes dos nacionalistas de vária índole, a criação do PAI, o MLG, a atividade política de Cabral na Guiné e depois na clandestinidade, a absorção de parte do MLG pelo PAI, os primeiros anos de Amílcar Cabral em Conacri, a criação de campos de treino, os primeiros atos de subversão, a prisão dos nacionalistas pela PIDE, o papel desempenhado por François Mendy, a fundação da FLING, as rivalidades entre o PAIGC e o MLG, etc. A única omissão de relevo que se pode encontrar neste laborioso trabalho diz respeito às ações subversivas que foram desencadeadas em 1962, no segundo semestre, se é verdade que o primeiro ataque a um quartel data de 20 de Janeiro de 1963, as sabotagens, destruições, emboscadas e confrontos já tiveram lugar em 1962, há registos espúrios como é o caso do fuzileiro Manuel Pires da Silva no “Homem Ferro”, de que aqui já se fez menção. Este foi o início bem-sucedido do PAIGC no Sul, daqui se espraiou por toda a Guiné, onde foi evoluindo de feição favorável.

“Guiné-Bissau: 30 anos de independência”, é uma das mais longas incursões que o historiador faz à volta dos eventos da República da Guiné-Bissau. Estuda os antecedentes que levaram à independência e detalha-os. Enumera fraquezas, como a incapacidade do PAIGC em não ter sabido gerir o aparelho estatal colonial, dizendo que “ao caráter excessivamente centralizador do Estado colonial juntou-se no período pós-independência a feição não menos centralizadora com que o PAIGC administrava a estrutura político-militar e civil nas áreas libertadas através do centralismo democrático. Consequentemente, a macrocefalia dos principais centros urbanos e sobretudo de Bissau, a capital, foi um elemento desmobilizador de consideráveis franjas das regiões rurais”. Mesmo recusando o rótulo de marxista-leninista, os princípios fundamentais do PAIGC na criação do Estado assentavam na direção coletiva, no centralismo democrático e na democracia revolucionário. A crise de 14 de Novembro de 1980 deixou claro que existia uma tensão racial, insanável, a par do reconhecimento de uma deriva de natureza económica e do agravamento das condições de vida, isto para já não falar das promessas que nunca se concretizaram, como a questão dos combatentes da liberdade da Pátria. No final da década de 1980, anunciou-se uma abertura quando Nino Vieira em discurso proferido na Assembleia Nacional Popular se referiu à necessidade premente de se edificar na Guiné-Bissau um Estado de Direito. Iniciara-se um período que conduziu às primeiras eleições multipartidárias, o PAIGC manteve-se no poder mas cedo se detetaram graves enviesamentos do sistema democrático, o aparecimento do PRS (Partido da Renovação Social, que parecia trazer um largo equilíbrio étnico, veio a revelar-se um partido dominado pela etnia balanta que com a eleição de Kumba Yala fez ocupar toda a esfera do poder por balantas, o que gerou novas tensões sociais. Pelo meio, fica o conflito político-militar, depois o enfraquecimento do Estado e os permanentes ciclos de instabilidade política. No termo deste seu trabalho, datado de 2005, Amado chama a atenção para a crise política profunda, a crise económica sem precedentes e a crise de liderança que tinha transformado a Guiné-Bissau numa nova Somália, apelando à necessidade urgentíssima de se proceder a uma profunda moralização da vida pública e a modernização do aparelho de Estado caso se quisesse conferir credibilidade interna e externa ao Estado. Escusado é dizer que este seu apelo não foi ouvido, pelo menos por enquanto.

Toda a obra está polvilhada pequenos textos e anotações, algumas delas cheias de ternura, caso do que escreveu sobre José Carlos Schwarz, a sua música patriótica, pontilhada pelo amor, a evocação da mulher, das crianças e do sofrimento. Schwarz, como é do conhecimento de todos, morreu apenas com 27 anos, na sequência de um acidente de viação. E Amado escreve: “Com o seu desaparecimento físico, transformou-se rápida e indistintamente num misto de herói e de mártir, não apenas porque a ele se deveu a modelação da música moderna guineense, em que revelou os rasgos do seu génio criador; não apenas porque lhe coube a proeza de ter desafiado como poucos as autoridades coloniais, mas porque a longevidade das suas “verdades” no imaginário coletivo guineense chocavam e ainda chocam com a mundividência hipócrita dos que, agindo em sentido contrário, apresentam as suas “virtudes” como únicas, absolutas e inquestionáveis”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11785: Notas de leitura (496): O Império Africano 1890-1930, coordenação do Prof. Oliveira Marques (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)


França > I Guerra Mundial > Corpo expedicionário português > c. 1917/18 > Um grupo de militares camaradas de meu Pai, que é o 1.º da esquerda sentado.


