domingo, 8 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12412: Tabanca Grande (413): Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art, MA da CART 1659 - Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68, com data de 29 de Novembro de 2013:


Sou o ex-Furriel Miliciano de Artilharia, mas Atirador de G3 e outras armas, Nº 03163264, Mário Vitorino Gaspar, com o Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, da Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659) – ZORBA.

A minha incorporação deu-se a 3 de Maio de 1965, em Caldas da Rainha, no RI 5, no Curso de Sargentos Milicianos (CSM).

Fui colocado no RI 14 em Viseu, dando algumas recrutas como Monitor, neste quartel. Iniciei, em 8 de Agosto de 66, o XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, tendo passado no mesmo e recebido um diploma.

Sou mobilizado para integrar a CART 1659, que era uma Companhia Independente e teve como Unidade mobilizadora o RAC, em Oeiras.
Levou a efeito a Escola Preparatória de Quadros no GACA 2 em Torres Novas. Seguiu-se a Instrução Operacional. Depois de recebidos os militares, iniciou-se a 1 de outubro de 66 a Instrução Especial no RAL 5, em Penafiel, que terminou em 18 de Novembro de 66. Seguidamente no RAC, em Oeiras iniciou-se o IAO, tendo os exercícios finais de aperfeiçoamento sido realizados nas matas e na região do Guincho, e terminadas em 21 de Dezembro de 66.


COMPANHIA DE ARTILHARIA 1659 (CART 1659 - ZORBA)

No dia 11 de Janeiro de 67, embarcámos no paquete Uíge, chegando à barra do porto de Bissau, na noite de 17 de Janeiro, e ao contrário que seria de esperar, procedeu-se a um transbordo para uma LDM e Batelão BM-1.
Ficámos espantados, visto julgarmos desembarcar em Bissau, seguindo posteriormente para uma zona de intervenção. No Uíge, deram-nos uma maçã, um quarto de pão, uma laranja, um ovo e um destino incerto.

Avançávamos por uma via fluvial estreita, o mato quase que nos tocava. Cheios de fome, avistámos uma povoação, e disseram-nos tratar-se de Cacine. Foram-nos dadas sacos de laranjas sumarentas mas azedas. O Capitão Miliciano Manuel Francisco Fernandes de Mansilha, nosso Comandante, falando com os Oficiais e Sargentos informou que se juntaria a um pelotão uma secção, ficando destacados num local de nome Ganturé.
A Companhia ficaria aquartelada em Gadamael Porto.
Feito um sorteio, tocou ao meu pelotão ficar no destacamento.

Destacamento de Ganturé em 1967

Desembarcámos em Gadamael Porto a 19 de janeiro, e o termo “porto” não tinha significado, visto não existir porto algum. Nem sequer um simples cais. Rendíamos a CCaç 798. De imediato tivemos que carregar as malas e saltarmos para cima de uma caixa de uma GMC, que substituía o cais que não existia. Houve quem escorregasse e caísse no lodo. Com a nossa Companhia veio o Pelotão Fox 1165 que nos acompanhou até Gadamael, tendo seguido dias depois para Guileje.

A CART 1659 ficou colocada no Sector 2, ficando ligada operacionalmente ao BCaç 1861, com Sede em Buba. Este último foi substituído pelo BArt 1896 em 5 de abril de 67. Em 26 de junho de 68, este Batalhão foi rendido pelo BCaç 2834.

Viviam em Gadamael cerca de 400 indivíduos (beafadas, fulas, sossos, bagas, tandas, nalús, landumas e mandingas).

As Praças “U”, pertencentes à Companhia, somam 31 elementos, existindo ainda 45 Caçadores Nativos.

O Pelotão e a secção seguiram para Ganturé. Alguém avisou não ser necessário picar-se visto ter existido grande movimento de viaturas durante todo o dia.

A CCaç 798 começava a embarcar na LDM e no Batelão. Para eles era a alegria do fim da comissão.

