quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10871: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (5): O whisky não era para todos

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74), com data de 23 de Dezembro de 2012:

Amigo Carlos Vinhal
Envio-te este pequeno texto que publicarás se entenderes conveniente, caso contrário tudo bem. Aproveito também para desejar a todos ex-camaradas e família boas festas e, particularmente, para aqueles que se encontrem em dificuldades com problemas de saúde, que o próximo ano seja melhor. Desejo extensivo, a todos quantos visitam o blogue.


PEDAÇOS DE UM TEMPO

5 - O WHISKY NÃO ERA PARA TODOS

Por razões várias nem todos podiam frequentar restaurantes ou pensões, e o uísque também não chegava a todos…

Este texto vem a propósito de uma conversa que tive há dias com um amigo meu, que sendo ainda jovem, de vez em quando também faz uma visita ao blogue tentando perceber um pouquinho daquilo que foi a nossa passagem pela guerra algures, em terras da Guiné.

Dizia -me ele: "Vocês quando vinham a Bissau ou a Bafatá tiravam a barriga da miséria e, mesmo no mato também parece que não faltava o uísque". Procurei dizer-lhe que não era bem assim. Havia também aqueles, que quer fosse no Império, no Ronda, no Bento ou outros, isto em Bissau, a sua bebida ficava-se por uma bica e um copo de água. Mas aquela observação feita por alguém que não conheceu o que por lá se passava e, vivendo nos tempo de agora também não será muito fácil de perceber.

Levou-me a refletir um pouco sobre aquilo que por vezes aparece em alguns postes no blogue a respeito do uísque, de tirar a barriga da miséria, ou até de uma visita às meninas generosas, por isso, decidi falar sobre os mesmos.

Efetivamente parece que havia quem em algumas companhias tivesse acesso a várias garrafas de uísque a bom preço ao longo da comissão. Pela parte que me toca, tive direito a uma, ou duas… Quando acontecia por razões várias alguns irem ou passarem por locais onde existiam os ditos restaurantes ou pensões, a maioria fala em Bissau e Bafatá, mas havia outros sítios, onde isso de facto acontecia. Só que os frequentadores desses locais eram quase só furriéis, sargentos e oficiais. Ou então, aqueles que iam recebendo umas cartas com umas notas em escudos que lhes eram enviadas da Metrópole, porque os outros… mesmo os mais ”poupados” raramente juntavam dinheiro que lhe permitisse grandes aventuras.

Porque isto de igualdade na tropa naquele tempo (em algumas coisas) ficava-se só pela cor da farda. Um soldado se não estou errado ganhava 960$00, o cabo que era o meu caso 1.200$00, (eu tinha mais 150$00 o chamado prémio de viatura) dessa verba alguns mandavam pelo menos metade para a Metrópole. Depois seguiam-se os outros, um furriel ganhava várias vezes mais que o soldado, e os oficiais sempre em crescendo. Daí a razão de não serem muitos os soldados que frequentavam esses sítios. Chegou a acontecer a alguns, descuidarem-se e acumularem dívidas na cantina (com a complacência do cantineiro), passado poucos meses de lá estarem, parte do ordenado na altura de receber, era logo descontado para amortizar a divida.

O facto de várias vezes o nome de restaurantes e pensões mais frequentados assim como das marcas de uísque, aparecerem em alguns postes, deve-se à esmagadora maioria dos que escrevem para o blogue terem pertencido ao grupo de sargentos e oficiais. Quanto ao número de ex-soldados que vamos escrevendo somos uma minoria. É minha intenção com este pequeno texto tentar contribuir, dentro do possível, para esclarecer aqueles que nasceram no tempo em que não é obrigatório ir à tropa, mas que, por influência de ex-combatentes de vez em quando fazem uma visita ao blogue, só que mesmo assim, continuam com grandes dificuldades em perceber como foi possível resistir durante tantos anos, às terríveis condições que a esmagadora maioria de nós passou na Guiné, e também nas outras províncias, o que é normal. Pois quem quiser perceber minimamente o porquê das coisas terem acontecido assim, terá que estudar o assunto cuidadosamente recuando no tempo e “ver” como era o nosso País e a sua gente por essa altura.

