sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10093: In Memoriam (120): Cor inf ref e escritor Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938 - Lisboa, 2012), comandante das CCAÇ 727 (1964/66) e CCAÇ 2316 (1968/69) (António Costa / Carlos Vinhal)


1. O nosso camarada António José Pereira da Costa mandou-nos, ontem, a seguinte necrológica:

Recebi, através da Ordem Nacional dos Escritores, do Brasil, a notícia que passo a resumir:

Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de Infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, imagem à esquerda, por cortesia da página Joaquim Evónio].

Comandou a CCaç 727 (Canquelifá) (Out 64 / Ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.

Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.

Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.

Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia.

Creio que poderá ter interesse a notícia para o pessoal das duas CCaç que comandou.

Um Abraço do
António J. P. Costa





Página pessoal do escritor e nosso camarada Joaquim Evónio (1938-2012), Varandas das Estrelícias.


2. O nosso co-editor Carlos Vinhal fez um resumo do seu CV como escritor:

Nasceu no Funchal, Madeira, Portugal, 1938.

Obras mais recentes: publicou "Sombra em Clave de Sol" (contos) (Universitária Ed. Lisboa, 1999, esgostado) e "Esboços Pessoanos" (poemas sobre desenhos de José Jorge Soares) (Ceres Editora, Lda., Ponte de Lima, 1994).

Foi membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), da Associação Portuguesa de Poetas (APP), do Instituto Açoriano de Cultura (IAC), da União Lusófona das Letras e das Artes (ULLA) e eera sócio honorário da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil (ONE). Comendador da Ordem Heráldica da Paz Universal. Agraciado pelo Parlamento para a Segurança e Paz Mundial com a Medalha de Ouro d' O Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Melo.

Geriu, desde Fevereiro de 2004, a página pessoal na Net Varanda das Estrelícias - Uma Ponte sobre os Oceanos, onde promoveu a difusão da língua e cultura lusófonas, recebendo colaboração de diversos artistas, poetas e escritores.


Notas sobre:

(i) CCaç 727 (1964/66): Foi mobiliza pelo RI 16. Partiu para o TO da Guiné em 6/10/1964e regressou em 7/8/66. Passou por Bissau, Nova Lamego. Canquelifá, Piche (. Só teve um comandante, o Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos

(ii) CCaç 2316 / BCAÇ 2835 (Bissau, Nova Lamego, 1968/69). Unidade de mobilização: RI 15. Partida: 17/1/68. Regresso: 4/12/69. Localização: Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael, Bissau.


Teve vários comandantes: cap inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos; cap Inf António Jacques Favre Castelo Branco Ferreira: cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques; cap cav José Maria Félix de Morais.

13 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Conheci o Joaquim Evónio há uns dez anos atrás num encontro de poetas em Vila Viçosa. Longe de mim, na altura, imaginá-lo capitão na nossa Guiné.
Tenho dele a imagem de um homem bem-humorado e divertido, dizia muito bem poesia, a sua e a de outros poetas,
era um apaixonado pelas grandes subtilezas de existirmos, uma figura interessantíssima.
Creio que era muito amigo do coronel Manuel Amaro Bernardo.

O Joaquim Evónio partiu.
Que descance em paz!

António Graça de Abreu

Luís Graça disse...

O Joaquim Evónio de Vasconcelos prefaciou a 1ª edição da obra "Marcello e Spínola – A Ruptura", de Manuel Bernardo (Lisboa, Edições Margem, 1994).

Luís Graça disse...

Não temos muitas referências sobre a CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, que passou por Gadamael (Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael, Bissau, por esta ordem). Talvez o Idálio Reis nos possa dizer algo mais...

Além do Joaquim Evónio, ferido em combate em Mejo, a CCAÇ 2316 teve mais três capitães, incluindo o Barbosa Henriques, natural de Cabo Verde, que eu conheci, como instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos, em Fá Mandinga, terra do Jorge Cabral (de quem, de resto, ficou amigo, até morrer).

Fomos nós (leia-se: a malta da CCAÇ 12) que fomos ao Xime buscar e escoltar a 1ª companhia de comandos africanos, ainda na fase de instrução, em finais de 1969. Nessa altura conheci e convivi (uma ou outra vez) com o cap Barbosa Henriques.

Anónimo disse...

