quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9460: Lições de artilharia para os infantes (2): Cada granada de obus 14 pesava 45 kg e custava 2500$00 (C. Martins, ex-comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14.... Foto do nosso camarigo J. Casimiro Caravlho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974...

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário, de 25 de janeiro último,  do nosso leitor (e camarada) C. Martins, ao poste P9392:


 Caro Camarada Luís Graça:


 (...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas,  espoletas e cargas e outro material só para o Pelart.

Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos,  isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".

Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc...Quando era necessário vinham mecânicos de Bissau no mesmo dia de heli até Cacine e depois de sintex ou zebro até Gadamael.

Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.

Cada granada pesava 45 kg e não 50, e cada tiro custava 2.500$00.

Tínhamos 3 companhias,  1 pelart (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão  de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares.

Como vês, é só fazer as contas.

Sobre a minha participação no blogue já te expliquei o porquê... não tenho nada a esconder, mas é melhor para mim estar assim. O teu blogue para mim é um paliativo, posso aqui desabafar, dar um tiro de obus imaginário, faz bem à minha sanidade mental e como eu certamente a muitos de nós.

Um grande OBRIGADO para ti,  extensivo a todos os co-editores.

Repara nas horas a que escrevo, sabendo que logo pelas 8 horas da manhã estou a trabalhar, não não estou reformado, e faz o teu diagnóstico.

Um grande alfa bravo
C.Martins
________________

Nota do editor:

Último poste da série >  14 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7782: Lições de artilharia para os infantes (1): Como era feito o tiro de obus 14 (C. Martins, ex-Alf Mil, Pel Art, Gamadael)

12 comentários:

Anónimo disse...

Oh caríssimo C. Carvalho

Esclarece lá a gente.
Ou é da minha vista, ou este obus foi o que foi substituir o que ficou inutilizado.É que não se encontra no espaldão.
Nessa altura eu passava uma mini-férias no H. Militar em Bissau.

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Logo na 1ª vez que li o comentário do C. Martins ao Poste 9392 e,tal como aconteceu com o Luís Graça, também se me colocaram as mesmas dúvidas:

Espaço de armazenamento para 10.000granadas de obus de 45 Kgs cada. O equivalente a 450toneladas.

Se nos lembrarmos do formato e tamanho das referidas granadas, que área ocupariam?

E aqui ainda teríamos que juntar:

mais de 400 cunhetes de munições de G3(o C. Martins diz que "contou até 400" e depois desistiu);

mais cunhetes de munições de outras armas (Browning, Breda, HK);

mais as granadas de canhão S/Recuo;

mais as granadas de morteiro;

mais as granadas do Lança-Granadas;

mais as granadas de mão ofensivas/defensivas;

Diz o C. Martins que tudo isto era guardado "No paiol. Obviamente."

Ora isto não podia ser um paiol. Tinha que ser um Hiper-Paiol.
Confesso que pelos 3 ou 4 sítios por onde andei na Guiné, não vi nenhum paiol que comportasse tanto material bélico.

É obra!!!

Já agora, "só as 10.000 granadas de obus", custavam 25.000 contos (2.500$00 cada).

Em tempos apareceu aqui no blogue um relatório oficial que dizia que, no início da guerra, o PIB da Guiné era de 87.000 contos.
Ora, temos assim que, só Gadamael, tinha em granadas de obus, mais de um quarto do PIB da Guiné.

É obra!!!

Um abraço para todos

José Vermelho

Ex-Fur. Milº
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Bedanda
CIM - Bolama

Anónimo disse...

Caro camarada José Vermelho

Em primeiro lugar, podias ser mais frontal e dizeres que sou mentiroso.
Cada um pode pensar aquilo que quiser.
A realidade é que cada um nós teve vivências diferentes, mesmo na própria Guiné.
Estiveste em Cacine, lugar que, como é óbvio conheci muito bem,onde, no meu tempo, estava colocado um pelart de obus 14, que não teria mais de 2ooo granadas em stock.
Falas que seria um super-paiol e era mesmo.
Após os acontecimentos dramáticos de Maio e junho de 73, gadamael foi muito reforçado em armamento e militares.
Tinha mais de 600 homens.Quantos aquartelamentos conheceste na Guiné com esta dotação ?
Dizes que o PIB da guiné em 63 era de 87.000 contos.
Cometes um grande erro ao fazeres comparações de PIB com despesas militares.
O PIB , meu caro, quer dizer produto interno bruto, que em termos gerais é a riqueza gerada num ano.
Em 74 gastávamos quase 60% do PIB total português em despesas militares.
Para tua informação cada munição de G3 custava 7$50,é só fazeres contas.
Pois, falar daquilo que não se sabe,normalmente dá barraca.

Um alfa bravo

C.Martins

Fernando Pessoa disse...

O mundo conduz-se por mentiras.
Quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo,
cuidará de mentir delirantemente.
Fá-lo-á com tanto mais êxito,
quanto a si próprio mais mentir
e se compenetrar da verdade
da mentira que criou.

vascopires@yahoo.com disse...

Prezado Senhor Fernando Antonio Nogueira Pessoa, não vim aqui para contestá-lo, sòmente para lembrar alguns versos do seu amigo(?) Alvaro:

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada
Caro c. Martins, perdoa o poeta, pois eles às vezes não vão à guerra.
Vasco Pires, Ex-comandante do 23°Pelart, Gadamael Porto

Anónimo disse...

Caro Sr. FERNANDO PESSOA

É uma grande honra para mim, comentar o meu comentário.
Certamente não sabe,mas digo-lhe que é considerado um dos maiores poetas Portugueses, e na minha modesta opinião está a seguir ao Luís de Camões.

