sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11096: Inquérito online: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (2) Quando o meu pira foi caçar um hipopótamo... e acabámos por apanhar um turra: revisitando uma história do Jorge Cabral






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Um prisioneiro a embarcar no heli que o há-de levar a Bissau, ao QG. Não consigo, para identificar, quem é, e em que operação foi capturado. Já agora, quem terá sido o piloto e o mecânico deste voo ? Fotos (nº 5, 6 e 7)  do álbum do fur mil reabastecimentos Lopes, membro recente da nossa Tabanca Grande.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


1. Histórias de praxes no em pleno teatro de operações da Guiné ? Claro que as houve! (*)... É o nosso alfero Cabral que o diz, respondendo a um pequena provocação minha:

(i) Luís Graça: E atão o alfero não tem estória cabraliana dessas ditas praxadas fraternais ? ... Fá Mandinga estava no roteiro das praxes, como já vimos com a história do "pira" Fernandes!... Eu próprio assisti a uma "praxe" ao alferes miliciano médico da 1ª CCmds Africanos, quando estava a a chegar a Fá Mandinga... Lembras-te, Jorge ? Estavas lá...nesse fim de tarde. Tu, o Barbosa Henriques...

(ii) Jorge Cabral: Luís Amigo! Já relatei uma praxe na minha estória, "O Hipopótamo,as Formigas e o Prisioneiro"-14/12/2007 (*).

Quanto à praxe do médico em Fá, [que foi praxado à sua chegada à 1ª Companhia de Comandos Africanos], lembro-me muito bem. Era o Drº Vasconcelos,o qual, segundo creio, também foi a Conacri [, no decurso da Op Mar Verde]. J.Cabral

Bom, parece está na altura de revisitar essa "estória cabraliana" publicada aqui há mais de 5 anos atrás (*), mna esperança de que outras, mais frescas, apareçam...

2. Estórias cabralianos > Quando o pira foi caçar um hipopótamo... e acabámos por apanhar um turra

por Jorge Cabral


Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que,  ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo.

Levámos morteiro, bazuca e, para impressionar o novo combatente, até picámos o curtíssimo trajecto, que nos separava do rio. Perto da margem, emboscámos, vigiando as águas.

Para o Periquito era certo. Brancos e negros, já o tinham convencido, que todos os meses, caçávamos um enorme bicho.
- Ainda no mês passado, foi um elefante - afiançara-lhe o Monteiro.

Uma hora se passou porém, sem qualquer vislumbre do hipopótamo, embora o pira continuasse atentamente a espiar o rio, animado pelos incentivos dos outros que,  inventando indícios e sinais, lhe garantiam:
- Está quase!

Eis quando em vez do paquiderme, surgem as ferozes formigas, cuja predilecção testicular era nossa conhecida. Atacado nos ditos, o Periquito uivou de dor, aos saltos, e obedeceu aos nossos conselhos:
– Entra na água... Entra na água... senão eles caem!

O espalhafato, o barulho, a confusão, foram tão grandes que um turra acabado de cambar o rio, se entregou, julgando-se descoberto.

No dia seguinte, frente ao Sampaio (#), relatei,  com pompa e circunstância, a captura. Sim, com base em informações fidedignas, montara a emboscada. Do Hipopótamo, das Formigas, do Periquito, nem uma palavra.
- O Cabral é assim, um operacional de mão cheia - confidenciou depois o Major, ao Comandante (##).

Jorge Cabral
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(#) Major Herberto Amaral Sampaio, oficial de operações do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a que estava adido o Pel Caç Nat 63. Substituiu o major Viriato da Silva.


(##) Ten Cor Jovelino Corte Real, o comandante do BCAÇ 2852, que susbtitiu o ten cor Pimentel Bastos (de alcunha, Pimbas), a quem o Com Chefe 'comprou um par de patins', na sequência do ataque a Bambadinca em 28 de maio de 1969.
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11095: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (1) Quem discorda ? Quem concorda ?

(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)

5 comentários:

Tony Borie disse...

Olá Luis.
Felizmente, ou infelizmente, não sei o que é isso de "Praxe".
Quando, terminei o meu tempo em Mansoa, e abandonei o centro cripto, deixei um envelope, com uma espécie de cartão assinado por mim ao militar com o mesmo posto que me substituiu, pedindo-lhe "10 pesos", que ele entregaria ao militar que o fosse substituir, passado dois anos, pedindo-lhe também esses "10 Pesos", e se isso era "praxe", pois iria repetir-se, por tempo indeterminado.
Nunca soube o resultado, mas o pobre do companheiro que me substituiu deu-me os "10 Pesos", que eu logo de seguida dei ao Canjura, que agarrado a mim, quase a chorar, me agradeceu.
Teria começado uma "Praxe"?.
Um abraço, e já agora, mandei-te uma mensagem para o teu email, diz por favor, se recebes-te.
Tony Borie.

manuelmaia disse...

