sexta-feira, 1 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8496: Notas de leitura (252): Picadas e Caminhos da Vida na Guiné, de Fernando de Sousa Henriques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2011:

Malta,
Quem quer voltar à Guiné, faça como este grupo a que se juntou o Fernando de Sousa Henriques. É assim que se produzem relatos singelos, com solidariedade, encontros imprevistos, se descobrem vestígios de quartéis entre picadas por onde se deambula com o coração pequenino, não de medo mas de emoção. Os caminhos da vida na Guiné estão à mercê de quem deles guarda saudade.
Um abraço do
Mário


Retorno à Guiné pelo chamamento da saudade,
percorrendo as picadas dos tempos sofridos


Beja Santos

“Picadas e caminhos da vida na Guiné” (por Fernando de Sousa Henriques, edição de autor, 2011), é um relato de uma viagem de um conjunto de ex-combatentes que, décadas depois se afoita a revisitar os locais onde cada um deles cumprira o seu dever. É um documento singelo na reconstituição das situações, desempoeirado até no recurso que faz, com sucesso, ao uso da linguagem de caserna, que a todos irmanava. Conheci as peripécias desta viagem através da visita que fiz ao Jaime Machado, na Senhora da Hora, em Matosinhos, vi os filmes e as fotos de muitos desses momentos tocantes, por isso não fui apanhado pelo factor surpresa das minúcias recolhidas pelo Fernando de Sousa Henriques que soube usar tão equilibradamente os apontamentos da viagem integrando-lhes as imagens apropriadas.

É um relato de emoções, todos eles irão ser confrontados com imprevistos, de Bissalanca a João Landim (local de pernoita), a viagem de reconhecimento a Bissau, o contraste da cidade, nos principais pontos de referência. Ninguém que ali tenha combatido pode esconder a amargura de ver uma cidade em ruinas ou em derrocada. Depois rumam para Bafatá, a decepção pelo estado da antiga segunda cidade da Guiné-Bissau não foi menor. O grupo vai largando lembranças. No hospital de Bafatá deixaram um aparelho para medir a tensão arterial, equipamento para o despiste da diabetes, medicamentos. Seguem para Bambadinca, um dos viajantes, médico, não sabe esconder a emoção no reencontro som a sua lavadeira, Cumba. Registam a destruição do porto de Bambadinca, há ali duas imagens que constam da operação Tangomau: o cabeço de amarração, único sinal da vida pujante que teve o cais de Bambadinca e as canoas junto ao rio, adormecidas sobre o tarrafe.

Segue-se a pernoita no Capé ao pé de Bafatá e parte-se para Cadique, com passagem por Guileje, foi um longo dia de emoções através do Saltinho, Quebo, Cadique, próximo do rio Cumbijã. O que resta de Cadique é fotografado enquanto quem ali combateu anda agitado e eufórico; segue-se a viagem ao Museu de Guileje. Como não há viagem sem desencontros, chegados a Jemberem, uma das viaturas virou à direita outra à esquerda, lá chegaram ao Capé, com o coração aos saltos, sem saber uns dos outros.

No dia seguinte partem à conquista de Piche, Buruntuma e Canquelifá, os viajantes captaram imagens eloquentes com uma placa a referir as distâncias para Bafatá, Piche, Cam-Quelefá, Buruntuma, Cabuca, Madina (Boé), Sonáco, Paunca, Bajocunda e Pirada. Que belas fotografias! Os memoriais existentes na ponte Caium, em Buruntuma, os edifícios de Canquelifá, as crianças a cantarem o hino nacional da Guiné-Bissau, os últimos vestígios da presença dos militares como os memoriais; depois Piche, com as ruinas da capela e a espantosa fotografia da antiga piscina agora circundada de campos lavrados. O imprevisto são também as gentes, aqueles que combateram e que exibem documentos, perguntam por nomes destes ou daqueles, pois são estimas que perduram. Dia muito quente, também para os corações.

Do Capé partiram depois para Bambadinca, Xitole, Quebo e Buba. Inevitavelmente, visitas a escolas e ao cemitério de Bambadinca, não lhes deixaram tirar fotografias no Xitole (o Tangomau teve sorte, andou por ali à solta com os seus antigos soldados, o blogue guarda imagens dos principais vestígios do quartel e de edifícios que assinalam uns tempos de prosperidade comedida quando no Xitole havia uma encruzilhada comercial). A comitiva passa junto à ponte Carmona, destruída durante a guerra. Visitaram o Quebo e prosseguiram em direcção a Buba. Graças a um jerricã, houve um encontro inesperado e a alegria de uma confraternização, toda a viagem vai conhecer estes tempos, viaturas empanadas, crianças ruidosas à procura de uma lembrança.

