quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10824: Conto de Natal (3): Papagaio Verde Versus Estrela do Norte (3) (Armor Pires Mota)

1. Terceiro capítulo de "Papagiao Verde Versus Estrela do Norte", um original do nosso camarada Armor Pires Mota (ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490, Guiné, 1963/65):


CONTO DE NATAL

PAPAGAIO VERDE 
Versus ESTRELA DO NORTE 

A dois combatentes lucidamente
apaixonados pela Guiné-Bissau,
Drs. Mário Beja Santos e Carlos Silva

A velha aldeia de Lala…

A rapariga deixava, de quando em vez, desprender-se um sorriso breve, talvez receoso. Sorria, e eu também. Era nessa língua universal e doce que nos entendíamos naquela manhã. Diferente. Mas também senti que, ao canto do seu sorriso, cor da manhã de fogo, espreitavam enigmáticas palavras. Talvez incómodas e violentas, se as deitasse fora da boca. O mais certo era de revolta. Jogava pelo seguro. No silêncio. Talvez com a presença de João se abrisse… Não andaria em sua busca?


3.º Episódio

Ah, o João! O Queta!

Neste ponto, outra tristeza, uma imensa tristeza, veio habitar-me, de assalto. A lembrança de João plantou-me um remorso na palma da mão, ou uma lâmina de fogo no peito, não o posso negar. Doeu-me não ter feito algo mais para levá-lo para Lisboa, como ele tanto desejava. O João (parece que ainda estou a vê-lo…), um exímio contador de histórias, de sorriso largo, que gostava de usar óculos escuros, e o Queta, destemido e de grande capacidade de sacrifício, pescoço sempre adornado de amuletos e fetiches (os indispensáveis guardas de corpo), supõe-se que vieram a ser fuzilados, após a independência. Era a caça, a vingança desproporcionada, aos que, milícias ou comandos, haviam combatido do nosso lado. Iam buscá-los ao fundo dos esconderijos, às aldeias mais remotas e mais fechadas.

João e Queta, soube ao outro dia, andaram clandestinos por algum tempo, viveram no Senegal e por muito outro chão, até que vieram parar à aldeia de Algures que bem conheciam, julgando que a fúria assassina que levava aos fuzilamentos e enterramentos em valas comuns, Cumeré, Porto Gole, Mansabá, de antigos militares, cipaios, antigas autoridades gentílicas, já havia passado. Sabiam que ali tinham amigos e que todos, sobretudo, as mulheres, iriam rezar certamente a Alá pela sua protecção, à noitinha de todos os dias. Aos irãs de todos os entardeceres. E no seu coração de todas as horas.

Erraram em seu julgar.

Descobertos, de mãos amarradas atrás das costas, os cubanos queimaram-lhes o peito, as mãos e os pés com lume de cigarro ou de charuto. Moeram-lhes o corpo de punhadas, tatuaram-lhes sinistros vergões, as costas ficaram em sangue vivo. Chegavam a desmaiar. Nessa altura, enfiavam-lhes com a cabeça em baldes de água. Quando acordavam, os carrascos (não se sabe também por que foram entregues aos cubanos para o vergonhoso calvário…) repetiam a cena, entre cínicas gargalhadas, vezes sem conta, insultando sempre. Até ao cansaço e ao esgotamento. E gritavam-lhes, de raiva e sarcasmo: “não chorem, traidores, as lágrimas podem fazer falta para amanhã”. [Amanhã era o dia do fuzilamento, pensavam João e Keta, com mais insultos, mas sobretudo com uma alegria enorme e aberrante, quase cantante]. “Aos traidores nunca se perdoa, não valem um morrão de cigarro, estão vendidos ao imperialismo, ao colonialismo! Lutaram contra os interesses do país e do povo. Não são dignos de viverem à sombra da bandeira e do sangue dos outros.”

Segundo uma mulher, peles já amarrotadas como papel de almaço velho e carregado de arabescos, não sei qual, mas com toda a certeza a de mais de meia-idade – não, não fora aquela cuja pele vestia panos, mas sobretudo muitas rugas e anos, e cujas feições, até pela cor, me lembraram logo uma índia, já sei que isso é um rotundo disparate… – segundo essa mulher, os cubanos haviam-nos também proibido de falar ou gritar. Por cada palavra ou grito, uma intempestiva chicotada zunia no espaço e vergastava-lhes os músculos, reduzia-lhes as defesas. O ódio sempre foi, em todo o mundo, a força dos medíocres.

