quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11068: O Spínola que eu conheci (29): Depoimento de Jaime Antunes, ex-fur mil, CART 11 / CCAÇ 11 (Paunca, 1970/72)

1. Comentário,  de Jaime Antunes, nosso leitor (e camarada), ao poste P11028:

O nosso General Spínola  fez uma escala em Lisboa e aproveitou para selecionar os comandos para a CART 11, os quais  chegaram em Novembro de 70 a Bissau (os que embarcaram no Ana Mafalda foram os primeiros a chegar; o  Capitão que seguia a bordo conseguiu ficar por Bissau e depois surgiu, e muito bem, o Capitão Almeida). 

Não gostei de Spínola, não só por ter recorrido a Oficiais, Furriéis e Cabos Milicianos que já não estavam em lista de mobilizáveis (2 meses antes eu e o Teixeira tínhamos recusados  150.000$00 para tomar o lugar de um Furriel que era filho de um Coronel). 

E não gostava também porque era prepotente...O  facto de falar primeiro  com os soldados e depois com o Comandante... era uma treta. Por trás... 

Um aditamento, em 1970/72  a CCAÇ 11 / CART 11 esteve por toda a zona Leste. Estivemos ainda em Bafatá,  Bolama, Galomaro, Pirada (antes também éramos viajados). 

 Spínola também era de Cascais (já era meu conhecido). Na recepção à chegada a Bissau disse-me:
- Lamento mas... prometo que quando fizeres 21 meses estás a caminho da Metrópole... 

Foram 21 meses e 5 dias. 

Podia e tinha condições para ser um grande Comandante. Faltou-lhe um pouco de humildade no relacionamento com os seus Homens. Uma nota final, dou-lhe nota positiva e agradeço o Louvor recebido. 

Jaime Antunes
(Ex-Fur Mil Antunes,  CART 11 / CCAÇ 11)



Guiné > Zona leste A> Paunca > Alguns furriéis da CCAÇ 11. O único que era da Guiné, cabo-verdiano,  era o Reis Pires (em primeiro plano, ao centro).  Foto do álbum de Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74.

Foto: © Adriano Neto(2011). Todos os direitos reservados.


2. Outros comentários, anteriores, do Jaime Antunes (a quem reitero, mais uma vez, o convite para ingressar na nossa Tabanca Grande, juntando-se assim a outros camaradas da CART 2479, depois CART 11  e depois CCAÇ 11, que já aceitaram um lugar à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, como o Renato Monteiro, o Abílio Duarte, o Adriano Neto...):

(i) 14 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9198: Tabanca Grande (311): Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74

 (...) Comentário: Olá, uns anitos passados. Li com atenção a passagem por Paunca. O meu Camarada foi um dos que contribuiu para o meu regresso a Lisboa. Fui rendido em Agosto de 72 e o regresso a Lisboa via TAP em 5 de Setembro de 1972. O jovem que me rendeu veio de uma outra Companhia e... foi literalmente "sacado" para ir para a CART 11 (CCAÇ 11 foi alteração que se verificou a meio da minha comissão),  por mim e um comerciante,  de nome João Evangelista,   radicado em Paunca na sua carrinha Toyota. Confesso que não me recordo do seu nome mas foi para me substituir no 4º Pelotão.  (...)


(ii) 23 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2377: Em busca de ... (13): Malta da CCAÇ 11, Paunca, 1970/72 (Jaime Antunes)

(...) 1. Mensagem de Jaime Antunes, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande:

(...) Nestas coisas da vida há recordações que sempre perduram. Como muitos dos Portugueses, na minha juventude, também estive em África. Por uma escolha do Senhor General Spínola, 25 Milicianos, no dia 20 de Novembro de 1970, embarcaram no navio Ana Mafalda com destino ao CTIG. Todos classificados nos primeiros lugares dos cursos. Esta situação levantou-nos muitas dúvidas que foram esclarecidas à nossa chegada ao QG. Tínhamos sido selecionados para integrar uma Companhia de Africanos... a CCART 11. Posteriormente e porque uma Companhia de Artilharia... não era ... uma Companhia de Infantaria... o Senhor General ... passou-nos a CCAÇ 11 para que já não houvesse reclamações quanto às constantes saídas de Paunca  para ir reforçar outras zonas.