Chegámos a Ganturé, sede do regulado, e o Régulo é Abibo Injasso, beafada. E Viviam em Ganturé cerca de 200 indivíduos (beafadas e fulas). Ficámos portanto junto da fronteira com a República da Guiné, Guiné ex-Francesa.

Posição relativa de Gadamael-Porto, Ganturé e Gadamael-Fronteira. Vd. Carta de Cacoca - 1:50.000

Tanto em Gadamael como em Ganturé começou-se por cortar o capim em toda a zona, não só a entre a paliçada (construída com chapas de bidões e terra batida no meio) e o arame farpado, acabando por cortar o mato e capim mais para a frente, já na mata. Tínhamos uma visão mais ampla de toda a zona circundante do aquartelamento. Os abrigos foram melhorados, consoante aquilo que os militares consideravam ser mais cómodo, e aqui e acolá iam surgindo uns pequenos luxos para o local, tudo isto feito nos intervalos das primeiras patrulhas e operações em redor da zona, sempre coordenadas pelo Comandante da Companhia.

Iniciámos intervenções em Guileje, Mejo, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. A água era uma relíquia, não existindo ali, tinha que ser puxada com um motor para bidões de bolanhas e transportada, não só para beber como para a comida e a higiene de cada um. A água para beber, tinha que ser tratada com pastilhas e filtrada, e mesmo assim sabia mal. Todos os dias um grupo de militares armados partiam para a captação de água e de madeira. Não havendo casas de banho apropriadas, o banho era com um púcaro improvisado, feito de uma qualquer lata com uma asa de arame, que derramava aquele líquido precioso sobre o corpo. Os copos eram feitos de garrafas partidas com óleo queimado com um ferro em brasa. A luz era feita através de garrafas cheias de gasolina ou gasóleo, com um pavio de gaze enfiado na carica. Tudo era improvisado.

Fiz a promessa, numa patrulha feita na fronteira da República da Guiné, depois de ingerir água do charco, e água que não era água, ficar a beber só cerveja. Comecei, por minha recriação a levar capim nos bolsos, que trincava quando sentia sede, enganando a sede com o seu suco. Ao mesmo tempo, levava nas casas de botões do camuflado clips, que serviam para colocar em segurança, as minas detectadas do IN.

As operações sucediam-se, principalmente as patrulhas de apoio às Companhias de Mejo, Guileje e Sangonhá, quando se reabasteciam, após descarregamentos em Gadamael Porto. O dito cais, continuava a ser uma caixa de uma GMC. Tarefa ingrata essa, visto que corria a CART 1659 o risco de passar a comissão a descarregar toneladas e toneladas de mercadoria, que caiam na água e se enterravam no lodo. Muitas caixas ficavam perdidas no rio, até que o Comandante do Agrupamento, disse que se a CART 1659 conseguisse construir o cais, estava mais que justificada a comissão. Falava-se em 18 meses.

Os Especialistas de Explosivos de Minas e Armadilhas começaram a armadilhar e minar toda a zona, principalmente através de granadas armadilhadas e minas antipessoais, sendo sempre feito um croqui, com os respetivos pontos de referência. O IN surge cada vez mais preparado, em termos de guerra de guerrilha, e muito mais equipados em termos de armamento.

Algumas Operações importantes, ataques do IN, Patrulhas, Emboscadas – principalmente ao “corredor de Guileje”, ou “corredor da morte” – e outras, onde fomos intervenientes. Entrámos na Operação Rinoceronte, em 14 e 15 de julho de 67, tratava-se de montar uma emboscada no dito corredor, na região de Famora. Ao chegarmos somos surpreendidos pelo IN que nos aguardava. A CART 1659 respondeu ao fogo e na retirada numa zona de capim alto, e depois de atravessarmos essa zona, já na mata damos pela falta do Soldado António Fernandes da Silva, de Oliveira do Conde – Carregal do Sal, que andou perdido durante 11 longos dias. Dias intensos de pesquisa, tanto por patrulhamentos à zona, como por via aérea. Veio a aparecer muito fragilizado. Foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 4.ª Classe (O E N.º 3 – 3.ª Série de 30 de janeiro de 68) e quando pretendia receber no RAC, em Oeiras a condecoração exigiram-lhe 70$00. Ele recusou-se a pagar por algo que lhe tinha sido atribuído.