Ao mesmo tempo, atacavam o imperialismo americano e os colonos brancos com um palavreado revolucionário, e de punho esquerdo no ar. Também não esqueceram, fazendo forçadas comparações, os cubanos anti-castristas que haviam fugido para a Florida, chamando-lhes muitos nomes, como “puercos, cabrones, hijos da puta” e às mulheres “unas cabras”… e soltavam, pois claro, gritos de vitória: “viva Amílcar Cabral; viva Luis Cabral; viva Nino; viva “Guiné libre” e “tambien Fidel, el comandante”; viva a revolução popular!”; “viva o povo”, “viva…viva”.

O povo estava finalmente livre, “gracias a la guerra”. Povo que não tardava a ser esquecido, e alguns combatentes também, como, aliás acontece em todas as revoluções, com as patentes superiores a puxarem a si os galões e o mando, às vezes, férreo, de algemas. É a luta de facções, com os comandantes sempre muito nervosos.

João e Queta tiveram o azar de muitos, muitos outros. Era a hora das trevas e do ódio. Depois, desapareceram. Foram fazer estrume em valas comuns ou voaram nas asas dos terríveis jagudis? Ninguém sabia exactamente como tudo se havia passado longe dali, como num açougue. Tudo o que sabiam chegava, aos poucos, através de conversas curtas, cochichadas no bentabá, entrecortadas de medos. Pequenos pormenores apenas.

Ao terceiro dia, falaram-me de um antigo paiol do exército, situado em Farim. Um buraco onde não entrava um raio de sol, tão pouco uma réstea de ar, mas onde couberam dezenas de milícias. Passado pouco tempo, haviam morrido todos por asfixia, à excepção de um a quem deram um copo de água e um pouco de ar, mas, solidário no fim, foi juntar-se ao amontoado de dezenas de mortos. Os corpos desapareceram e nem tinham a certeza de que tudo fora assim como a notícia chegara a Algures.

Eram, sem dúvida, perguntas incómodas. Ou, o mais certo, poucos queriam recordar. Lembranças, mais do que dolorosas, eram também aborrecidas. Evitavam, a todo o custo, a memória, o dia ou os dias da grande ira, porque não foi uma só a hora nona das trevas e da morte, do terrível ajuste de contas. Era a hora do ódio que restava da guerra; cresciam a dor e o desassossego e faltava o amor. Isso era notório, ninguém assumia falar na situação política do país, por vezes, com o futuro armadilhado. Povo pasmado. A revolução já não era do povo, como tanto haviam proclamado os novos senhores de Bissau, entendia-se no seu entreabrir cuidadoso de palavras breves.

(Aqui está uma teia de casos e pistas a seguir e a desbobinar por atento investigador, que não eu, pelos difíceis carreiros da verdade. Decifrados todos os enigmas e paradoxos, isso daria, estou certo, material bastante para um bom romance).

Mentiria se não dissesse que deixei correr algumas lágrimas sobre um farrapo de esteira de bambu, desfeita como aquelas vidas. Recolhi mesmo em meu peito espantado uma pequena flor de silêncio e rezei-lhes por alma, ao mesmo tempo que prometi, já que não sabia em que vala comum foram lançados os corpos (e jamais alguém saberia?) sem choro, orações e batuque, ir lançar-lhas, em sua memória, nas brisas ou nas canoas dos rios Corubal ou Geba. E por que não em ambos ou em todos? Ou, pensando melhor, até pode ser no talhão dedicado aos ex-combatentes no cemitério de Bissau. Ali até faz mais sentido. Aliás, todo o sentido! Ou no cemitério de Bafatá, ainda que exiba a maior degradação Aqui se misturam em correrias de inocência crianças, cabras, cabritos e galinhas. Os cabritos são quem mais salta e cabriola sobre as campas brancas ou verdes. Também as de alguns soldados negros, de recrutamento local, lado a lado, tanto na vida partilhada de medos e risos como no silêncio derradeiro e inútil. Se quer saber, o de Bambadinca não está em melhor estado. Vedação escassa de esteira de cana de bambu, é uma lixeira aberta. Decidi-me pela primeira opção.

