sábado, 29 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10875: Memória dos lugares (203): Parque Nacional da Peneda-Gerês: Cascata do Arado, Mata da Albergaria, a Geira e outras joias do parque que, embora decadente, continua a ser um dos sítios mágicos da nossa terra... (Luís Graça)


Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terras de Bouro > Cascata do Arado > 27 de dezembro de 2012

Vídeo (49''): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terras de Bouro > Cascata do Arado, a cerca de 750 m de altitude.


Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terras de Bouro > Cascata do Arado > Um dos muitos tristes exemplos da vandalização da sinalética do parque...




Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terras de Bouro > A milha XXXI  da Geira, a antiga via romana que ligava Braga a Astorga...



Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terra de Bouro > Mata da Albergaria > Antiga via romana Braga-Astorga > Marcos miliários (classificados como Monumento Nacional).




Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terra de Bouro > Mata de Albergaria, nas proximidades da margem esquerda da barragem do Vilarinho das Furnas e da aldeia de Campo do Gerês.



Parque Nacional da Peneda-Gerês > Terra de Bouro > Mata junto à Pedra Bela.

Fotos: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


1. Há, ainda felizmente, lugares mágicos neste país. O Parque Nacional da Peneda-Gerês, mesmo decadente, é um deles. (Decadente, por muitas razões que não importa aqui desenvolver: os sucessivos governos, a EDP, os serviços florestais, a gestão do parque, os bombeiros, os madeireiros, os incendiários, os autarcas, oa proprietários, as populações, os turistas, os muitos interesses contraditórios em jogo...).

Voltei cá no fim deste ano e ao fim de vários anos.  A mata de Albergaria é uma das jóias da coroa do Parque. É um das nossas mais antigas manchas de carvalhal, em estado natural.  Acabo de fazer que caminho que atravessa a mata e acompanha a antiga via romana Braga-Astorga - conhecida como a  Geira - , ao longo da margem esquerda da albufeira de Vilarinho das Furnas, e que termina em Campo do Gerês. Sobreviveram até aos nossos dias uns vinte e tal marcos miliários que sinalizavam as distâncias enter Braga e Astorga.

Ponho o ouvido esquerdo numa destas pedras milenares, tentando ainda "apanhar" os ecos da marcha forçada dos últimos legionários romanos... Aqui respira-se um duplo silêncio, o da natureza (prodigiosa) e o da história (mal conhecida)... Quantos invasores do nosso território não terão passado por aqui ? E quantos  jovens da minha geração não terão pegado na trouxa para fugir da miséria das suas aldeias, a caminho de Paris, de Lisboa, do Porto ? Quantos camaradas meus, oriundos das Terras de Bouro, terão ido parar à Guiné ? Não tenho ideia de ter aqui, sob o poilão da nossa Tabanca Grande, nenhum camarada destas paragens... (Aqui fica um convite e um desafio para aparecerem!).

O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) , infelizmente, é o único parque nacional que nós temos. Na sua criação também trabalhou a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro, no início da década de 1970. O PNPG ocupa cerca de 70290 hectares, indo do extremo nordeste do Minho até Trás-os-Montes.Inclui quatro serras, Peneda, Soajo, Amarela e Gerês, e dois rios principais, o Lima eo Cávado. Faz fronteira com a Galiza. Abrange os concelho de Terras de Bouro (Braga), Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca (Viana do Castelo) e ainda  Montalegre (Vila Real). Ver o respetivo mapa, aqui.

Voltei, ao fim de largos anos, ao Miradouro da Pedra Bela, que costuma proporciona uma vista privilegiada sobre todo o vale do rio Gerês, mas desta vez o nevoeiro era cerrado... Aqui escreveu Miguel Torga, em 1942 (, de acordo com a placa descarrada, no local, em 12 de agosto de 2007, por ocasião do 100º aniversário do nascimento do poeta):

Serra!

E qualquer coisa dentro de mim se acalma…
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra
E alma.
Uma paz de falcão na sua altura

A medir as fronteiras:
- Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras…

(Miguel Torga – Gerês, Pedra Bela, 20 de Agosto de 1942 – Diário II)

A Ermida, a aldeia comunitária, de economia agropastoril de montanha, essa, já não me deixou nada entusiasmado, face às construções dos últimos anos, com manifesta falta de bom gosto estético e de enquadramento paisagístico... Já não ia lá há mais de 30 anos...

Registe-se aqui o estatuto de conservação de PNPG:

(i) Estatuto de Parque Nacional, através do Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio que cria o Parque Nacional da Peneda-Gerês;

(ii) Reserva Biogenética do Conselho da Europa: “Matas de Palheiros - Albergaria”;

(iii) Sítio de Importância Comunitária (SIC) “Serras da Peneda-Gerês”, da rede ecológica europeia Rede Natura 2000, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 142/97, de 28 de Agosto, publicado no Jornal Oficial da Comunidade Europeia, de 29/12/ 2004;

(iv) Zona de Protecção Especial para Aves Selvagens (ZPE) da “Serra do Gerês”, da Rede Natura 2000, através do Decreto-Lei n.º 384-B/99, de 23 de Setembro;

(v) PAN Park desde 2008.

Amigos e camaradas: é um dos recantos do nosso querido Portugal que é peciso conhecer, divulgar, amar e proteger... Os valores naturais e culturais do PNPG devem inspirar-nos e ajudar-nos a resistir melhor ao pessimismo com que acabamos o ano velho e ao ceticismo com que nos preparamos para enfrentar o novo ano...

Terras de Bouro, 28/12/2012

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de dezenbro de 2012 > Guiné 63/74 - P10868: Memória dos lugares (202): Cacheu, Natal de 1964 (António Bastos)

8 comentários:

Álvaro Vasconcelos disse...