A viagem prossegue pelo Norte, agora vai-se para Nova Lamego ou Gabu, e depois Pirada. São captadas belas imagens de Pirada, apetece perguntar como guineenses e portugueses pretendem lidar com este património, é impossível responder com indiferença. Como é sabido, os guineenses tomaram a atitude resoluta de pôr Teixeira Pinto, Honório Pereira Barreto, Nuno Tristão e Diogo Gomes nas respectivas peanhas, a história não se apaga. Apetece dizer: estes quartéis também não.

Agora o grupo aproxima-se de Bissau, percorre Bula, Canchungo (Teixeira Pinto), Cacheu e S. Domingos. Encontros, entrega de livros, abraços de antigos combatentes. Regresso a Bissau, compra lembranças e o regresso. Cada um foi ao seu ermo, ali relembrou os tempos sofridos, levaram ajuda e também pediram ajuda para as suas memórias. Quem escreve este relato sente-se recompensado. No blogue, também nos devemos sentir recompensados por estas magníficas lembranças. Há muita gente que não quer dizer (ou infelizmente não tem meios) que com um empurrão também se aventuraria por estas picadas, dói que se farta ver tanta gente acolhedora magoada pela indiferença e pelas más governações, foram estas gentes que confiaram em nós, combatemos no meio deles, e por vezes só com eles. Todos estes relatos são o nosso dever de memória. Obrigado, Fernando de Sousa Henriques.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8478: Notas de leitura (251): Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal.
Como na semana se tem falado de médicos, daqueles nossos médicos da Guiné, manifesto aqui grande alegria por termos agora na nossa Tabanca o Dr. Pardete Ferreira, grande médico que conheci na Guiné, mais exatamente em Teixeira Pinto.

Através das mensagens dele aqui na Tabanca, fiquei igualmente satisfeito em falar no nome do Prof. Dr. Maymone Martins, pois era o meu Chefe na Enfermaria, e ao serviço do BCaç 2845.

Assim, e para que alguém possa recordar esse médico, envio estas fotos, pois são bem do nosso tempo.

Havia ainda o Dr. Máximino Vaz Cunha, actualmente a exercer funções no Hospital de Chaves.
Numa das fotos estão os dois médicos na Enfermaria em Teixeira Pinto, juntamente com o pessoal do S.S. e alguns civis, foto esta tirada no dia de apresentação e tomada de posse da Enfermaria.

Noutra foto está o Dr. Maymone Martins com o pessoal do S. Saúde que iria manter-se até final da comissão.
Outra foto onde está o Comandante na altura,Ten Cor Aristides Américo de Araújo Pinheiro, e claro, eu.
Por fim o Dr. Maymone Martins, que sempre que pode lá vem aos nossos Convívios da CCS.

Aproveito para desejar a todos os tertulianos, um excelente fim de semana inclusivamente para os Chefes de Tabanca e Régulos, e de forma particular a ti, que só te dou trabalho.

Albino Silva





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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8435: Convívios (347): Almoço/Convívio dos ex-combatentes de Fão, no dia 10 de Junho de 2011 (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8491: Os nossos médicos (31): HM241: Pessoal médico do meu tempo por especialidades (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra (18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto, precursora do Facebook (António Matos)

1. Comentário do António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72), a um poste do meu blogue pessoal, Luís Graça > Blogpoesia (*):

[O António, ex-IMB, grande amante do karting, camarada que eu muito estimo,  é membro da nossa Tabanca Grande, e além disso amigo inscrito na nossa página no Facebook; o seu pai ainda foi meu colega de trabalho, na Direcção Geral dos Impostos; e ele, António Matos, tal como o meu velho, em Cabo Verde, 1941/43, também foi confidente e escriturário de camaradas analfabetos, neste  no TO da Guiné, 1970/72]:


Caramba, Luís, tocaste num ponto que me foi sempre enigmaticamente madastro,  sabendo-se da sua relação umbilical com o Movimento Nacional Feminino e que, numa linguagem moderna e com todos os perigos inerentes a tal extrapolação, me soava a acompanhantes (não necessariamente de luxo), ainda que desses relacionamentos tivessem surgido, inclusivamente, muitos, felizes e duradouros casamentos !


