domingo, 15 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9357: Da Suécia com saudade (33): A guerra da Guiné vista de uma certa retaguarda (José Belo)

1. Mensagem de José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia:

A Guerra da Guiné vista de uma "certa" retaguarda

Naquele ano de 69/70, dentro do espírito da Campanha "Por uma Guiné Melhor", o Comando Chefe da Guiné convidava alguns muçulmanos mais representativos para viagens de peregrinação a Meca.

Por razões várias, tinha contribuído para que 3 Homens Grandes de Tabancas ao redor de Aldeia Formosa tivessem sido incluídos (com toda a justiça) numa das listas das viagens. Foi em cortês gesto de agradecimento que, no regresso de Meca, aproveitando a estadia em Lisboa, decidiram ir "partir mantenha" a casa dos meus pais. Envergando os seus grandiosos trajes de "ronco" bateram à porta precisamente no dia da semana em que a minha mäe se reunia com as amigas à volta de uma chávena de chá.

Recebo na Guiné carta do Estoril...

"Meu querido filho"... Que roupagens fantásticas! Que português tão exótico o que falavam! Que bem educados nas suas tradições, e à sua maneira! Que acontecimentos incríveis que tão bem souberam descrever! A esposa do Presidente da Câmara convidou-os de imediato para o visitar. Sabes, gostaram muito do meu chá, e principalmente da... bavaroise de ananás! 

Sentado contra uma árvore na mata do Sul da Guiné, se näo me urinei a gargalhar pouco terá faltado.

Conhecia bem aquelas "eternas meninas" da Parada de Cascais do Portugal de então. Sentadas, segurando nas suas mãos delicadas por tantos ócios, as minúsculas chávenas de chá, e discutindo as delícias da bavaroise de ananás com aqueles heroicos combatentes Fulas. Encontros de um Império tão desencontrado.

Quem sabe se regressaram às matas do Forreá carregando nos "R" e dizendo "pecébe" no tal dialecto "bem" de uma certa capital de império.

Estocolmo, 15/01/2012
Um grande abraço
José Belo
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9020: Da Suécia com saudade (32): Geração, a Nossa... (José Belo)

5 comentários:

Anónimo disse...

Que belo ...José.
O texto, obviamente. Com pouco se escreve muito.
Um grande abraço de Alcobaça,
JERO

manuelmaia disse...

caro Zé Belo.

Malhas que o império tece !
abraço.
manuelmaia

Anónimo disse...

José Belo, este texto que quizeste partilhar neste blog, é talvez um retrato que só poderia ser feito numa permilagem mínima de nós todos que vivemos aquela guerra.

E és tu que pertences a essa permilagem.

Urina-te à vontade, passados estes anos todos, imaginando um "Joaquim Furtado" a enquadrar esta cena naquelas representaçãoes mensais televisivas.

Embora não seja vulgar entre a malta a tal receita de ananaz, mas provavelmente não deve ser muito própria para comer à mão.

Sem dúvida uma história diferente.

Antº Rosinha

Luís Graça disse...

1. Antes da publicação deste poste, tinha-lhe perguntado a ele, Zé Belo, português da diáspora, cidadão do mundo, nosso tabanqueiro de longa mas sempre discreto:

"Zé: Por onde andas ? Norte, sul, oeste, leste ? Nuca sei... Mandaste foto das 'bavaroise' ?... Se sim, não chegou... Manda em formato.jpg..

"Vou pedir ao Carlos para meter na série Da Suécia com saudade (que é a tua 'coluna' no blogue...)
Um abraço (quente). Luis...

"PS - E obrigado por '(r)esistires'...

2. O Zé Belo, que é a delicadeza e a circunspeção em pessoa, como bom lusolapão que é (entenda-se: são muitos anos de Suécia...), respondeu à minha pergunta 'à sua maneira', mas de algum modo sentindo-se na obrigação de falar um pouco mais de si, o que não é habitual nele...

Este tipo de conversas não são muitas vezes publicadas por acharmos que são mais "pessoais", são conversas entre os autores e os editores... Desta vez, vou mesmo quebrar o "sigilo", e ele não me leva a mal, uma vez que se trata de um camarada que muito estimamos e que muito nos estima:

"Caro Amigo. É sempre bom receber notícias vossas. Por aqui,começando a estar... 'cada vez mais reformado' vou aproveitando todas as oportunidades (e alibis!) para ir apanhar uns tempos de sol e calor na Flórida. O ter arranjado uma casa por lá terá sido a única coisa inteligente que fiz em uma já longa vida. A natureza, o sossego, o exotismo do Círculo Polar nas suas grandiosidades, tudo é fantástico. Mas a escuridäo contínua de muitos meses, e de já muitíssimos anos, obriga a uma busca consciente de luz solar para evitar depressöes fáceis de atacar mesmo os que aqui nasceram,quanto mais o único Lusitano-Lapäo que sente saudades da Praia do Baleal. Um grande abraço"...

Alberto Branquinho disse...

Ó Tio

Curta lá esse sol de KeyWest,mas de bavaroise, nicles!

(ainda estou a "filmar" a cena de Cascais - finais de 60...)