segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10855: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (7): Nada chega ao meu natal de inverno / Com formigos, rabanadas / E o bacalhau com todos de Portugal ! (J.L. Mendes Gomes, Zewhlendorf, Berlin, Deutschland)


1. Mensagem enviada, em 17 do corrente, pelo nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes, que vive neste momento na Alemanha, com filha e netos:


Sei que para cima deste toucado
De nuvens brancas,
O sol brilha e queima.

O céu azul reina e inunda os olhos 
De esperança e luz…

Aqui, tudo é sombra fria.
O dia nasce já cansado e triste,
Com vontade de ir dormir.
Nem o aconchego de lareira
Que aqui reina, chega
Para descobrir a manta triste
Que nos envolve.

Por mais luzinhas e artifícios,
Com feirinhas garridas

E fumarada acesa de salsichas,
Canecadas de vinho quente,
Por essas ruas e jardins de inverno,

Nada chega ao meu natal de inverno,
Com formigos, rabanadas
E o bacalhau com todos de Portugal!…

Oxalá fosse igual em todos os lares…
O que não é..
E aí, é que está tudo mal!..
.


Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata de Beethoven


Zewhlendorf, 17 de Dezembro de 2012

9h23m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Com votos dum Natal feliz para toda a Tabanca!...
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10851: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (6): Mensagens de Natal dos nossos tertulianos (1)

6 comentários:

Bernardino disse...

Linda poesia nos ofereces, carregada de saudade e sentido. Para ti e todos os que te rodeiam nessas terras que "não têm" bacalhau nem formigos um grande abraço e fica "Jametum". Feliz Natal e Ano Bom.
Bernardino Cardoso

José Botelho Colaço disse...

Bernardino onde há um português há sempre bacalhau embora os alemães não gostem nem do cheiro.
Na minha curta passagem pela a Alemanha na residência quase todos os portugueses no seu armário na dispensa tinham bacalhau e então quando a senhora da limpeza ia lá e fazia a limpeza à dispensa ao sair repetia a palavra Stinkt tradução fede, ou cheira mal.

Um abraço e gutes weihnacachtsgeschaft

Luís Graça disse...

Joaquim, camarada, amigo e poeta, cada português, mesmo longe da sua terra, transporta em si um pouco (e em geral o melhor) da sua terra. A tua noite de Natal de 2012, nos arredores de Belim, ao pé dos teus netos e da tua filha, será bem melhor do que em Catió, há quase meio século atrás, e seguramente será um Natal português!... Bebo um copo à sua saúde!

Madalena, V.N. Gaia, 24/2012

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Já ceámos todos aqui em berlim, à nossa moda...bacalhau com todos...da Noruega. Trouxe-o eu de propósito...Como soube bem...e, depois, estas vossas palavras quentes...fizeram o resto. Brindo um bom copo de Rotwein...à falta dum bom verdinho...
Um grande abraço para vòs...todos...camaradas de corpo e alma.

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Sem querer maçar...aproveito este espaço e a oportunidade de partilhar esta evocação de Natal:



NOITE DE NATAL








Não é sempre igual
A noite de Natal.
Muda com a hora,
Com a idade.
No casebre,
Na rua,
Ou no palácio real.

Em Varziela,
Tão fria e rigorosa,
Tive a mais rica e cheia,
À lareira de lenha,
Com meus pais,
Joaquim e Leonor,
E a Delfina, minha igual.

Não havia prendas…
Só o odor da ceia:
Bacalhau, azeite, batatas,
Rabanadas
Formigos,
E aletria.

E a alegria celeste
Da Senhora de Pedra Maria.


Minha mãe foi a primeira
A faltar, tão saudosa,
Ao Natal de Varziela...
Tão fria e rigorosa.

Deixou-nos o Gérinho,
Um menino tenro…
Como prenda
E bênção da Senhora...

Logo a seguir,
Foi o pai a partir...
Do Natal de Varziela,
Rigorosa e fria.

Ficou-nos
Uma lareira da saudade
Sempre acesa,
Mais a bênção
De Pedra Maria,
A Senhora e nossa
Vizinha Mãe.

Depois, vieram
Tantos natais,
Por caminhos de bruma,
Tortuosos…
Duma vida a desenrolar,
Em guerra.
Sem eira ou beira…
Mas no coração,
Ardia,
A lareira, em brasa e farta
Da saudade da Varziela,
Ao longe e fria,
E a bênção
Da Senhora de Pedra Maria.

Eis que uma lareira, nova,
Nasceu, depois,
Erguida, nossa.
Coberta dum amor,
Ardente
No calor da esperança.
Que feliz.
Encheu-se da luz brilhante
Dos olhitos, rútilos e alegres
Do Paulo,
Da Leonor, Da Sandra
E do Luís.

Encheram-na prendas dos pais,
Quim Luís e Ana,
E dos avós,
Sempre joviais,
Fernando e Fernanda,
Mais a bênção dos avós do céu,
Joaquim e Leonor…
Em cada Natal da luz
Do Deus-Menino,
Nosso Senhor.

Nela, cresceram e sonharam frementes
Seu fogo é o mesmo
Facho ardente, de bênção e amor.

Oxalá, aqueça de saudade,
Sempre viva e quente,
As lareiras que, deles, hão-de nascer,
Em cada Natal de Deus-Menino,
Pelos anos que hão-de vir…
Eternamente.


Aveiro, Natal de 1999

Joaquim Luís Mendes Gomes

Anónimo disse...

Amigo

Só agora vim visitar o Blogue.
Depois do jantar, cozinha arrumada, tiro uns minutos para passar a ronda e tenho tanto para ver e agradecer...
Começo por aqui, pelo meu amigo emigrado, felizmente voluntáriamente, mas não deixa de estar longe, lembrando os nossos hábitos e nos oferece a poesia da saudade.

Feliz Natal amigo...falta sempre qualquer coisa.

Abraço fraterno

Felismina