Acho que as ilusões que eram criadas na generalidade dos nossos soldados funcionavam muito mais como a namorada ausente que muitas vezes também,  elas próprias,  se envolviam num relacionamento nem sempre ingénuo.

Tal como muitos de nós, também eu acompanhei "aquele" soldado analfabeto que me elegeu como confidente das suas frustrações, dos seus anseios, das suas necessidades morais e fisiológicas,  lendo e escrevendo os seus desabafos para mães, pais, namoradas, madrinhas de guerra e sei lá para quem mais ....


Sei do que falo, portanto !

Aqui entra o elemento que consubstanciava estes diálogos com compasso de espera entre pergunta e resposta - o aerograma - que teve em Cecília Supico Pinto uma das precursoras do actual Facebook ...


As analogias funcionais serão imperceptíveis mas uma coisa era evidente:  a possibilidade de se dizer tudo aquilo que o pudor não permitia dizer cara-a-cara !!!

O tema que levantas é aliciante e concordo com quem diz que maravilhosa estória seria descoberta se se dessem a conhecer esses 300 milhões de aerogramas escritos naqueles anos ....

Obrigado,  Luís !


Beijos às madrinhas que ainda hoje existam !!

Abraços a todos e hoje em especial aos afilhados de guerra !!! (**)


António

30 Junho, 2011
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Notas do editor:

(*) Setembro 10, 2008 > Blogantologia(s) II - (71): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra


Criada uma ligação ao mural da nossa página do Facebook, e que mereceu, além do comentário do António Matos,  mais dois (com data de ontem), quer em relação ao meu poema quer em relação ao meu próprio comentário: Ter-se-ão escrito mais de 300 milhões de aerogramas durante a guerra colonial...



João Pereira da Costa

Luis Graça,  é diabólico esse número. Que livro ou livros dariam as passagens dos seus conteúdos. Sei lá. Todos os tipos de sentimentos e segredos. Fiquemos por aqui.


Por casualidade entabulei amizade com um oficial do exército brasileiro q...ue dá aulas numa unidade, em que fez um trabalho (estudo) para saber as razões porque raparigas brasileiras se correspondiam como madrinhas de guerra com militares portugueses na guerra colonial.


Estou à espera que me envie um livro sobre a unidade, contudo não sei se falará sobre o assunto que coloquei.


Só de pensar o que acontecera a alguns deles quando recebidos atendendo ao seu conteúdo... Que temática maravilhosa. Seria um desafio. Haverá voluntários? (...)

José Manuel Corceiro > Parabéns e obrigado Luís Graça, pelo lindo poema que escreveste… É um hino de louvor e agradecimento às nossas queridas Mães, pelos dias de dor vividos sem dormir, em sofrimento angustiante, causado pela ansiedade e a incerteza que dominava impiedosamente o seu pensamento amargurado. Continuamente a mesma dúvida, se voltariam um dia a ter a oportunidade de ver e abraçar os seus meninos? (...)

 
(**) Último poste da série > 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8460: As mulheres que, afinal, foram à guerra (17): Público, Cinecartaz: Críticas dos leitores

Guiné 63/74 - P8493: Parabéns a você (282): Silvério Ribeiro Lobo, Mec Auto da CCS/BCAÇ 3852 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 01 DE JULHO DE 2011

SILVÉRIO LOBO

NESTE DIA DE ANIVERSÁRIO DO NOSSO CAMARADA SILVÉRIO LOBO, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR-LHE AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE, JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

A imagem de Nossa Senhora do Amparo, transportada com todo o carinho e devoção pelo Moita desde Felgar, encontrou um altar em Bula. Testemunharam o acto o Silvério Lobo, o Álvaro Basto e o Zé Teixeira.


Monte Real > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, o Eduardo Campos (Maia),o Hélder Sousa (Setúbal) e o Silvério Lobo de Matosinhos

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Notas de CV:

Silvério Lobo foi Mec Auto na CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa e Buba, 1971/73

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8489: Parabéns a você (281): Agradecimento/reflexão de Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8492: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (6): A Doença do Sono (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 16 de Abril de 2011:

Caros Luís e Vinhal
Envio em anexo o meu último capítulo da série “Doenças e outros problemas de saúde…”, desta feita tratando-se da Doença do sono.


