quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12434: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (10): A Mãe d'Água ou a 'Sintra de Bafatá', local aprazível e romântico onde se realizavam almoços dançantes para os quais se convidavam os senhores alferes, alguns furriéis e as moças casadoiras



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16A


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 B


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 C

FOTO 16 > Zona da Mãe d’Água, também chamada “Sintra de Bafatá”, onde havia umas mesas para piqueniques e que, de vez em quando, a esposa do comandante  Esquadrão  organizava uns almoços dançantes (16 C) em que eram convidados além dos alferes, e penso que alguns furriéis (16 B) , todas as meninas casadoiras de Bafatá, libanesas e não só (16 A).

 [ O Fernando Gouveia não quis identificar o Esquadrão, mas o último do seu tempo, foi o Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71, cujo comandante era o cap cav Fernando da Costa Monteiro Vouga; reformou-se como coronel, e é autor de diversos livros sob o nome de Costa Monteiro].



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17 A

 FOTO 17 > “Sintra de Bafatá”. Caminho que ia de junto do Mercado até à Mãe d’Água e casa do comandante do Esquadrão. Todo o percurso era ensombrado, como os caminhos da mata de Sintra. Na foto, o Fernando Gouveia, à civil.


Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo  Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à esquerda]

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de dezembro de  2013 >  Guiné 63/74 - P12401: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (9): Fotos 6, 7, 10 e 12: rua do cinema, parque infantil, rua das libanesas, porto fluvial, Rio Geba

15 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro Fernando, lamentavelmente nunca cheguei a explorar, conhecer e tirar proveito desse lugar encantador que deveria ser a "Sintra de Bafatá"...

Aliás, só tive conhecimento do sítio através das fotos do teu álbum. Deixa-me dizer-te que esta foto de um dos almoços dançantes, organizados pela esposa do comandante do EREC (não dizes qual, nem isso interessa) é simplesmente uma delícia!...

Quem se atreve agora a dizer que nessa época (c. 1968/70) a Guiné era um país em guerra!...

Sei que não eras um "habitué" destes convívios... Tinhas casa e eras já casado, em Bafatá... De qualquer modo, houve moças casoiras de Bafatá que aí encontraram o amor das suas vidas... Um pouco de romantismo no nosso blogue também fica muito bem. E como nós precisamos de romantismo para continuar a poder sonhar!

Tony Borie disse...

Olá Fernando.
Bonitas fotos, mesas improvisadas, com toalhas diferentes, talvez fosse o que havia, e até havia música, pois creio que vejo numa das fotos um "gira-discos"!.
Deviam de ser momentos agradáveis, dentro da guerra!.
Será que só eram convidados senhores alferes e alguns furriéis, não eram convidados cabos e soldados!.
No meu tempo, se esta reunião se realizasse, com toda a certeza que também iam alguns cabos e soldados, pois em Mansoa, vivíamos quase todos juntos e não havia muita diferença entre nós, pelo menos era o que o nosso comandante de Agrupamento nos mentalizava, dizendo que não queria "salamaleques", quando alguém lhe fazia a respectiva saudação, o que ele queria era respeito, e dizia que estavam todos no mesmo barco, mas com diferentes responsabilidades!.
E era um homem com patente de "Coronel".
Creio que nas vossas festas também seriam convidados cabos e soldados, oxalá que sim!
Um abraço e adorei as fotos a preto e branco.
Tony Borie.

Fernando Gouveia disse...

Luís:
Todos esses convívios foram organizados pela esposa, sempre presente, do Cap. Campos do Esq. Fox 2350. Este Esq. foi rendido em meados de 1969, altura em que casei. Era pois, sim, como tu dizes, um “habitue”.
Efectivamente um alferes que esteve lá pelo Agrupamento, o Vaz (alentejano), veio a casar com uma moça libanesa lindíssima.

Quanto ao Tony tenho a dizer que um dia fui chamado ao gabinete do chefe do estado maior do 1980 e recebi um “bode” por me ter visto a jogar “ori” com um furriel (por acaso o Carlos Miguel, (o “fininho”). Só que ele não sabia que quando eu ia à caça costumava almoçar as peças de caça numa mesa de uns dez elementos em que o único oficial era eu.
Se nos tais convívios estavam soldados e cabos já não me recordo.
Abraços
Fernando Gouveia

Luís Graça disse...

Tony e Fernando:

Não vale a pena "iludir" a questão: o nosso exército era, nessa época (não conheci outra, a não ser talvez a doa anos 40, pelos testemunhos e fotos do meu pai, expedicionário em Cabo Verde...) um exército "classista", com uma clara separação dos 3 corpos, oficiais, sargentos e praças... E, dentro dos oficiais, uma clara distinção entre os "infantes" e a "elite", técnico-científica (artilharia, cavalaria, engenharia, transmissões...).

