domingo, 4 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9558: O PIFAS, de saudosa memória (2): Depoimentos de David Guimarães, Joaquim Romero e António J. Pereira da Costa


Imagem à direita: O PIFAS - Cartoon, de autor desconhecido, enviado pelo Miguel Pessoa

1. David Guimarães [ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72]:

Sobre o assunto em questão [, o PIFAS,]  proponho que procurem o João Paulo Diniz (ainda há dias o vi na televisão), vive por esses lados de Lisboa, creio eu. Ele mesmo foi locutor dos anos de 70/72 nessa rádio que conhecemos... 


Creio que por aí será fácil chegar a ele e ele terá então muitas histórias... E está vivo...


2. Joaquim Rodero [, ex-Fur Mil Trms, STM/QG, 1970/72]: Amigo Luís,  penso que um dos elementos a contactar, para te esclarecer sobre as actividades do PIFAS, será o ex-fur mil Vitor Raposeiro (, muito bom guitarrista!).  Fez parte do conjunto musical das Forças Armadas, que percorreu a Guiné em espectáculos ligados há acção psicológica , e era também elemento ligado à escuta das emissões da rádio Conacri , e que a partir do QG faziam o empastelamento dessas frequências de transmissão.


Também o Hélder Valério de Sousa esteve ligado à escuta, mas creio que não participou no Pifas, mas nada melhor que lhe perguntar. 


Recebe um abraço do Joaquim Rodero, extensivo a todo o corpo redactorial do blogue. 


3. António José Pereira da Costa [,  cor art ref, ex-alf art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69,  e ex-cap art, cmdt da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74] 


 Camarada,  sugiro um contacto com o locutor João Paulo Diniz que foi locutor do PFA-Noctuuuuuurrrrno! em 1971/72/73(?). Ele é capaz de ter bobines ou cassettes do tempo e contar aventuras. Por volta de Jun 72 havia programas dedicados às unidades que eram identificadas pelo nome de guerra e localidade.

Tenho um PIFAS que ainda guincha. Era um boneco de borracha que guinchava quando se apertava, vagamente parecido com [a mascote do programa televisivo] Zip Zip, mas de camuflado, rádio e gravador portátil. (...)



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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 4 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9557: O PIFAS, de saudosa memória (1): Depoimentos de José da Câmara, Carlos Carvalho e Carlos Cordeiro

9 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Sim, também me lembro do "PFA" que, na gíria, era mais conhecido pelo "PIFAS", conforme comentário anterior do H. Cerqueira.
Mas, neste momento, a 'sintonia' está fraca, tenho que me esforçar mais para conseguir obter 'imagens radiofónicas' mais nítidas.

O Rodero refere o Vítor Raposeiro como fazendo parte de um grupo que andou tocando pelos aquartelamentos. Disso não tenho ideia, mas já enviei mail ao Raposeiro para me falar disso ou, então, enviar directamente ao Blogue.

Do que sei, e disso com toda a certeza (porque eu estava lá), é que o Vítor não chegou a integrar a "Escuta". Esteve em vários locais nas suas funções relacionadas com o STM: Bissau, Bambadinca, Aldeia Formosa, Bula (ou Buba?), etc. mas na "Escuta", não.

Dum modo geral, nessa época, era vulgar encontrar nos elementos das Transmissões camaradas que tinham relação estreita com a música. Faz sentido: a musicalidade do 'morse' podia ser mais facilmente apreendida por essas pessoas.

Assim, naquela época, na Guiné, estiveram o Vítor Barros, o Eduardo Pinto e o Dutra Figueiredo elementos integrantes de um conjunto de Viseu, "Os Tubarões", que foi um dos que foi à final do "Concurso Yé-Yé" no Cinema Monumental, em Lisboa. O Vítor Raposeiro era também (e é porque ainda está no 'activo') um excelente guitarrista e tocava num conjunto com alguma projecção aqui em Setúbal, o mesmo sucedendo com o meu amigo e camarada Nelson Batalha. Também o J. Manuel Fanha, que tocava órgão, era dum grupo de Tomar, foi do meu curso e esteve comigo na "Escuta" mas que me lembre só animava as noites no "Chez Toi"....

