sábado, 21 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9779: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (10): Lista dos 187 inscritos para o convívio de hoje, dia 21, em Monte Real, no Palace Hotel (A Comissão Organizadora: Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves / Miguel Pessoa)


LISTA DOS 187 MAGNÍFICOS, INSCRITOS PARA A OPERAÇÃO MONTE REAL 2012,
com início às 0h00 do dia 21 de abril de 2012, em Hotel Palace, Monte Real, Leiria, Portugal



Acácio Dias Correia e Maria Antónia - Algés / Oeiras
Adriano Neto - Aveiro
Agostinho Gaspar - Leiria
Alcídio Marinho e Rosa - Porto
Alexandre Margarido - Lisboa
Alvaro Vasconcelos e Maria de Lourdes - Baião
António Duarte - Lisboa
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António Gabriel Vaz - Lisboa
António Graça de Abreu - S. Pedro do Estoril / Cascais
António José P. da Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Martins de Matos - Lisboa
António Mateus e Laura - Guifões / Matosinhos
António Osório e Ana - Vila Nova de Gaia
António Pinheiro - Porto
António Ribeiro e Norberto - Amarante
António Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Santos e Graziela - Caneças / Odivelas
António Silva e Albina - Estarreja
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-O-Velho
António Sá Fernandes - Valença
Artur Soares - Figueira da Foz
Belarmino Sardinha - Odivelas
Benjamim Durães com: Bruna, Fábio, Marta, Rafael e Tiago - Palmela
Benjamim Martins Dias - Porto
C. Martins - Penamacor
Carlos Campos - Lisboa
Carlos Oliveira - Leiria
Carlos Pinheiro e Maria Manuela - Torres Novas
Carlos Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Pires e Joaquina - Amadora
Carlos Santos - Leiria
Carlos Silva e Germana - Massamá / Sintra
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos
Coutinho e Lima e Maria Isabel - Lisboa
David Guimarães e Lígia - Espinho
Delfim Rodrigues - Coimbra
Diamantino Ribeiro André e Maria Rosa - Proença-a-Nova
Diamantino Varrasquinho e Maria José - Ervidel / Aljustrel
Eduardo Campos - Maia
Eduardo Ferreira - A-dos-Cunhados / Torres Vedras
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Eduardo Moutinho Santos - Porto
Ernestino Caniço - Tomar
Felismina Costa, João e Cláudia - Agualva / Sintra
Fernandino Leite - Maia
Fernando Sucio - Vila Real
Francisco António Ribeiro - Torres Novas
Francisco Silva e Maria Elisabete - Lisboa
Henrique Matos - Olhão
Hugo Guerra e Ema - Lisboa
Hélder V. Sousa - Setúbal
Idálio Reis - Cantanhede
J.L. Vacas de Carvalho - Lisboa
Jaime Brandão - Monte Real / Leiria
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Joaquim Pessoa - Cantanhede
Joaquim Sabido e Albertina - Évora
Jorge Araújo - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Lurdes - Oeiras
Jorge Narciso - Cadaval
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto - Agualva-Cacém / Sintra
Jorge Rosales - Cascais
José Armando Almeida - Albergaria-a-Velha
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Eduardo R. Oliveira (JERO) - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Ferreira da Silva e Maria Vergilde - Crestuma / V. N. Gaia
José Francisco Robalo Borrego - Linda-a-Velha / Oeiras
José Luís Malaquias - Ílhavo
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel M. Dinis e Teresa - Cascais
José Manuel Samouco - Torres Vedras
José Marcelino Gonçalves e Tuula Kahkonen - Canadá
José Martins e Manuela - Odivelas
José Teixeira e Maria Armanda - Leça do Balio / Matosinhos
José Vermelho - Lisboa
João Caramba e Rosa - Beja
João Marcelino - Lourinhã
João Mata - Quinta do Anjo / Palmela
João Paulo Diniz (PFA) - Lisboa
João Pinho dos Santos - Aveiro
João Santos - Porto
João Sesifredo e Celestina - Redondo
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
Juvenal Candeias - Lisboa
Leonel Olhero - Ermesinde / Valongo
Luís Graça, Maria Alice e Joana - Alfragide / Amadora
Luís Mourato Oliveira - Lourinhã
Luís R. Moreira - Cacém / Sintra
Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel Carmelita e Joaquina - Vila do Conde
Manuel Domingos Santos e Maria Isabel - Leiria
Manuel Joaquim e José Manuel Cunté - Agualva - Sintra
Manuel Lema Santos e Maria João - Massamá / Sintra
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Resende e Isaura - Cascais
Manuel Vieira Moreira - Aguada de Cima / Águeda
Maurício Esparteiro e Dulcínia - Almada
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Mário Neves e Natércia - Torres Vedras
Pacheco - Rio Tinto / Gondomar
Paulo Santiago - Aguada de Cima - Águeda
Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Rogério Tendinha - Lisboa
Rui Silva e Regina Teresa e Regina Maria - Sta. Maria da Feira
Silvério Lobo e Linda - Matosinhos
Simeão Ferreira - Monte Real / Leiria
Sousa de Castro e Conceição - Viana do Castelo
Torcato Mendonça e Ana de Lourdes - Fundão
Valentim Oliveira e Cyndia - Paraduça / Viseu
Victor Tavares - Recardães / Águeda
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria

[ Para mais pormenores sobre a organização do encontro, preço, ementa, local, etc. consultar o Poste 9534. É só clicar aqui.]


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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2012 < Guiné 63/74 - P9764: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande - Monte Real 2012 (9): Notícias do nosso Blogue e do nosso Convívio (A Organização)

Guiné 63/74 - P9778: O Cancioneiro de Gandembel (8): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VIII): Nova Lamego e Cansissé, a " Ilha dos Amores" do pessoal da CCAÇ 2317 (Idálio Reis)






Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Mais fotos do álbum de Idálio Reis: Uns dias antes do abandono de Gandembel / Balana, Spínola também por lá, pela segunda vez, para se despedir... NO seu livro, Idálio Reis mostra uma grande gratidão á FAP e ao BCP 12. Os pára-quedistas foram parte integrante  da epopeia de Gandembel, infligindo pesadas baixas à tropa de 'Nino' Vieira... 

Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

























Guiné > Região de Tombali (Gandembel) e Região de Quínara (Buba) > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Mais fotos do álbum de Idálio Reis: depois do abandono de Gandembel, a 28 de janeiro de 1969, o pessoal da CART 2317 fica 3 meses em Buba, até 14 de maio, integrando as forças que montavam segurança aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Aldeia Formosa. O problema mais grave eram  as minas A/P. Na altura, o major Carlos Fabião comandava o COP 4.Todos os dias aterrava um T 6 em Buba. Um dia houve um que aterrou mal...

Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Resposta do Idálio Reis, a um pedido de esclarecimento meu, com data de 17 do corrente ["Idálio: Como se chama (ou chamava...) o furriel, professor primário,  que, com o João Barge, compôs Os Gandembeis ?...Queres e podes revelar ? Há mais detalhes sobre o "making of" desta magnífica peça ? ... Abraços, Até Monte Real. Luis] (*)


Caro Luís


Torna-se demasiado evidente que a Ilha dos Amores [, Canto IX, Os Lusíadas, de Luís de Camões], tem nesta fase final uma emulação muito mais forte. E não poderia ser doutra forma, porquanto a nossa guerra de Nova Lamego também não tinha cotejo com a de tempos anteriores.


Há uma forte razão para que entre um certo sentimento de lascívia neste poiso. A grande generalidade da Companhia, antes de chegar a Nova Lamego, não tinha visto uma qualquer mulher. A guerra tinha facetas pérfidas.


Em Gandembel, não havia população, e a visão de um rosto feminino só era propiciado aquando de alguma evacuação, onde ia sempre uma enfermeira pára-quedista. Grotescamente, lembro que quando havia evacuações em que o pessoal sentia que o evacuado era um ferido ligeiro, tal até era motivo para que surgisse um maior aglomerado em torno do helicóptero, para bem visualizar a doce face da enfermeira.


Depois a tabanca de Buba era pequena, e atendendo à muita tropa que por lá andava, tudo estava sob controlo apertado. E um dia Spínola, a queixas do malogrado Fabião que lhe foi dizer que havia elementos da população que prestava informações ao IN., o que até era verdade, fez um discurso inflamado à população traidora, e manda vir uma LDG, despachando-a rumo aos Bijagós. O nosso sueco Belo, com mais tempo do que eu em Buba, talvez saiba melhor contar o enredo de tudo isto.


E depois a Companhia arriba a Nova Lamego, e houve forrobodó. Eu não fui com a Companhia para Nova Lamego, pois fiquei em Buba na entrega do material. Fi-lo voluntariamente, porquanto Carlos Fabião era um homem/militar excepcional; a sua conduta no PREC, revela essa sua faceta humanista, e vem a acabar por ser postergado.


Fiquei talvez duas semanas em Buba, mais uma em Bissalanca nos Páras (foram as minhas férias), e quando arribo a Nova Lamego, a primeira notícia que recebo, é a seguinte:
- Meu alferes, metade da Companhia apanhou a venérea!


Os cuidados médicos lá foram sarando essas feridas. Sei de um que teve de ser evacuado para Bissau, e que de imediato foi recambiado para Lisboa. Como foi um homem que nunca mais deu notícias, não sabemos o que lhe aconteceu.


Mas Nova Lamego recuperou energias, aumentou consideravelmente a nossa auto-estima, éramos gaiatos felizes. E as narrativas que impendem sobre aquela vila, tem forçosamente de conter essa situação de jovens, com pouco mais de 20 anos, a enlear-se com o sexo oposto, após 15/16 meses sem essa benesse. E nos nossos convívios, vem sempre uma história de uma bajuda.



 Guiné > Região de Gabu > Cansissé > CCAÇ 2317 > Julho de 1969 > Mesmo junto à parte oriental da povoação, situava-se a fonte de Cam - Sissé (Semba Uala), com data de construção de 1959. Era conhecida vulgarmente pela Fonte dos Fulas, como se constata no celebérrimo banho à fula que estas duas bajudas estão a tomar.


Foto: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




(ii) Quanto ao ajudante do Barge na elaboração dos Gandembéis, o furriel que o ajudou na escrita - tinha de ser um das origens [da Companhia e do início da epopeia de Gandembel] -, e que inclusive já te aflorei o nome num dos últimos e-mails, diz-me que não se lembra dessa sua acção de colaboração. Os Gandembéis são obra de 2 humildes anónimos. 


E se não foi o tal professor primário, quem seria então? O Barge tinha, no seu grupo, um furriel donde brotou uma forte amizade, e que até foi ao seu funeral, e poderá ser esse: um amigo e conterrâneo do JERO [, natural de Alcobaça]. Mas terei que indagar. E se souber, dir-te-ei.


Luís, naquilo que escrevo, peço-te para usares a tua censura, no que julgares como importuno.


Até breve. Um caloroso abraço do Idálio Reis


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Nota do editor:


(*) Último poste da série > Guiné 63/74 - P9754: O Cancioneiro de Gandembel (7): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VII)

Guiné 63/74 - P9777: Parabéns a você (409): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

Para aceder aos postes do nosso camarada António Branquinho, irmão do Alberto Branquinho, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. poste de 19 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9769: Parabéns a você (408): Augusto Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Guiné, 1967/69) e Victor Barata, ex-Especialista da FAP/DO 27 (Guiné, 1971/73)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9776: Tabanca Grande (332): Alice Carneiro, a quem o Blogue muito deve, esposa e irmã de ex-combatentes, participante no filme "Quem Vai à Guerra" e mãe de um médico cooperante

1. Como é sabido através até de diversas publicações no nosso Blogue, temos na tertúlia um grupo de pessoas a que chamamos amigos, que,  não sendo ex-combatentes, estão de algum modo ligados à Guiné: como naturais daquele país, cooperantes, etc. Outros(as) amigos(as) estão ligados(as) a militares que fizeram a guerra colonial, principalmente as senhoras, na qualidade de esposas, namoradas, madrinhas de guerra, etc.


