sábado, 16 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10043: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (2): Gazelas em Mansambo

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74), com data de 27 de Maio de 2012:

Caro Carlos,
Aqui vão as duas fotos com algum atraso por isso as minhas desculpas, uma tirada em Bissau um mês antes do regresso, a civil com o peso dos sessenta e dois.
Junto uma estória de Mansambo.


Um abraço
António Eduardo Ferreira


Mansambo
Foto: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados


PEDAÇOS DE UM TEMPO

2 - GAZELAS EM MANSAMBO

Certa noite em Mansambo, o cabo mecânico fazia reforço num posto de vigia que ficava próximo do heliporto. Quem o conhecia, o Santos, sabia bem como era o seu comportamento, sempre pouco preocupado com o que pudesse acontecer.

Em Mansambo no nosso tempo não era permitido fazer fogo quer fosse de noite ou de dia.
Naquela noite tudo decorria com normalidade como era costume, até que o Santos viu entrar na primeira vedação de arame que circundava o aquartelamento uma manada de gazelas e vai disto, sem pensar na confusão que iria arranjar, despejou o carregador na direção dos pobres bichos, que naquela noite pensavam ir ter uma refeição especial ao mondar a mancarra que o pessoal da Tabanca tinha semeado entre as duas vedações, mas ficaram-se só pelo susto.

Com aquele despertar toda a rapaziada supôs ser ataque junto ao arame nós que até nem sabíamos o que isso era (nunca aconteceu enquanto tivemos em Mansambo), foram perguntar ao Santos o que é que ele tinha visto. Ele com aparente convicção, disse que tinha visto homens junto ao arame e por isso tinha disparado nessa direção.

Mesmo sem resposta ao fogo do Santos por parte do inimigo, a ordem foi para bater toda a zona e, a reação ao suposto inimigo, foi de tal ordem que as nossas munições de armas pesadas ficaram quase esgotadas.

No dia seguinte foi feita uma coluna a Bambadinca para repor o material em falta e certamente para dar mais pormenores acerca do sucedido ao Comando do Batalhão. Só passado algum tempo, é que o Santos disse o que na verdade tinha acontecido, viu as gazelas disparou e, tinha que arranjar maneira de sair daquela situação, e assim se safou inventando essa pseudo aproximação do inimigo ao arame.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9847: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (1): Cobumba, Pessoas, Guerra e Reflexões

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