Existiam algumas condições “naturais” que em muito contribuíam para que isso tenha sido possível. A começar pelo atraso cultural da esmagadora maioria da população em consequência do analfabetismo que se fazia sentir, mesmo alguns dos considerados cultos… Depois a história, que da forma como nos era contada levava muitas vezes as pessoas a construir ideias que não raramente tinham pouco a ver com a verdade… Outra e a não menos importante, a religião, que de algum modo baralhava ainda mais as coisas. E claro, a situação política que em grande parte, era consequência das primeiras… Esta é a minha opinião, haverá outras, mas ainda bem que é assim, sinal que cada um se pode expressar livremente.

Permitam-me, “um pequeno desvio dos tempos de Guiné” a propósito de igualdade na tropa, o que me faz ainda hoje olhar com alguma desconfiança quando oiço falar em igualdade. No dia a seguir a ter assentado praça, estávamos todos meio desalinhados junto daquele que viria a ser o comandante do nosso pelotão, o então alferes Lourenço Rosa, isto no Trem Auto em Lisboa, quando um dos rapazes do grupo, dirigindo-se ao oficial em questão tratou-o por senhor alferes, a que este respondeu, qual senhor, aqui não há senhores somos todos camaradas! Eu ouvi e registei a conversa, só que no dia seguinte fomos começar a aprender a conhecer as divisas, galões, e por ai acima, depois a forma de tratar os tais que não eram senhores mas sim camaradas. Foi então que fiquei a saber, que um soldado com mais três meses de tropa que eu, já era tratado por nosso pronto, seguindo-se o nosso cabo, o meu furriel, meu sargento, vossa senhoria e por ai acima. Aí eu pensei… mas que igualdade é esta em que todos mandam em mim? Por isso quando oiço falar em igualdade penso sempre. Será como a da tropa?…

Já agora aproveito para desejar Boas Festas aos meus superiores do pelotão no tempo da recruta, estejam eles onde estiverem… Não mais os voltei a ver. Eram todos bons camaradas: alferes Lourenço Rosa, Furriel Chumbinho, e os soldados Almeida e Policarpo Gomes.

António Eduardo Ferreira
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10262: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (4): Hoje vais pagá-las todas!!!

15 comentários:

Antº Rosinha disse...

Gostei dessa do Wiskie não ser para todos.

Queres ver que que ainda alguem vem acusar o blog de "baixar o nível"?

Como foi o caso do anónimo Antunes.

António Ferreira, estás a levantar um véuzinho da guerra, pouco transparente.

E temos que deixar explicado aos mais novos que a nossa geração, das nossas grandes aldeias rurais, auferia entre 10$00 ou 20$00 diários, com horários "de sol a sol".

É uma explicação para a tal sujeição do soldado aguentar "calado".

E o sol no verão não se apanhava na praia, era no campo e aproveitava-se para fazer as ceifas e as vindimas.

António Ferreira, os meus números eram do meu tempo, uns 13 anos antes de ti.

Mas pões umas questões "chatinhas"!

José Nascimento disse...

Só pensas no whisky. Se fosses da minha Companhia dispensava-te a minha parte.
José Nascimento
Cart 2520

Luís Graça disse...

Caro Eduardo Ferreira, camarada de Mansambo (onde eu ia com frequência em 1969/71):

Nunca aqui escamoteámos, branqueámos, minimizámos, negámos, escondemos...as diferenças (sociais) que existiam no passado entre todos nós, "camaradas de armas", cá e lá...Na tropa, na recruta, na especialidade, na IAO, na viagem para l+á e para cá , e depois no TO da Guiné, apesar de aqui se esbaterem um pouco essas diferenças, sobretudo nos aquartelamentos de mato, onde éramos obrigados a viver em "maior promiscuidade" (por razões de segurança, de precariedade das instalações, da exiguidade do espaço...).