Fui colocado no 4º Pelotão e ... cheguei em Novembro de 1970 e fui rendido em Setembro de 1972. 
Mantenho contacto com alguns dos elementos que estiveram nessa altura na CCAÇ 11 mas faltam outros a que perdemos o rasto. Manifesto a minha disponibilidade para conseguir reunir mais alguns camaradas (...).

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)

4 comentários:

Luís Graça disse...

Camaradas:

É bom, para todos, relembrar, de vez em quando, uma das 10 regras de ouro pelas quais pautamos o nosso comportamento aqui no blogue: total liberdade de pensamento e de expressão, mas sempre, pelo menos idealmente, com manifestação serena (e franca) dos pontos de vista de cada um...

Quando discordamos uns dos outros(e isso é saudável e natural), não usamos as picardias, as insinuações, as críticas malévolas, os insultos, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, as generalizações abusivas, a fulanização, etc.

Vem isto a propósito desta série, "O Spínola que eu conheci"... Para uma parte de nós, ele foi o nosso Comandante-Chefe e, a esse título, merece o nosso respeito. Mas também foi homem, cidadão, político, em suma, um português do seu tempo. Em qualquer dos casos, ele não está acima da crítica.

É importante que as diferentes facetas do homem e do militar António de Spínola que cada um de nós conheceu (mesmo que superficialmente) possam ser conhecidas e discutidas aqui, no nosso blogue.

Como eu costumo lembrar, aqui não há tabus... nem há censura. Há em todo o caso regras de são e fraterno convívio que aceitámos e temos de respeitar e fazer respeitar.

Um Alfa Bravo... e venham daí... comentários, sugestões e críticas. Luís Graça

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

A fulanização quer dizer o quê?

Cherno Baldé

Luís Graça disse...

Meu caro Cherno:

Vejamos o que diz o dicionário (por ex., o Dicionário Pribertam da Língua Portugues, disponível em linha):

(i) fulanização
(fulanizar + -ção)
s. f.
Acto ou efeito de fulanizar.


(ii) fulanizar
(fulano + -izar)
v. tr. e intr.

Atribuir nome ou identificação a pessoas à partida indeterminadas ou cuja identificação não interessa para discutir uma questão.

http://www.priberam.pt/dlpo/

Comentário meu:

È um erro comum, em matérias sensíveis como política, religião, futebol, conflitos... Tendemos a tomar o todo pela parte, a identificar a questão com uma dada pessoa (=pessoalizar, personificar)... Por exemplo, Kumba Ialá como responsável pela libertação dos irãs de Bandim...

Podia dar outros exemplos...

Ver também o significado de fulano:


fulano
(árabe fulan, alguém, um certo, uma determinada pessoa)

s. m.
1. Designação vaga de pessoa incerta ou daquela cujo nome se ignora.
fulano e sicrano: o mesmo que fulano, sicrano e beltrano.
fulano, sicrano e beltrano: uns e outros; várias pessoas indeterminadas. = FULANO E SICRANO, VÁRIOS

Anónimo disse...

Caro Luis Graça,

Ah, não tem nada a ver com Fulas, obrigado, fiquei completamente esclarecido, mas ainda assim, não dizem vocês "tugas" que a culpa nunca morreu solteira ?

E será que o tal fulano não foi mesmo responsável pelo levantamento e diabolização dos irãs de Bandé, aliás de Biambé ?

Também, não me parece que o Spínola tenha sido na Guiné o que o Papa João Paulo II foi para o mundo e, ainda assim, há quem pense que ele foi responsável pela liquidação do comunismo no Leste.

Um abraço e boa continuação de trabalho.

Cherno Baldé