Contou-me isto pessoalmente um dia quando me encontrava perto da sua casa. Escrevi uma carta, identificada para o Arquivo Geral do Exército, narrando a situação, sendo-lhe entregue a dita medalha sem qualquer pagamento. Fui informado deste caso porque estive com ele na última confraternização dos “Zorbas”.

E a atuação da CART 1659 não parava, patrulhamento sempre, e as idas ao famigerado “corredor da morte”.
A atuação do IN, ficou mais forte quando assumiu no seu terreno as técnicas de guerra de guerrilha e o armamento utilizado já nada tinha a ver com o que sucedia no início da nossa comissão de serviço. Foram importantes para o PAIGC os cursos que os seus guerrilheiros efetuaram no manuseamento dos engenhos de minas e armadilhas e o apoio de guerrilheiros, principalmente os cubanos, no terreno. Possuíam Minas, e começaram a montar armadilhas e fornilhos; Metralhadoras Pesadas; Armas Automáticas e Semi Automáticas; Lança Granadas Foguete e Lança-Roquetes; Morteiros Médios e Pesados; Canhões Sem Recuo. O PAIGC através da rádio, chega às populações com o chamado “Rádio Libertação”.

Foram surgindo cada vez mais encontros com o IN, a Operação Reparo (Ago 67) e Operação Remate (Set 67), ambas no “corredor de Guileje; a 12 de outubro de 67 morreram numa Patrulha, através do rebentamento de um engenho explosivo, o Furriel Miliciano N.º 04412863 Vitor José Correia Pestana – Especialista de Explosivos de Minas e Armadilhas – natural freguesia de Abitureiras, concelho de Santarém e distrito de Santarém e o Soldado N.º 00131466 António Lopes da Costa, natural de Cerva, Concelho de Ribeira de Pena e Distrito de Vila Real.

Fui entregar alguns dos haveres do Pestana que tinham ficado na Secretaria, à sua família na sua terra natal – Abitureiras, que tem uma rua com o seu nome. No dia 12 de outubro de 67 não estava com ele, e tenho pena. Quando tive conhecimento que morrera encontrava-me de licença, e só me deram a informação quando à minha chegada a Bissau. Curioso é que no dia 29 de Junho de 69, no dia do meu casamento, na igreja de São João de Brito, em Lisboa, o padre diz:
- “Estou a casar o morto vivo!”.

Fiquei admirado por aquilo que ouvira. Dias depois volto à igreja para receber a minha Caderneta Militar, que me tinha sido solicitada pelo sacristão para os averbamentos. E como nunca a tinha folheado, tentei-me e abri. Nela está impresso Baixa de Serviço: Por Falecimento e mais à frente onde é narrado o meu percurso militar, diz: “Morto a 12 de outubro”, nas linhas de cima consta 1967, portanto fui dado como morto no dia das mortes do Pestana e do Costa, e só não informaram a minha família da minha morte porque me encontrava de licença. Reclamei e não obtive uma resposta que me convencesse.

Em Nov 67 a CART 1659 entrou na Operação Raiana e na Operação Revistar e a Operação Relance, em dezembro de 67, esta última na região de Famora, no famoso corredor que a CART 1659 tão bem conhecia, a CART 1613 e a CCAÇ 1622, entraram nesta última.
Em janeiro de 68 o IN atacou Ganturé e depois Gadamael Porto e ainda em Janeiro flagelou Ganturé. Efetuadas emboscadas no “corredor da morte”, e muitas patrulhas, e em Janeiro foram detetadas e desativadas minas tendo sido acionada uma mina Anti Pessoal do IN resultando feridos graves.
Ainda no mesmo mês, durante a Operação Rajada em Jan 68 (intervenientes a CART 1659 e a CCAÇ 1620) foi acionada uma mina Anti Pessoal juntamente com uma mina Anti Carro.
Em fevereiro o IN fez accionar uma armadilha no cruzamento de Gadamael Porto e Ganturé e em março a CART 1659 foi vítima de uma emboscada montada pelo IN, tendo atacado Ganturé mais de uma vez.