Hoje venho pedir um pouco de espaço entre nós para uma mulher que sem dúvida nenhuma merece pertencer à tertúlia e ao grupo dos amigos dos ex-combatentes deste Blogue. Porquê?

i) Viveu desde jovem, na pele assim se pode dizer, a guerra colonial  pois tem dois irmãos que combateram, um em Angola (o José Carneiro, o mais novo de 6 irmãos) e outro em Moçambique, sendo um deles deficiente das Forças Armadas (o António Carneiro, o mais velho).

ii) Esta mulher, nortenha, do Marco de Canaveses,  foi também madrinha de guerra de militares que nem conhecia; escreveu, e leu, cartas por quem não dominava minimamente esta forma de comunicar com os seus filhos algures na guerra de África.

iii) Em Março de 2008 acompanhou o seu marido, também ele ex-combatente da Guiné, ao Simpósio Internacional de Guiledje, revivendo assim o passado dos homens que ama (irmãos e esposo).

iv) Em 2011 participou no filme, feito exclusivamente por mulheres, "Quem Vai à Guerra", que aborda o papel das mulheres que, de uma maneira ou de outra, "foram à guerra", incluindo a problemática do stress pós traumático de guerra e as consequências desta doença no seio familiar dos ex-militares vítimas desta síndrome.

v) Esta mulher é hoje madrinha de uma linda menina que vive e cresce na Guiné-Bissau, a Alicinha, de Farim do Cantanhez, filha da Cadi, uma bela jovem nalu que ela conheceu em 2008.

vi) Esta mulher que em seis edições dos Encontros da Tabanca já realizados, apenas falhou a um por impossibilidade física.

vii) Esta mulher é apenas e só a esposa do fundador deste Blogue, chama-se Maria Alice Ferreira Carneiro, faz anos a 18 de agosto  e apoia o seu marido nesta árdua tarefa que é manter esta página viva, símbolo da união e reunião de um Batalhão de ex-combatentes da Guiné.


Abram alas para deixar entrar esta grande senhora, também mãe de um jovem médico e músico, o João Graça, também ele já com uma experiência como cooperante na Guiné-Bissau, e por direito próprio, tertuliano deste Blogue.


Fotos ilustrativas da apresentação desta nossa nova ("velha") tertuliana. Quem não a conhece? Tem, além, uma muita ativa página no Facebook. Será a nossa tabanqueira nº 551. E estará presente no nosso VII Encontro Nacional, amanhã, em Monte Real, com o seu companheiro de uma vida, Luís Graça, e com a filha  de ambos, Joana Graça.


Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira >  29 de fevereiro de 2008 > Alice Carneiro, pisando pela primeira vez o solo daquela terra verde e vermelha...
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 1 de março de 2008 > A Alice entre as mulheres da população local, em dia festivo...


Lisboa, CulturGest > 13 de Maio de 2011 > Alice Carneiro (à direita) e a nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda Pessoa numa aparição pública a propósito do filme "Quem Vai à Guerra", da jovem realizadora Marta Pessoa.


Esta linda menina guineense é a Alicinha, a afilhada da nossa tertuliana Alice Carneiro. Mora em Farim do Cantanhez. A mãe é a Cadi. O pai, António Baldé, está em Portugal.

Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Setembro de 2010 < Casa do Pepito e da Isabel  (Levy Ribeiro) > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita),  que tem na Alice Carneiro (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Na altura ela fala pouco português, mas tem vindo a melhorar... De tempos a tempos, a Alice manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja esta menina (e a mãe), bem como todas as meninas e todas as mães da Guiné-Bissau...  

Fotograma do filme 'Quem vai á guerra', da cineasta portuguesa Marta Pessoa, 2010 > Maria Alice Carneiro, irmã de 2 militares em África (Moçambique e Angola - um dos quais gravemente ferido), e correspondente de outros militares nos três teatros de operações. Tem um espólio de cartas e areogramas da ordem das centenas.

Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de novembro de 2006 > I Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande (na altura, tertúlia= > Alice Carneiro (camisola listada) ouve atentamente o nosso camarada José Luís Vacas de Carvalho... A Dina Vinhal, outra das nossas tertulianas,  totalista dos nossos últimos seis encontros (e inscrita para o VII), está na ponta direita, vestida de camisola vermelha.

Texto: Carlos Vinhal
Fotos do Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Nota de L.G.:

Obrigado, Carlos, pela agradável surpresa que foi a tua iniciativa. A Alice é uma pessoa modesta que não gosta de aparecer sob as luzes da ribalta, embora seja  muito sociável, solidária, prestável e generosa. Em todo o caso, a tua proposta é mais do que justa e, por minha parte, eu associo-me a ela, congratulando-se com a ideia de ver, formalmente, o nome da Alice Carneiro (ela não usa o meu apelido) na lista dos nossos amigos e camaradas da Guiné. Eu já lhe jurei que a culpa é toda tua... Entende-te amanhã com ela, em Monte Real. Devo acrescentar que só a conheci depois de regressar da Guiné...