Para o incógnito que se fez passar pela sua pessoa,que não PESSOA,segundo o código penal cometeu um crime,mas pode ficar descansado que não o vou processar, e em termos artilheiros digo-lhe que errou completamente o alvo, mais ...sendo eu I.O.L...info..tiro não observado...tiro não observado.

Para o meu camarada artilheiro e digníssimo antecessor Vasco Pires, que não tive o prazer de conhecer porque quando saíste eu andaria ainda pela EPA a aprender a ser artilheiro, obrigado pelas palavras do "irmão gémeo homozigótico" do Sr. Fernando Pessoa.

C.Martins

Anónimo disse...

Caro C. Martins

Só agora vi o teu comentário/resposta ao meu comentário.

Exprimir dúvidas? Sim.
Ter opiniões não coincidentes? Sim.
Questionar informação? Sim.

Chamar-te mentiroso? Nunca o faria, faço ou farei. A ti ou a outro camarada.

Mas erros de cálculo ou de avaliação podem acontecer a qualquer um.

Sobre o PIB, apenas foi usado como termo de comparação de valores com as 10.000 granadas de obus de Gadamael.

Como dizes, o PIB é, em termos gerais, a riqueza gerada num ano.

Ora, é com essa riqueza que todas as despesas de um país têm que ser pagas, incluindo...as militares.

Quando não chega...recorre-se aos mercados externos(os tais que tanto estão na moda, para mal dos nossos pecados).

Um abraço

José Vermelho

Anónimo disse...

Caro J.Vermelho

Afirmativo e correcto.

Pelos meus cálculos 10.000 granadas ocupam um espaço de 75 m3, o que dá 5 m de largura e comprimento por 3 m de altura.
Sabendo que um cunhete tinha 1000 munições de G3 e em média cada militar tinha 100 munições a multiplicar por 600 dá 60 cunhetes só em ambulatório.
Quero ainda referir que para além do paiol principal ainda existiam paiois secundários e cada pelotão tinha nos seus abrigos granadas de mão, de morteiro 60, fitas para HK ou MG, etc. prontos para entrar em acção imediata.
Também no postos de sentinela dotados de brownig tinham 4 ou mais cunhetes de 500 munições cada.
Poderia continuar...
Um abraço

C.Martins

Manuel Reis disse...

Caro Amigo C. Martins:

Este meu comentário vem um pouco desfasado do texto sobre a Art. de Gadamael.
Devia fazê-lo no poste do Coutinho e Lima, mas considerei pouco aconselhável fazê-lo aí, para não voltarmos à habitual chuva de considerações e críticas, completamente inoportunas.

Refere-se ao teu comentário sobre a ordem de chegada das companhias de Paraquedistas a Gadamael.

A 1ª CCP a aportar foi a 122. Estava a descansar há dois dias em Bissau, vinda de Cadique. Chegou no dia 3 de Junho, da parte da manhã.
Seguiu-se a 123, que aportou no dia 5 de Junho, encontrava-se em Cacine desde o dia 2 de Junho à tarde, após saída conturbada do Cantanhez.
A última a chegar foi 121 no dia 12 de Junho depois de uma semana de descanso em Bissalanca e após a tormentosa actuação em Guidaje.

Não me julgues com uma memória de elefante, encontrava-me, de facto, em Gadamael quando da chegada de todas elas, mas apenas tenho presente a data de chegada da 1ª Companhia.

Foi através do livro do Coronel Moura Calheiros, a Última Missão, que confirmei as datas. Aliás considero a leitura deste livro a todos os ex-combatentes. A refrega de Gadamael é extramente rigorosa na descrição dos acontecimentos e a sua localização no tempo e no espaço é primorosa.

Relata com exactidão o que se passou em Gadamael e se falhas existem, elas são de somenos importância.

Quem fizer esta leitura, fica com o conhecimento, quase perfeito, do que aconteceu em Guileje, com a diferença da existência de abrigos em Guileje e o consequente menor nº de baixas. Outra diferença é já pouco restava em Guileje. Isolados e impotentes restava-nos que os deuses viessem em nosso socorro.Era um sufoco.
Para os feridos, em estado mais grave, restava-lhes aguadar a sua hora e as condições sanitárias eram de tal ordem que a breve texto a hecatombe aconteceria.
Costumo dizer nada foi tão mau do que Guileje. O diminuto nº de mortos branqueia a situação. Só isso! E aos olhos da maioria somos suspeitos, defensores em causa própria.Mas afinal que temos nós para defender, nesta altura?
Há camaradas que possuem cartas descritivas e esclarecedoras da situação que se viveu em Guileje,que enviaram aos pais, à esposa e/ou namorada, mas recusam-se a publicá-las, receiam o seu desrespeito pelo descrédito a que seriam sujeitos.

Estimado amigo, desculpa-me o desabafo, fui longe de mais.

Um bom fim de semana sem doentes.
Um abração.

Manuel reis

Anónimo disse...

Carissímo Manuel Reis

Deixa lá os "c...ladram e a caravana passa".
Muita gente critica sem saber do que fala.
"Garganta" é o que mais há.
Gostava de ver, aqueles que criticam e até condenam, nas mesmas circunstâncias e saber quais seriam as suas actuações, mas claro isso é impossivel.

Um grande abraço de solidariedade

C.Martins

vascopires@yahoo.com disse...

Prezados C. Martins e Manuel Reis, cordiais saudações.Quando alguém como vocês, vive situações limite, que a maioria dos cidadões sòmente viu no cinema, é normal, a incompreensão, pois, muitas vezes, não tem codições de avaliar a longa distância, entre a ficção e a realidade.Forte abraço.VP

vascopires@yahoo.com disse...

Perdão pelo erro: onde se lê cidadões,deve ler-se,cidadãos.VP