Vou aguardar por eventuais notícias dos meus amigos para poder avançar. Até lá, um abraço.

Hélder S.

Anónimo disse...

Informação recolhida na Net pelo editor L.G.:


O Programa das Forças Armadas [PFA] dirigia-se a toda a população (europeia e africana), sendo emitido 3 horas, semanalmente, em várias línguas nativas (Manjaco, Fula, Mandinga e Balanta), excepto o Crioulo que tinha 7.30 horas semanais, sendo este facto importante, uma vez que a língua portuguesa tem pouca penetração na Guiné.

Os programas tipo foram, essencialmente, orientados através da exploração de temas de contra-propaganda, como: “Colóquio”, “África em Foco”, “Tua Terra é Notícia”, “Sete dias em Foco”.

A Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica (Repacap), em 1971, utilizando os emissores de ondas curtas e médias da Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, emitiu um total de 2372 horas distribuídas assim:

PFA 1095 horas

Voz da Província (em crioulo) 156 horas

Balanta 158 horas

Fula 156 horas

Mandinga 156 horas

Manjaco 156 horas

Voz do teu povo 52 horas

Guiné de hoje, Guiné melhor 183 horas

Francês 104 horas

Francês com Holoff 52 horas

Sosso 52 horas

Em Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971.

Fonte: FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA
Os movimentos independentistas,
o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974): CAPÍTULO IV - O INDEPENDENTISMO E O PODER PORTUGUÊS
EM CONFRONTO

http://triplov.com/
miguel_garcia/guine/cap4_autoridades_portug.htm

Luís Graça disse...

Outra referência ao PFA (Pograma das Forças Armadas), fui encontrá-la no nosso blogue, na notável série "Os Marados de Gadamael", da autoria do nosso malogrado camarada Daniel de Matos (1950-2011)... Por ele fiquei a saber que entre os locutores do PFA figurava também o Armando Carvalheda... Aqui vai um excerto de um dos postes do Daniel de Matos... (LG)

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(...) Quanto a música africana, as emissões nacionais transmitem sons guineenses, de preferência instrumentais. Vocalmente, um ou outro tema do grupo Voz da Guiné. De Cabo Verde, sobretudo Bana e Luís de Morais, e também os angolanos Duo Ouro Negro e Lili Tchiumba.

A "Rádio Libertação − A Voz do PAIGC, Força, Luz e Guia do Nosso Povo", tem os seus noticiários e passa músicas muito variadas (cheguei a ouvir música portuguesa que é proibida em Portugal). E há o PFA [, Programa das Forças Armadas,], umas quantas horas por dia, com espaços que procuram distrair a tropa, mas muito distintos entre si.

Por vezes chega a ser imbecilizante um “programa” produzido pelo “casal Primeiro Dias e Senhora Tenente”. Havia de tudo, desde espaços de entretenimento inteligente, com o Armando Carvalheda (nosso artilheiro em Gadamael que, felizmente para ele, viria a “mudar de ramo” e a trocar o obus pelo microfone) – ainda hoje um profissionalão de rádio e uma das vozes mais influentes da RDP/Antena 1, onde é o principal divulgador da música popular portuguesa no seu “palco da rádio”, ao vivo, todas as semanas.

Também João Paulo Diniz (que regressado à metrópole passou, penso que a pedido de Otelo, que o conheceria de Bissau, o tema “E Depois do Adeus”, primeiro sinal radiofónico antes da senha “Grândola Vila Morena”). E outros nomes que, de tanto os ouvirmos, ficaram na nossa memória: Faride Magide, julgo que técnico de som que terá estado anos depois em Coimbra, na RDP; e também censores políticos que eram militares, e que faziam os cortes mais absurdos em programas enviados pelas unidades que estavam no mato. Ainda se os cortes fossem originados pela má qualidade do som (eram gravações geralmente efectuadas em cassettes domésticas) compreender-se-ia! Mas não, era censura política pura e dura, às locuções e à música que se incluía nesses programas.