Não sei onde foste buscar todos os detalhes da vida da Alice no que diz respeito ao nosso blogue e à Guiné-Bissau. Na realidade, o nosso blogue é um "livro aberto", para o bem e para o mal (por ex., devassa da privacidade das pessoas). Mas já que estás a apadrinhar a entrada da Alice na Tabanca Grande, acrescenta mais esta nota "curricular":

A Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY.  Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua  o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".
Pormenor curioso, até já o artista plástico  Manuel Botelho utilizou excertos das suas cartas em um ou mais dos seus quadros inspirados na guerra colonial...
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Nota de CV:
 

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550 

Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O António Rodrigues (1º Cabo) e o seu comandante, o Alf Mil At Inf Abel Rodrigues.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Malta da CCAÇ 12: julgo que o 1º da esquerda, é o 1º Cabo José Manuel P Quadrado (que era apontador de armas pesadas de infantaria; pertencia à 1ª secção do 1º Gr Comb, comandado pelo Alf Mil Op Esp  Francisco Magalhães Moreira). 

O Quadrado vive na Moita e já nos temos encontrado em convívios do pessoal de Bambadinca (1968/71) (A propósito, o próximo vai ser no Porto, em 26 de maio de 2012, e está a ser organizado pelo Manuel Monteiro Valente; vai sair em breve, no blogue, a notícia do convívio; contactos: telef 22 493 2060; telemóvel: 912 700 544 ou 968 849 886).

Na foto acima, o 1º Cabo António Mateus é o quarto... Talvez o Gabriel Gonçalves (ex-1º Cabo Op Cripto, e companheiro de noitadas)  me ajude a completar a legenda...O 5º, de pé, parece-me ser o sold cond auto  Alcino Carvalho Braga (que vive em Lisboa).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá >  1969 (?) > O 1º Cabo António Mateus, com um camarada que não consigo identificar (condutor ou transmissões), numa altura em que o 3º Gr Comb da CCAÇ 12 esteve em reforço do Pel Caç Nat 52 - Os Gaviões (Deve ter sido no tempo do Beja Santos, ou terá sido depois, já em  meados de 1970?)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > c. junho/julho de 1969 > uma secção do 3º Gr Comnb da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), durante a instrução de especialidade do pessoal de recrutamento local. Em primeiro plano, os 1ºs cabos Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã] - 1ª secção - António Braga Rodrigues Mateus [, durante muito tempo sem morada conhecida, hoje sabemos que vive em Guifões - Matosinhos] - 2ª secção.  

A 1ª secção era comandada pelo saudoso Fur Mil Luciano Severo de Almeida, natural do Montijo, enquanto a 2º secção tinha comandante o nosso querido amigo Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal, reformado, e grande damista]... Os soldados africanos reconheço-os todos, mas tenho dificuldade, de momento, em identificá-los pelos nomes. Parecem-me ser os da 1ª secção que era constituída pelos seguintes elementos: Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (Fula);  Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F): Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F); Sold 82108869 Quembura Candé (F); Sold 82109769 Sherifo Baldé (F); Sold 82115369 Ussumane Jaló (Futa-fula);  Sold 82110169 Madina Jamanca (F)...

Talvez o nosso camarada Abel Rodrigues, ex-Alf Mil, e comandante deste 3º Gr Comb nos possa ajudar... Ou o Carlos Galvão, que não nos lê... nem nos ouve. (LG)

Fotos: © António Mateus (2012). Todos os direitos reservados.


1. Tomo a liberdade de apresentar à Tabanca Grande o meu camarada da CCAÇ 12, António Mateus , de seu nome completo António Braga Rodrigues Mateus, de quem não tinha notícias desde 1971... Mora em Guifões, Matosinhos  [, foto à esquerda]. Esteve emigrado em França. Tem hoje o seu negócio próprio. Nasceu em 18 de novembro de 1947. É casado, tem uma filha. E fez-nos chegar, através do email do seu genro, Emanuel Azevedo (mais conhecido por Tito), as fotos da praxe. Está a dar os primeiros passos na Net...

O António Mateus foi gravemente ferido na Op Pato Rufia, em 7 de setembro de 1969, e evacuado para o HM 241. No meu caso, foi o meu batismo de fogo. Eu estava perto dele. 

 Ele aparece, entretanto, na baixa de Bissau, a passear, com a perna esquerda toda engessada, ao lado de mais dois militares portugueses, no célebre vídeo Guerre en Guinée, feito por uma equipa da televisão francesa (o vídeo tem cerca de 14' e o António aparece por volta do 1' 49''; esse vídeo foi originalmente exibido no programa da ORTF, Point contrepoint. em 11/11/1969; faz hoje parte do fabuloso arquivo do INA, Instituto Nacional Francês do Audiovisual.

Já falei com o António ao telefone, duas ou três vezes, recordando os nossos velhos tempos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Vou finalmente revê-lo e abraçá-lo em Monte Real, dia 21. Ele inscreveu-se com a esposa,  Laura. Ao ver as suas fotos da Guiné, reconheci-o de imediato. Infelizmente, o Abel Rodrigues, seu antigo comandante, não está inscrito este ano no nosso encontro. Mas o António  vai concerteza encontrar, no próximo sábado, mais camaradas do seu/nosso tempo de Contuboel e Bambadinca (junho de 1969/março de 1971). Depois de regressar do hospital, em data que já não posso precisar (talvez finais de 1969), o António Mateus foi integrado na força que defendia o destacamento do reordenamento de Nhabijões, composto por militares da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 e outros. Creio que ficou lá o resto da comissão. Estava lá quando acionámos duas minas A/C à saída de Nhabijões, no fatídico dia 13 de janeiro de 1970. Ele terá muito que falar com os nossos camaradas António Fernando Marques (CCAÇ 12) e Luís R. Moreira (CCS/BART 2917), que estarão presentes no VII Encontro Nacional, em Monte Real.