França > I Guerra Mundial > Corpo expedicionário português > 1918 >  Outro grupo de camaradas, estariam alguns na foto de cima  (?). Foi enviada em IX/X/18. Três são de Ílhavo: o meu Pai, é o da extrema direita e os outros conterrâneos chamavam-se, João Pinto e Manuel Silva. O civil era um "Monsieur" Francês ("muito meu amigo", nas palavras de meu Pai) e o 4.º militar era do Porto.

 Fotos (e legendas): © Jorge Picado (2010). Todos os direitos reservados

1. Texto e fotos enviados pelo Jorge Picado, em 28 de Fevereiro de 2010.  Certamente por lapso, o poste foi editado  mas não chegou a ser publicado. As nossas desculpas ao autor e aos leitores.

Recorde-se que o nosso amigo e camarada Jorge Picado [, foto à esauerda,] foi cap mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72 [... aos 32 anos, pai de 4 filhos, engenheiro agrónomo, filho de Ílhavo, com muita honra, acrescenta ele].

Assunto: I Guerra Mundial

Amigo Luís Graça:


No P5899 (*) de ontem, sobre a Exposição Portugal nas Trincheiras – A I Guerra da República, que publicaste, terminas referindo-te a antepassados de camaradas da Tabanca Grande que possam ter participado dizendo: "Mas haverá mais casos…que poderão chegar ao conhecimento do blogue"...

O camarada José Marcelino Martins no seu comentário dá nota de 2 dos seus antepassados que tinham o posto de 2.º Sargento e que também participaram naquela guerra.

Ia para dar também finalmente, já que quando este assunto foi anteriormente abordado tinha escrito algo, dar conhecimento do meu caso, mas como queria enviar umas fotos já muito velhinhas que não sei se terão qualidade para serem reproduzidas, remeto-te o texto e as fotos para tua apreciação.

Um abraço e se não for antes até ao almoço na Ortigosa.

Jorge Picado


2. O meu Pai também fez parte do Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial em França (**)

por Jorge Picado 


Tendo nascido no final do séc. XIX, mais precisamente em 22 de Junho de 1895, e tomado o nome de Amadeu Simões Picado, mas já sem o apelido de "Bravo", que afinal sempre mostrou ser, ficou apto para todo o serviço militar quando foi às sortes, já que era um rapagão e pescador saudável e a sua incorporação no Exército deu-se em plena Guerra.

Sendo ele pescador, naqueles tempos, nas chamadas "Artes de Pesca" de Sesimbra, não se esqueçam que os Ílhavos foram rumando para Sul, pelas costas de Portugal, e não só, já que no Tejo embrenharam-se até por ele dentro, mas como ia dizendo pelo litoral fora até aos Algarves, formando diversas "colónias piscatórias", sempre que assentavam arraiais naquelas em que a pesca se mostrava pródiga, como pescador, portanto, mas talvez por não ser embarcadiço, isto é, não andar nos navios de pesca do "alto mar" ou mercantes, não foi cumprir o serviço militar na Marinha, mas sim no Exército.

Não era um iletrado, pois tendo frequentado a escola primária até quinze dias antes dos exames da 4.ª classe, só não concluiu a escolaridade nessa data, face a um castigo injusto que um professor, que não era o da sua turma, lhe aplicou.

Com a sua rebeldia, ou ele não fosse herdeiro de antepassados com apelido "Bravo" que muitas vezes se sobrepunha ao próprio nome, saiu repentinamente da sala, tendo de atravessar a sala do professor da sua turma que como Director da Escola tentava preparar melhor os alunos do tal professor para os exames finais e abandonou o edifício, apesar dos protestos do "seu" professor que veio atrás dele, mas não o conseguiu deter.

Por este motivo já não voltou mais à escola, nem a casa dos seus Pais, pois sabia que a severidade da sua Mãe, contrastando com a bondade do Pai, como contava, se faria sentir no seu corpo e o obrigaria a voltar à escola e humilhar perante todos, coisa que ele não admitia, passando a viver desde aí com uns tios e acabando por não fazer o exame da 4.ª classe.

