sexta-feira, 20 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)





1.  Chefiada por Fernando Frade, a Missão Zoológica da Guiné decorre entre dezembro de 1944 e maio de 1946. Nesse período a que corresponderam cerca de 300 dias de trabalho de campo, a equipa deu um importante contributo para o conhecimento da fauna terrestre e marítimo-fluvial da província. Andou por sítios que muitos de nós conhecemos como a ilha de Bissau, Enxalé, Cuor, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Xitole,  Buba, Catió, Cacine, Piche, Madina do Boé... 

Um primeiro relatório, com 5 partes, é logo publicado em 1946, como separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais. Não tivemos ainda acesso a essa publicação, os excertos (texto e fotos) que aqui publicamos são possíveis graças à divulgação (e à cortesia) da página lusófona Triplov (leia-se: Triplo Vê), superiormente dirigida e animada por Maria Estela Guedes.


Escritora e crítica literária, Maria Estela Guedes (n. 1947), também bebeu, como nós, a "água do Geba": viveu na Guiné entre 1955 e 1966, para onde foi com os pais, emigrantes ( e sobre esse tempo, de que guarda uma viva e apaixonada memória, escreveu um livrinho de poesia, Chão de Papel, Lisboa: Apenas Livros Editora, 2009, 48 pp.)...


É também investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). O sítio (ou portal)  é dedicado a Ernesto de Sousa e é uma verdadeira caixa de surpresas, merecendo amiudadas e prolongadas visitas, já que os interesses científicos, estéticos e culturais de Maria Estela Guedes são tão vastos como o mundo e tão profundos como a vida, as artes, as ciências, o esoterismo. É diretora da revista digital TriploV de Artes, Religiões e Ciências.








FRADE, F. Amélia Bacelar, e Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.











A equipa era constituída por: (i) Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), (ii) Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e (iii)  Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC - Junta de Investigações Coloniais.

  






Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves


2. Alguns notas biográficas sobre Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983), recolhidas por L.G.:



(i) Nasceu em Lisboa, em São Mamede, em 27 de abril, e morreu, também em Lisboa, em 15 de abril., à beira de completar os 85 anos;



(ii) Era casado com Amélia Vaz Duarte Bacelar (n. 1890), também sua companheira da aventura científica (integrou, por exemplo, a missão zoológica na Guiné);

(iii) Em 1924, por concurso, Fernando Frade é nomeado naturalista do Museu Bocage; nessa qualidade organizou os catálogos sistemáticos das Aves e dos Mamíferos existentes no Jardim Zoológico de Lisboa.



(iv) Em 1938  é eleito Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, ao tempo do presidente Eduardo Rodrigues Carvalho (1930-44) que veio substituir o Duarte Pacheco (, nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações), e o nome ficará para sempre ligado  ao parque florestal de Monsanto.

(v) Chefiou várias missões científicas ao ultramar português;



(vi) Entre 1922 e 1980 publicou publicou centenas de artigos científicos ou de divulgação científica, capítulos de livros e livros, muitas vezes em colaboração  com a sua esposa, Amélia Bacelar;


(vii) Era um cientista da natureza, e sobretudo um zoológo, no sentido amplo em que a revista Garcia de Orta entende a Zoologia, abrangendo os seus diferentes ramos (Mamalogia, Ornitologia, Herpectologia, Ictiologia, Entomologia, Planctonologia, Helmintologia, etc.);


(viii) Foi muito importante o seu contributo para o conhecimento científico da fauna das antigas províncias ultramarinas portuguesas, com destaque para a Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.


(Continua)


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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7925: Historiografia da presença portuguesa em África (41): A Carta de Chamada (A. Rosinha / A. Branquinho / C. Cordeiro / M. Joaquim / J. Amado / A. Guerreiro)

5 comentários:

Anónimo disse...

Salvador: Está mais amigável o modo de comentar... Experimenta agora... Podes continuar a entrar como anónimo mas deixas a tua "assinatura"...

Bom fim de semana. LG

Luís Graça disse...

A guerra, com a proliferação de armas automáticas e semiautomáticas deve ter tido um efeito devastador na fauna da Guiné-Bissau, em especial das espécies de maior valor cigenético...


O mesmo aconteceu em em Angola e em Moçambique (o parque da Gongorosa está em recuperação, depois de terem desaparecido 90% - li bem ? - dos animais que albergava antes da guerra, colonial e depois civil)..

Os últimos "paraísos de África" (e da terra) estão a desaparecer, na razão inversa do aparente sucesso do maior predador do planeta, o Homo Sapiens Sapiens...

Leões na Guiné-Bissau ? Só na imaginação de alguns africanistas... De elefantes (poucos e raras vezes) nas zonas transfronteiriças do Cantanhez já se ouviu falar há uns anos atrás... Até os hipopótamos desapareceram... Nunca se lembro de ter visto nenhum, "ao vivo", na Guiné
em 1969/71...

Os únicos animais que me lembro de ver foi uma gazela ou outra, talvez um outro javali, rolas, lebres... E repteis, claro!...

Cesar Dias disse...

Quando vi a Fig 10, lembrei-me duma onça que apanhámos em Mansabá no final de 70,tinhamos os trilhos de acesso aos trabalhos da estrada para Farim todos armadilhados, numa das inspeções ás ditas, deparámos com uma onça da envergadura desta, eu que ia na frente por ser quem as tinha montado, fui apanhado desprevenido e respirei normalmente quando chegámos junto á onça, quase ia caindo para o lado, era tal o cheiro já que não se podia estar próximo. Mas os milicias que nos acompanhavam não eram da mesma opinião, cortaram-na aos bocados e dividiram entre eles, ainda lhes pedi que poupassem a pele, o que fizeram, mas não consegui ficar com ela devido ao cheiro.
Pensava eu que já não me recordava de nada, mas por vezes basta uma figua como esta a nº10 para nos lembrar-mos destes episódios.
Um abraço
César Dias

Jorge disse...

Caro Luis, lembro-me de ter visto dois hipopotamos numa bolanha da Guiné no ano de 1977. Não sei precisar o local,mas sei que foi na zona do OIO, penso que no rio Mansoa na época das chuvas.
Jorge Lobo

Antº Rosinha disse...

Angola tinha em 1961 regiões com animais (antílopes)em quantidades como se viam rebanhos de ovelhas e cabras nas Beiras e Trás-os Montes e Alentejo, e se veem os touros nalgumas lezírias do Ribatejo.

Algumas unidades metropolitanas, por ignorância dos comandantes, fizeram bastante porcaria.

Mas havia leis e ficais de caça que actuavam com a população civil.

Dentro das reservas de caça dava prisão a posse de uma arma.

Ainda conheci regiões tal como Henrique Galvão celebrizou em livro e fotos.

"paraísos", que tive o prazer de conhecer e usufruir!