terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 – P9544: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte X): pp. 55 a 66

Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [, foto à esquerda], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74).

O relatório, datado de 28 de Fevereiro de 1975, é assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela.

Publica-se hoje o ponto c (Situação interna) da segunda parte do relatório (B. Período de 25Abr74 a 15Out74), pp. 55 a 66: (2) Situação político-administrativa: (a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64); (b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66).


Índice do relatório

A. Período até 25Abr74
1. Situação em 25Abr74
a. Generalidades (pp.1/2)
b. Situação política externa:
( 1 ) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
( 2 ) Países limítrofes (pp. 5/8)
( 3 ) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).
c. Situação interna:
1. Situação militar.
( a ) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
( b ) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
( c ) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
( d ) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
( e ) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
( f ) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)
2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).

B. Período de 25Abr74 a 15Out74
2. Evolução da situação após 25Abr74
a. Generalidades (pp. 25/26)
b. Situação política externa (pp. 26/28)
(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)

c. Situação interna
(1) Situação militar
(a) Aspetos gerais (pp.37/46)
b) Síntese da actividade de guerrilha
1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52)
2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52)
3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIG (pp. 52/54)
(2) Situação político-administrativa
(a) PAIGC- Contactos e conversações no TO (pp. 55/64)
(b) Outros partidos políticos ou associações cívicas (pp. 64/66)


____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9499: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IX): pp. 47/54

4 comentários:

Luís Graça disse...

1. É interessante constatar que, no Setor L1 (Bambadinca), em pleno coração da Guiné, os primeiros contatos formais do PAIGC com as NT se tenham realizado um mês depois do 17 de maio... Possivelmente por dificuldades de comunicação, por comparação com as regiões fronteiriças ( do leste, norte, sul)...

Recorde-se que o primeiro contacto oficioso é em Sare Bacar (a 15 de Maio)... Um mês de mê, a 19 de Junho, há um priemrio encontro entre o comandante da CCAÇ 12 (que estava então sedida no Xime) com comissário político da Frente Bafatá / Xitole... Local do encontro: Madina Colhido...

Quatro dias depois, a 23 de Junho, há um primeiro contacto de elementos da CCAÇ 12 e população local (presume-se, do Xime) com comissário político da Frente Bafatá / Xitole, ainda em Madina Colhido...

A 26 de Junho, em Bambadinca, o comandante do BCaç 4616 encontra-se com comissário político da Frente Bafatá / Xitole

A 28 de junho, o PAIGC realiza uma sessão de esclarecimento à população de... Fá Mandinga (a localidade que foi a 1ª sede do Batalhão de Comandos Africanos, em 1970...)

Curiosamente, por lapso dos homens da 2ª Rep que elaboraram, o relatório, Madina Colhido, Bambadinca e Fá Mandinga aparecerem como pertencendo à "zona sul"...

2. O comandante da CCAÇ 12 deveria ser o Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus, o último dos cinco capitães que a CCAÇ 12 teve desde a sua formação (em meados de 1969) até à sua extinção em 18 de agosto de 1969.

Recorde-se que em finais de 1973 a CCAÇ 12 foi render a CART 3494, ficando à sua responsabilidade o subsetor do Xime. Ao fimd e 4 anos como unidade de intervenção, passou a subunidade de quadrícula, sob o comando do BART 3873 e depois do BCAÇ 4616/73.

O comissário político em questão deveria ser o cabo-verdiano, Antero Alfama, segundo informação do nosso camarada José Zeferino, que pertenceu à 2ª C/BCAÇ 4616/73 (Xitole, 1973/74).

3. Segundo o Zeferino, os contactos com o PAIGC, no Xitole, começaram em meados de junho (o que não é referido no relatório). Cito o Zeferino:

(...) "15 de junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá" (...)


(...) "Xitole – de 16 de Junho a Setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arrear da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, FioFioli, etc."

(...) "Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra. Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de Maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão, pois se até ao 25 de Abril tínhamos tido alguns encontros, na mata, sem baixas do nosso lado o mesmo não se passava com eles.

"Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. Aúnica exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinela. Fazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil [, comerciante libanês,] para o cumprimentar". (...)

... Em suma, a História também é feita com as cores, os cheiros e os sabores, os sons, os ruídos e o entulho... da "petite histoire"!

Anónimo disse...