Com aquela idade já o seu voluntarismo e o seu forte sentimento de não se submeter nem pactuar com injustiças, traçaram o seu caminho.

Em lugar de seguir as pisadas do seu irmão mais velho que, completando a instrução, se tinha tornado Oficial Náutico, ele que era dos melhores alunos da turma, iniciou-se como auxiliar nas "Companhas de Pesca" da Costa Nova, ou para aqueles que não conhecem esta maravilhosa e antiga região, na chamada "Arte Grande" ou "Arte de Xávega", prosseguindo como pescador, para depois seguir com outros familiares para as tais "Artes" de Sesimbra, até ser incorporado na Arma de Engenharia, na especialidade, como ele dizia com muito orgulho, de "Pontoneiro", construtor de pontes militares, feitas naqueles tempos com barcaças amarradas de braço dado, sobre as quais se colocavam os estrados que serviam de passadiços.

Desculpem-me este alongamento na descrição e, já agora, um pouco mais da sua iniciação na vida militar, não só para dar a conhecer um pouco mais a têmpera de que ele era feito, mas também como uma pequena homenagem que lhe quero prestar.

Todos que me lêem, com excepção daqueles que por fatalidade se viram órfãos de Pai muito cedo, foram durante a sua infância educados por Pai e Mãe. Ora eu, não sendo órfão, fui apenas educado por minha Mãe, já que só conheci o meu progenitor quando tinha 9 anos, em 1946. Podem crer que invejava muito os meus colegas de brincadeira que tinham diariamente ou pelo menos ao fim duns meses, aqueles que andavam ao mar, os seus Pais em casa e eu tinha um Pai de fotografia em cima dum móvel da casa…

Emigrante nos USA, desde o início da década de 20 do séc. XX, já depois de ter regressado de França casado e com a primeira filha, em consequência da II Guerra Mundial, a estadia naquele País depois de me ter concebido e ver-me nascer, como quinto descendente, mas quarto filho vivo, prolongou-se por quase 9 anos, em lugar dos habituais 4.

Por esse motivo, só quando regressou definitivamente da sua diáspora, já então eu andava no ISA [, Instituto Superior de Agronomia, ] em Lisboa, é que comecei a saber mais da sua vida, já que ele possuía uma "memória de elefante" e recordava todos os pormenores desde a sua infância, o que para mim era um espanto.

Assim, sobre a parte militar, contava ele todo ufano:

Ao chegarmos ao quartel, estava um militar sentado a uma mesa e outro em pé por trás. Sabes, eu ainda não conhecia as patentes, pois só depois é que vim a saber quem eram, e nós,  os tais mancebos, em fila, íamos entrando um a um e esse sentado perguntava o nome, a terra e a data de nascimento… Só depois se entrava e o tal que estava em pé dizia a um ou outro, para este lado ou para aquele.

Ao chegar a minha vez, disse o nome, a terra e, já por malandrice como fazia sempre, a data verdadeira em que nasci, 22 de Junho de 1895.

Responde-me o tal militar sentado, que depois vim a saber ser sargento:
─ Seu burro, que nem a data de nascimento sabe.

Quase nem chegou a terminar a frase porque levou logo como resposta e com o meu vozeirão:
─ Seu burro é você. Sei muito bem a data do meu nascimento, só não tenho é culpa que o burro do individuo que escreveu o registo, por burrice ou estar bêbado tenha escrito um 2 em vez de dois 2.

Abro aqui um parênteses para explicar que o tal funcionário que naquela época fazia os registos em Ílhavo, gostava muito dos copos e escrevia muitas vezes o que queria e não o que as pessoas lhe ditavam, valendo-se do analfabetismo quase geral da população. Por esse motivo muitos houve que só na adolescência, quando precisaram de documentos, para irem por exemplo para o mar, é que vieram a saber que não eram detentores do nome que julgavam ter e pelo qual sempre foram tratados, mas sim de outro pelo qual nunca foram conhecidos.

Mas voltando à incorporação do mancebo Amadeu Picado:

O militar ficou muito vermelho e o outro que estava em pé e que depois soube que era Capitão, não o deixou falar e disse-me muito calmamente.
─ Ainda que haja erro no registo, a verdade é que oficialmente a sua data de nascimento é a 2 e não 22, pelo que deve responder e escrever sempre como tendo nascido a 2. Passe para este lado, que era o grupo onde estavam muito poucos, já que quase todos iam para o outro lado.