Viva Luís,

Acabei de votar concordo ( mau grado o secretismo que deve envolver as votações...)

E votei concordo porquê ?

Fui praxado,e não vi nada de mal nisso,antes pelo contrário.
A praxe serviu para criar nos piriquitos a necessidade de sentirem a dura realidade da guerra,como que um acordar para a mesma mas também para os familiarizar com as dificuldades...

Há duas ou três situações que por muitos anos que viva nunca esquecerei...

Estávamos em sobreposição com a companhia que íamos render a Bissum/Naga,e à noite,na messe ouvíamos um alferes da companhia velha a "contar vantagem"(como diriam os brasileiros...)
Era um operacional de truz,no mato tivera inúmeros contactos com o IN...
Os turras,tinham-lhe medo pois ia para o mato com galões apensos(ao estilo AB...)
Viríamos a saber depois por um seu furriel,que se tratava de um faroleiro que se pisgava do mato sempre que podia...)
Pois durante as suas divagações,pousou-lhe um mosquito num braço...
Sem sequer fazer menção de o afastar do braço, olhou-o e disse : - Mas que falta de respeito é esta ? Com tantos piriquitos e vais escolhar a velhice ?
Aquilo foi uma espécie de abanão para a consciencialização de que a comissão dele chegara ao fim e a nossa chegaria,ou não...

Outra situação,esta sim, verdadeira praxe,foi o convite formal feito por um furriel velho,à malta para alinharmos numa tainada de galinha da Índia que ele supostamente teria abatido...

Caberia aos piras o pagamento das bebidas...
"Entramos pela madeira dentro",como soe dizer-se,com a massa para as loiras, efomos presenteados com uma travessa cheia de nacos de ave,besuntada em molho de piripiri e tomate,para se parecer com a travessa que os furrieis velhos colocaram para eles próprios...
Só que a deles tinha nhec e a nossa abutre...
Depois de termos "dado cabo" da nossa parte,disseram-nos então o que acabáramos de comer...
Foi uma risada geral...

Fizeram-nos ainda durante as saídas noturnas em que ia uma secção deles, a "vida negra" ao obrigarem a deitar no solo completamente encharcado junto aos palmeirais ( eles deitavam-se na parte seca) e passando a palavra afirmavam terem "embrulhado" várias vezes ali... Está a deitar, nem um pio... A época das chuvas tinha começado...Quando regressávamos ao quartel,tínhamos a farda completamente enlameada em contraste com a deles... Acabaríamos depois por constatar estarmos pertíssimo do quartel,mas tínhamos dado voltas e mais voltas em círculos fechados,com o deita e levanta, que nos baralhara e amedrontara...

Henrique Cerqueira disse...

Eu até já estava disposto a encerrar o assunto pela minha parte,no que respeita a praxes.Mas,o que tenho vindo a reparar é que a malta que defende as praxes e até com algum orgulho ,só tem falado das praxes na Guiné.Mas gostaria de vêr descritas algumas praxes aplicadas durante a recruta e a especialidade aos instruendos.Era cá que haviam a maior parte dos excessos,pois que os "praxadores"estavam protegidos pelo medo e restrições que os "praxados "tinham. E já agora na Guiné quando alguem briancava,Praxava, etc...Tinham mais cuidadinho é que o reverso da medalha já não era a do amedontrado recrutazinho.De certo modo as "armas"já eram mais equilibradas.
E ainda a "talho de foice" os momentos na Guiné que mais me fizeram sentir ispirito de equipe e "irmandade"foram precisamente quando não havia que comer e quando no mato faltava a água e repartiamos a que havia por todos e não foi por termos sido praxados que ganhamos esse sentimento.
Camaradas tertulianos eu só estou em total desacordo dom qualquer tipo de praxe que VIOLENTE DE QUALQUER MODO OU FEITIO QUALQUER TIPO DE SÊR VIVO SEJA HUMANO OU NÃO.
Um abraço a todos o grato por têr aparecido este debate.
Henrique Cerqueira

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Mais um história do nosso 'alfero' que não deixa os seus créditos por mãos alheias...

Uma sessão de praxe termina com um 'ronco', daqueles que dificilmente se repetem.

E ainda por cima 'marcou pontos', pois foi considerado o 'pai' da iniciativa e com todos os créditos daí decorrentes.

É assim mesmo!

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

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