Um pouquinho mais de sorte teve o V. Seabra. Já ouviu falar neste nome? Só não foi encostado ao muro e fuzilado, embora a morte o rondasse como abutre, porque os maus-tratos, esses foram iguais, se não piores. E prolongaram-se. Vagomestre de uma companhia do meu batalhão, resolvera ficar. Casara em Bissau com uma bonita libanesa, locutora da rádio. Montou empresas, empregou homens de cor. Uma delas foi responsável pela limpeza da capital, durante muitos anos. Aproximou-se de Nino. Mas nem esse cartão lhe serviu de nada. Os cubanos estavam em alta, achavam-se também vencedores. Conheceu a perseguição feroz, a confusa e infecta masmorra, o lume dos cigarros ou dos “habanos”, queimando-lhe as costas, as mãos, os dedos, os ombros, partes íntimas do corpo. Já em carne viva, mais para morrer do que para viver, não tentou a fuga sequer. E tinha amigos para isso. Mudou várias vezes de actividade, mas o pior é que não mais mudou o hábito da “sagrada libação” do uísque, que o levou à degradação, quase um farrapo de homem, garrafa sobre garrafa, dia e noite sobre noite e dia… como os maus-tratos o haviam levado à quase loucura!

Como é a puta-da-vida, meu tenente-coronel! De bruços sobre as mesas, enfrascava-se para esquecer. Respirava os restos da vida nos vapores dos copos para sentir-se vivo. Tremiam-lhe as mãos, cheias de marcas, grandes cicatrizes, por sob as palavras tensas, no mínimo nervosas, na margem agreste da memória. Tremiam imenso. Vi-as tremer, desamparadas, um dia, como cordas esfarrapadas de violino. No Gambrinus ou no Arcádia. Tanto faz. Sei que foi em Lisboa. Doeram-me como dentadas na carne. Hoje, felizmente, está a recuperar. Tentou até criar a Associação de Amizade Portugal-Guiné/Bissau com o cantor Alcindo Antunes (que, de vez em quando, enfia na cabeça um chapéu de palha, aba larga, e uma pistola no alto cinturão, virando, de um momento para o outro, cantor mexicano, o El Cindo, que canta canções sul-americanas, também de Cuba, por acaso já o ouviu? Foi também como nós combatente no chão da Guiné).

Quero ver se, além de amanhã, (já tentei a difícil ligação por telemóvel), me encontro com ele num dos cafés da Avenida Amílcar Cabral, para partir mantenhas, matar saudades e revisitar com ele a cidade, tanta coisa! Pela amostra rápida que me foi permitida, a cidade está envelhecida, de muitas e escusadas rugas. O Hospital Militar, esventrado, dói. As acácias, essas magoam-me no seu vermelho explosivo. As casas sujas adormecem melancolias indizíveis. Os passos são lentos como os carreiros do mato. O Copilão é um labirinto de gente sofrida. Havemos de percorrer-lhe, com calma, as veias da vida possível. As cores e os aromas andam sobressaltados. Tanto como a alegria que corre, por vezes, no fio de uma navalha. Não é necessário que ninguém no-lo diga. Vê-se, pressente-se. Tarda a manhã definitiva, aureolada de sol, sementes, sonhos e frutos, a qual vai nascendo nos olhos dos meninos e morre, sem sentido, nas rugas dos combatentes ou nas mãos dos mais velhos. Pode dizer-se que é uma manhã adiada, ou dito de outro modo, um futuro combalido, apenas anunciado por palavras de circunstância.

Iremos, se nos sobrar tempo do Copilom de Baixo, até Cobom de Bandé, ou seja Bandim. Quero conhecer o lugar de onde saíram os primeiros guerrilheiros e a nata dos dirigentes do PAIGC, que semearam ideias e valores em que o povo acreditou e estão longe de cumprir-se.

Adiante!

