sexta-feira, 13 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10149: Memória dos lugares (187): Gabu, ontem e hoje (Tino Neves, ex- 1º cabo escrit, CCS / BCAÇ 2893, 1969/71)



Guiné > Região de Gabu >  Gabu (Nova Lamego) > Memorial aos mortos do BCAÇ 2893 (1969/71)... A mesma pedra, virada ao contrário, irá servir - depois da independência - para lavrar uma homenagem ao "pai da Pátria", Amílcar Cabral (fotos abaixo)... Os mortos do batalhão foram os seguintes: (i) Sold J. Rodrigues e Sold A. Seixas (CCS); (ii) Sold J.Cavalheiro e Sold J. Paiva (CCAÇ 2618); (iii) Sold J. Conde (CCAÇ 2617); e (iv) Sold S. Fernandes e Sold A. Dias (CCAÇ 2619).

Foto : © Tino Neves (2012). Todos os direitos reservados





Guiné-Bissau >  Região de Gabu >  Gabu >  Homenagem ao "pai da Pátria", Amílcar Cabral, lavrada na mesma pedra do memorial aos mortos do BCAÇ 2893...

Foto: © José Couto / Tino Neves (2006). Foto gentilmente cedida por José Couto (ex-furriel miliciano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do Tino Neves.


1. Mensagem, com data de ontem,do nosso camarada Constantino (ou Tino) Neves,  ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893  (Nova Lamego, 1969/71=, membro da nossa Tabanca Grande desde 2006: 

Olá Camaradas:

Aqui vos mando uma foto do  memorial aos Mortos do Batalhão de Caçadores 2893, esta com alguns retoques e limpeza.

É aquela mesma que está no mesmo quartel de Nova Lamego, agora ao serviço do PAIGC, mas foi aproveitada para,  no verso da mesma,  ser inscrito um memorial ao Amilcar Cabral.

Ainda bem que ainda está inteira...

Já agora envio também alguns roncos.

Abraços
Tino Neves












Guiné > Região de Gabu >  Gabu (Nova Lamego) >  Nas duas fotos de cima, duas bajudas (esculturais) do Gabu; em baixo, a figura de um feiticeiro...


Fotos: © Tino Neves (2012). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10022: Memória dos lugares (186): Ainda sobre a "célebre ponte, em betão, inacabada", na estrada Cachungo-Cacheu, ao km 6 (Jorge Picado)

12 comentários:

Antº Rosinha disse...

Conheci a placa do quartel do Gabu-Sara de homenagem a Amilcar Cabral.

Entrei naquele quartel várias vezes para abastecimento de água de um furo existente dentro do quartel, noutras vidas que eu tive.

Não sabia, há 20 anos, que essa placa era uma moeda com cara e coroa.

O sentido da "nossa guerra" vai demorar muitos anos a compreender.

Este post vale mais para a história que todas as grandes reportagens sobre a guerra que nos calhou.

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Tino,

Antes de mais queria agradecer-te, a ti e ao teu irmao, Sérgio Neves, pelas bonitas fotos de Fajonquito dos anos 60 que foram publicadas aqui no blogue, e dizer-vos que, apesar do tempo decorrido, foi possivel identificar nelas algumas pessoas, entre primos e irmãos, que pertenceram ao primeiro grupo de milicias locais, preparadas em Fajonquito em 1964, pela CCAÇ. 674(1964/67 a que o Sérgio e o Inácio Maria Gois (?) o autor do Diário de Fajonquito, faziam parte.

Quanto as imagens, penso que há um equivoco, pois as imagens não correspondem ao que diz (Bajudas Fulas de Gabu?). O mais provável é que sejam da etnia Bijagó, aliás a pujança das "beldades" e o cenário a volta (meio natural com pés de cocos) bem o confirmam.

Talvez o nosso "especialista" em mamas africanas, Alfero J. Cabral nos possa elucidar melhor.