Recebam um grande abraço extensivo ao nosso querido amigo Magalhães Ribeiro e a outros co-editores e colaboradores do Blogue.

Para toda a Tertúlia também.
Rui Silva

2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã – Olossato – Mansoa 1965/67)

(I) Paludismo (P7012)
(II) Matacanha (P7138)
(III) Formiga “baga-baga” (P7342)
(IV) Abelhas (P7674)
(V) Lepra (P8133)
(VI) Doença do sono

Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:

As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As 2 últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


DOENÇA DO SONO - VI

Era uma das doenças mais faladas, sempre que vinham à conversa as doenças na Guiné, quer ainda em Santa Margarida aonde estivemos algumas semanas antes de embarcar, quer durante a viagem no Niassa. Sabíamos também que era a mosca Tsé-Tsé (mosca já ouvida e falada nos bancos da escola) o portador do parasita que provocava a doença.

Pessoalmente não conheci caso algum na Companhia, mas, já na população indígena deparávamo-nos com situações que nos diziam serem portadores daquela doença. Em Olossato apercebemo-nos de um ou outro caso de nativos, alguns já com alguma idade, sentados às portas das suas moranças, muito magros e de cor amarelecenta e quais múmias, e que, pelo menos, e por si só, indiciavam logo doença grave. Dizia-se então por ali que tinham a Doença do Sono. O aspecto…

Sabíamos também que era a mosca Tsé-Tsé que a provocava e, ao princípio, quando víamos uma mosca poisada na nossa pele, principalmente uma que fosse diferente das conhecidas, ficávamos a temer por tal. A fase de “Periquitos” era de receio em tudo quanto mexesse…

Com o tempo só um crocodilo, e tinha que ser grande, é que nos assustava.

Lembro-me em Bissorã e estávamos ali à meia dúzia de dias (JUN65), uma vez sentir uma picada forte no braço e ao olhar ver uma mosca estranha, comprida, a picar-me. Como era uma mosca de fisionomia diferente das comuns fiquei apreensivo (pensei logo ser a Tsé-Tsé), mas ao ver a malta passar com a bola esqueci logo. Que a mosca deixou uma boa marca lembro-me bem!

A Mosca Tsé-Tsé (Glossina palpalis) causadora da Doença do sono

Mas depressa habituaríamo-nos a ver moscas e outros insectos voadores das mais variadas espécies.

Insectos voadores, terrestres, rastejantes, anfíbeos, passando por aquela formiga grande e avermelhada que numa fase da sua metamorfose ganhava e perdia as asas (eram às milhares à volta de tudo que fizesse luz na escuridão da noite e quando ainda tinham asas), cobras e lagartos e passarada, Santo Deus havia ali de tudo e parecia que tudo estava ali na Guiné.

Quando nos deitávamos no mato e em qualquer sítio e na mais completa escuridão a fazer tempo para o assalto a uma casa-de-mato, que era ao alvorecer, nem nos lembrávamos do que poderia estar por baixo.

A cada passo surgia um novo e estranho ser vivo, para curiosidade da malta, que se juntava logo ao alerta deste ou daquele. Consoante o porte e as características do animal aproximávamo-nos mais ou menos para ver aquele pequeno monstro. Mexia-se virava-se e… logo também aparecia alguém de máquina fotográfica na mão.

Os nativos sabiam como ninguém se o bicho era de brincar ou se era de pormo-nos à “distância regulamentar de nove metros e quinze, como dizia muitas vezes o Sargento Correia, camarada da 816, o do “Mar Eterno” (passava o tempo a cantar isto), já falecido. Paz à sua alma!

Mas o que mais nos atacava, e logo cedo, eram as alergias, bem denunciadas na pele.

Alergias também para todos os gostos: borbulhas, manchas, rosetas maiores ou menores, com ou sem cor e outras erupções cutâneas; era no peito, nos braços, na cara, ou em todo o corpo.

Lá funcionava a maior parte das vezes o Cálcio-Luvistina em forma de pomada e, julgo, para actuação mais rápida, em injectável também, nas veias. Sei que em situações mais agressivas (naquelas que parecíamos um Cristo era-nos dado um injectável nas veias pareceu-me com o mesmo nome daquele medicamento.