Em 26 de março de 68 o IN no ataque pelas 18h45, causou um morto à nossa Companhia, o Soldado N.º 00780066 Manuel Ferreira da Silva, natural de Regadas – Carreira, Concelho de Barcelos e Distrito de Braga – quando dentro do abrigo, disparava, respondendo ao fogo do IN, foi atingido por estilhaços na cabeça. O pessoal da Companhia quando tem conhecimento, através do posto rádio do sucedido queria vingar-se e ir ao encontro do IN.

Mas os flagelamentos a Ganturé não paravam, visto também por se tratar de um aquartelamento mais perto da fronteira, já não se aventurando tanto a atacar Gadamael, por se tratar de um aquartelamento com situações no terreno que não permitiam uma retirada fácil. As vezes que tentaram flagelar Gadamael foram mal sucedidos. Emboscadas – principalmente no “corredor da morte” – e patrulhas, algumas para a montagem de minas (muitas das chamadas “bailarinas” – anti pessoais) e armadilhas, e também para controlar todas as minas armadilhas e até fornilhos.

Em abril de 68 a Operação Bola de Fogo, a implantação de um aquartelamento em Gandembel, no “corredor de Guileje”. A nossa Companhia esteve sempre ativa, tanto nos reabastecimentos como na montagem de segurança. Continuaram as inúmeras colunas de Reabastecimentos a Guileje, de abril a julho. Os ataques do IN a Ganturé não paravam. E em continuidade à implantação do aquartelamento de Gandembel, a nossa Companhia participou na Operação Boa Farpa (Jun. 68) e nas colunas de Patrulhamento e reabastecimento entre Guileje e Gandembel. Em junho de 68 a CART 1659 continuou – emboscadas no “corredor da morte” e patrulhas constantes. Ganturé continua a ser vítima e a CART 1659 e a CCAÇ 1620, efetuaram uma coluna de reabastecimento, em junho e caíram numa emboscada, na via entre Ganturé e Guileje.

Em julho e agosto o IN continuou ao flagelo a Ganturé.
Em julho após o IN atacar Ganturé tentou a sua sorte em Gadamael Porto e ainda em julho quando a CART 1659 efetuava uma coluna de reabastecimentos a Guileje, foi acionada uma mina Anti Carro, resultando vários feridos e ficou destruída uma GMC nossa. Trezentos indivíduos, no mês de julho de 68, provenientes de Sangonhá e Cacoca (destacamento de Sangonhá) ficam a viver em Gadamael, depois do mesmo aquartelamento ser abandonado. O IN depois de abandonado o aquartelamento de Sangonhá, destruiu-o. Assim a a partir de julho de 68 a CART 1659, para além das 31 Praças “U” e 45 Caçadores Nativos que já tinha em Gadamael e Ganturé, juntaram-se ainda mais 14 Caçadores Nativos oriundos de Sangonhá, por motivo de reordenamento das populações. Portanto a CART 1659 ficou com um total de 90 Militares Africanos.

Gadamael Porto em 1968 no final da Comissão

Há que referir não existir um mínimo de conforto e de dignidade, e o Comandante da CART 1659, o Capitão de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha, comprou pratos, copos e talheres; melhorámos, e de que maneira, o banho, inicialmente de púcaro na mão, despejando do bidão a água sobre o corpo, para a construção de uma zona onde se encontravam diversos duches à base de bidões diariamente cheios, é certo que improvisados. Até tivemos um plantio de tomates, sempre e em quantidade. É uma pequena amostra daquilo que foi feito. Há que reconhecer a melhoria e a construção de abrigos e paliçadas; a construção da cantina; a construção do paiol; a construção de arrecadações de géneros e principalmente, a construção do cais que foi a nossa grande vitória – o Cais de Gadamael Porto.