Isso sucedeu connosco, gravámos um belo dum programa no meu quarto em Bafatá (meu, e dos furriéis José Alberto Ferreira Durão, mecânico-auto, e Hélder Pereira Calvão, – o nosso “ranger”, isto é, de operações especiais). Quando ouvimos a transmissão do nosso programa “Frequência 3-5-1-8” (participaram também o furriel miliciano de transmissões Domingos Gomes Pinto, o furriel miliciano de minas e armadilhas Ângelo Silva e o furriel miliciano atirador António Guerreiro), no lugar do fado de Coimbra cantado por José Bernardino apareceu uma doce canção d’Os Beatles, o poema “O Rico e o Pobre” (altamente “subversivo”, declamado entusiasticamente pelo homem de transmissões José Elias Gomes de Oliveira), também foi à vida!, saiu tudo alterado, segundo apurámos, por um zeloso guardador do regime, um tal Madeira.

E pensar que à testa do PFA estava o capitão miliciano José Manuel Barroso, ligado ao Comércio do Funchal, jornal que, apesar de dar vivas ao marxismo-leninismo-maoismo (para achincalhar a CDE em período dito pré-eleitoral), aparecia nas bancas como sendo de oposição ao regime (o capitão Manuel de Sousa recebia-o algumas vezes e eu permutava com ele o “meu” Notícias da Amadora, O Mundo da Canção e, às vezes, outros recortes de notícias que os meus amigos Acácio Vicente e Fernando Simões me mandavam) (...).
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Fonte: Poste de 14 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

2010/04/guine-6374-p6154-os-marados-de-gadamael.html

Luís Graça disse...

Outra referência ao PFA... Trata-se o depoimento de Jorge Ganhão, para o "Correio da Manhã", série "A Minha Guerra", edição de 24 de outubro de 2010... O Ganhão era fur mil, esteve em Bissau, no QG, na Rep Informações, entre julho de 1970 e agosto de 1972.

Segundo o CM, o Ganhão é atualmente (ou era, em outubro de 2010)"compositor e intérprete", com "quatro CD gravados", sendo "músico do Paco Bandeira há, aproximadamente, 15 anos"... (LG).

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(...) "Fomos colocados no quartel de Amura – eu, na repartição de Informações, o Cabral na repartição de Operações, cujo chefe militar era o tenente-coronel Firmino Miguel.
Foi neste aquartelamento que convivi de perto com os chamados militares de Abril – major Fabião, capitão Otelo Saraiva de Carvalho, major Almeida Bruno, general Spínola e outros.

"Em 1970, com 20 anos, entrei no centro de uma guerra colonial e com a responsabilidade de contactar com todo o tipo de documentos, confidenciais e secretos. Tornei-me tradutor das Agências Internacionais de Informação (Reuters, France Press, Argélia Press Service, etc.). Transcrevia documentos do general Spínola para a Defesa Nacional, que me eram enviados do Palácio do Governador e entregues pessoalmente pelo chefe da minha repartição, o major Beja da Costa. Tinham a classificação de secretos e eram gravados pelo próprio Spínola em fita magnética". (...)

(...) "Já na Metrópole tinha tido uma actividade amadora nas cantigas. Por isso, foi fácil arranjar colegas, alguns já profissionais, para formar um grupo musical. Dele faziam parte, além de mim (cantor principal e viola), o Salvado, o Vítor Raposeiro, o Dany Silva, o Carlos ‘Brasileiro’, o Vítor Barros, o Luís Alberto Bettencourt e outros que apareciam de vez em quando.
Eu, o Luís Bettencourt e o Jorge Cabral fizemos até um programa de rádio (‘Dimensão 3’) transmitido pela Emissora Nacional nas suas instalações de Bissau. Cantei com o Bettencourt para os nossos militares que estavam no ‘mato’, através dos microfones do PFA (Programa das Forças Armadas), onde eram militares/locutores o João Paulo Diniz e o Armando Carvalheda.