Com algumas exceções, na Guiné, havia casernas e outras instalações (messe, refeitório, bar, cantina...) "separados"... Nas sedes de batalhão (Bambadinca, Bafatá...) a "distância social" ainda era maior... Os furriéis tratavam os alferes por você, a malta não se misturava..., Só se misturava quando havia "merda"... Nas valas, no mato, nas picadas, nas tabancas em autodefesa... Ah!,e na capela... E mesmo aqui os soldados e praças ficavam lá atrás... (Era ssim mas suas vilas e aldeias: à frente, mais perto de Deus, ficavam sempre os "senhores", os "fidalgos", como aimda se diz no Norte...).

Os oficiais do quadro, formados na Escola do Exército ou na Academia Militar do Estado Novo, produziam e reproduziam este "apartheid" sócio-castrense...

O problema ainda era mais grave nas companhais africanas em que o pessoal do recrutamento local era "desarranjado" e vivia, muitas vezes, fora do arame farpado com as as suas famílias...

Nunca soube onde, desgraçadamente! Nunca visitei a(ou fui convidado para ir à) morança de um dos meus soldados em Bambadinca...

Devo acrescentar: não sei como era com as tropas especiais, páras, fuzos e comandos... De qualquer modo, éramos todos iguais mas uns mais do que outros...

Luís Graça disse...

O Luís Dias, que hoje faz anos, bem podia ser o DJ desses almoços dançantes...

Não consigo distinguir as capas dos discos de vinil que estão junto ao giradisco da foto 16C, mas atreveria a pedir-lhe que nos mandasse as suas escolhas musicais (de acordo com a oferta da época...) e o seu alinhamento para um perfeita tarde de convívio entre jovens de ambos os sexos na Sintra de Bafatá!...

Luís, não tem que ser hoje, mas este pedido vais ter mo satisfazer!

Anónimo disse...

Esta Bafatá não conheci! Enfim destinos...

JCabral

Henrique Cerqueira disse...

Ora aqui está:
O que o Luís Graça escreve era bem real.Falo por experiência própria.
Em Bissorã também se realizavam alguns piqueniques,normalmente organizados pela esposa do administrador e os convidados militares eram sempre as patentes mais elevadas por, puro elitismo.No entanto a partir do momento que a minha mulher foi para junto de mim começamos a ser convidados e claro que eu de imediato aceitei porque pretendia dar à Ni alguma vida social e o certo é que tive de engolir as considerações que fazia anteriormente sobre esses eventos sociais.Felizmente que a Ni conseguiu criar muito boa empatia com as esposas da dita elite e até devido aos dotes de boa cozinheira que a Ni tem criou até alguma "dependência" nessas "senhoras" em especial a esposa do administrador que por sinal era uma excelentíssima pessoa simples e de bom trato.E então de quando em vês se trocavam alguns petiscos representativos da região da Ni (Douro) e de Cavo Verde região da esposa do Administrador.Mas na realidade esses convites eram sempre muito restritos precisamente pelo elitismo existente na altura.Mas enganam-se aqueles que acham que o elitismo se acabou.Ainda hoje é real especialmente no seio dos "novo-riquismo" . É a vida meus caros.
Eu enquanto tive a Ni comigo em Bissorã aproveitava sempre que podia essas "mordomias" porque me interessava mesmo que a Ni tivesse vida social,no entanto não deixamos de nos socializar com a população em geral e muitos camaradas militares de diversas patentes.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Torcato Mendonca disse...

É bom saber desta Bafatá tantos anos depois.

Ainda bem que existiu.

A minha era a que todos conheceram; mercado, lojas de libaneses,locais de comida da "nossa", ourives, local de quecas (havia especiais...caras mas boas)e nada mais...áh o cinema e só lá fui porque houve porrada.

Quanto á estrutura das nossas Forças Armadas isso é outra "dança"...

Ab, T.

Antº Rosinha disse...

Nas colónias, no caso Angola, sem guerra havia um espírito natural anti-gravata que começava na viagem de barco ao passar na Madeira.

O elitismo tornava-se naturalmente ridículo a partir do Funchal.

Com o início da guerra e com a chegada às colónias de oficiais, sargentos e praças, recomeçou a formar-se lentamente, novamente as castas como que o clero,nobreza e povo.

Antes da guerra, havia uma atitude tão comunicativa que quem pretendesse fazer selecções ficava isolado.

Mas a guerra veio criar um ambiente de "gravata" muito estranho à colónia.

Foi lindo e desempoeirado, mas acabou-se!

Luís Graça disse...

Pois, pois, o alfero Cabral só conhecia o Bataclã, no bairro da Rocha!...

E o alfero Mendonça interessava-se, entre outras coisas (boas) que tinha Bafatá, pelos trabalhos do ourives, grande artesão, o Tchame... que trabalhava a prata (e não sei se o ouro; nunca fui cliente).

Ó sinhôs alferos e furiés... E a Mãe d'Água ali tão perto...E à volta da Mãe tantas bajudas... casadoiras!...

Enfim, esta era a única nesga de mundo decente que o "tuga do mato" podia vislumbrar, bisbilhotar, espreitar ou até cheirar e apalpar...

Claro, claro, diriam os alferos Cabral e Mendonça, feros guerreiros: a nós tccou-nos em, sorte o malditop "mato", Missirá e Bissaque, Mato Cão, Mansambo, Galo Corubal, Candamã...