Eu, no Cais de Gadamael Porto. A grande obra da CART 1659 - Zorba

A CART 1659 conheceu dois governadores, o General Arnaldo Schulz e o Brigadeiro António de Spínola. Só este último nos visitou – e por duas vezes. – mas na segunda vez, discursou depois de formada a Companhia:
- “Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!”.

E assim sucedeu, depois de destroçarmos todos, rapidamente surgimos, de calções, tronco nu, chinelos e cabeça destapada. Continuou o discurso e, já no fim, um Soldado perguntou quando terminávamos a comissão, já que nos tinham prometido sairmos ao fim de 18 meses se terminássemos de fazer o cais, e este já se encontrava funcional há muito tempo. António de Spínola respondeu:
- “Não venho fazer promessas. Venho pedir mais privações e sacrifícios!”.

Tive de levantar todas minas e armadilhas, orientações que me foram transmitidas, numa reunião pessoal convocada pelo Comandante da CART 1659, ordens dadas pelo BCaç 2834, em Buba. O Capitão Manuel de Mansilha colocou-me a hipótese de eu ficar às ordens da Companhia que nos renderia e quando terminasse o levantamento ser colocada uma avioneta às minhas ordens, que me transportaria a Bissau. Pedi-lhe que me fornecesse o pessoal suficiente para executar os levantamentos, queria partir com a nossa Companhia – faltavam poucos dias para sairmos dali – e acabei por levantar tudo, e ia morrendo na última que desmontei e curiosamente até tinha sido eu que a montara.

Saímos de Gadamael, e por via fluvial chegámos a Bissau. Após alguns dias em Bissau, no dia 31 de outubro de 68, embarcámos para Lisboa.
Chegámos na tardinha do dia 5 de novembro à barra, sem ordens para o desembarque. Passámos a noite nesta angústia, até que eu me lembrei de ir tomar um duche, num intervalo de uma ida ao bar ou de fumar um cigarro. Os maços de tabaco que comprara para levar para casa, estavam quase no fim. Quando vou para tomar banho, eis que verifico que a água estava gelada. Não havia água quente. Tinham-na desligado. Lá tive que tomar um banho de água fria, que teve o condão de aquecer a mente.
Depois do banho verifiquei que quase todos se encontravam cá em cima, do mesmo lado do Uíge. O barco estava inclinado, até parecia que se ia virar.
Desembarcámos a 6 de novembro de 1968 e foi o encontro com a família.

Não regressaram, mas não os esqueço nem esquecerei:
– Furriel Miliciano N.º 04412863 Vítor José Correia Pestana, natural da freguesia de Abitureiras, concelho e distrito de Santarém, morto a 12 de outubro de 1967;
– Soldado N.º 00131466 António Lopes da Costa, natural de Cerva, concelho de Ribeira de Pena e distrito de Vila Real, morto a 12 de outubro de 1967
 – Soldado N.º 00780066 Manuel Ferreira da Silva Natural de Regadas, freguesia de Carreira, concelho de Barcelos e distrito de Braga, morto a 26 de março de 1968.

Mário Gaspar

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2. Comentário do editor:

Caro camarada Mário Gaspar:

Bem-vindo a esta família de ex-combatentes da Guiné.


Segundo os nossos registos és o grã-tabanqueiro 634.

Apresentaste-te da melhor maneira fazendo este resumo da História da tua 1659, que como dizes acompanhou a evolução da qualidade e eficácia do armamento do PAIG. Na verdade houve um crescendo ao longo da guerra que acabou com os famosos mísseis Strela, que causaram muitos danos em vidas e aviões abatidos, até à ameaça, nunca concretizada, da entrada na contenda dos aviões MIG.
A somar a isto há a colaboração de mercenários estrangeiros que treinavam e participavam em acções de combate contra nós.