"Estive ainda como cantor com os músicos – o Vilas Boas, o Salvado, o Jorge e o Carlos ‘Brasileiro’ – na única boîte de Bissau, o Gato Negro". (...)

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Fonte:

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/a-minha-guerra/eram-secretos-e-gravados-pelo-spinola

Anónimo disse...

Camaradas
Ainda me lembro do seguinte:
Numa programa de Discos pedidos do PFA, foi mais ou menos isto:

Boa noite
Aqui Programa das Forças Armadas
Nos Discos pedidos, vamos dedicar a Mamadu Djaló que firma no Catió,a canção de Gianni Morandi " Não sou digno di Bó "
E depois tocou o disco...
Abraço

Luís Borrega

armando pires disse...

Se "os documentalistas" da nossa Tabanca Grande procuram que possa escrever a história do PIFAS, também podem contactar o Armando Carvalheda, locutor da RDP-Antena 1 e Carlos Fernandes tambem locutor da RDP mas já reformado mas que o carvalheda pode contactar. Curiosamente, quando fui para a Guiné, em FEV/69, levava comigo uma carta para entregar à direcção do PIFAS, visto que também era locutor de rádio. Por razões que não interessam para esta história, não entreguei a carta.

Anónimo disse...

Caros Tabanqueiros:
Já por estes lados falei do Fernando Eurico Sales Lopes, primeiro Fur.Milic.Transm. da minha companhia. Ele trabalhou no Pifas entre Julho/72 e meados de 1974. Nunca mais o vi. Foi por aqui referido que está em Macau. Tentei contactá-lo mas sem sucesso.
Era e espero que ainda seja e esteja bem disposto.
Se ele aceder a este blog aproveito para lhe mandar um grande abraço.

Carvalho de Mampatá.

Anónimo disse...

Camaradas,
Se é para um "inventário" das relações estabelecidas entre o Pifas e a malta na Guiné, aproveito para vos dizer que, em Bajocunda,no mês de Junho de 1971, saíu o nº.1 de "O Jagudi", jornal da C.Caç.2679. Se o cito, é porque através do Pifas eram lidas algumas das suas páginas, pelo que eu dizia que era o jornal da Guiné com maior projecção. Claro que não seria, mas foi divulgado, e porque não conhecia outro lá publicado... atribuí-lhe tamanha importância.
Não sei se a actividade do programa era pacífica, pela sua natureza imagino que estariam sempre sob controle, e também me lembro de no hospital ter encontrado um radialista que não identifico, que teria sido preso pela extinta pide.
Mas que o Pifas tinha encontro marcado com a maioria dos moradores no mato, e que era a principal janela para o mundo civil através da música emitida, não me parece que restem dúvidas.
Abraços fraternos.
JD

Arménio Estorninho disse...

As minhas lembranças sobre a Rádio que emitia o Programa das Forças Armadas.

Integrado num pequeno grupo de militares, visitei aquelas instalações em meados de Fev./Março de 1970, e teve como cicerone um Alf. Mil., o qual era conhecido do falecido ex-Alf. Mil. Barbosa, da CCaç.2381.

Quanto ao comentário do Luís Borrega, confirmo a sua lembrança a qual coincido também com a minha e sendo uma frase que ao tempo andava muito em voga: Mamadu Djaló firma no Catió, mist disco não sou digni di bó, canta Gianni Morandi.

Também outro disco pedido, este a partir de Empada: Maria Dentolas mist o disco mim ama abó, canta Roberto Carlos e dedicava ao Furriel Tác. Tác. da CCaç.2381.
Diga-se que ficou em segredo de caserna tal autor deste pedido.

Arménio Estorninho