Bom dia, Luis.
Obrigado por tão belas imagens.
O Gerêz é um dos lugares mais lindos do País.
Nós temos o que eu, pelo que conheço e ouço descrever a quem é muito viajado, o que é por de melhor. Uma situação geográfica única, neste nariz sul ocidental da Europa.
Todo o Portugal é lindo e deve ser protegido por todos os de bom senso.
Só quem nos governa é que teima em não querer dar exemplo!
Um abraço e um novo ano muito cheínho de coisas boas.

paulo santiago disse...

Luís
O Gerês tem encanto!!!
Aquela cascata do Arado,já a desci em rappel,no Verão,no decorrer de um canyoning...maravilha!!! e também o rio Fafião e o Conho...
As caminhadas,a Geira é fácil,mas o trilho da Vezeira é duro,assim como a Rota das Mariolas partindo de Fafião.Sabes o que são Mariolas?e a Vezeira?
E ao jantar comer uma "ilhada" grelhada de vaca barrosã...
Abraço

Luís Graça disse...

Não, Paulo, não sei o que são as Mariolas... A Vezeira, sim, julgo que sei... Tenho que ir à minha explicadora, a Alice, que trabalhou com o Lafrifa Mendes, um dos grandes impulsionadores do Parque. A Alice é fã do Parque. Eu fui lá, em 1976, pela primeira vez, com ela, que foi (e é) uma grande cicerone.

Paulo, invejo o teu espírito aventureiro e sobretudo a tua boa forma...Bem queria ir um dia ver a cascata do Taiti, mas para se lá chegar a caminhadda, a penantes, é das mais duras do parque...

Um bom ano para ti e para os/as teus/tuas companheiros/as de aventura(s). Luis

armando pires disse...

Meu caro Luís Graça.
Ao longo dos tempos fui visita assídua do Gerêz, e de lá tenho duas ou três histórias marcantes.
Por exemplo: era lá que me encontava com outros três camaradas jornalistas, todos da rádio, quando foi o incêndio no Chiado. Acampáva-mos lá em baixo, na barragem da Caniçada. Todas as manhãs, à vez, vinha um de nós cá a cima, ouvir as notícias para as contar aos lá de baixo. Imaginas a frustação que de nós se apossou quando soubemos do terrível incidêncio, e nós ali, "sem participar". A outra foi também, curiosamente, na mesma barragem. Uma jovem de vinte e poucos anos, juntamente com um irmão bastante mais novo, caíu á àgua depois de se virar o pequeno barco de borracha em que brincavam. Mesmo no meio da barragem. Fuin a nado até lá e atrás de mim foram os dois filhos de um camarada meu. Umn com 14 anos e o outro com 10. A coragem e a calma destes dois miudos, hoje homenzarrões, foram fundamentais para salvar aquelas duas vidas no meio da barragem. Bem, mas isto não é a razão porque venho aqui comentar. A razão está no destaque que dás à Cascata do Arade. Tomava lá eu banho e "fingia de afogado" gritando para a minha mulher que lá me fosse salvar. Ela ria-se em jeito de salva-te tu que a água está gelada, e em lugar dela quem se atirou à água direita "à minha aflição", foi a minha cadela, a Pantufa. Tinha ela dois anos, tem hoje catorze e, felizmente, aqui debaixo da secretária a aquecer-me os pézinhos.
armando pires

armando pires disse...

Caro Luís.
O disparate é próprio dos apressados.
O meu comentário está rechado deles.
Será que lhe podes me ter umas emendas ou fico eu sem ementa aqui nesta errata.
1ª linha - Gerêz com S, que não estou em Espanha.
3ª linha - acampáva-mos/acampávamos
4ª linha - frustação/frustração
6º linha - caíu á àgua/caiu à água
7ª linha - Fuin/fui
8ª linha - Umn/Um
última linha - pézinhos/pezinhos

IRRA!!! Que é burro.

armando pires

paulo santiago disse...

Luís
Mariolas,são montes de pedras,em forma "cónica",feitos pelos pastores que serviam de orientação.Há mariolas com uma dezena de pedras,outra muito maiores.
Em Fafião há o Fojo dos Lobos,uma espécie de arena,onde os lobos eram atraídos,e após fechado o recinto,eram mortos à pedrada...um pouco bárbaro.
Oh Luís,tu que fazes meias maratonas,vens dizer que a caminhada à cascata do Taiti é dura...

Bom ano para ti e para os teus.

PS-aquele nome é Lafrifa,ou Lagrifa.

Anónimo disse...

Mas qu'a grande azar. Com tanta boa comida que há por ali não haverá ninguém que fale nisso? Desde 1973, que vou uns dias para o Gerês e conheço bem a zona e até a passagem pedestre para Espanha ali pelo meio. Conheço os restaurantes, as cozinheiras, os bons vinhos..e aqui esta gente boa, nem nisso falam. (afinal é tão importante, encher a barriguita antes duma caminhada e logo a seguir também) Abraços e Bom 2013, são os desejos do
Veríssimo Ferreira

Luís Graça disse...

Lagrifa Mendes, pois, claro!... Obrigado, Paulo, pela correção e pelas dicas... Quantos às minhas atléticas, estás a ser manifestamente generoso, como sempre os amigos...

Vê o discurso do Lafriga, aqui... Era pertencia à "classe florestal", era engenheiro silvicultor, se não me engano. Suicidou-se a seguir ao 25 de abril, por razões que julgo não terem sido políticas. Deve,mos valorizar estes portugueses pioneiros... em matéria de proteção ambiental,.. Agora vou visitar a capela do Senhor da Pedra. Boas aventuras para ti, em 2013. E sobretudo muita saúde.-

http://mundodaalma.blogspot.pt/2010/04/discurso-do-eng.html