Sabes, o Capitão estava a separar aqueles que iriam ficar com ele, escolhendo os que tinham mais estudos e se mostravam mais espertalhaços.

Passou a ser "o meu Capitão", obrigou-me a ir a exame da 4.ª, mesmo sem frequentar as aulas, pois eu mesmo assim sabia mais do que os outros, passei depois a ser o seu impedido, tendo sempre o seu cavalo todo bem tratado, indo buscar o seu almoço a casa, o que me valeu namoriscar a criada e antes da mobilização, deu-me uma caderneta militar nova e limpa de todos os castigos, já que eu não era muito domável àquela disciplina militar.

Para tristeza dele só não conseguiu que, depois de me fazer cabo, eu me inscrevesse para a Escola de Sargentos, como ele queria. Mas eu sempre lhe disse que era como as gaivotas e preferia os perigos do mar do que ficar preso em terra.

Portanto,  o meu Pai embarcou para França como cabo e não sofreu propriamente as agruras da frente das batalhas, já que ficou como quarteleiro junto do Comando do "Corpo" (?) de Engenharia, logo sempre na linha da retaguarda, quase sempre aquartelados num daqueles Chateaux, sede duma enorme propriedade agrícola.

O proprietário, que aí vivia com a família, convivia e dava-se muito bem com as tropas Portuguesas e, como o meu Pai dizia, até nisso tinha tido sorte pois era tratado pelo francês com muita deferência, se bem que só mais tarde viesse a desconfiar qual o motivo para tal.

É que os donos daquelas propriedades tinham apenas uma filha, por sinal também em idade de casar e,  apercebendo-se das qualidades do portuguesito, como ele dizia, começaram a pôr o olho nele para tomar conta da empresa agrícola. Só que havia ficado cá,  nesta vila maruja, uma costureirinha que lhe tinha já "costurado" o coração e, com muita pena do francês, nada feito.

Como já disse, depois de regressar da França passados dois ou três anos casou-se e,  após o nascimento da primeira filha, emigrou legalmente para os USA, onde mourejou muito quase sempre como pescador, com excepção dos tempos da "Depressão", em que teve de apanhar todos os diversos tipos de trabalho em terra que conseguia.

Envio então as duas fotos

1 – Um grupo de militares camaradas de meu Pai, que é o 1.º da esquerda sentado, em França.

2 – Outro grupo de camaradas, estariam alguns na foto 1 (?), e enviada em IX/X/18.

Três são de Ílhavo: o meu Pai, é o da extrema direita e os outros conterrâneos chamavam-se, João Pinto e Manuel Silva. O civil era (um "Monsieur Francês muito meu amigo", nas palavras de meu Pai) e o 4.º militar era do Porto.

Recordando as histórias que o meu Pai contava, seria este Francês que ele escreveu Monsieur, o tal grande agricultor cuja quinta tinha um palacete e que queria casar a filha com o meu Pai?

Abraços

Jorge Picado
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Guiné 63/74 - P11802: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (20): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte VII): Uma foto histórica, a do reencontro dos 'velhinhos' José Augusto Ribeiro e Carlos Paulo (CART 566, Olossato, 1964/65) com o Rui Silva (CCAÇ 816, Bissorã e Olossato, 1965/67)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Três  "velhinhos" da guerra da Guiné: José Augusto Ribeiro (Condeixa), Rui Silva ( Santa Maria da Feira) e Carlos Paulo (Coimbra). (*)

O Paulo e o Ribeiro eram, naquele sítio e momento, se não me engano, os "velhinhos" dos mais "velhinhos", em termos de antiguidade na tropa... Pertenceram à CART  566 (que veio de Cabo Verde, 1963/64. para reforçar o TO da Guiné, no início da guerra, 1964/65)... Por seu turno, o Rui Silva pertenceu à CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67). Conversa puxa conversa. andaram nos mesmos sítios e na mesma guerra. Daí esta "foto histórica"...

Foto: © José Augusto Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada José Augusto Ribeiro que eu tive o gosto de pessoalmente conhecer e abraçar em Monte Real, no passado dia 8 de junho, e que se comprometeu em trazer, para a nossa Tabanca Grande, o seu camarada de armas Carlos Paulo:

Data: 9 de Junho de 2013 às 23:44
Assunto: Uma fotografia histórica.;

Camarada Luís Graça, essa fotografia histórica está aqui, afinal o fotógrafo estava lá.