Mesmo assim, e sobretudo nas sedes de batalhão, a "estratificação social" das NT vinha quase sempre ao de cima, imposta pela presença de oficiais superiores de um exército clássico, com uma estrutura "classista", e manifestamente inadequado à "guerra de subversão" em África: basta referir os quartos/camaratas/abrigos separados, as messes de oficiais e sargentos, separados, o refeitório para as praças, os prés e soldos muito diferenciados, os pequenos privilégios que o dinheiro e os galões permitiam... Tens razão, podíamos ser todos iguais no mato, mas de regresso ao quartel... "cada macaco no seu galho" (como acontece em qualquer exército do mundo)...

É verdade que ex-furríéis e ex-alferes milicianos parecem estar "sociologicamente" em maioria enquanto autores de postes no nosso blogue...

Enfim, não tenho (por enquanto...) números, dados estatísticos, para confirmar ou infirmar o teu ponto de vista... Isso não invalida o facto de termos também muita gente que foi praça (soldados e cabos) no TO da Guiné, a escrever muito bem, a publicar livros, a exprimir-se com autenticidade, garra e talento em prosa e em verso...

Quanto ao tratamento por tu, hoje, entre antigos camaradas de armas, é um tema que já aqui foi suficientemente abordado, em termos de vantagens e desvantagens... Mas poderemos voltar a falar do "tu-cá-tu-lá" na Tabanca Grande...

Bom ano para ti, tanto quanto possível... E continua a alimentar a tua série...

Hélder Valério disse...

Caro camarada António E. Ferreira

Este teu artigo é muito importante na medida em que faz ressaltar um aspecto que muitas vezes o correr dos tempos parecia fazer diluir.

Na verdade o dinheiro, ou seja o poder económico, foi sempre o grande motor da(s) diferença(s) sociais.

Quem tinha (tem) mais dinheiro podia (pode) comprar mais bebidas, mais e melhores roupas e calçado, adquirir mais bens (necessários ou supérfluos).
Lá, na Guiné, essa diferença na capacidade de ter mais dinheiro vinha, como referido, ou de dinheiro que era enviado pelos familiares e/ou em resultado das diferenças dos vencimentos que as diferentes classes de militares auferiam.
E isso é de admirar? A sociedade portuguesa de então não continha essa diferenciação? E hoje? É diferente?

Para a 'memória dos nossos tempos' conta o que a memória de cada um conseguir fazer lembrar. Uns, aqueles que tiveram, por qualquer das circunstâncias referidas, a possibilidade de ter tido 'certas' experiências, contam-nas. E devem fazê-lo sem qualquer complexo, porque isso se passou e isso é a sua verdade e é a sua história.
Quem, pelas mesmas circunstâncias não teve essas experiências, certamente que não as poderá contar mas pode, como tu o fizeste, chamar a atenção de que nem tudo foi igual. E isso não só pode como deve ser contado, referido, até para que os tais jovens possam ter um maior leque de visões da vivência 'em tempos de guerra' das gerações anteriores. Mas devem fazê-lo também sem complexos recriminatórios pois não são os lamentos que irão corrigir o que se passou nem alterar o que é consequência 'natural' da sociedade em que se insere.

Os escritos que por aqui vão aparecendo são, como referes, maioritariamente das classes de 'sargentos e de oficiais' mas não exclusivamente. Isso, por um lado, também não deixa de ter alguma lógica, já que a diferenciação em 'classes' traduzia também, aproximadamente, a diferenciação escolar e cultural e, logo, por extensão, representa uma maior possibilidade de acesso aos actuais meios de comunicação.

Mas, como escrevi, não exclusivamente. Há também muitos textos, muitas intervenções de soldados e cabos. Alguns também produziram os seus livros. E disso tem sido dado conta neste espaço.