Retomemos, afinal, de novo, o voo do Papagaio Verde de há trinta e tal anos atrás. O outro, do neto de Abdul, lançado ontem nos céus de fogo de algures, lá vai brincando com as brisas.

Chegados ao quartel, sem outros problemas para resolver, passei parte da tarde e parte da noite da véspera de Natal a fazer o papagaio. De jornais, por acaso, “O Século Ilustrado” e “A Bola”, que chegavam às mãos do médico, com muitos dias ou semanas de atraso e eram folheados com uma espantosa avidez, para saber novas do Puto. “A Bola”, recordo, falava do Benfica, que então andava na roda alta do futebol. Por ser bem maior, utilizei “O Século Ilustrado”. Nas três pontas coloquei, para reforço das cruzetas, outros tantos aerogramas de amor, que a minha namorada me enviara, dias antes, com um sabor muito especial a Natal e a palavras de uma luminosa ternura, eu diria a saber a carne e beijos escaldantes. Natal é amor, dissera, no Natal do ano passado, o capelão. Escrevera isso também nesse Natal a minha namorada, Amazilde Matos. Mas Natal ali naquele “cu do mundo” eram sobretudo lágrima e saudade da casa paterna. Era uma maneira de fazer com que aqueles desejos voassem e chovessem como uma bênção. Depois, o garoto deveria delirar, ao encolher o fio ou a dar-lhe guita.

Achei graça ao que fizera com os aerogramas e fui pedir outros, também de cor verde. Pedi mesmo aos soldados, cabos e furriéis, que escrevessem uma mensagem, uma frase, alguns desejos. Decentes, lembrei-lhes. Depois, com eles, forrei por dentro o papagaio. Com o garoto do Abdul, hoje tranquilo avô, sempre por perto, de olhos arregalados.

Após o recolher, fiquei na messe com os cabos do meu pelotão, luz quase sombra, difusa; também com os outros alferes e o capitão Varela e a mulher, a bela Mónica, que o fora visitar, conversando sobre um Natal longe, comendo uns bolos secos e esvaziando uma última garrafa de Vinho do Porto, que sobrara da nossa nostálgica, apressada e curta ceia de Natal. Um ou outro ajudavam-me a cumprir aquela promessa, quase ingénua, mas voando de ternura.

Dali a uns escassos vinte metros, ficava a caserna.

Era um velho armazém de um madeireiro, de nome Brandão, natural das Ilhas de Cabo Verde, onde os soldados, os mais, dormiam um sono de pedra, fatigados de uma semana diabólica. No armazém àquela hora, os retardatários, à luz mortiça de feios candeeiros, pés entrelaçados e dorso encostado à parede, cuja frescura naturalmente apetecia (um calor sufocante e pegajoso trazia aos lábios um leve cheiro a beatas pelo chão, suor ou até sexo) ficaram-se para ali a jogar cartas, os menos, a escrevinhar umas mal anotadas regras, outros, utilizando os aerogramas para as mães, as noivas, as namoradas, as madrinhas de guerra. Com desejos de Natal que já havia passado, quando os recebessem, ou de Bom Ano Novo, que vinha a caminho. Um deles, claro, era o Azambuja (quem mais podia ser?), de bom costado, mas o soldado mais romântico que eu tive ocasião de conhecer em África.

Quer ver?

Chegava a mandar em muitas cartas, senão em todas, que, para isso substituíam os inconfidenciais aerogramas, uma ou duas folhinhas secas de manjerico, que ia arrancar ao magro jardim, de sabor beirão, com que o madeireiro enfeitara, antes da fuga, a alpendrada do que era então residência do capitão e do médico, que era uma jóia de homem. Ao contrário do capitão, que era pouco humano com os prisioneiros. Ou mesmo nada. Não lhe entendia nem o sangue nem os sonhos. Ali estava instalada igualmente a secção das transmissões.