Quando vim da primeira vez de férias com os meus amigos, também Furrieis Milicianos da 816, Coutinho, Piedade e Baião, passamos grande parte da véspera do embarque a esfregar as virilhas de uma irritação assanhada que nos fazia andar de pernas abertas. Diziam que aquela vermelhidão, que a muitos poucos poupava, era da água das bolanhas - não raras vezes andávamos nela e com ela bem acima das virilhas. Molha, seca; molha, seca…, havia quem lhe desse o nome de "flor do congo", e via-se por ali muito militar do mato de perna aberta.

Flor do Congo
Certamente que há em Angola muitas e variadas flores, tudo floresce naquela terra tão fértil. Esta foto com três lindos malmequeres foi tomada em 1972 no Luvo, no jardim da Casa do Administrador de Posto.

Mas hoje quero falar de outra flor, a denominada “flor do congo”, uma flor que dura muito, que porventura só os militares conhecem, porque muitos ainda hoje a possuem passados tantos anos desde que a “colheram”.

Aquilo a que os militares chamam “flor do congo” é uma doença de pele (micose) que ataca as virilhas e partes genitais, fruto do suor acumulado por longas caminhadas e dormidas no mato sem possibilidade de tomar banho.

É mais uma das muitas sequelas que muitos carregam para o resto da vida, e então depois comer umas azeitonas ou beber um digestivo é certo e sabido que  a dita clama por  “carícias”.
Mário Mendes
In http://cc3413.wordpress.com/2009/12/07/flor-do-congo/

Aplicávamos então o Astérol em líquido (o 1214 pouco servia) e aquilo ardia que nos fazia saltar, mas a vontade de chegar à metrópole sem aquele incómodo era grande. Daí, cada um saltava para o seu lado.
Foi assim no princípio e pela noite dentro no Hotel Internacional em Bissau onde estávamos alojados.

Voltando à Doença do Sono esta tinha alguma assistência nas chamadas “Missões de Sono”.














Foto da esquerda - Crianças vítimas da doença do sono. Foto extraída de Jornal de Angola, com a devida vénia.
Foto da direita - O gado (principal hospedeiro do parasita) também era vítima da doença. Foto extraída da página BBC Brasil.com.

Soube mais tarde que havia uma Missão em Bissorã que também dava assistência a leprosos e houve militares que recorreram àquela instituição para resolver algum problema sanitário, não soube se por falta episódica do clínico militar na altura, se o problema que o militar enfrentava era do foro daquele estabelecimento.

Selo de S. Tomé e Príncipe emitido em 1966 por altura também que o Clube Militar Naval comemorava 100 anos da sua existência, referindo a erradicação da Doença do Sono naquela também província ultramarina. Na Guiné não terá sido assim…


Doença do sono
(transcrito, com a devida vénia, do site www.medipedia.pt)

CAUSAS
A doença do sono é provocada pelo Trypanosoma brucei gambiense e pelo Trypanosoma brucei rhodesiense, protozoários presentes no organismo de diversos animais mamíferos e de seres humanos parasitados. Estes protozoários desenvolvem parte do seu ciclo biológico no aparelho digestivo das moscas do género Glossina, conhecidas como moscas tsé-tsé, que vivem em habitats húmidos e nos bosques da África tropical, onde a doença do sono é endémica. O contágio ao ser humano efectua-se através das picadas das moscas tsé-tsé, que actuam como vectores dos agentes causadores.

MANIFESTAÇÕES E EVOLUÇÃO
Uma ou duas semanas após o contágio, começa a evidenciar-se uma lesão característica na zona da pele por onde os tripanossomas se inocularam: uma elevação ou pequeno tumor vermelho, muito doloroso, que desaparece espontaneamente ao fim de alguns dias ou semanas. Todavia, na maioria dos casos, esta lesão inicial cutânea acaba por não se manifestar ou até passar despercebida. De qualquer forma, algumas semanas após a produção do contágio, começa a manifestar-se febre, com uma notória subida da temperatura do corpo acompanhada por intensos arrepios e suores que, embora de início se repitam várias vezes ao longo de cada dia, posteriormente adoptam um padrão mais irregular. Uma outra manifestação muito habitual desta fase inicial do problema é a inflamação dos gânglios linfáticos, particularmente evidente nos que se situam na nuca e na região supraclavicular.

Numa segunda fase, normalmente ao fim de alguns meses, evidenciam-se as típicas manifestações neurológicas que designam a doença: alterações no comportamento e personalidade, indiferença face ao que o rodeia, debilidade, tremores, dificuldade em realizar os movimentos mais comuns, como a locomoção, dificuldades na linguagem, alterações de humor, intensa sonolência e letargia. Caso não se proceda ao devido tratamento, os casos mais graves evoluem para um estado de coma, que muitas vezes provoca a morte do paciente por paralisia respiratória.

