sábado, 3 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10613: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (14): Um poema-despedida da Naty, dedicado ao seu companheiro a caminho da Guerra Colonial

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 3 de Novembro de 2012:

Caros camaradas Editor e co-Editores
Por motivos profissionais não tenho estado muito 'colaborante', embora acompanhe na mesma o nosso Blogue por via das mensagens que sempre vão chegando.
Estou sempre esperançado que melhores dias virão (não estou a falar de política, nem de economia, nem da vida das pessoas em geral, estou a referir-me à minha disponibilidade de tempo...) e que nessa ocasião colaborarei mais.

Desta vez envio apenas um poema. Não um poema escrito por mim, não senhor, não tenho jeito, mas um poema escrito para mim. É um poema-despedida-incentivo que me foi presenteado na abalada para a Guiné pela então minha namorada, com quem casei e que encontrei quando arrumava alguns papéis.
Tem a data de 27 de Outubro pois seria por esses dias que teria partido mas, tal como relatei no primeiro artigo que enviei, nesse dia o "Ambrizete" fez-se ao largo da Baía de Cascais mas voltou para reparações e só segui viagem definitivamente cerca das 22:30 do dia 3 de Novembro, faz hoje exactamente 42 anos.

Se acharem por bem, podem publicar e podem incluir na série a que dei o nome de "Histórias em tempo de guerra".

Saudações a todos os camaradas
Hélder Sousa




Querido Companheiro

Vais partir, para um destino incerto,
Mas onde é certa a ameaça da vida.
Nos olhos levas o pranto e o espanto
Da tua cobardia à "doce" realidade.
Viveste no meio da tortura, hesitando e destruindo
Como se não fosse fácil escolher na tua idade!...
Vais de rosto lindo, cheio de amargura.
Tuas veias se contrairão para não espirrarem...
Sentes desmoronar tuas ideias, teus ideais,
Não, não digas nada, companheiro querido,
Eu sei que é por mim que vais!


Monte Real 2011 > VI Encontro da Tabanca Grande > A Natividade, esposa do nosso camarada Hélder Sousa e autora do poema publicado. A Natividade é tratada pela família e amigos por Naty, permitam-nos os dois que no Blogue fique também conhecida por este diminutivo.
Foto ©: Miguel Pessoa (2011)
____________

Notas de CV:

- Título do poste da responsabilidade do editor

Vd. último poste da série de 6 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10341: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (13): Abuso de poder

10 comentários:

Luís Graça disse...

Hélder, ilustre "senador" da Tabanca Grande... 42 anos depois do regresso a casa é efeméride a comemorar, sem dúvida...

E devo dizer-te que fiquei agradavelmente surpreendido pela "prenda" que nos mandaste. Obrigado por teres entreaberto a porta da tua intimidade. E parabéns à Naty pelo belíssimo texto poético que te escreveu, à laia de despedida e de "aviso à navegação"...

Sei que são coisas muito íntimas, foram momentos dolorosos. foram tempos de incerteza... Nem todos temos o "impudor" de as revelar, aqui, em público, mas elas também fazem parte da nossa história... Nos arquivos oficiais da guerra só vais encontrar o "silêncio" no que respeita aos nossos sentimentos, emoções, expetativas, ansiedades, ideias, ideais... De resto, para a instituição militar a "individualidade" não conta...

Um xicoração para os dois. Luis

Juvenal Amado disse...

Hélder é lindo.

Tinhas uma poetiza só para ti e não dizias nada.

De certo que haverá mais:-)

Muitos parabéns à Naty que já tive o previlégio de conhecer pessoalmente e este poema reafirma que no meio da borrasca que é por vezes a nossa vida, recebemos pequenas coisas que nos moldam e nos acompanham por toda a vida.
E isso ninguém nos pode tirar.

Parabéns para ela e para ti que foste a fonte inspiradora.

Abraços.

Anónimo disse...

Boa tarde Hélder
Em sentido me confesso ..."rendido".
Obrigado pela partilha.
Parabéns à Nely.
Um grande abraço para um amigo muito especial,
JERO

Anónimo disse...

De: Augusto Silva Santos
Para: Hélder Sousa
Se a memória não me atraiçoa, foi o escritor e poeta alemão Johann Goethe o autor desta frase: "A beleza ideal está na simplicidade calma e serena".
Simples e belo este poema.
Parabéns à tua esposa e um abraço para ti. Felicidades para ambos.
Obrigado por terem partilhado este momento.

Carlos Vinhal disse...

Haverá alguém que leia este poema e não se sinta atingido?
Se for ex-combatente que tenha deixado cá namorada, há-de ter algo parecido, bem guardado; se for antiga namorada de ex-combatente e não foi capaz de dizer/escrever algo semelhante, há-de assumir como suas estas palavras tão bonitas, que no geral foram o sentir das jovens dos anos 60 e 70 que esperaram, pacientemente e em sobressalto, o regresso dos "donos" dos seus corações.
Dizer que o poema é bonito, é muito pouco.
Muitas felicidades para este casal eternamente apaixonado.

Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

José Marcelino Martins disse...

A Naty, antes de fazer o poema estava de "alma e caração" com a matemática.

Depois, com sentimento, passou às letras.

Desconhecia que a minha querida colega é poeta.

Um fraternal beijo à Naty e um abraço ao "obsequiado" Helder.

Manuel Reis disse...


Lindo, Helder!

O poema da Naty é um hino à dramática partida para a guerra.

Traduz as indecisões, quase generalizadas, com que nos deparávamos na hora da verdade.

Parabéns aos dois.

Um abraço para ti.

Manuel Reis

manuelmaia disse...

Cara Naty,

Antes de mais permita-me tratá-la assim,(a forma como o Hélder a introduziu no blogue)tardiamente ,diria,já que certamente perdemos muita coisa bonita como esta,mas como diz o ditado, mais vale tarde que nunca.

A expressão do seu sentimento,e a forma como "animou" o combatente,dizendo-lhe que se ia à guerra ,por si o fazia, foi duma subtil grandeza.

Agora ao Hélder (porque obviamente primeiro estão as senhoras)e citando o Juvenal, "tinhas uma poetisa só para ti e não dizias nada" ?
Vamos lá a enviar mais trabalhos porque quem escreve tão bem ,de certeza há-de ter mais trabalho no baú.

Um abraço ao casal.

Anónimo disse...

Caro amigo Hélder,

Pecador me confesso, já perdi a conta das vezes que li a poesia que a tua companheira, namorada de então, esposa de hoje, a Naty, escreveu e te acompanhou. Saber ler e interpretar poesia não está ao alcance de qualquer um. Mas sei o que sinto todas as vezes que leio esta poesia.

Tentei compreender melhor o que ia na alma de um jovem coração entregue a outro jovem que partia numa viagem sem regresso assegurado. Uma viagem que podia muito bem significar o ruir de tantos sonhos acalentados.

Jovem portuguesa do seu tempo, compreendia que um valor mais alto, a Pátria, se impunha aos demais valores? Julgo que era muito isso que estava a acontecer.

Não há revolta na dor da separação e na angústia do imprevisível que seriam suas companheiras até há hora do regresso do companheiro amado.


Saber esperar é uma virtude. A Naty fê-lo com um grau incrível de orgulho, sabedoria e acima de tudo com grande sensibilidade, quando escreve:

- Eu sei que é por mim que vais!

O momento seguinte, depois do regresso, seria só vosso. Que continua. Sinceramente, eu nunca li nada mais lindo.

Se me permites para ambos vai um grande abraço.

José Câmara

Anónimo disse...

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