Felizmente que a guerra acabou, porventura no auge, para bem daqueles que sendo mais novos do que nós tinham como destino as parcelas de África que teimosamente queríamos administrar.

Para completar o teu processo de apresentação à tertúlia, queríamos de ti uma foto actual, tipo passe se possível, e outra dos tempos de Guiné, fardado, para constar dos nossos arquivos e encimar os textos que futuramente nos vais enviar para publicação.

Termino esta breve nota enviando-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.
Considera-nos ao teu dispor para qualquer esclarecimento quanto aos fins e funcionamento do nosso, e teu desde hoje, blogue.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12407: Tabanca Grande (412): Joaquim Pinto Carvalho, ex-alf mil, CCAÇ 6, Onças Negras (Bedanda, 1972/73), grã-tabanqueiro nº 633

7 comentários:

Luís Graça disse...

Mário: Em mensagem que mandaste para mim, e que vou publicar, referias já ter falado comigo ao telemóvel por duas vezes. Agora acabas de ser apresentado ao pessoal da Tabanca Grande (somos um batalhão, pouco mais de 600, os vivos). Deixe-me só lembrar que és o segundo "Zorba" a entrar para o nosso blogue, depois do Joaquim Fernandes Alves.

Apreciei a maneira direta, espontânea, mas também irónica com te referiste à história da tia unidade e a alguns episódios que te marcaram. Apreciei igualmente o teu espírito de "survivor"... Cito alguns excertos do teu notável resumo:

(...) "No Uíge, deram-nos uma maçã, um quarto de pão, uma laranja, um ovo e um destino incerto." (...)

(...) "Fiz a promessa, numa patrulha feita na fronteira da República da Guiné, depois de ingerir água do charco, e água que não era água, ficar a beber só cerveja. Comecei, por minha recriação, a levar capim nos bolsos, que trincava quando sentia sede, enganando a sede com o seu suco. Ao mesmo tempo, levava nas casas de botões do camuflado clips, que serviam para colocar em segurança, as minas detectadas do IN". (...)

(...) "Ao mesmo tempo, levava nas casas de botões do camuflado clips, que serviam para colocar em segurança, as minas detectadas do IN.

(...) "Algumas Operações importantes, ataques do IN, Patrulhas, Emboscadas – principalmente ao “corredor de Guileje”, ou “corredor da morte” – e outras, onde fomos intervenientes. Entrámos na Operação Rinoceronte, em 14 e 15 de julho de 67, tratava-se de montar uma emboscada no dito corredor, na região de Famora. Ao chegarmos somos surpreendidos pelo IN que nos aguardava. A CART 1659 respondeu ao fogo e na retirada numa zona de capim alto, e depois de atravessarmos essa zona, já na mata damos pela falta do Soldado António Fernandes da Silva, de Oliveira do Conde – Carregal do Sal, que andou perdido durante 11 longos dias. Dias intensos de pesquisa, tanto por patrulhamentos à zona, como por via aérea. Veio a aparecer muito fragilizado. Foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 4.ª Classe (O E N.º 3 – 3.ª Série de 30 de janeiro de 68) e quando pretendia receber no RAC, em Oeiras a condecoração exigiram-lhe 70$00. Ele recusou-se a pagar por algo que lhe tinha sido atribuído." (...)

(...) "Curioso é que no dia 29 de Junho de 69, no dia do meu casamento, na igreja de São João de Brito, em Lisboa, o padre diz:
- Estou a casar o morto vivo!.