TRATAMENTO
O tratamento baseia-se na administração de medicamentos activos contra os protozoários responsáveis pela doença e, caso se proceda ao mesmo na fase inicial, consegue-se obter a eliminação dos protozoários em poucos dias, enquanto que nas fases avançadas é necessário uma terapêutica mais prolongada. Para além disso, deve-se igualmente administrar outros medicamentos que aliviem os eventuais sinais e sintomas e, caso seja necessário, deve-se proceder à hospitalização do paciente para prevenir ou tratar as complicações das fases mais avançadas.

PREVENÇÃO
Dado ainda não existir uma vacina eficaz contra a doença do sono, a prevenção consiste na eliminação da mosca tsé-tsé através da fumigação e em evitar as suas picadas através da utilização de mosquiteiras e repelentes ambientais ou de aplicação local. Por outro lado, as pessoas que habitam nas zonas endémicas e as que planeiam viajar para as mesmas devem proceder à administração de medicamentos antiparasitários específicos. Como é óbvio, a prescrição deve ser efectuada por um médico e rigorosamente cumprida, pois caso não o seja, essas pessoas correm o risco de não estarem devidamente protegidas contra um eventual contágio.
Interessante o ciclo Tsé-Tsé-homem, homem Tsé-Tsé, com o parasita pelo meio, e há semelhança do que acontece com o mosquito Anopheles causador do Paludismo, observado na figura seguinte:

Com a devida vénia, figura transcrita do site www.dpd.cdc.gov/dpdx


Depois de tudo isto e como já aconteceu com o Anopheles (o tal que provoca o Paludismo) constata-se que o insecto infecta o homem mas também pode ser o homem a infectar (?) o insecto. Afinal quem infecta quem? Ressalvando, no entanto, alguma ingenuidade no assunto, isto faz-me lembrar a história do ovo e da galinha.

Rui Silva
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8354: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (12): Baile de Fim de Ano na Associação Comercial, mesmo ao lado do Palácio do Governador

Vd. postes da série de:

20 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7012: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (1): Paludismo (Rui Silva)

17 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7138: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (2): Matacanha (Rui Silva)

26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7342: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (3): Formiga baga-baga (Rui Silva)

26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7674: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (4): As abelhas (Rui Silva)

19 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8133: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (5): A lepra (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P8491: Os nossos médicos (31): HM241: Pessoal médico do meu tempo por especialidades (J. Pardete Ferreira)

A. Segunda parte da mensagem, enviada em 30 de Junho, pelo J. Pardete Ferreira [, foto à direita]:




(...) 2 - Esta penso ser mais para o António Paiva (*):


[ Lista dos médicos em serviço no HM241, no meu tempo]


Dr. Diaz Gonçalves - Cirurgião e Chefe de equipa


Foi substituir o Tim-Tim e que foi substituído pelo Bruges e Saavedra (excepto quando veio fazer um estágio de Neurocirurgtia e foi substituído pelo Leite Barata que, não querendo ficar em Bissau, foi enviado para Mueda!).


Outros elementos da equipa [de cirurgia]:


Dr. Ruy Branco;
Dr. Saavedra Machado;
Dr.Cavadinha Gomes, já falacido e cirurgião vascular:
Dr. Ventura, virada para as Oortopedias;
D.Trigo de Sousa (grande jogador de cartas, interessado pela Ortopedia, hoje Psiquiatra em Évora e Médico de Sporting de Braga quando este Clube ganhou a taça de Portugal);
Dr Diamantino Lopes (de que já falei e que não tem nada a ver com o Prof. Diamantino Lopes, que tinha consultório em Benfica e um dos meus "Patrões" no Hospital de Santa Maria):
Dr. Malheiro (o último médico a ir a Madina do Boé).


3 - Dr. Moreira de Figueiredo - Chefe do Serviço de Saúde Militar:


Grande amador de ostras, possuindo uma luva própria para não se cortar com a faca especial para abrir as ostra. Ia à Estomatologia. 


Foi substituído pelo Ortopedista Dr. Biscaia da Silva na Chefia do Serviço, tendo-lhe deixado por herança o seu motorista Setúbal, com as suas sete filhas mestiças e que morava na tabanca. Hoje, mora em Setúbal e vejo-o de quando em vez.


