terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11908: Memória dos lugares (243): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte II (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG.



Fotos; © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico 
do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à à direita ], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guilejem, em finais de maio passado.

Nos seus tempos livres, ele foi, por volta de 2011, duas vezes a Guileje. Foi depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012 viver para  Londres. Um abraço para ele, se nos estiver a  ler.

10 comentários:

Luís Graça disse...

Se bem recordo, a história do acidente do alf mil Lourenço nunca aqui foi contada por nenhum "pirata de Guileje"... Está na altura, camaradas!... Boa continuação do "nosso querido mês de aqosto"... LG

Anónimo disse...

Olá Camarada
Aquela foto 10...
Um chanato roto, duas latas de coca-cola e um saco em cima do monumento...
Que dizer?
É a Guiné no seu melhor.
Um Ab.
António J. P. Costa

Torcato Mendonca disse...

O meu abraço ao Carlos Afeitos.Estas fotos, para mim,são um contributo, um testemunho para a História comum - de quinhentos anos - dos dois Povos.

Obrigado, Ab T.

Aproveito a boleia: Luís Graça comecei, e pela ultima vez, a reescrever "aquilo" que sabes. Parei porque tem que ser devagar e é "pesado"...afronta...vai devagar...MAS VAI. Boas férias. Ab, T.

Luís Graça disse...

... Torcato, querido amigo e camarada, sei que o teu depoimento vai ser precioso para os historiógrafos da guerra da Guiné... Em história, há uma coisa que se chama "triangulação", a necessidade de recolhermos os depoimentos de ambos os lados de um conflito (ou acontecimento) e uma terceira versão, independente...

Como diz um provérbio africano muito conhecido, enquanto os leões não tiverem os seus próprios historiadores, a históri8a das caçadas aos leões será sempre contada pelos caçadores...

Luís Graça disse...

Tó Zé: Eu poderia ter utilizado o "photoshop", mas não quis falsificar a realidade... É o que temos, e ainda bem que o temos, graças aos esforços dos nossos amigos e parceiros da AD - Acção para o Desenvolvimento... A maior parte dos nossos memoriais foram destruídos ou engolidos pelo mato...

Anónimo disse...

OK Camarada
Mas olha que aquela da História comum de 500 anos também temos de a pesar e analisar.
Repara que sempre que se fala desse tema eles vão buscar a escravatura e a servidão que os levou à revolta e à gloriosa independência.
Nós vamos sempre buscar pelo menos duas falsidades: aquela dos "novos mundos ao mundo" e da "dilatação da fé e do Império" que além de ter ficado aquém das expectativas (como a História demonstra) é tudo menos motivo para a expansão. Houve outros e bem terrenos e prosaicos.
E pronto, terminamos de costas voltadas ou enterramos tudo no Nacional-porreirismo do costume.
Admitia que os nossos símbolos e monumentos tivessem sido (sistematicamente) destruídos e admirou-me que os "mantivessem".
Não creio que os deixem estar p'ráli por consideração por nós, mas por algo pior...
Pronto! Fico-me por aqui se não ainda me trincam a cabeça.
Um Ab. e boas férias, se for o caso.
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

Tó Zé:

Essa é uma boa questão, a que não te consigo responder...Os monumentos ou memoriais deixados pelas nossas unidades e subunidades um pouco por toda a Guiné, foram sistematicamente destruídos por ordem das novas autoridades de Bissau, a seguir à independência, ou foram simplesmemnte vandalizados pela população local, nuns casos, ou protegidos (e até acarinhados), noutros casos ?...

Em boa verdade, não tenho a visão da floresta , do todo, mas só de algumas árvores, isto é, de alguns casos... Em Bissau, Bafatá, Cacheu, e nas demais principais localidades, com maior significado histórico (do ponto de vista da presença portuguesa), tenho a ideia de que tudo o que era estatuária "colonial" (navegadores, militares, governadores, etc.) foi apeado, ou destruído...

Já quanto aos nossos "memoriais", há diversas exceções à regra... Já aqui temos publicado imagens desses "memoriais", uns mais destruídos, outros mais bem conservados...

Quanto à nossa presença em África, e em particular na Guiné, não pdoem,ios nem, idealizá-la nem, diabolizá-la...Eu pelo menos gosto de ler e aprender, de ouvir diferentes versões, e não tenho por norma fazer juízos definitivos... Acho ue ainda nos falta tanta tanta investigação historiográfica, cá e lá...

Quanto ao caso de Guileje a que te referes, julgo que é único, e resulta de um trabalho de pesquisa e recuperação arqueológicas e criação de um museu de sítio... É uma iniciativa da sociedade civil (uma ONGD, a AD), e não do Estado guineense...

Anónimo disse...