Bafatá, senhor alfero Gouveia, era coisa fina, ou piava mais fino... Por isso, estamos aqui a desfolhar as páginas do seu álbum, "mostrando a doce, tranquila e bela princesa do Geba"...

Pelo menos era assim, dizem, até à noite do pandemónio que terá sido o ataque (ou flagelação) dos "turras", em 26 de junho de 1971... Breve (5 a 10 minutos), sem relevância militar, mas com grande impacto em termos políticos e psicológicos, como o reconheceu o comandante do EREC 2640, o cap cav e escritor Fernando da Costa Monteiro Vouga... Parece que o Spínola ficou fulo... Batafá era o coração do chão fula... A lealdade e a confiança dos fulas do leste ficaram abaladas...

Nenhum de nós 4 já estava lá, nessa altura...

Mantenhas para todos os três alferos, bons camaradas e melhores amigos! Luis

Fernando Gouveia disse...

Camaradas:
Sobre a questão das hierarquias militares e suas consequências tenho a dizer que como já uma vez disse no blogue, nunca vi o Spínola, embora ele tenha ido várias vezes a Bafatá. Nunca ninguém se importou se eu gostava ou não de conhecer um homem que por acaso, e nessa altura, não me era indiferente.
Porém numa das vezes em que foi a Bafatá havia a necessidade de arranjar senhoras que fizessem companhia à esposa do General. Lá foi convidada a minha mulher. Foi, e eu não deixei de lhe dizer: Se de alguma forma fores subalternizada só tens que dar meia volta e vires embora, pois uma coisa sou eu, que realmente sou subalterno, outra és tu que necessariamente terás que ser tratada como igual. Correu tudo bem e acabou por assistir a manifestações nativas que de outra forma não tinha sido possível.
Um abraço
Fernando Gouveia

Manuel OLIVEIRA PEREIRA disse...

Há muito que ando arredado da participação activa neste "nosso espaço". Hoje não resisti ao (re)ver as fotografias da "Sintra" de Bafatá. Curiosamente ao talvez não, participei num dos "últimos" eventos deste belo refúgio. Não recordo se em fins de 72 ou já em 73 - estive no CTIG entre Março de 72 a fins de Julho de 74 - tive com outros camaradas, o privilégio de passar uma noite fantástica na "casa" do Cmd de Esquadrão. Essa noite, que se prolongou manhã adentro, consistiu numa "Gala de Fado", abrilhantada por algumas boas vozes, sendo que a "fadista", cabeça de cartaz, era a celebérrima "Cilinha Supico Pinto". Alguns dias depois acompanhei-a na sua "digressão" até Fajonquito. Curiosamente, já tinha estado com ela em Medina Mandinga (Nova Lamego), Companhia onde durante algum tempo estive destacado com o meu grupo de combate. Voltando à Gala, lembro as muitas pessoas - civis e militares - ali presentes, onde os "comes e bebes" não faltaram. Muito longe de sermos réplica dos muitos espectáculos com que os artistas americanos brindavam os seus militares na guerra do Vietname, nós, na Guiné, lá tínhamos - como em tudo - a nossa forma de "desenrascanço" - não há artistas, cantamos nós. O "teatro de guerra " tinha destas coisas! - Um abraço e Boas Festas a todos os "camarigos".

Fernando Gouveia disse...

Camaradas:

Tinha-me esquecido de dizer que no meu tempo também era costume haver uns jantares na casa do Comandante do Esquadrão, onde eu também costumava ir.
Um dia até houve uma bronca: No fim de um dos jantares quando já quase toda a gente tinha ido embora "sobrou" em cima da mesa um frasco de um antibiótico e outro de vitamina B (qualquer coisa). Depois de muito se indagar a quem pertenceria veio a descobrir-se que seria do Major S...

Um abraço
Fernando Gouveia

Fernando Gouveia disse...

Camaradas:

Tinha-me esquecido de dizer que no meu tempo também era costume haver uns jantares na casa do Comandante do Esquadrão, onde eu também costumava ir.
Um dia até houve uma bronca: No fim de um dos jantares quando já quase toda a gente tinha ido embora "sobrou" em cima da mesa um frasco de um antibiótico e outro de vitamina B (qualquer coisa). Depois de muito se indagar a quem pertenceria veio a descobrir-se que seria do Major S...

Um abraço
Fernando Gouveia

Anónimo disse...

"Comesainas" convívios, hierarquias militares, socialização..

Para uns felizardos...

Outros era mais..sede..fome..pó..lama..catinga...paludismo..diarreias..merda..muita merda..cagava-se onde se podia..até em frente ao canhão s/r..o que era proibido..cús pro-ar.."ALA akabar"...e a "puta da guerra" sempre presente..diariamente...

Soldados...sargentos..e oficiais..todos ao "mólho"..elites..pufff..verdadeiro comunismo..é que era..comungávamos todos da mesma merda.


Ah...existia hierarquia e disciplina..pudera..mas sem salamaleques tipo continências e sentidos e outras merdas dos militares de "parada".

Desabafei..sinto-me aliviado.

C.Martins