O teu artigo pode muito bem vir a despoletar mais intervenções e nesse caso, também por esse aspecto, aumentará a sua importância.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

OH camarada A.Ferreira

Vamos lá por ordem nisto.
Desde quando é que num exército há igualdade ou democracia !!!
Não há nem pode haver.

No nosso tempo o recrutamento era feito pelas habilitações literárias partindo do pressuposto que quanto maiores também eram maiores as capacidades e competências e as remunerações acompanhavam os respectivos postos..bem até aqui supostamente nada de anormal..só que como sabemos nem sempre isso correspondia na prática, isto é, nem sempre o mais graduado tinha maior capacidade de liderança e competência.
Quem ganhava mais era evidente que tinha maior capacidade económica para beber..."viskis e quejandos" e..e outras coisas.
O mesmo se aplica na actualidade a ter acesso a meios informáticos,,escrever nos blogs..coiso e tal.
O que se pode criticar e até condenar eram as incompetências,prepotências,abusos de poder,falta de senso..etc. que, infelizmente, sempre existiram,existem e existirão...tudo o resto é lirismo.

Um alfa bravo

C.Martins


Anónimo disse...

Caros ex-camaradas, não era minha intenção, responder a comentarios feitos a postes por mim enviados. Mas como parece que o trabalho em apreço continha coisas chatinhas. Como não era essa a minha intenção achei por bem dizer ao Rosinha que não serei nunca um anónimo para o blog,e essa de baixar o nível tambem não percebi. Para o nascimento dir-lhe ei que a minha bebida é água ou vinho desde que seja bom. De qualquer forma cabe-me pedir desculpa a quem achou que o texto roçou a inutilidade. Mas quero deixar claro que mesmo depois dos comentarios, escreveria rigorosamente a mesma coisa.
Um abraço a todos
António Eduardo Ferreira, cart 3493, Mansambo, Cobumba e Bissau.

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

No passado mês de Abril, recebi dos meus amigos da CCAÇ 3549 algumas fotos do convivio anual realizado algures no Norte de Portugal.

Numa delas vi, com alguma curiosidade, um ex-condutor auto, meu grande amigo, abraçado ao seu ex-Capitão de companhia (Sampedro), com a mão direita em cima dos seus ombros, assim amistosamente como quem agarra a um colega seu.

E, voltando para trás no tempo, não resisti a uma boa gargalhada, pois lembrei-me que, há 40 anos atrás se dissessem ao Mandinga (nome por que era conhecido) que o Capitão o queria ver ou falar, o que era pouco provável tendo em conta a cadeia de comando e a distancia hierarquica, ele ficaria completamente fora de si, utilizando a expressão do quartel, ele cagava-se mesmo todo.

Depois ao telefone, respondeu-me que era muito normal e que o seu ex-capitão era óptima pessoa, enfim, são pedaços de vida de outros tempos e com outros senhores.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Hélder Valério disse...

Caro camarada António Ferreira

Volto a comentar para te dizer que não tens que ficar 'melindrado' por qualquer comentário menos 'claro' que possa surgir. Até porque isso é assim mesmo, é um a debitar memórias e o seu ponto de vista e uns quantos (dezenas?, centenas?) a ler e a ter interpretações diversas, sendo que algumas são vertidas para escrito.

Como te disse, o teu trabalho é muito importante na medida em que vem trazer umas quantas interrogações e pontos de vista que na generalidade não aparecem. Se não te importas deixa-me que te diga que as observações do Rosinha estão entre "aspas", o que quer significar que se trata de uma maneira de dizer, relativamente ao que ele escreve, e não para levar o conteúdo à letra. Para a questão do "baixar o nível" a propósito do "wiskie não ser para todos" repara que o Rosinha faz referência a uma situação relativamente recente em que um 'comentador pouco identificado' que vaticinou a 'morte' do Blogue por falta de assuntos. E, quanto às questões "chatinhas", entendo que o que ele quer dizer é que os temas que levantas vêm de facto pôr o dedo na ferida relativamente à 'diferença de classes' que existia (e agora também) e que, na prática resultou que a guerra não 'fosse igual para todos'.