Feita esta apresentação, só tenho que lhe dizer, ou repetir o que já lhe disse ao telefone, que é uma honra e um prazer tê-lo aqui na nossa Tabanca Grande. O António Mateus passará a ser o tabanqueiro nº 550. Haveremos de conversar mais, com tempo e vagar.
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de abril de 2012 >  Guiné 63/74 - P9768: Tabanca Grande (330): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Inf Op, COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73)

Guiné 63/74 - P9774: Notas de leitura (353): "Um Demorado Olhar Sobre Cabo Verde", por Jorge Querido (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Março de 2012:

Queridos amigos,
O “olhar” de Jorge Querido sobre Cabo Verde e o que ele pensa do papel dos cabo-verdianos no PAIGC, antes, durante e depois da luta pela independência é frontal, por vezes ríspido, outras vezes moralizante, nalguns casos ácido, as suas questões noutros casos inquietam os espíritos acomodados por vários dogmas e mitos. Não esconde o seu olhar comprometido, quando pode ajusta contas, com elaborada frieza e equidistância.
Livro de leitura obrigatória. O que Luís Cabral e Aristides Pereira não contam sobre a componente cabo-verdiana, Jorge Querido tem menos papas na língua. E ficamos definitivamente a saber que a unidade Guiné-Cabo Verde foi uma pura invenção de Cabral.

Um abraço do
Mário


Um livro polémico de Jorge Querido

Beja Santos

“Um demorado olhar sobre Cabo Verde” (por Jorge Querido, Chiado Editora, 2011) é um livro indispensável para quem pretende estudar o PAIGC desde a sua formação e com olhos cabo-verdianos. Jorge Querido licenciou-se em engenharia pelo Instituto Superior Técnico e envolveu-se na luta de libertação tendo sido coordenador da secção do PAIGC em Portugal (entre 1959 e 1968) e foi o primeiro responsável do mesmo partido em Cabo Verde. Fora ativista e dirigente da Casa dos Estudantes do Império e várias vezes preso pela PIDE. À data de independência de Cabo Verde (julho de 1975), encontrava-se em avançado processo de rutura com o PAIGC e vive hoje desligado de qualquer envolvimento político-partidário.

Jorge Querido dá a face à polémica sobre algumas matérias que constituem, de um modo geral, um tabu, entre cabo-verdianos e guineenses: é Cabo Verde um país na rota europeia ou tem o seu destino traçado com África? A cabo-verdianidade é um equívoco identitário, gera ambiguidades insanáveis no relacionamento com os guineenses ou cabo-verdianos? Por que razão os guineenses continuam a ignorar a profunda história comum? Tinha Amílcar Cabral fundamentos sólidos quando, por sua exclusiva iniciativa, criou uma dinâmica que, reconhecido pelos investigadores e especialistas, foi uma das razões de êxito para os sucessos na luta de independência? Que falhou na unidade Guiné-Cabo Verde e a quem atribuir a sua responsabilidade? Como se vê, o antigo dirigente político não pede licença para usar da frontalidade e para se lançar na polémica e controvérsia.

Primeiro, recorda o culto do mito do homem cabo-verdiano, instrumento que tem contribuído para superar complexos e frustrações: é o mito da inteligência superior e da sua enorme sensibilidade e vocação inata para a poesia, literatura e artes; é o mito da superioridade intelectual, moral e cultural e civilizacional dos ilhéus em relação aos restantes povos africanos, a que não será alheio o seu contributo ao serviço da política colonial portuguesa; é o mito do crioulo que superou as reminiscências africanas que ainda teimam em desaparecer e que caminha ao encontro da Europa, por exemplo.

Segundo, depois de discretear abundantemente sobre a história do povoamento e equacionar as diferentes teses da formação do cabo-verdiano, o autor enumera as etapas do período escravocrata, as crises da fome e a emigrações sobretudo para S. Tomé e Angola. Daqui passa para a análise do conceito de cabo-verdianidade. Considera que houve êxito na política assimilacionista das autoridades coloniais em Cabo Verde, concede que esta passou a dispor de uma inegável capacidade para exercer postos de comando nas diferentes colónias. Teria aí nascido o mito da superioridade do colonizado tendo como referentes o homem branco e a civilização cristã. O número de alfabetizados foi inquestionavelmente mais elevado nesta colónia que em qualquer outra, em Cabo Verde criou-se muito cedo o primeiro Bispado Africano e o Seminário de Santiago, ainda no século XVI. Esta elite está convicta de que o cabo-verdiano é predominantemente europeu e é a prova provada da capacidade colonizadora portuguesa. O autor enumera diferentes registos em diferentes épocas sobre a discussão dos nativistas, os crioulistas e a invenção da identidade nacional mestiça, e regista igualmente as apreciações de Amílcar Cabral que se terá apercebido como eram inconsistentes os pontos de vista defendidos pelas elites cabo-verdianas do seu tempo. Amílcar queria fazer ressaltar a africanidade, seria esse o sinal para entender a essência do fenómeno colonial, a cabo-verdianidade não podia ser amputada da sua dimensão africana. E cita Cabral: “A experiência da dominação colonial mostra que, na tentativa de perpetuar a exploração, o colonizador não só cria todo um sistema de repressão da vida cultural do povo colonizado, mas também suscita e desenvolve a alienação cultural de uma parte da população, quer pela pretensa assimilação dos indígenas, quer pela criação de um abismo entre as elites autóctones e as massas populares. Como resultado deste processo de divisão ou de aprofundamento das divisões no seio da sociedade, acontece que uma parte considerável da população, nomeadamente a pequena burguesia urbana ou rural, assimila a mentalidade do colonizador, considera-se culturalmente superior ao povo ao qual pertence e cujos valores culturais ignora ou despreza. Esta situação, caraterística da maioria dos intelectuais colonizados, cristaliza-se à medida que aumentam os privilégios sociais do grupo assimilado ou alienado, tendo implicações diretas no comportamento dos indivíduos desse grupo face ao movimento de libertação” (20 de fevereiro de 1970).