Um grande abraço,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Malhas que o Império tece!
Esta situação "insólita" ressuscita o porquê e para quê. Reparem, contudo, na atitude de orgulho dos vencedores. A utilização do reverso de um monumento evocativo dos mortos do inimigo para celebrar a nossa própria glória é uma atitude de orgulho e de tentativa de humilhação ao inimigo.
Passados estes anos todos!
É mais do que matar o inimigo com a utilização das suas próprias armas. Não podemos aceitar que a criação de um monumento nestes moldes seja apenas uma situação de carência de meios materiais.
Nada mais se pode fazer, mas não vejo motivos para celebrar o que quer que seja, nem para nos alegramos. Coitados dos mortos, nem depois de mortos têm calma.Um Ab. do António J. P. Costa
An

Luís Graça disse...

Cherno:

Sempre vigilante, atento, crítico e bem disposto!...

Acabei de conhecer ontem uma "bajuda" tuga, antropóloga, que vai trabalhar (ou vai dar conrtinuidade a um trabalho de investigação) no bairro de Bissaque, aí em Bissau... Aliás, já trabalhou aí, na tua terra, integrada numa ONG...

Ela está a estudar as estratégias de passagem à vida adulta das raparigas do bairro (sobretudo fulas e mandingas, embora também haja raparigas balantas)...

Acho que lhe poderias ser útil, com a tua sensibilidade, sabedoria e conhecimento das culturas fula e mandinga. Falei no teu nome. Também terás interesse em conhecê-la. Depois dou-te o contacto dela.

Esta jovem antropóloga (não vou aqui identificá-la) é doutoranda pela tua, nossa, escola, o ISCTE e por uma universidade belga... É amiga do Pepito e do Patrício Ribeiro...

Mantenhas. LG

Anónimo disse...

O Constantino mandou-nos dois mails, esta tarde,. sobre as controversas imagens (as 2 bajudas + o feiticeiro):

(i) Olha Luís

Não sei de onde são, pelo facto, as fotos... São fotos que me chegaram às mãos por intermédio de um camarada da minha Companhia, o MORAIS. E as mesmas não têm quaisquer legendas, os nomes dos ficheiros assim o dizem:(PICT 044.jpg e PICT 099.jpg)... A do Feiticeiro, dei-lhe eu o nome,
possivelmente também não será do Gabu...

(ii) Sou eu novamente: Acabei de falar com o meu camarada MORAIS, e perguntei-lhe de onde seriam aquelas bajudas, e ele foi logo peremptório, dizendo que foram tiradas no GABU, num festim feito lá... Mas também diz que poderiam ser de outra zona da Guiné de visita ao Gabu, e participarem no Ronco.

Um abraço
Tino Neves

Luís Graça disse...

Tino:

O teu feiticeiro não me parece que seja fula ou mandinga... Eram (são) povos ou comunidades de religião mnonoteísta... Nunca vi feiticeiros no leste, a não ser entre os balantas, animistas, de Nhabijões, no setor L1 (Bambadinca)...

Das tuas bajudas, lindas de morrer (!), uma, a que está de corpo inteiro, de tanguinha, não é seguramente do chão fula... Pode ser bijagó, papel, balanta, manjaca..., gente "ribeirinha"... O pormenor que chama a atenção e que a distingue é o "barrete" na cabeça...

Já a outra bajuda, de mama firme, uma obra-prima (benditos pais&/escultores!), a avaliar pela touca (?), parece-me ser de uma etnia islamizada...

Mas, atenção, eu nunca passei de Bafatá, não conheci o Gabu coko tu e o Morais...

Os nossos especialistas que se pronunciem... Obrigado, em todo o caso, pelas reservas do Cherno Baldé. Temos todos que fazer um esforço de rigor quando legendamos as nossas fotos... Os nossos amigos da Guiné, de ontem e de hoje, merecem-nos todo o respeito!

Um Alfa Bravo. Luis

Anónimo disse...

Mensagem que acaba de chegar à caixa de correio da TG:

Luís:

Tens toda a razão, o povo da Guiné merece todo o respeito, e da minha parte não o pus em causa, pois quando tas enviei [, as fotos.] não as referi como sendo do Gabu.