Calma... Não tem importância

As datas sobre Gadamael estão todas erradas,assim como o que é descrito.
O primeiro contacto que houve (por iniciativa do paigc) foi a 28 de Abril.
Eu fui à Guiné-conakry,na terceira semana de Maio por convite do PAIGC.
A retracção iniciou-se na primeira semana de junho.
Não é de admirar que esteja tudo errado, porque na grande maioria das acções desenvolvidas não foram enviados quaisquer relatórios para Bissau..isto foi tudo por palpite..
Não tem importância.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

No futuro os livros de história iram descrever estes acontecimentos assim:
- Na sequência do golpe de estado em...blá...blá. iniciaram-se contactos entre...blá...blá..tendo-se proclamado a independência bilateralmente em....blá...blá.

Aposto.

C.Martins

Luís Gonçalves Vaz disse...

CAROS CAMARIGOS:

SEGUNDO DECLARAÇÕES de Jorge Sales Golias, em Lisboa em 20 de Maio de 2005



"...Sentimo-nos fortes para lidar com o PAIGC que, contraditoriamente, se mostrava dialogante e ao mesmo tempo lançava comunicados de guerra, mesmo depois do cessar-fogo. Tão depressa confraternizava com as NT como lançava Ultimatos a Unidades portuguesas. O primeiro foi a Cuntima, dando 48 horas à Unidade de Cavalaria local para retirar e o segundo foi a Buruntuma. Acompanhei o Major Ornelas Monteiro a estes dois locais, ele representando o Governo e eu o MFA. Em Cuntima acabámos por ir ao encontro do Comandante da Guerrilha, Baio Camará, já em território do Senegal. Fomos recebidos com aspereza e com alguma arrogância e foi o próprio Fabião que, inesperada e perigosamente, apareceu para se entender com Baio Camará, que tinha sido seu instruendo na Milícia. Falaram em crioulo, com o Fabião a repreendê-lo dizendo-lhe que ele era bom militar mas mau na “apsic” (acção psicológica). Terminou o ultimato e terminaram abraçados.

Em Buruntuma foi diferente. A renitência do Comandante local levou-nos a negociar a retirada, que foi feita pouco depois mas com uma digna cerimónia de transferência de poderes.

....
Continuamo-nos, sentindo fortes para lidar com os Fulas que, antes do 25 de Abril, eram os maiores apioantes do poder político português, e depois, eram os maiores apoiantes do PAIGC, criando sitiuações de contestação aos brancos e desacatos mais ou menos violentos. E com isto quero dizer que nunca deixámos criar situações de violência incontrolável, para o que muito contribuiram as missões do MFA ao interior, que integravam militares, ex-prisioneiros políticos e os jovens que lideraram as manifestações em Bissau, Aristides Pereira (homónimo do lider do PAIGC) e Francisco Fadul, que foi Primeiro Ministro e é concorrente à Presidência da República.
Após a nossa exigência a Lisboa de reconhecimento da independência, o General Spínola deixou de falar em vir a Bissau para preparar o referendo.

As duas reuniões de Londres com o PAIGC, sem resultados práticos, já tinham passado à história.

Continuámos com a força suficiente para coordenar com o PAIGC, através de um contacto clandestino em Bissau, Juvêncio Gomes e iniciámos contactos no Cantanhês preparando, assim, a transferência de poderes.

Não assisti na Guiné ao sabor do Acordo de Argel, em 26 de Agosto de 1974, pelo qual se prometeu reconhecer a Independência em 10 de Setembro e a Transferência de Poderes até 31 de Outubro de 1974, pois regressei a Portugal em 1 de Agosto.

O papel de Carlos Fabião no exemplar processo de Descolonização da Guiné, merece sempre ser destacado pelos altos serviços prestados a Portugal, mas só muito recentemente foi reconhecido pelo Presidente da República, ao atribuir-lhe a Ordem da Liberdade.

A Guerra Colonial foi, assim, na Guiné, o berço do MFA e também o berço das lutas comuns de libertação.

Apendemos a libertamo-nos do inimigo comum, num acto cultural único na História das relações da Europa com África.

Pelo caminho ficou a mágoa das tropas africanas que estavam connosco, do lado errado. Acreditámos que os princípios humanistas de Amílcar Cabral se sobreporiam a lutas tribais e eventuais intuitos punitivos. Mas assim não foi!

Na Guiné, tal como em Angola e em Moçambique, a seguir às páginas mais brilhantes das suas Histórias, as lutas pelo poder levaram à escrita das suas páginas mais negras.







J. Sales Golias










A DESCOLONIZAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU



Intervenção na Mesa Redonda levada a efeito pelo Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra/Fórum dos Estudantes da CPLP




Coimbra, 30 de Abril de 2005

Jorge Sales Golias, Ten-Cor.


Abraço:

Luís Gonçalves Vaz