Terceiro, são passadas em revista as principais etapas ocorridas na descolonização e destaca-se o modo como o Estado Novo tratou as suas parcelas imperiais. Adriano Moreira e Franco Nogueira são abundantemente citados. E estamos chegados à década de 60, as antigas potências imperiais entraram declaradamente num processo descolonizador de que Salazar se afastou, em 1963 considerou que o Ultramar português podia ser motivo de assaltos por agentes terroristas mas não estava à venda, era há séculos parcela indivisível da mãe-pátria.

Quarto, entrando declaradamente na análise dos caminhos da independência, após o historial da organização inicial dos movimentos da África portuguesa, Jorge Querido corajosamente refere a decisão pessoal de Cabral em criar a unidade Guiné-Cabo Verde e questiona o que teria levado o líder do PAIGC à associar numa mesma luta duas populações colocadas em campos distintos e como a história comum de que ninguém se orgulhava e lança várias interrogações: “Terá pesado a circunstância de Cabral ser filho de cabo-verdianos nascidos na Guiné? Terá tido alguma influência o facto de Cabo Verde, pelo nível de escolarização da sua população, poder estar em condições de dar à luta, na sua fase de arranque, aquele mínimo de quadros que seria necessário? Ou Cabral teria antes admitido que Cabo Verde, dadas as suas características arquipelágicas, a sua reduzida superfície territorial, a sua diminuta população e a forma como a política assimilacionista colonial se esforçara por destruir os valores culturais de origem africana deixando profundas marcas nas mentes dos seus habitantes, só poderia ascender à independência no quadro do continente africano se arrastado por uma outra colónia, como a Guiné, com a qual mantinha relações históricas e de proximidade? Ou será ainda que Cabral acreditara que o decorrer da própria luta seria capaz de conscientizar o cabo-verdiano da sua africanidade e da sua condição de colonizado? Ou dar-se-ia o caso de Cabral se ter apoiado apenas em razões históricas ligadas à proveniência dos escravos trazidos do continente e em condições teóricas que apontavam no sentido de uma possível unidade entre a Guiné e Cabo Verde baseada em fortes e inegáveis afinidades culturais e quiçá numa potencial complementaridade no plano económico?”.

É um ensaio muitíssimo bem escrito, credor de leitura obrigatória já que o olhar cabo-verdiano tem sido estranhamente silenciado no estudo do PAIGC e da luta que ele desenvolveu no território guineense.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9752: Notas de leitura (352): "Pátria Porque Nos Abandonas? - Sofrimentos de Uma Guerra", de Lino de Freitas Fraga (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9773: Agenda cultural (196): Algumas notas sobre o Seminário Guerra de África (José Colaço)


1. O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos em 13 de Abril a seguinte mensagem. 

Breves notas sobre o Seminário Guerra de África

Camaradas, 

Passei hoje de manhã pelo Instituto de Estudos Superiores, em Pedrouços, para ouvir parte das palestras, que ali decorriam incluídas no [SEMINÁRIO GUERRA DE ÁFRICA]. 

Como sempre, nestas iniciativas, ouvem-se coisas que se gostam mais e outras menos. 

A que eu gostei menos de ouvir, foi a do orador que antecedeu o comandante Alpoim Calvão, e não só eu pois vi, por vezes, alguns sorrisos discordantes na plateia. 

O que me chamou mais a atenção foi o orador situar, ainda hoje, a localização do congresso do PAIGC, que decorreu em 1964, como sendo realizado na mata do Cassaca - Ilha do Como -, que contou com cerca de 150 elementos. 

A seguir falou o comandante Alpoim Calvão, que pediu um minuto para falar sobre a situação actual na Guiné, após o que divagou sobre a operação “Tridente”. 

Concorde-se ou não com as suas ideias políticas, nota-se que é uma personalidade muito firme e convicta, falando clara e exactamente nos factos e acontecimentos. 

Eu que estive em quase toda a operação “Tridente”, com a excepção da primeira semana (de 15 a 23/01/1964), testemunho que a sua palestra foi resumida, objectiva e verdadeira. 

Abordou também o citado congresso do PAIGC para dizer simplesmente: “NÃO HOUVE NENHUM CONGRESSO NA MATA DO CASSACA, NA ILHA DO COMO, o que houve sim nessa altura foi uma reunião do PAIGC mas em Cassacá - Cacine.” 

O comandante Alpoim Calvão na tribuna usando da palavra. 

O comandante dirigindo-se ao seu lugar na mesa de honra. 

Um abraço 
José Colaço 
Soldado Trms da CCAÇ 557 
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Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P9772: Memória dos lugares (182): O Xime - Esclarecimentos (Sousa de Castro)


1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem.



MEMÓRIA DOS LUGARES (XIME 1972)


É sempre agradável passar pelo blogue, não só para ver e ler as últimas postagens mas rever imagens de uma zona onde passamos parte do tempo (XIME), no meu caso foram 13 meses, pois só cheguei ao Xime no dia 03 de Março de 1972, antes frequentei um estágio de radiotelegrafista, no quartel de TRMS em Bissau de 28JAN72 a 02MAR72. A CART 3494 (a que eu tive a honra de pertencer) do BART 3873, depois do I.A.O. que decorreu em Bolama de 29DEC1971 a 27JAN1972 foram sobrepor a CART 2715 do BART 2917 no dia 28JAN72. 

Revi imagens do Xime enviadas pelo camarigo, ex. Cap. Mil. António Vaz da CART 1746 não muito diferentes daquelas que envio em anexo. 

Fotos de 1972

A matança da vaca junto à nova cozinha, ao fundo o Refeitório

 Entrada do Quartel pelo lado do cais 

Vista parcial do Xime, ao fundo lado esq. A secretaria 

Entrada principal ao fundo refeitório, lado direito abrigo e espaldão do Morteiro 81mm 

No meu posto de serviço 

Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873
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Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P9771: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) 11): Cartas de Paunca, SPM 5668, Parte I (J. Casimiro Carvalho, Fur Mil Op Esp., CCAÇ 11, mai-ago 1974)







Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > c. maio / Junho de 1974 > Tempos de esperança e de temor > O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", entre os fulas...


Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.




1. Por ocasião do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de Outubro de 2006, conheci pessoalmente o José Casimiro Carvalho, camarada que teve a grande generosidade de me confiar, na altura,  um valioso conjunto de cartas e aerogramas enviados a amigos e familares no período em que esteve em Guileje, Cacine e Gadamael (1972/73),  e depois em Colibuía-Cumbijã, já em 1974, e ainda Bissau e Paunca (a seguir ao 25 de abril de 1974).


Um seleção de excertos das suas "cartas do corredor da morte" (*)  já aqui foram publicadas oportunamente. Está na altura, por ocasião do nosso VII Encontro, em Monte Real, mo próximo dia 21, de lhe devolver os originais (!). Devo dizer que ele fez questão de os ofertar, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje, por ocasião do Seminário Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008). Manifestou-me expressamente essa intenção. Em bora hora não lhe fiz a vontade, ficando eu com os originais e entregando ao museu um coleção de cópias (digitalizadas pela Fundação Mário Soares). Estou por isso em condições, cinco anos e emio depois,  de lhe devolver os originais que ele agora, sim, vai poder oferecer a uma das suas filhas, conforme é seu desejo.  São coisas pessoais e intransmissíveis, e eu fico contente de servir de "correio", entregando as cartas e os arorgramas, enviados em 1972, 1973 e 1974, de diferentes SPM: 2728 (CCAV 8530, Guileje, Gadamael, Colibuía, Cumbijã, Bissau, 1972/74) e 5668 (CCAÇ 11, Paunca, 1974).


Entretanto, fiz ainda uma seleção da correspondência relativa à sua curta mas algo atribulada passagem pela zona leste da Guiné (Nova Lamego e Paunca).


Esta correspondencia é mais um elemento, importante, para a elucidação e compreensão do período final da guerra na Guiné, tanto no sul (Guileje e Gadamael) como na zona leste (Paúnca). Recorde-se o que o nosso ranger  escreveu sobre essas peripécias em chão fula (*)


 O que se passou em Paunca já aqui foi descrito no nosso blogue: os quadros (metropolitanos, brancos) da CCAÇ 11 foram expulsos do quartel de Paunca, sob ameaça de armas, pelos soldados fulas, amotinados. Recorde-se que a  CCAÇ 11, tal como a minha CCAÇ 12, tinha-se formado originalmente em Contuboel (de Maio a Julho de 1969), fazendo parte da "nova força africana" de Spínola. Estive, portanto,  com eles menos de dois meses, em Contuboel, com a malta da CCAÇ 11 (ou melhor, na altura, a CART 11) a que pertencia o meu amigo Renato Monteiro, o mediático homem da piroga no Geba . 


A seguir ao 25 de Abril de 1974, fugido do inferno de Guileje e Gadamael, caído de paraquedas em Paúnca, na CCAÇ 11, o Casimiro Carvalhos vai conhecer o desespero e a raiva dos nossos aliados fulas, na fase do cessar-fogo e retração do nosso dispositivo militar no TO da Guiné... Este é um dos episódios mais chocantes da guerra da Guiné, aqui contados pelo nosso herói de Gadamael. Só é pena que ele tenha sido tão parco em palavras, no que diz respeito a este final da sua comissão ... 

2. CCAÇ 11, Paunca, Agosto de 1974
por J. Casimiro Carvalho




(i) Com uma arma apontada nas costas pelos seus próprios soldados 


(...) [Em 8 de Julho de 1973, saímos de Cacine, em LDG, a caminho de Bolama, e daqui] fomos para o Cumeré tirar outro IAO . Eu fui para Prabis com mais 12 homens, outros foram para Quinhamel ou Bijemita (??). Depois fomos para Colibuía-Cumbijã [janeiro-março de 1974], e aí fui destacado para rendição individual, sendo transferido para Bissau a fim de tirar estágio de Companhias Africanas, e durante esse estágio deu-se o 25 de Abril [de 1974].


Fui então para Paunca, CCAÇ 11 – Os Lacraus, onde me mantive até ao fim da minha comissão [ A primeira carta que temos de Paunca, é datada de 14 de maio de 1974, e foi escrita á máquina, e era dirigida à "maninha. Em 30 de abril de 1974, ainda estava em Bissau e dá conta, à mãe, em carta, do ambiente que se vive na cidade, com ]. Não sem antes levar um susto de morte, pois os militares africanos da CCAÇ 11 sublevaram-se. Quando eu estava a dormir, ouvi tiros, vim em calções com a Walther à cintura até ao paiol. Quando lá cheguei, eles estavam a armar-se e a disparar para o ar e eu, quando os interrogava pelo motivo de tal, senti o cano de uma arma nas costas, ordenando-me que seguisse em frente (até gelei)...Juntaram todos os quadros brancos e puseram-nos no mato...assim mesmo.


(ii) Socorridos no mato pelos inimigos de ontem!


Caminhámos muito, de noite, desarmados, e fomos até um acampamento de guerrilheiros do PAIGC, contámos a situação e eles mandaram um punhado deles a Paunca. Gritaram então lá para dentro:
- Têm 5 minutos para se entregaram e restituir o quartel aos brancos ou destruímos tudo! - Eles, os fulas, entregaram-se.


No fim, já de abalada, fomos ao paiol, juntámos todas as granadas e explosivos, e eu fui encarregado de os fazer explodir , ao redor de uma enorme árvore. Que cogumelo de fogo, impagável !


(iii) Por fim, a peluda...


Fui encarregado de comandar uma coluna de 22 viaturas até Bissau, por Fajonquito, Jumbembem Farim, Mansoa, Nhacra…Bissau. Ao fazer o espólio, não tinha G3, mas , como não tinha…
- Ó pá, estiveste em Guileje ?... Então ‘tá bem, não entregas.