Olá Camarada
Não é uma questão de idealizar nem, diabolizar a nossa (dos Portugueses) presença em África e em particular na Guiné. As coisas foram o que foram e ninguém pode envergonhar-se da verdade. Já disse noutro local que as "populações de África resistiram ao estabelecimento e à penetração dos Portugueses salvaguardando as três pedras de toque de qualquer civilização: a língua (na Guiné não se fala nem nunca se falou português) a religião (o número de cristãos/católicos é mínimo) e os usos e costumes (alguns bem bárbaros como tivemos ocasião de verificar)". Também não compro a teoria do bom selvagem, mas sei que a "guerra" teve antecedentes graves e ninguém se revolta por geração e
espontânea. Sabemos donde vem a origem da historiografia que nos foi impingida no banco da escola e acho que já estamos em tempo de fazer a nossa leitura fria e desapaixonada. Não me parece que haja muitas e diferentes versões para ouvir. A nossa está feita. Poderemos corrigir pontualmente um pormenor que esteja menos exacto. Quando à de lá, já sabemos porque temos vindo a ver.
Ganharam, mas como a vitória foi "de Pirro" depois da glória, da arrogância e da exuberância à menor dificuldade a culpa foi dos ocupantes...
Também eu gosto de ler e aprender e, por isso faz confusão como é que certa estatuária foi removida. É ocaso da de Honório Barreto e do descobridor. Admito a remoção da do "Pacificador", que poderia ser-nos "devolvida" por ofensiva...
Cá também não temos uma estátua do Junot.
Mas isso são opções dos guineenses. A mim o que me surpreende é uns memoriais terem sido conservados e outros não. Parece-me que é melhor deixar que o tempo faça desaparecer tudo para que não se saiba nada...
É uma posição também cómoda.
Um Ab.
António J. P. Costa

Manuel Reis disse...


Então aí vai amigo Luís. Já a contei imensas vezes, talvez não o tenha feito no Blogue, e tão pormenorizada. Não vou ocultar qualquer facto, julguem-me como entenderem.

Lourenço era o meu melhor amigo e após a sua perda se tivesse por onde me furtar, em segurança, e com garantia da minha integridade física, adeus Guiné.

Estava prevista a reabertura da estrada Guileje-Mejo, para posteriormente se reabrir um aquartelamento em Quebo, mais próximo do Cantanhez. A localização do possível aquartelamento já fora por nós visitado, num patrulhamento que Coutinho e Lima comandou. Nesse dia a sorte estava do nosso lado, quando exaustos, descuidámos a proteção. O PAIGC estava no local, mas nunca imaginou que pisássemos aquele terreno, controlado por eles. A maré do rio começou a encher e tivemos de regressar, sem qualquer percalço.

Por volta das 8 da noite, dia 4 de Março, o Lourenço recebe ordem para fazer proteção à reabertura da referida picada ( estava limitada a um pequeno trilho pela imensa mata que a ladeava)no dia 5 de Março, logo que a visibilidade o permitisse.

Como sempre fazíamos, dada a nossa grande intimidade, abordámos a situação da reabertura da estrada e concluímos que aquela picada brevemente se transformaria num campo de minas, o que se veio a concretizar.

Estava de serviço ao aquartelamento, colaborando na limpeza, ajuda na cozinha, recolha de água e qualquer outra tarefa, que se tornasse necessária.

Depois de orientado o serviço dei uma saltada á picada que estava a ser reaberta. O trabalho era feito pelos capinadores recrutados na população.

Constatámos os dois que os trabalhos tinham avançado imenso, a que era atribuído à presença, quase permanente, do Coutinho e Lima. Alertei-o para a granada, que estava desarmadilhada, mas não em segurança. Respondeu-me que sabia, cada trilho tinha duas e ele já colocara em segurança a primeira.

Depois de um pequeno bate papo solicitou-me que lhe pegasse na arma e que iria pôr a granada em segurança. Fumava um Português Suave ( sem filtro ) e pegou na granada para a colocar em segurança. A alavanca saltou e o Lourenço para proteger os outros ficou completamente esventrado.

A situação era complicada e o tempo escasso para decidir. Estava junto dele e o sexto sentido aconselhou-me que a que recuasse um passo ( não havia espaço para mais) e me baixasse com a arma dele. Em frente tinha a mata cerrada e o risco de lhe cair junto aos pés era grande. Atirá-la para a frente era arriscado, encontrava-se o seu grupo de combate a montar a segurança. Atirá-la para trás era impensável, lá se encontravam
os capinadores e o Régulo que já se encontrava a dois metros de distância de nós.

A situação resumiu-se à morte imediata do Lourenço e à evacuação, para o hospital de 6 capinadores e do Régulo, este em estado grave.

Não cheguei a ver o estado do Lourenço, era fácil deduzir como se encontrava. Fiquei em estado de choque e refugiei-me na messe dos Sargentos.

Com o Lourenço partiu metade de mim. Para agravar todo este estado anímico, nessa hora, fomos visitados por camaradas sediados em Bissau que vinham planificar as obras a realizar no aquartelamento e que acabaram por me melindrar por me encontrarem num estado debilitado e em sofrimento.

Obrigado Amigo. Descansa em Paz. Não esquecerei a data trágica de 5 de Março e recordar-te-ei para sempre.

Manuel Reis


Hélder Valério disse...

Caro amigo Manuel Reis

Há coisas que custam a passar....
Há coisas que custam a 'sarar'...

Está vivo, amigo, e és 'dos bons'. Alegremo-nos por isso.

Quanto ao teu amigo Lourenço, foi mais uma morte lamentável, que tu honras com esta narrativa simples mas de alto significado, tanto mais que se às vezes alguns se armam em heróis, como é que se pode classificar a atitude, o gesto do Lourenço?

Um grande abraço.
Hélder S.