quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9521: Nós da memória (Torcato Mendonça) (11): Vida nas Tabancas - Culturas - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 11
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

7 – VIDA NAS TABANCAS

- Culturas

Antes uma foto de uma bajuda especial. Uma amizade especial.

Aquelas terras de cultivo eram férteis.
Não era fácil cultivá-las nalguns locais. Estava sempre presente o medo de um ataque do IN, das suas minas, raptos e violações.

Era falso, o respeito deles pelas populações que não estavam subjugadas ao seu poder. Musa Iéro, próximo de Candamã, foi disso exemplo e, sem população armada – excepto um Milícia da Moricanhe em visita à sua família – foi a Tabanca praticamente arrasada. Muitos feridos, alguns mortos, muitos em fuga. O Milícia foi cortado ao meio com uma granada de RPG e as poucas roupas levadas, em profanação de cadáver.

Eu estava lá, melhor eu cheguei lá poucas horas depois.

Não atacaram uma Tabanca com doentes com lepra. Foram evacuados, tempo depois para Bafatá, creio eu.

Vejam as fotos. São de locais de paz.

Vida nas tabancas > Bajuda

Vida nas tabancas > Bajuda e o banho

Vida nas tabancas > Trabalho na bolanha

Vida nas tabancas > Paraísos

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9509: Nós da memória (Torcato Mendonça) (10): Vida nas Tabancas - Famílias - Fotos falantes IV

11 comentários:

Antº Rosinha disse...

"Era falso, o respeito deles pelas populações que não estavam subjugadas ao seu poder"

Torcato, essa afirmação tua da falta de respeito da parte doPAIGC, é politicamente incorretíssima em certas histórias à-lá-j.furtado, e quando entra a política para-boi-dormir, para justificar "o-quem-vier a traz-que-feche-a-porta".

Torcato, os teus vinte e tal meses e os meus 13 anos, não duravam nem 8 dias se esses povos,(milhões) acreditassem em quem lá vinha.

Resistiam, resistiam, mas a demagogia e as Kalashses tinham muita força.

Nos meus 13 anos de guerra em angola, (sem tiros),e de 1980/93 na Guiné em paz, eu vi não me contaram, essa falta de respeito a que te referes.

Torcato, tirando alguns dos comandosou familias que se queixavam (a mim, tuga e colon) o que nos dava alguma "familiariedade", dizendo que os abandonámos, nunca ouvi ou senti da parte do povo (centenas de trabalhadores, vizinhos e até velhos funcionários do tempo colonial)recriminar a tropa e até nem quero descrever o sentimento que queriam demonstrar, se não, não faltaria as Kalashes a disparar.

Mas como os velhos vão morrendo cedo naquela terra,está tudo passando rápido à história.

Diz sempre o que pensas e viste porque foram 37 anos de meias verdades, o que foi muito mau para todos nós, hidtoricamente sempre tivemos medo das verdasdes.

Cumprimentos.

Torcato Mendonca disse...

Um abraço Rosinha.

Eu relato o que vi. Tenho medo de, por vezes poder errar.

Isto eu estive lá.

Ab T.

Anónimo disse...

Porr...

Meu caro A. Rosinha

Mas há alguma dúvida.
Basta lá ir e sentir..ouvir

Ex-combatente do paigc..."tuga diz teu governo que tugas podem voltar que a gente cá faz guerra".

Ex-soldado meu..que quando me queria "chatear" dizia.."vai no tu terra..vai no lisboa", quando o reencontrei em 1998,me mostrou todos os documentos guardados religiosamente, e antes de nos abraçarmos e desatarmos a chorar, se pôs em sentido fez continência e diz ; alfero doutoro eu é português e ama bandeira nacional.
Ofereci-lhe uma bandeira nacional e quando visitei a tabanca dele tinha-a colocado em cima da palhota.
Disse-lhe que não devia fazer aquilo, respondeu-me ofendido dizendo "que todo o gente sabia ali que ele era português, era home grande e régulo da tabanca".
Ao lado estava um ancião, chamou-o dizendo "anda turra qui, diz pra ele que eu sou português", este aproximou-se sorrindo e confirmou.
Era primo e tinha sido ex-combatente in no sul da guiné.
Cenas como esta foram mais que muitas..

Mais palavras para quê..

C.Martins

Anónimo disse...

C.Martins, ps guineenses deviam ter um dia uma bandeira escolhida por eles.

Ma depois de tanto tempo em que fomos nós próprios e pensamos por nossa cabeça, e sofremos de tudo, em que até foi disciplinarmnte bem executado o 25 de Abril, com Salgueiro Maia, alguem já tinha vendido a "alma ao diabo" e foi o que se seguiu.

A Guiné e Portugal viriam a ser os dois paises mais ingovernáveis.

Só que aqueles guineenses é que nao tinham culpa nenhuma.

Fomos nós e os dirigentes caboverdeanos do PAIGC e alguns do MPLA, os grandes responsáveis pelo que de mau se seguiu.

Cumprimentos,

Antº Rosinha

Torcato Mendonca disse...

Antº Rosinha e C. Martins: leiam o poste P4459 de 04/Jun/08.

Tem o ataque a Musa Iéro.
Não está tudo. Quando me der na bolha escrevo sobre estes comportamentos, as mentiras e mais...

Atenção houve colonialismo e nada o desculpa.

Abraço T.

Henrique Cerqueira disse...

