sábado, 26 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9947: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte VI: Bedanda, com o obus 14: um dos locais que me deixou mais saudades...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  125/199 > Casa do chefe de posto


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  149/199 > O régulo e a respetiva família.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  136/199 > Aspeto parcial da tabanca




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  138/199 > Moranças balantas... Um porco ao fundo.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  144/199 > Beldades locais... fulas. [No facebook, a Graça Martins, esposa do nosso camarigo,  escreveu o seguinte comentário: " aiaiaiaiaiai....."




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  150/199 > Um djubi... e três bajudinhas da tabanca... fulas.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  148/199 > Mais um aspeto parcial da tabanca, com militares e civis...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  129/199 > Aspeto parcial do quartel... com uma casamata em primeiro plano.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  130/199 > Aspeto parcial do quartel... À direita o espaldão do obus 14.





Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  133/199 > Espaldão do obus...  Cimentando o terreno para permitir rodar o obus sem se enterrar. 


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº  135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do Pel Art



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 127/199 > "Cartuchos de munições provenientes de países da cortina de ferro e capturados ao inimigo, durante a guerra fria que opôs as grandes potências imperialistas no seu esforço de expansão do seu domínio e das suas influências, aproveitando países com regimes políticos autoritários e repressivos".




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 126/199 > O A Alferes Artur Pimentel [, da CCAÇ 6,] no regresso de uma operação noturna através de bolanhas.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 154/199 >O repouso do guerreiro... "Bedanda foi um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades".

Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.].







Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte VI (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)


ÍNDICE

1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha nº 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8. Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto
11. Guilege
12. Bigene e Ingoré 



____________________



 (Continuação)

9 - Bedanda

Terminada esta instrução [que fui dar ao BAC 1, em Bissau,] fui colocado em Bedanda onde já se encontrava um pelotão com três obuses 14 cm. 



Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma Dornier (DO) que, passando por Catió onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda. Sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades.


Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, um pelotão de  milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente [, a do chefe de posto,] era imponente.

Bedanda fica numa colina bastante elevada,  atendendo aos padrões de altitude que normalmente se encontram na Guiné. Não sendo uma fortificação inexpugnável, não oferecia quaisquer vantagens ao inimigo que se colocaríia sempre numa cota inferior. Por isso, os ataques eram pouco frequentes o que nos permitia respirar…






Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda > 1956 >Escala 1/50 mil > Detalhe




Atendendo ao “clima” relativamente ameno que se fazia, visitava com muita frequência a tabanca e cheguei mesmo a ir à pesca e a tomar banho no rio {, Ungauriuol, afluente do Cumbijã] na esperança de não me tornar um isco para os jacarés.


Até que, um belo dia, estando eu concentrado a pescar, ouço vozes do outro lado do rio. Era pouco mais do que um simples sussurro, mas o indígena que lá se encontrava estava de tal modo excitado por me ver que falou um pouco mais alto do que pretendia, o que me levou a desviar a atenção para o que se passava do outro lado da margem, tendo concluído que coisa boa não podia ser. 


A frequência com que ia pescar já tinha dado nas vistas e “eles” [, o IN,] já estavam a ver se me apanhavam, o que, com um pouco de sorte,  não se afigurava muito difícil. É claro que, com movimentos lentos, encostei a cana a uma árvore, baixei-me, e bati em retirada para nunca mais lá voltar.

Outra vez, estando eu ao pé de um obus, aparece-me outro indígena de aspecto duvidoso, perguntando se o obus só fazia tiro para longe ou se também fazia tiro para perto. A pergunta era pertinente na medida em que, estando nós numa colina, para fazer tiro para perto quase que era necessário colocar o canhão na horizontal. Face aos desníveis do terreno respondi-lhe que só para longe. Ele foi-se embora, convencido pela minha pronta resposta e eu fiquei a pensar na pergunta.



É claro que “trazia água no bico” e concluí que “eles” [, o IN,] se preparavam para, pela calada da noite, tentarem um assalto e entrarem no aquartelamento, o que só fazia sentido pelo lado em que se encontravam as palhotas. Decidi então preparar-lhes uma recepção e mandei orientar os obuses com carga mínima e com uma inclinação a rasar a cobertura das palhotas. Tal como previa, atacaram mas devem ter ficado surpreendidos com a recepção… Quanto às palhotas, não devem ter ficado em muito bom estado porque granadas com 45 kg a passarem a 2 ou 3 metros não deve ter sido coisa muito agradável, mas é como diz o ditado “de mal o menos…”.


Certo dia, “um homem grande” manifestou o desejo de falar comigo, e embora achasse estranha tal pretensão, fiz-lhe a vontade. Entrei na palhota onde me aguardava com outro sujeito, e perguntou-me qual era a minha religião e se o meu Deus é que era o verdadeiro. 


Sabendo eu que estava na frente de muçulmanos que levam a religião muito a sério, compreendi logo que tinha que ser muito diplomático, caso contrário não sairia dali vivo. Pensando duas vezes, fui-lhe dizendo que o meu Deus era também o deles na medida em que só há um Deus que é o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis e que portanto, as nossas religiões ou cultos,  embora fossem substancialmente diferentes,  adoravam o mesmo Deus, e que ou a religião dele tinha como primeiro Mandamento “amar a Deus acima de todas as coisa e ao próximo como a ti mesmo” e era verdadeira, ou, caso contrário, era falsa. E assim consegui sair vivo de mais esta situação que se podia tornar muito melindrosa.