A seguir vim de avião para a peluda. (...).


3.  Cartas de Paúnca, SPM 5668: Em 20 de maio de 1974, J. Casimiro Carvalho escreve um aerograma à mãe, Angelina Carvalho, então a residir em Vila Nova de Gaia:



Paunca, 20 de maio de 1974

(...) Então o Luís, está em Lamego ? Mande dizer o nº dele e o nome todo e qual é o SPM dele, pois eu estou perto. [O aerograma é acompanhado de um esboço do mapa, com a posição relativa de três localidades: Paunca - Pirada - Nova Lamego] (...)

(...) Ontem  estive de sargento de piquete e fui guardar um recinto onde havia batuque. Olha, é bonito, os fulas a lutar género luta greco-romana, eles muito fortes , e ao som da batucada. Até vibrei.

Não tenho feito nada, é só dormir, não saí nenhuma vez para o mato, pois aqui é raro, e isso só por si já vale muito. É menor o perigo que corremos. Um beijo do seu José Casimiro.

No mesmo dia escreve ao pai, Ângelo Carvalho, também outro areograma, do  SPM 5568:

Paunca, 20/5/74

Paizinho: (...) Vou pô-lo ao corrente, mais ou menos, do que se passa por aqui: Há 8 dias, fomos informados que daí em diante não podíamos fazer fogo de armas pesadas, a não ser em caso de ataque ao quartel. No mato, mesmo que encontremos um Grupo IN, só abrimos fogo se eles abrirem, e neste caso [devemos] tentar acabar com o tiroteio, logo que possível. A aviação não bombardeia. 


Quando foi formado o Governo Provisório, o presidente do Senegal,  Senghor, enviou o seu avião pessoal a Lisboa, para ir buscar o representante da Junta [de Salvação Nacional] e tentar um acordo prévio de cessar-fogo, do qual ficou assente: o PAIGC anulou todas as operações de grande vulto (como a de Guileje) que estavam planeadas para o fim da época seca, ou seja, "agora", enquanto que Portugal se comprometeu a não abrir fogo sobre guerrilheiros do PAIGC, prioritariamente.


Portanto temos praticamente um cessar-fogo não oficial, que será oficializado em Londres, no dia 25, entre Aristides Pereira e Portugal. Isto está a correr pelo melhor, não acha ? Nós andamos todos contentes, se bem que isto a mim não me vem beneficiar quanto ao fim da comissão que se avizinha. (...).

Primeira parte do documento [, Informação,] escrito à máquina e datado de Paunca, 7 de junho de 1974, dando conta dos primeiros contactos das NT com os guerrilheiros do PAIGC, no subsetor de Paunca

Paunca, 10/6/1974

Esboço de aerograma (3 folhas), escrito no dia de Portugal [10 de junho de 1974]. Uma parte do conteúdo seguirá para mãe, em carta manuscrita, enviada nesse mesmo dia. Outra parte foi [ou já tinha sido dactilografada, com data de 7/6/74] sob a forma de uma espécie de comunicado [ Informação,] cujos destinatário(s) se desconhece.


(...) GUERRA E...PAZ


Guerra... palavra que pouco dignifica. Guerra, sinónimo de destruição. Prenúncio do fim. Mas... também há a paz. E para isso se está a tarablhar neste momenmto em todo o Portugal.


Ontem [leia-se: 6 de junho de 1974], algures na Guiné, tropas portuguesas (brancas), comandadas por um oficial superior, dirigiram-se em missão de paz a um destacamento inimigo, em território português, perto da fronteira com o Senegal, deixando todo o armamento nas viaturas [e] deparando com uma colossal e bem montada emboscada de segurança. Numa atmosfera de confiança,  inimigos de ambos os lados cumprimentaram-se, os dois comandandantes inimigos entraram num amistoso diálogo, findo o qual se chegou à conclusão que... o PAIGC, como nós, anseia pela paz.


Esses mesmos inimgos disseram que teriam imenso prazer em contactar com tropas africanas, em serviço nas nossas fileiras, para trocarem impressões e concluirem o que mais lhes interessava.


Hoje [, 7 de junho,], algumas dezenas de tropas africanas, comandadas pelo mesmo oficial superior, dirigiram-se ao mesmo local, procedendo como no dia de ontem. Encontraram um clima de amizade, não foram molestados, e até foram obsequiados com galhardetes e emblemas do PAIGC. Também se procedeu à troca de pequenas peças de fardamento.


Imaginem, um momento tão importante, um momento nunca conseguido durante tantos anos de guerrilha. Parece inconcebível. Mas aconteceu. Nunca em toda a história mundial, que eu saiba, antes mesmo de um cessar-fogo, se viu istio, duas forças inimigas, como uma família, reunidas em franca amizade, esquecendo  todos os antecendentes, pois eles sabem que com isso contribuem para finaliziar o que há tanto tempo vem vitimando e continuaria a vitimar inocentes [...]


Estou deveras emocionado, eu que como tanto outros vi tombarem amigos, companheiros de farra e de luta, amigos para o bem e para o mal, e para quê ?  [...]


Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto,  conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - ABRAÇÁ-LOS. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós.

Fica aqui, pois, o meu desejo para que tudo se desenrole como desejamos, no dia de Portugal, nas conversações de Londres. Somos livres, mas ainda não temos a PAZ.

Um militar que anseia pela Paz.




4. Num segundo poste, divulgaremos mais alguns excertos de cartas escritas pelo J.Casimiro Carvalho, em Paunca, em junho de 1974. Não tenho nenhuma missiva em que ele relate à mãe, ao pai ou a outros familiares a situação de insubordinação dos soldados da CCAÇ 12, situação essa que  terá ocorrido por volta de 21 agosto de 1974 [ data em que o PAIGC tomou conta da povoação e aquartelamento, segundo o relatório da 2ª rep/QG/CTIG, já aqui divulgado]. (***)

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