E o meu camarada Morais diz terem sido tiradas lá no Gabu, ele era daqueles camaradas que ganharam dinheiro como fotógrafo, e foi ele mesmo que as tirou.

Eu não me recordo desse dia, possivelmente estaria fora, em Bissau ou de férias em Almada.

Talvez tenha sido um grupo tipo rancho folclórico, que por lá tenha passado.

Um Alfa Bravo

Tino Neves

Anónimo disse...

Amigo Cherno!

Muito obrigado pelo reconhecimento

da minha "especialidade".Porém ela

assentava fundamentalmente no tacto

pelo que,nada posso concluir,apenas

através da imagem..

Fulas não me parecem...mas estou

certo que o Alfero descobriria..

Grande Abraço.

J.Cabral

Anónimo disse...

Caros Combatentes:
O perdão é uma atitude riquíssima e um ato de civilidade de indiscutível valor. Quantas vezes quis perdoar e não consegui!? O respeito pelos mortos (nossos e dos outros) é um imperativo da consciência e o mínimo que lhes devemos. É um ato muito feio utilizar uma placa onde mãos generosas lavraram os nomes dos seus infelizes irmãos para homenagearem o seu ídolo. O Amilcar Cabral merecia uma pedra talhada de propósito para ele e não a parasitação da pedra dedicada a outros. Tenho a certeza de que o Amílcar Cabral não aprovaria... estava uns bons furos mais acima.

Um abraço

Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Concordo em absoluto com o Carvalho de Mampatá. Vejam o que já disse sobre este assunto no terceiro comentário sobre este assunto. Falar da Pujança das Beldades e esquecer esta situação é assobiar para o lado.
Efectivamente nós também mudámos, mas fomos nós que mudámos em Portugal e "coisas" nossas. Nós os portugueses mudámos.
Mesmo assim, continuamos com as Ruas General Carmona ou Gomes da Costa, mas somos nós que continuamos.
O inimigo estará muito mais no seu direito de fazer o que quiser dos nossos símbolos, mas nós temos a obrigação de reagir a uma situação como esta. Esta atitude confirma aquilo que não queremos muitas vezes aceitar. É que a arrogância dos vencedores é um facto...
Da nossa parte, falar das bajudas mama firmata e trajes típicos, tem o seu quê de olhar para o lado e disfarçar.
Claro que o que lá esta, lá está... E está num país independente. Não esquecer.
Não quero impor civilização nenhuma e o destino daquela "boa" gente não me tira o sono, como já disse.
A Guiné é um país independente. Como também já escrevi e fui criticado por isso, ganhou a sua bandeira e o seu lugar na comunidade internacional.
E o português! Não havia por ali ninguém que soubesse escrever frases com sentido?
E depois tenho que aceitar um acordo ortográfico com mais de um milhão de guineenses que falam português daqueles.
Com caneladas destas terei sempre dificuldade em me irmanar com os nossos ex-adversários.
Um Ab. e boas férias, se for o caso.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Quero aqui protestar por esta profunda ignomínia.

Em 98 tive oportunidade de o fazer ao então comandante do quartel.
Passou dos sorrisos de circunstância a cara de pau.
O que se observa na foto é uma falta de respeito para com os nossos mortos e também não homenageia dignamente Amílcar Cabral.
Mais valia terem atirado a placa para o lixo.
A falta de recursos materiais não justifica tudo.
Melhor seria que mantivessem o busto de Amilcar Cabral em Bafatá bem conservado, onde vi crianças a urinar na sua base.
Quero realçar que este exemplo não é generalizado na Guiné.
Normalmente o que se vê é estas placas de homenagem degradadas pelo tempo,mas não destruídas ou utilizadas desta forma.
Devemos respeitar o antigo IN,mas também exigimos respeito pelos nossos.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Apesar da minha ignorância em etnologia guineense,estas bajudas não são fulas, porque estas quando já estão na puberdade,normalmente não andam de mamas ao léu..
Mais recentemente vê-se um pouco por todo o lado é andarem de "soutien" ao léu...

O Cherno poderá explicar..digo eu.

C.Martins