(Continua)
____________



Nota do editor:

(*) Último poste da série > 18 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)

5 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro João Martins

Já será recorrente referir a qualidade estética das fotos e o seu valor do ponto de vista da mostra da riqueza da etnografia da Guiné.

Para além disso temos as tuas histórias que, mais uma vez, evidenciam como deves ter sido bafejado pela sorte ou protecção divina.
Realmente, nunca, mas mesmo nunca, se devia 'facilitar'... isso acho que todos sabíamos, mas também não deixa de ser verdade que, naquela idade e naquelas circunstâncias, nos sentíamos 'imortais' e até com a necessidade de algum risco para se ter a sensação de superarmos os nossos limites.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

João Martins
Quem conhece Bedanda, aliás Amedalai, pois Bedanda é lá em baixo a 700 metros do Ungauriol, fica de facto num pequena colina (23metros de cota de nível) e se o inimigo atacasse vinha de baixo, assim como é possivel um aparelho que faz tiro tenso(suponho) dispare por cima das moranças e vá cair a cerca de 1.000 metros á cota de 2/3 metros ??? E quanto ao indigena de aspecto duvidoso, os sentinelas (atentos) deixariam entrar dentro do perímetro do aquartelamento algum elemento desconhecido e de aspecto duvidoso???
Algo na estória terá o meu amigo que rectificar, e há mais mas não digo .
Rui Gdos Santos
Ex-alferes miliciano
Bedanda 1963/1964

Anónimo disse...

Caro camarada Rui Santos

Não conheço Bedanda nem Amedelai.

O obus 14 tinha uma elevação de - 5º a + 45º,por isso podia fazer tiro de uma cota superior para uma inferior e tiro directo.
Tinha um grande inconveniente, que era se se fizessem muitos tiros com graduação negativa ou tiro directo normalmente rebentava com os hidráulicos e ainda para armar a espoleta esta necessitava de percorrer cerca de 500m.Esta armava pela força centrifuga devido ao seu movimento de rotação. A granada saía sempre a uma velocidade superior à do som.A maior ou menor velocidade dependia da carga.Com carga 4 e a +45º saía a 640 m /s.
Mesmo que não rebentasse, convenhamos que uma "ameixa" com 14 cm de diâmetro e com 45 cm de comprimento e ainda com 45 kg,fazia "ronco" de certeza.
Fiz uma vez uma experiência em Gadamael com tiro a -2º para o outro lado do rio a uma distância de 600m, onde nos dias da "braza",estava um posto avançado de observação do in.A granada explodiu só que alguns estilhaços caíram no perímetro do quartel.Não voltei a fazer a experiência, e felizmente nunca foi necessário fazê-lo em nenhuma flagelação.
A artilharia é a arma dos fogos largos e profundos e de tiro tenso, mas como a necessidade aguça o engenho, também em circunstâncias especiais podia ser de fogos curtos e pequenos só que podíamos levar com estilhaços na "mona" ou em outro sítio,fica à vontade do freguês.
Ah..o raio de acção da explosão da granada podia atingir os 400m, tudo dependia da dureza do terreno no impacto.
Julgo que esclareci os infantes e o camarada Rui Santos.
Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Amigo C. Martins
Obrigado pelos esclarecimentos, mas quem conheceu Bedanda/Amedalai, sabe que a cota de Amedalai onde estavam estacciondos os obuses é de cerca de 22, e que as bolanhas circundates estão a uma cota 4, bem como se houver um ataque jamais será executado a menos de 200 metros do aquartelamento, pois lá de baixo para cima só com morteiro, e não estou a ver o IN a atravessar qualquer linha de água com o morteiro ás costas. Diga-me então como é possivel fazer fogo 3/4 metros acima das moranças e as granadas cairem a 200 metros??? quase no topo da colina?? Nunca fomos flagelados em Amedalai como o fui em Bedanda, pois a aproximação do IN mais segura seria directamente pela mata do Cantanhêz que ficaria a cerca de 100 metros da sebe de arame farpado.
Falarei com este amigo João Martins pessoalmente no dia 9 se Deus quizer, mas há mais duas situações que gostaria de ver esclarecidas, para minhas dúvidas
desaparecerem.
1-Apareceu um nativo com mau aspecto ao pé de um dos obuzes e perguntou,blabla...
2-O homem grande convidou-me e já lá estava outro sujeito,bláblá...mais uma situação que podia acabar com a vida ....
3-Pesca no rio Unguariuol e gente a falar do lado de lá, enºão se deu pela aproximação em bolanha raza ???
1a O nativo, se os sentinelas o fossem não teria entrado no perimetro do quartel.
2a-Um velho e um outro sujeito metiam medo a quem ??? com os militares todos ali á volta ...
3a-Fui, centenas de vezes ao rio só por ir, passei de canoa nele, fui alvejado por uma .22, fui a Cobumba(margem esquerda) quase todos os dias da minha estadia em Bedanda, e não me atacaram.
E por aí adiante...
Obrigado Rui Santos

Manuel Amaral disse...

Eu estive em Bedanda desde Setembro de 72 a Setembro de 74.
Fui substituir o Furriel Luz,pois foi com saudade que me lembrei dos meus vinte anos.
recordei algumas pessoas o regulo Samba Mané, e a tia Djaló.
A casa do chefe do Posto, e o um abrigo.