Infelizmente, esse jardim, sem mão feminina que o cuidasse e com o calor do tempo e da guerra, ali à mão dos soldados, pouco tempo durou. Secara, mas o Azambuja, amoroso prevenido, arrecadara algumas. Ainda que a menina de olho de pássaro azul o regasse ao anoitecer de mais uma tarde incendiária. – Como pode haver aqui flores, se o ódio as seca? – Questionava o poeta Castro Maçãs, nortenho, de Vermoim, também terra do meu furriel Carneiro, que, não sei se já sabe, faleceu, há largos anos. Doença ruim, disseram-me na reunião do batalhão na Figueira da Foz. Olhe, na sua cidade. – Aqui só as flores que gerarmos por dentro de nós podem vingar, e tão poucas vingarão… – respondia-lhe o médico, homem alto, desengonçado, mas alma direitinha, ansiosa da paz entre os homens, de qualquer cor, sempre solícito, que já não sei se disse, lembro-me, sentava, ao sol-pôr, às vezes, no seu joelho, a pequena Usita, afiada de corpo, vestindo panos coloridos ou de tronco nu, a menina que tinha os olhos de pássaro azul. Ao cair da tarde ou no sossego das horas e dos mistérios que corriam pelos matos em volta. – Isso até parece, ó doutor, prédica de padre em véspera de Natal… – intervim.

Quando as flores secaram e acabou o stock, o Azambuja nunca mais enviou folhas de manjerico e a noiva perguntava constantemente por elas, segundo me confidenciava, e se ele… já tinha mudado de sítio. Ou se já a tinha trocado por uma negra. Nunca me descosi. Depressa, o jardim foi a antítese da paz e da harmonia, uma trincheira.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10817: Conto de Natal (2): Papagaio Verde Versus Estrela do Norte (2) (Armor Pires Mota)

7 comentários:

Anónimo disse...


Caro amigo Armor Pires,

Depois das cenas de guerra, de horror, medo e luta pela sobrevivencia que ilustram as páginas da Antologia "Tarrafo, crónica de uma guerra", que conheci numa rápida e apressada leitura de excertos publicados na Tabanca Grande, foi para mim, reconfortante ler agora este poético conto de Natal dedicado a ilustres combatentes sobre qualquer coisa "algures" na Guiné, alegre e colorido de estrelas e papagaios verdes como deve ser.

"Usse" não será propriamente um nome fula, seria talvez, Ussai (diminuitivo de Ussainatu, do árabe Usseina(t).

Quanto aos Cubanos torcionários (?), com todo o respeito, permita-me que apresente as minhas reservas sobre a sua eventual participação, na Guiné, em actos de tortura ou fuzilamento, após a independência.

Ao César aquilo que é do César e, por aquilo que vimos e sabemos,
Os Cubanos foram médicos e bravos combatentes durante a luta ao lado do PAIGC e após a luta deram e ainda continuam a dar a sua modesta contribuição no que resta dos nossos serviços de saúde pública e no dominio da formação de pessoal médico.

O ajuste de contas aconteceu sim, forte e feio, mas foi de guineenses contra guineenses (contas históricas antigas, camufladas), por um lado os vencedores em posição de força e d´outro os vencidos numa posição insustentável de (cães dos colonialistas) colaboradores abandonados.

Nada de novo, dizem uns, era previsivel dizem outros tanto.

Mas, se não há nada de novo e era razoavelmente previsivel, então só nos resta lamentar e derramar as lágrimas de impotência na esperança de que sejam abundantes e mesmo sinceras.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Antº Rosinha disse...

V. Seabra. Já ouviu falar neste nome?

Conheci, sim Armor, resistiu mais tempo na Guiné do que muitos guineenses. Resistiu ele e a esposa libanesa, "portuguesíssima" dos quatro costados.

Ainda o conheci, empresário responsável pela limpeza das ruas de Bissau.

Agora esse pormenor do envolvimento dos cubanos nos assassinatos, estou como o Cherno.

Essa não me "cochicharam" enquanto lá estive.

Mas como não falamos fula nem balanta, às vezes não entendemos tudo como foi.

Mas Armor, os guineenses, para bem deles próprios, já deviam dizer aos seus filhos que estava na hora de esquecer e perdoar.

Bom Natal

Carlos Silva disse...