 É verdade que se fizeram várias operações em conjunto, a CART 566 e a CCAÇ 816. Não é possível me lembrar da "cara" do Rui Silva (**), pois já passaram quase 50 anos sem nos termos encontrado, mas lembro-me do dia 1 de Agosto de 1965, a que eu chamei O DIA MAIS LONGO, em carta que escrevi à minha jovem Madrinha de Guerra, hoje minha mulher, casados há 47 anos. O Rui também lhe chamou O DIA MAIS LONGO..

Os relatos do Rui eram também iguais aos nossos. Outras operações também foram recordadas. O Olossato, o nosso guia "Vacar" que ficou cego, o quintal do caboverdiano, etc..

Estes encontros são salutares. Eu gostei de participar, por isso quero dar os parabéns à organização que fez um bom trabalho. Parabéns para todos e em especial para o Carlos Vinhal que está de serviço quase 25 horas por dia. 

Um abraço para todos, deste que em idade seria o mais velho presente naquele dia.

José Augusto Miranda Ribeiro
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Notas do editor:

(*) Últim poste da série > 22 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11746: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (19): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte VI): Dando de comer ao corpo e à alma: seleção de fotos do Jorge Canhão

(**) Vd. poste de 9 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11685: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Monte Real, 8 de junho de 2013 (Parte I): as primeiras imagens da nossa festa anual

(...) Comentário de Rui Silva

Coisas da Tabanca Grande:

Não é que andei com estes 2 camaradas, o José Ribeiro e o Carlos Paulo, juntinhos, mais à frente ou mais atrás, em operações no mato e que de uma forma extraordinária e inconcebível (até), nos viríamos a encontrar praticamente 50 anos (meio século) depois?!!

Que grande prazer e satisfação!

De facto o mundo é pequeno e esta tabanca é mesmo muito GRANDE.

Rui Silva, sem deixar de enviar um grande abraço para estes amigos e também para ti Luís, principal "causador" destes encontros quase, quase improváveis. (...)
 

Guiné 63/74 - P11801: Bom ou mau tempo na bolanha (17): O 4 de Julho nos Estados Unidos (Tony Borié)

Décimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Olá camaradas combatentes
Tal como nós festejamos, ou devíamos festejar, algumas datas importantes da nossa história, do nosso Portugal resistente, do nosso Portugal combatente, que lutou em algumas guerras, desde o reinado de D. Afonso Henriques, que a algumas centenas de anos, se lembrou de dizer à sua mãe:
- És minha mãe, mas não gosto do Rei de Castela, vou ser independente,
nos Estados Unidos festejam o dia 4 de Julho, como o Dia da Independência, é um feriado nacional que celebra a Declaração de Independência de 1776, ano em que as treze Colónias declararam a separação formal do Império Britânico.


Este dia, o “Dia da Independência”, é o feriado mais importante dos Estados Unidos e tem forte influência sobre a cultura americana em geral, tendo sido retratado nos mais diversos meios de informação.

Usualmente, comemora-se com muitas actividades ao ar livre, existem algumas celebrações de reconhecimento aos antigos combatentes, as famílias juntam-se em “picnics”, jogos de basebol e espectáculos de fogos de artifício, que chegam a ser deslumbrantes.


Não vamos historiar, mas vamos explicar só um pouquinho do que significa este dia para nós, que aqui vivemos e fizemos deste país uma segunda Pátria.


Durante a Revolução Americana, a separação legal das treze Colónias da Grã-Bretanha, ocorreu em 2 de Julho de 1776, quando o segundo Congresso Continental votou para aprovar uma resolução de independência que havia sido proposto em Junho, por Richard Henry Lee, de Virginia, declarando os Estados Unidos independente da Grã-Bretanha.
Depois de votar pela independência, um comunicado explicando esta decisão, que havia sido preparado por um comité de cinco, com Thomas Jefferson como seu autor principal, o Congresso debateu e revisou o texto da Declaração, e finalmente aprovou-o em 4 de Julho. Portanto o “4 de Julho”, é o dia que marca a separação da Grã-Bretanha e prepara o início de uma nova nação, que hoje são os USA.

Um abraço do
Tony Borie
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11788: Bom ou mau tempo na bolanha (16): Afro-americanos (Tony Borié)