A 2316 substituíu a Cª Caç. 1622 em Mejo (Aril/Maio de 1968). Pouco tempo depois passou para Guileje aquando da operação Gandembel ficando em Mejo um pelotão de naturais até Janeiro de 1969, altuta em que Mejo foi abandonado pela tropa portuguesa. A 2317 iria para Gandembel.

jorge figueira disse...

São passados muitos anos e a memória, por vezes, atraiçoa-nos. Leiam-me neste pressuposto. A CCaç 1622 e CArt 1613 eram as companhias que estavam instaladas respectivamente em Mejo e Guileje no princípio de 1968. Havia milícias e Pel Nat nos dois aquartelamentos. A CCaç 1622 saiu de Mejo, MAR/ABR68, tendo lá sido colocada a CCaç 2316 comandada pelo Cap. Vasconcelos. A CCaç 2317 (comandada pelo Cap Barroso de Moura) ficou, inicialmente, em Guileje com a CArt 1613 em sobreposição. As CCaçs 2316/17 estavam a iniciar a comissão. Mejo, após ataque de alguma violência que localizo pelo mês de Junho de 1968, foi abandonado. Julgo que nada mais, para além de patrulhamentos, ocorreu nos itinerários Guileje Mejo a partir de JUN68. O Cor. Coutinho escreve que em 1973 Mejo estava abandonado e, ele, era atacado, em Guileje, dessa direcção. A história destas companhias é dura. Conheci mais de perto a 2316 que teve (depois de Agosto de 68 os graves ferimentos em combate do Cap. Vasconcelos) e sobre a 2317, não me alongo, ocupou, sofreu, resistiu e, creio, desactivou Gandembel. Paz à Alma de um Homem Bom

Anónimo disse...

Caro Jorge Figueira
No essencial o que dizes é verdade. O grande ataque a Mejo em Junho de 1968, pouco tempo após a chegada da C.Caç. 1622, comandada pelo Cap. Mil. António Loja, que substituíu a Companhia do Cap. Cadete. Eu estava em Mejo no 6º pelotão de artilharia nessa ocasião. O 6º e 7º pelotões de artilharia haviam chegado a Mejo em Abril/Maio de 68, vindos de Cufar. Mejo havia de ser abandonado em Janeiro de 1969, assim como Gandembel, Sangonham e outros.
O Jorge Figueira não é, por acaso ou não, um Alf. de um dos pelotões de artª que esteve em Mejo?
António Ribeiro

jorge figueira disse...

Meu Caro António Ribeiro digo-te que efectivamente sou o Figueira que estive em Mejo e daí saltei para Guileje. Obrigado por mencionares o nº dos pelotões pois lembrava-me apenas do 7º. Os dois pelotões que referes terão vindo de Cufar, porém,antes de JAN68. Andei por essas bandas desde o dia 3/4 JAN68 até 30AGO68 quando saímos de Guileje para Catió via Cacine.Pedia-te um favor aviva-me a memória pois, infelizmente, ao contrário de ti o nome António Ribeiro não traz nada à mente, melhor dizendo, traz o nome de um 1º cabo.Estarei certo? Tens a palavra... Um abraço

Anónimo disse...

Caro Jorge Figueira
Estivemos em Mejo. Quando lá chegaste já eu lá estava desde o inicio da ida dos obuses.
Alferes Figueira, madeirense, como o furriel Pereira e o capitão Loja que comandava a companhia 1622.
Saí de Mejo pouco antes dos dois pelotões de artilharia se deslocaraem para Guileje.
Um grande abraço.
António RIBEIRO, ex-furriel, pertencente ao 6º pelotão.
amribeiro44@sapo.pt

jorge figueira disse...

Como já afirmei a memória atraiçoa-nos, para mais quando um lapso de tempo de mais de 40 anos ocorre. Pois, meu caro, não me recordava do furriel "velhinho" que lá estava. Tens razão naquilo que dizes e já agora, se me permites, recorda-me, se te for possível, o nome do meu antecessor. Recordo a figura mas não nome. Confundia-te com um cabo mas depois lembrei-me que ele se chamava Coutinho. Saíste de Mejo ainda com 1622 por lá?

Anónimo disse...

