sexta-feira, 8 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11211: Notas de leitura (463): Lilison di Kinara, um artista de quem aqui não se fala; Liberdade ou Evasão de António Lobato (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Mestre Braima Galissá pediu-me colaboração na elaboração de uma brochura sobre o korá.
Dentro da bibliografia que pôs à minha disposição, vem este belíssimo atlas, de que eu nunca tinha ouvido falar, é uma preciosidade, estou certo que a sua divulgação junto dos guineenses de Bissau e os que aqui vivem seria um excelente estimulante que levasse à constituição de grupos musicais com base nos instrumentos tradicionais, como o balafon e bombolom.
A Casa da Guiné tem procurado dar o seu contributo, mas falta o dinheiro.
Este livro merecia ser reeditado como instrumento exemplar da multiculturalidade.

Um abraço do
Mário


Um artista de quem aqui não se fala: Lilison di Kinara

Beja Santos

Numa tentativa de encontrar mais elementos sobre o korá, fui até à biblioteca da Gulbenkian, mexi em muitos ficheiros, quase que fiz perder a paciência a vários funcionários, nada de korá mas duas surpresas me foram oferecidas: saber que existe um artista guineense polivalente, Lilison di Kinara, e andei às voltas com um livro magnífico, “Escultores e Objetos Decorados da Guiné Portuguesa no Museu de Etnologia do Ultramar”, por Fernando Galhano, edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1971.

Lilison di Kinara aparece numa coletiva lusófona na Galeria Municipal Gymnásio, 2003. A sua ficha curricular é motivo de assombro. Nasceu em Bolama, de 1977 a 1980 cursou grafismo, fotografia, serigrafia, xilogravura e escultura em Bissau; bolseiro da UNICEF, foi para Turim, em 1984; outro curso em Montreal, no Canadá onde também estagiou em televisão; bolseiro do Québec, realizou um seminário para jovens artistas plásticos guineenses, em Bissau, a partir daí o seu nome aparece sempre ligado a Montreal. Tem exposições individuais em Portugal, Guiné-Bissau e Canadá.

O seu nome verdadeiro é Januário Cordeiro, é músico e cantor. A sua música está inspirada nos ritmos locais da Guiné-Bissau. No Canadá dá espetáculos e edita em disco, acompanhado por guitarra. Os interessados encontrarão muitos elementos sobre Lilison de Kinara na internet. Chama-se particularmente a atenção para o visionamento do site: http://www.roymaj.com/pages/sectionphoto/artiste_lilison_dikinara.html bem como se reproduz um desenho de uma obra patente na exposição de Lisboa de Agosto de 2003.

O livro de Fernando Galhano é uma preciosidade gráfica, os objetos escultóricos são desenhados com esmero, reproduzem-se uma máscara da VACA BRUTO, obra plástica de artista bijagó, trata-se de uma cabeça de vaca, de madeira, pintada a preto, branco e vermelho. É de notar a parte que representa o cachaço ligado à cabeça por amarrações de fibras vegetais. E temos a escultura cultual Nhinte-Kamachol, talvez a obra mais requintada da arte Nalu, foi com muita satisfação que reproduzi na capa do meu livro “Mulher Grande”, uma escultura deste pássaro que afugenta os maus espíritos. O acervo do Museu Nacional de Etnologia alberga peças belíssimas da arte guineense, tal como a Sociedade de Geografia de Lisboa.




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Liberdade ou evasão: 
O mais longo cativeiro da guerra do Ultramar

Beja Santos

A seu tempo se fez uma recensão sobre um livro que tem conhecido notoriedade. A DG Edições publicou em 2011 a 4ª edição, aumentada, do livro de memórias de António Lobato, cujo avião se despenhou na região de Tombali em 22 de Maio de 1963, foi capturado, ferido e levado para a prisão de Kindia, na República da Guiné Conacri. Para além da importância de um depoimento de alguém que se recusou trair a Pátria, o texto do então sargento Lobato é de importância obrigatória para quem estuda a guerra da Guiné. Nele encontramos observações sobre a criação da Base Aérea nº 12, os primeiros seis meses de operações com aviões e o estado da evolução da guerrilha logo nos primeiros meses do conflito armado.

Libertado em Novembro de 1970, António Lobato reingressou na Força Aérea em 1971, tendo sido promovido por distinção. Entre 1971 e 1980 concluiu o curso de Estado-Maior na Escola Superior da Força Aérea. Passou à situação de reserva em 1981. O post-scriptum desta edição passa em revista o trabalho de António Lobato em Cabo Verde, a sua participação no 25 de Novembro e a sua visita à Guiné em 1999 e o seu encontro com Nino a quem ele muito provavelmente deve a vida, como ele escreve: “Apesar de ser do conhecimento público que o exercício do poder pelo ex-Presidente se caraterizou por uma certa violência, não pude evitar o sentimento de uma espécie de solidariedade para com ele – afinal, só estou vivo porque o chefe guerrilheiro “Kabi Nafantchamna” assim o quis há cerca de 47 anos. Ao ler uma das suas primeiras entrevistas à imprensa portuguesa, já exilado, não posso evitar uma reação espontânea de emotividade: Nino Vieira inclui-me na sua lista de amigos em Portugal”.

Caso não encontre o livro nas livrarias, sugere-se o contacto com a DG Edições ao cuidado de Daniel Gouveia, 933573704, email: daniel.gouveia2@gmail.com ou o site: danielgouveia.com.sapo.pt.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 6 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11200: Notas de leitura (462): Rosa no Pais das Flores da Luta, por Maria do Céu Mascarenhas (Francisco Henriques da Silva)

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem desprimor para muitos o camarada ANTÓNIO LOBATO é um dos Heróis Nacionais.

Aguentar 7 anos preso e nunca renegar a sua condição de Português,o que para qualquer um seria fácil,devido à natureza do regime ditatorial e à injustiça da guerra colonial.

Provavelmente por isso teve o reconhecimento e o respeito do então IN.

Aqui lhe presto a minha homenagem.

C.Martins