4 - Pela Cirurgia, passaram ainda:


o Santos Bessa que foi para o Hospital de Gaia;
o Carrilho, o Rei de Barcelos e do Golfe;
eu, o José Pardete Ferreira ou só José Pardete;
o João Dória e o Neves Fernandes (estes dois  vieram à Metrópole fazer um estágio de Nefrologia);
o [Joaquim] Vidal Saraiva
e, se calhar, ainda me faltam alguns!


5 - Na Ortopedia: o falecido Dr. Carlos Ribeiro, o Dr. Araújo, o Dr. Barreira, o Dr. Azevedo Franco.




6 - Outras Especialidades:


Dr. Martins Fernandes, ORL (falecido de Leucémia),
Dr. Clemente, ORL;
Dr. Botelho de Melo, Oftalmologia;
Dr. Felino de Almeida (Director do Hospital e Dermatologista, tendo, naquela função sido substituído pelo Dr. Pedro Refóios).


7 - Mendes Ferrão, Dermatologista, já falecido;
Vieira Alves e Malícia, já falecidos, Estomatologistas,
Arlindo Baptista e Esteves Franco, em sucessão no Serviço de sangue;
Dr. José Bicó, no Laboratório;
Nascimento e Maurício, na Radiologia;
Antero, na Oftalmologia e na Estomatologia:
Couto, da Marinha, na Estomatologia.
Isolino na Anestesia


8 - Castro, [David] Payne e Milimori,  na Psiquiatria


9 - Outros de passagem ocasional no Hospital.


10 - Outros Médicos: 


Maymone Martins, Guveia e Melo, Chaves Ferreira Maximiliano, Pereira Alves, Madureira, Entrudo, Pina, Vitor Ribeiro, Horta e Costa, etc.


Garanto que apenas fiz um esforço de memória, é uma e meia da manhã, peço desculpa aquele que esqueci e, seguramente, não foram poucos.


Bou-me deitar.


Boa noite, camarigos


J. Pardete Ferreira
_________________


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)


(**) Lista do pessoal de BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)


JOAQUIM VIDAL SARAIVA, Dr. 
(ex-Alf Mil Médico, CCS do BCAÇ 2852)
Esplanada Fernando Ermida, 128
4405-335 S.FÉLIX DA MARINHA
Telef 227810206 / 227624167



(***) Último poste da série > 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8487: Os nossos médicos (30): Quase cinco meses no CAOP, Teixeira Pinto, (Fevereiro / Junho de 1969), antes de ir para o HM241 (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8490: Agenda Cultural (140): Inauguração da exposição: Cartas de Amor e Saudade, de Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais, dia 1 de Julho de 2011, às 21,30h (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
Há uns largos sábados atrás, encontrei o Manuel Botelho na Feira da Ladra, estava exuberante, tinha acabado de adquirir uma chusma de aerogramas, correspondência de um militar lá para as bandas do Cacheu e a sua namorada. Foi assim que nasceu este projecto “Cartas de Amor e Saudade”.
Na justa medida em que é um dos raríssimos artistas plásticos de primeira água que trata da Guiné com o desvelo comprovado, sinto-me no dever de pedir a quem viva na órbita de Cascais que vá visitar estas cartas transfiguradas em arte.


Um abraço do
Mário


Manuel Botelho: CARTAS DE AMOR E SAUDADE / LETTERS OF LOVE AND LONGING

Centro Cultural de Cascais, 1 de Julho (6ª feira)

21:30h - Inauguração da exposição
22:00h - Leitura ao vivo por Inês Lapa Lopes e Francisco Martins


Centro Cultural de Cascais
Avenida Rei Humberto II de Itália, Cascais
tel. 214 848 900/3 



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8488: Agenda Cultural (139): 115.º Jantar de Amizade UNICEPE, dia 1 de Julho de 2011, com apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973), do guineense Julião Soares Sousa + mais fado de Coimbra

Guiné 63/74 - P8489: Parabéns a você (281): Agradecimento/reflexão de Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66)








Duas fotos do álbum fotográfico do Santos Oliveira de que publicámos 7 postes...


Fotos: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.


1. Comentário/agradecimento/reflexão deixado por Santos Oliveira (ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66) no seu poste de aniversário*:

Caros Amigos

Creio poder ser este o melhor tratamento para todos quantos desejaram que o meu Aniversário (variável conforme a hora, segundo iam informando) fosse muito feliz.