Meu Caro Cherno

Desconhecia que "Usse" não era um nome propriamente fula, pois para mim é, e sempre será. Mas é, ou não é.
Gosto da tua explicação sobre a origem do nome e sua evolução etimológica.
Usseinat(t) > Ussainatu > Ussai > Usse, tal como sempre ouvi das bocas dos meus amigos fulas.
De facto é engraçado, porque só depois de eu regressar à Metrópole e de regressar à Guiné em visita a um "chão" a que estou ligado e perguntava pelas badjudas do meu tempo, fiquei a saber só nessa altura que:
Sali era diminutivo de Salimato(u)
Cadi era diminutivo de Cadijatu
Rama ou Tulai era diminutivo de Ramatulai
(H) Ansa, era diminutivo Anssinatu
Fatu > Fatumata
Djari > Djara " não é djarama"
Mama era diminutivo de Mamadu ou nome próprio Mama Samba
Enfim, por aí fora, pois até esses nomes "evoluiram" para português, designadamente:
Awa - Eva
Fatumata - Fátima
Mas tu é que és o professor e como tal curvo-me perante o teu saber, pois "mim ka sibi papia pular"
Um abraço
Um Bom Natal
Carlos Silva

Cherno Baldé disse...

Amigo Carlos Silva ou Carlos de Jumbembem,

Não se trata de ser professor, é a minha lingua materna, eu sou guineense e fula do nordeste (Fajonquito) pertencendo a mesma zona geografica e área cultural (fula e mandinga) com o Biraço/Braço, cujos laços ainda mantenho e pertenço a familia Baldé, uma das mais vastas familias tradicionais fulas do antigo reino de Gaábu, inclusive na região de alto Casamança.

No contexto guineense "Usse" soa a balanta (sem preconceito), por isso pensei que o autor do texto tivesse ouvido mal.

Quanto aos diminuitivos, tem toda a razão, e alguns deles em virtude da sua origem comum (arábe e judaica) mantêm-se idênticos, com ligeiras variações (Aua-Awa/Eva, Fátima/Fátuma-Fatumata, Maria/Márhia).

Existe ainda o nome masculino de Ussu (de Ussumane, do árabe Otman).

Não obstante, importa salientar que a criatividade humana é infinita, não existindo por isso regras fixas ou quaisquer limites na arte de (re)criar ou (re)inventar sons no intuito de melhor distribuir afectos.

Um grande abraço para si e boas festas,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Carlos,

Esqueci-me de dizer que concordei plenamente contigo quando, num poste sobre o pequeno dicionário fula de autoria do Borrega, chamaste atenção sobre a diversidade da lingua fula, pois como qualquer outra lingua falada por milhôes de pessoas e que estão dispersas em várias regiões, é natural que existam evoluções diferenciadas.

Mas, os principais centros de referência cultural e intelectual dos fulas na àfrica ocidental são três: Futa-Torro, Futa-Djalon e Macina e situam-se fora da Guiné-Bissau. O primeiro no norte do Senegal, cuja capital é S. Louis, o segundo na Guiné-Conacri e o último no Mali.

Cherno

Carlos Silva disse...

Meu Caro Cherno

1 - Lembro-me perfeitamente do comentário a esse pequeno apontamento "dicionário" fula do Luís Borrega.

2 - Suscitei essa questão da diversidade, na medida em que, eu também tentei aprender fula e fui escrevendo um mini dicionário para mim, e pedia livros aos meus amigos fulas, bem como, pedia-lhes todos os dias em "BISSAU II" leia-se Rossio em Lisboa, para eles me ensinarem o que faziam de boa vontade. Todos os dias ao fim da tarde eu tinha lições de fula "pular", na zona do Largo de S Domingos, só que desisti, porque não conseguia entender-me com tanta diversidade, dado que se expressavam de maneira diferente, embora me explicassem essas diferenças. Daí eu não entender e desisti.
Agora quando vou ao meu "chão" Jumbembem, que não fica muito longe da tua terra, [Fajonquito] fico a "ver navios". Algumas vezes ouvi esse "chão" a embrulhar, pois quando não era Canjambari, era Fajonquito ou mesmo Pirada.
Contudo, não faltam por lá bons samaritanos para servirem de intérpretes, pois todos me entendem.

Há dias falei com o Inácio Góis sobre o "Diário" para te comprar um exemplar, mas ele disse-me que apenas lhe restava um para ele.

Recebe um abraço amigo
Carlos Silva

Anónimo disse...

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