Para terminar deixa-me que te diga também que o que escreveste está bem escrito na medida em que é o teu sentimento, o teu ponto de vista, a tua verdade, o teu sentir da vivência naqueles tempos e, por isso, acho que ninguém te pediria para escreveres outra coisa que não exactamente o que escreveste. O que talvez esteja em causa é alguma explicação para a "causa das coisas" e isso acho que também não faz mal se for esclarecido e/ou discutido.

E também por isso não tens que pedir desculpa alguma a quem eventualmente tenha considerado inutilidade no texto. Primeiro porque não se trata disso, já escrevi, já afirmei e já voltei a referir da utilidade do mesmo e depois porque aqui entre nós não deve vingar esse sentimento.

Abraço
Hélder S.

José Botelho Colaço disse...

Hélder estás sempre de serviço a pôr agua na fervura, se tivesses seguido a vida militar pelo o que conheço de ti também serias mais um que diria: Eu errei a minha vocação?

votos de uma boa passagem de ano e um abraço
Colaço.

Torcato Mendonca disse...

BOM ANO de 2013 PARA TODOS.

BOA ENTRADA, com ou sem uísque mas com ALEGRIA e SAÚDE.

Quanto ao escrito do A. Ferreira.
Fez um percurso parecido com o da minha Companhia 2339. Nós construímos Mansambo no meio do nada. Deixamos aos vindouros, como dizia no nosso Memorial aos nosso 8 mortos e mais de 50 feridos.

O C.Martins diz e com razão: - o Exercito não era, não é e nunca poderá ser uma Organização democrática. Tem a sua estrutura hiérarquica definida e só respeitando-a temos Militares e não amostras de bandos armados.

Na minha Companhia,TODOS,comiam a mesma comida, bebiam a mesma água e dormiam nos mesmos abrigos. Só que a Cadeia de Comando era RESPEITADA. Uns ganhavam mais do que outros devido ao seu Posto na CART 2339, como exigia o Exército.

Quanto ao uisque cada um bebia o que queria, podia e quando havia.

Irrelevante para mim. Analises a fazer no futuro. Podemos abordar por n angulos este e outro assunto, mais ainda se o virmos com os olhos de hoje essa realidade passada.

Abraços,
Torcato Mendonça
ex Alferes CART 2339 (bebedor de uisque por excesso)

Antº Rosinha disse...

António Eduardo Ferreira, ao falares em Wisky na tropa, eu que tive guerra do primeiro ao último minuto, entrei imediatamente noutros comprimentos de onda.

Mas primeiro que tudo, quero-te dizer que tocas-te num assunto que podia ter um monumento "o magala desconhecido".

Mas desculpa as segundas intenções, sou eu que de vez em quando passo-me.

O Bombeiro Helder já explicou quase tudo, mas o teu Wisky de 40 years Old dava para muitos pots.

Torcato Mendonca disse...

Olá António Ferreira,
Escrevi á pressa, "postei" dois comentários e tive que eliminar um.Reli e verifiquei uma falta importante, além da escrita apressada. Eu gostei do que li nos teus anteriores escritos. Acresce ainda terem sido escritos por quem esteve em Mansambo e sente carinho pela terra e por suas gentes.