Olá Camarada Torcato
Vou tentar opinar sobre a "falta de respeito"na vida das Tabancas.Não haverá dúvidas que haviam combatentes do PAIGC que desrespeitassem as populações assim como ex.militares das nossas tropas o faziam de igual modo e tenho a certeza que esses comportamentos não eram generalizados,mas sim praticados por "gente"de maus instintos ou seja "GENTE MÁ".Vou então descrever dois exemplos que vivi e que tive de intervir.
Certo dia e após uma emboscada que fizemos a uma suposta coluna de abastecimento do IN e após um pequeno tiroteio mais ao menos precipitado só sobrou um carregador dessa coluna com um grave ferimento no braço,ficando este praticamente preso pela pele.Ora como o homem se podia movimentar foi caminhando a pé no meio das nossas tropas,mas como estava bastante ferido de quando em vês o seu passo atrasava e então começo a verificar que um dos nossos soldados (africano)tambem de quando em vês desatava ao pontapé no ferido capturado foi quando reparei nessa atrocidade que entrevi e até com alguma violência junto do meu soldado.Neste caso não me alongo muito mais,pois que esta atitude acabou por ter outras implicações,umas das quais muito agradáveis pois que semanas depois fui reconhecido pelo ferido em pleno hospital de Bissau.
Outra situação que assisti e uma vês mais tive de intervir.
Em Bissorã numa loja civil o comerciante procedia á compra anual da mancarra aos pequenos produtores.Entra uma mulher muito velha com um cesto de mancarra e creio que de má qualidade,pois que vim a saber mais tarde que esta mulher era tão pobre que recolhia sobras da colheita dos outros e tentava vender,para ganhar uns "tostões".É então que vejo o comerciante atirar para o chão toda a mancarra da senhora e como esta reclamava e ao mesmo tempo tentava apanhar todo o seu "tesouro"do chão esse mesmo comerciante atirou uma lata de agua á senhora para que ela saísse da sua loja.Claro que uma vês mais me revoltei e de um momento para o outro se criou ali uma pequena batalha campal,que mais uma vês me deu alguns dissabores.Eu explico:A loja era mesmo em frente ao comando do Batalhão,a loja era de um Libanês influente para alguns dos nossos militares de "comissões".Mas o malvado que desrespeitou a senhora era Negro e da Guiné e até era natural de Bissorã.
Como saberás amigo e respeitável Trocato o desrespeito é das "PESSOAS MÁS" e não porque se está de ou de outro lado da "Batalha"
Caro Camarada e restante tertúlia este meu comentário não é com intenção de me armar em Sr.Justiceiro,mas sim lembrar que em todas as sociedades há gente má de nascença e há gente má porque os instrumentalizaram para o sêr.Mas aí deixo essa apreciação aos nossos Camaradas da Psíco.
Um abraço Henrique Cerqueira

Henrique Cerqueira disse...

Atenção Camaradas
Na estória que relato a captura de um carregador e quando escrevo:..."só sobrou o carregador..."isto é verdade pois que o restante pessoal do suposto grupo fugiu.Esta correção é só para não induzir em erro em relação á palavra "sobrou"
Grato pela atenção Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Caro Torcato,

As fotos falantes são isso mesmo. Depois de todos estes anos, a qualidade das mesmas dizem do muito que te são queridas.

No teu texto, para além dos pontos já focados por alguns dos nossos camaradas, há mais um que julgo ser de real importância: o rapto!

Não terá sido essa forma pouca ética de actuar do PAIGC que manteve as suas fileiras na luta armada? E os carregadores inocentes do armamento pesado armamento para o ataque aos nossos quartéis? E das raparigas para satisfação sexual dos guerrilheiros?

Para o nosso amigo Cerqueira,

Claro que em ambos os lados houve gente instintivamente má. Poré não foi esse o ponto principal do texto.

Na verdade não eram comparáveis os casos que apontas com a plantação de minas em trilhos e bolanhas quase só usados por populações. E muito menos flagelações directas às populações.

Que eu saiba as nossas tropas, de propósito, nunca chegaram tão baixo.

Um abraço amigo,
José Câmara

Henrique Cerqueira disse...

Camarada José Câmera
Não quero de modo algum entrar em polémicas sobre a ética ou falta dela ,praticada na Guiné.No entanto te digo que o "Ponto Principal"para mim na leitura deste texto é "O respeito pelo ser Humano"Seja em Guerra ou não.Quanto às minas e armadilhas,não duvido do seu erro de aplicação só que os trilhos da população eram os mesmos que as tropas usavam e como tal era fatal alguem ser atingido.
Mas já agora te digo o seguinte:...
Quando cheguei ao Biambe em 1972 e fui instalado no aquartelamento,verifiquei que no meu "quarto"que partilhava com outro furriel tinha em exposição como trofeu de batalha um frasco com ORELHAS Humanas de supostos inimigos abatidos pelos meus antecessores.Já contei aqui noutro poste.Agora e se acreditas na minha estória diz lá em que parte do texto é que é mais ao menos importante o comportamento das nossas ou das outras tropas nas acções de Barbaridade.
Camarada fico por aqui e foi com respeito que me dirigi a ti e não só e sinceramente não vou entrar em polémicas,até porque sempre que há guerras as Bestialidades aparecem sempre nos dois lados da contenda.
Um abraço Henrique Cerqueira

manuelmaia disse...

Torcato,

Como estiveste ali mesmo a um curto passo do colar,mordiscaste para saber se era boa (a pérola,claro...)
abraço
manuelmaia

Anónimo disse...

Quero esclarecer..esclarecerei

A minha história nada tem a ver com a defesa do colonialismo.
Na guerra, em qualquer guerra, há sempre "bestialidade" onde o ser humano consegue ultrapassar a maior das ignomínias.
Houve comportamentos, de ambos os lados, inqualificáveis.
Só se dá valor aquilo que se perde, ou em termos comparativos se verifica que aquilo que se deseja ou pensa que será melhor é na realidade pior do que a situação anterior.
Tão só

C.Martins