Fiquei admirado por aquilo que ouvira. Dias depois volto à igreja para receber a minha Caderneta Militar, que me tinha sido solicitada pelo sacristão para os averbamentos. E como nunca a tinha folheado, tentei-me e abri. Nela está impresso Baixa de Serviço: Por Falecimento e mais à frente onde é narrado o meu percurso militar, diz: “Morto a 12 de outubro”, nas linhas de cima consta 1967, portanto fui dado como morto no dia das mortes do Pestana e do Costa, e só não informaram a minha família da minha morte porque me encontrava de licença. Reclamei e não obtive uma resposta que me convencesse." (...).

Em suma, Mário, tens aqui um punhado de histórias que valeria a pena desenvolver. Já vio que tens talento para a escrita. Agora manda lá as fvotos que o Carlos Vinhal te pediu.

Um alfabravo. Luis Graça

Anónimo disse...

Caríssimo Mário Gaspar,

Parabéns!

Pela riqueza dos detalhes, depois de tantos anos, mas sobretudo pelo senso de humor com que resumiste a tua comissão em Gadamael. Também por lá andei algum tempo depois, mas a minha memória não trouxe à tona tantos detalhes.
Mas, é isso: somos todos privilegiados sobreviventes.

Vasco Pires
Ex-Comandante do 23º Pel Art

Anónimo disse...

Obrigadinho camarada M.Gaspar

Em 2006 o porto ainda existia apesar de estar partido.

A nós "gadamaelistas" posteriores à tua estadia deu-nos muito jeito.

As fotos não me dizem nada..serão de Ganturé ? é que no meu tempo este aquartelamento também já estava desactivado.

Do canal que falas será certamente o canal do Melo que divide a ilha Melo do Cantanhez.

Muito interessante a tua história..faz o obséquio de continuares.

Um grande alfa bravo

C.Martins

Manuel Reis disse...

Amigo Mário:

Belíssima a descrição da tua comissão em Gadamael/Ganturé nos anos 67/68, referindo muitos locais que também palmilhei, em anos posteriores.

Os reabastecimentos a Gandembel deveriam ser tormentosos, a fazer fé nas crateras existentes na picada e nos despojos de guerra. Viaturas trucidadas e cunhetes de munições deformados, ainda aí permaneciam em 1973,na berma da picada,como símbolos vivos de momentos dramáticos.

Um grande abraço.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Camarada Gaspar
Gostaria que, se puderes, confirmasses a data da morte do Pestana.
Eu estava convencido que ele teria morrido no princípio de 1968 (Fev/Março).
O Pestana esteve em Mejo na altura de uma mudança de companhia.
Eu conheci-o bem. Era um "bom patrão" no jogo do king.
Passei várias vezes por Gadamael, a primeira vez em Maio de 67, com os obuses a caminho de Mejo.
António Ribeiro
ex-Fur. Mil. Art.
(amribeiro44@sapo.pt)

José Marcelino Martins disse...

VITOR JOSÉ CORREIA PESTANA
Furriel Miliciano de Artilharia nº 447738/63
Mobilizado no Regimento de Artilharia de Costa, em Oeiras, para Companhia de Artilharia nº 1659.
Solteiro, filho de João Jacinto Correia Pestana e Joaquina Luísa Correia, natural da freguesia de Abitureiras, concelho de Santarém.
Tombou em 12 de Outubro de 1967, nas imediações do aquartelamento de Gadamael, em acidente com arma de fogo, na instalação de uma armadilha.
Foi inumado no cemitério de Abitureiras

Anónimo disse...

Camarada Mário Gaspar:
Bem vindo à tertúlia do Blogue e ao convívio dos Gadamaelenses. Eu fui um dos que V/ rendestes da CCAÇ 798. Quando chegamos, nem caixa de GMC existia no "cais".O resto era como descreves. Quando saímos já lá estava o Fur.de Eng. com a escavadora para iniciar o cais, mas não havia projeto nem autorizazão para tal.
Os 400 elementos da população de que falas, em Gadamael, deve ter sido no fim da comissão. Quando saímos, ficaram lá só 4 moranças de Tandas. Vamos ter que falar mais vezes para marcamos a evolução de Gadamael. Um abraço. Manuel Vaz