Se fiz o comentário foi mais devido ao que li nos comentários.
A igualdade de ontem, de hoje, do futuro já está apresentada por ti camarada. Só que entre camaradas (enquanto estávamos no activo)tinha que haver respeito pela hierarquia própria da vida militar. As desigualdades sociais são naturais. Existiam ontem, com os defeitos da conjuntura social e politica de outrora. Mas existem hoje. Lutemos para que o leque não se abra mais.Aqui não se fala em politica falando...a igualdade da vida "civil" e etc são utopias. Podem e devem ser esbatidas. Eu procuro fazê-lo, hoje, menos do que ontem, pois acabei com a actividade politica.Mas vamos fazendo e, se lermos com um pouco, só um pouco de atenção os comentários acima, mais uns do que outros, são escritos com muita politica e de vários quadrantes.
A minha CART 2339 usava certa forma de se comportar. A comida era igual para todos, dormíamos nos mesmos abrigos e os privilégios era muito reduzidos. No meu Grupo, na vida de mato em Candamã, Áfia etc ou em operações não havia diferença.Igualmente nos outros. Claro que havia um comandante e a cadeia hierárquica - alferes, furriéis (que escolheram o alferes, quando da formação da CART), cabos (um deles a substituir um furriel que foi ferido durante os últimos oito meses)...disciplina aceite ou imposta? Não sei hoje e menos ainda outrora. As ordens eram para se cumprir e os camaradas tinham que ser defendidos, sermos solidários para com eles e respeitá-los. Éramos militares e a melhor forma de nos ajudarmos era a união. Nunca, em nenhuma caderneta de um militar do meu tempo está um castigo dado por mim. Vai longa.Abraço.
Ab, T.

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Caro António Ferreira,
Como deves calcular não é só na Tropa que à diferênças!... é em todas as áreas, tem de haver quem mande e quem obedeça, quem ganhe mais e menos, senão ninguém se entendia. Na tropa o posto dos superiores milicianos, tinha a ver com os estudos apresentados, não pelas competêntias e capacidades, muitos não tinham mesmo vocação para desempenhar as funções que lhe eram destinadas, como sabes cá fora (na vida cívil) temos grandes empresários que foram soldados, e oficiais superiores que são simples trabalhadores. Por outro lado, pelo facto de serem muitos ex. oficiais e sargentos a escrever... é normal os estudos assim o permitem mas também há muitos que foram soldados com livros publicados como aqui já foi dito.

Desejo um Bom Ano 2013 bem melhor do que este prestes a terminar.
Sousa de Castro

admor disse...

Depois de práticamente tudo dito, só quero fazer duas ou três observações, que me parecem correctas:
Vistas as coisas pelo lado dos vencimentos não custa nada concluír que o nosso camarada António Ferreira tem toda a razão ao dizer que o Whiskey ou todas as coisas boas não eram para todos.
A classe das praças (Soldados e Cabos) auferiam os valores que ele diz, a classe de Sargentos os Furrieis n´os recebíamos práticamente a mesma coisa que eles só por um terço do vencimento tínhamos um poder de compra muito superior, isto já sem falar em Sargentos e na Classe de Oficiais. Portanto teremos de concluír que se eles deixassem ficar metade do vencimento, só recebiam lá 480$00 ou 675$00 o que lhes retirava poder económico para o que quer que fosse.
Só para lembrar que aquilo que nós recebíamos ainda dava para pagar parte das nossas viagens de férias, coisa que à quase totalidade deles estava vedada.
Eram realidades diferentes que o próprio RDM tratava de incentivar obrigando-nos a conviver só o estrictamente necessário com as outras classes.
Nos quarteis das cidades ou no mato a nível de Batalhões estas divergências deviam de ser mais notórias, pois havia majores e tenentes coroneis que deviam valorizar muito o referido RDM.
Em Companhias Independentes já estas coisas estariam mais dissipadas e não se olhava tanto para essas burocracias ou exigências do RDM, mas sem caír na bandalheira.
Um grande abraço e um BOM ANO para todos.
Adriano Moreira

Carlos Vinhal disse...

Só por curiosidade, dos 440 camaradas da Guiné da nossa listagem, que têm o seu posto e especialidade conhecidos, 170 são da classe de Sargentos, 144 da classe de Praças e 126 da classe de Oficiais.
Entre os nossos amigos temos mais 5 Sargentos, 4 Praças e 2 Oficiais.
Abraço
Carlos Vinhal
Co-editor