Caro Figueira
Saí de Mejo a 30 de Março de 1968.
Pelo que me apercebi estavam a ser feitos os preparativos para a saída da 1622. Fui substituído em Mejo pelo furriel Batista que havia de morrer em Guileje (morreu também o alferes comandante de pelotão, que eu já não conheci) no dia 14 de Fevereiro de 1969 (data do meu regresso no Uíge) durante um ataque da guerrilha. O 7º pelotão foi para Gandembel com a companhia 2317 aquando da instalação deste aquartelamento.
O antecessor, se não me falha a memória era o alferes Santos que teve que ser "evacuado" por andar quase sempre com duad "granadas" nas mãos; uma de gin e outra de cerveja de 0,6.
De Mejo fui para Catió, por ser o furriel mais antigo, substituir o alferes Cerqueira, no comando de dois pelotões de 14 cm. De Catió fui para Aldeia Formosa. Depois para Tite. Depois para Xime. No princípio de Dezembro regressei à BAC e em Fevereiro de 1969 acabou-se a guerra.
(...) agora estou reformado e estou em Gaeiras, próximo de Caldas da Rainha.
Um abraço.
Manda sempre.
António Ribeiro

Anónimo disse...

Aos Camaradas
A Ordem Nacional dos Escritores está editando um LIVRO de HOMENAGEM ao Militar, Escritor, Poeta, Declamador, Contista, Fivulgador Cultural - enfim HOMEM de CULTURA EVÓNIO, e convida os cxamaradas e amigos a PARTICIPAR com escritos a ele relativos. Podem contactar o Manuel Bernardo, o Ribeiro Soares ou a mim próprio j.verdasca@uol.com.br Obrigado

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

Conheci em Angola o capitão de Infantaria António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, que terá rendido Joaquim Evónio de Vasconcelos no comando da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, em Guileje. O capitão Castelo Branco (como lhe chamávamos) foi o primeiro oficial de operações e informações que o meu batalhão (B.Caç. 3880) teve em Zemba, no norte de Angola.

Logo desde o primeiro dia da comissão se notou que o capitão Castelo Branco "não batia bem da bola". «Ele esteve em Guileje, na Guiné», dizia-se. «Aquilo foi tão mau, que ele ficou maluco», acrescentava-se. E ninguém se atrevia a contrariar o Castelo Branco, não por receio do que ele pudesse fazer, mas por respeito por alguém que tinha comido o pão que o diabo amassou.

Como pessoa, o capitão Castelo Branco era bondoso e compreensivo, ou pelo menos assim parecia. Quando não se tem responsabilidades de comando de tropas, como ele não tinha, é relativamente fácil ser compreensivo. Não sei como ele se comportaria no comando de uma companhia.

Como militar, o capitão Castelo Branco deu provas de uma enorme competência. O maior êxito que o meu batalhão teve, e que valeu a promoção do comandante a coronel, deveu-se sobretudo à forma cuidada como o capitão Castelo Branco planeou uma determinada operação. Nessa operação, os guerrilheiros da FNLA foram completamente apanhados de surpresa, abandonaram uma vasta região e deixaram de exercer pressão militar sobre o distrito do Cuanza Norte.

À medida que o tempo foi passando, o estado de saúde mental do capitão Castelo Branco foi-se agravando cada vez mais. Ao fim de dez meses de comissão, mais ou menos, teve que ser evacuado para a Metrópole e internado no Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Principal. Vi-o uma vez em meados dos anos 90 e pareceu-me estar com excelente aspeto. Faleceu por volta de 2014.

José João Castel-Branco Ferreira disse...

Boa tarde, importa esclarecer alguns pontos:
- O Capitão (agora Coronel reformado) Castel-Branco (sem "O") não faleceu em 2014. Está ainda vivo e com uma saúde razoável.
- Usar expressões como "não bater bem da bola" além de ser deselegante, não ficará bem certamente a ex-militatea que combateram nas ex- províncias ultramarinas, e sabem bem o que é o "Stress Pós-Traumático", condição que o meu Tio (sim, é meu Tio) já devia padecer quando chegou da Índia Portuguesa, depois de ter sido feito prisioneiro de guerra (em que foi sujeito a inúmeras sevícias e inclusive a uma simulação de fuzilamento), e quando chega a Portugal, ainda é acusado pelo país de ser traidor (porque não cumpriu as ordens de Salazar de lutar até á morte...).
- Naquele tempo não se falava em Stress Pós-Traumático, mas seguramente concluem que se fosse atualmente, não o enviavam pouco tempo depois para um teatro de guerra- Angola - onde ele assistiu a coisas horríveis.
- As marcas ficaram para sempre, mas uma coisa confirmo: o meu Tio é mesmo um grande ser humano e é mesmo o exemplo de como estamos no mundo para fazer o Bem.

José João Castel-Branco Ferreira

- O