E Foi! E é! Qualquer de nós sabe que com a idade o Vinho do Porto melhora;
Com a idade, as uvas enrugam-se e tornam-se mais doces;
Com a idade ou somos comedidos e ou dizemos e fazemos disparates.

Acreditem que Vos acompanho (na sombra) e não deixo os Amigos desamparados. Vós sois os meus Amigos e, só por isso, quebro um princípio que me estabeleci: o de estar sozinho, no silêncio, a pensar, sentado debaixo do meu Poilão pessoal.

As coisas que se passaram, passaram, mas deixaram a marca do sumo da castanha de caju crua; é cicatriz que não mais se apaga da carne.

A amizade não se paga mas agradece-se. Eu Vos estou grato, muito grato.

Aproveito esta forma "deselegante" (já que de aniversário se tratava) para "botar faladura":

Desejo que todos e qualquer um, sem distinção de qualquer ordem, se dêem as mãos e saibam recordar a Disciplina de ser Corpo, Unidade, Equipa, seguindo as directivas que foram traçadas no início e, sem ambiguidades, se disponham a "alinhar" o que começou a "desalinhar" desde que a GUINÉ e a Guerra, em que estivemos empenhados, se secundarizou no Blogue.

Relatos da Guerra, vou-os ouvindo aqui e ali; mas não os vejo escritos e documentados. Quer isto dizer que ainda há muito a contar para que se faça História, a verdadeira, a contada na primeira pessoa. Se a descredibilização continua, nada mais, de grande valia, irá aparecer. Quem tem motivos e factos pessoais vividos na Guerra, se auto exclui, acanha e sente humilhação no que são factos reais.

Acontece, algumas vezes, visitar, anonimamente, a Tabanca e fico muito penalizado. Dói-me que um Projecto desta índole se tenha degradado, ou foram as gentes quem degenerou?

Perdoem-me a Reflexão.

Quem tem que decidir, não hesite.
Quem está com o Projecto, se afirme.
Quem está para fazer número, se vá em Paz.
Algumas vezes, Amigos, o silêncio é de ouro; outras vezes, é atroador.

Mais uma vez vos agradeço o que livremente escreveram e, acredito piamente, que o sentiram.

Gostaria Homenagear o, ausente, Mário Fitas, pelas razões que conhecem; eu passei por isto duas vezes e desejo que o Mário se recupere depressa. Perdoai este aparte sentimental.

A todos, o meu abraço mais apertado,
Santos Oliveira
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Notas do Editor:

(*) Vd. poste de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8486: Parabéns a você (280): Manuel Maia, o nosso bardo

Guiné 63/74 - P8488: Agenda Cultural (139): 115.º Jantar de Amizade UNICEPE, dia 1 de Julho de 2011, com apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973), do guineense Julião Soares Sousa + mais fado de Coimbra


O grupo de fado de Coimbra Cantus do Rio (Imagem, reproduzida com a devida vénia, do sitio da Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL)

1. Mensagem recebida há poucos minutos no nosso Blogue:


Caro Luís Graça:

Eu tinha pedido ao nosso comum amigo Vítor Junqueira para providenciar a colocação da notícia que segue abaixo mas, pelos vistos, ele estará ausente e não tratou do caso.
Embora em cima da hora, ainda pode colocar?


Cordiais cumprimentos,
Rui Vaz Pinto

Presidente da Direcção
UNICEPE - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL
Praça de Carlos Alberto, 128-A
4050-159 PORTO
Telefone (351) 222 056 660
Unicepe@net.novis.pt
http://www.unicepe.com/




115º Jantar de Amizade UNICEPE
Sexta-feira, 1 de julho de 2011, 19h45m


- “Amílcar Cabral (1924-1973) - Vida e morte de um revolucionário africano”, livro do Professor Doutor Julião Soares Sousa  (resultado de uma longa investigação para o doutoramento concluído na Universidade de Coimbra) (i) será apresentado pelo Professor Doutor Armando Teixeira Carneiro, Director do ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, de Aveiro.


- Momento musical pelo grupo CANTUS DO RIO (ii). 30 a 40 minutos com a guitarra portuguesa (Luís Marques), guitarra clássica (Paulo Larguesa) e uma voz (António Dinis).

- Ementa: Água, sopa de legumes, bacalhau com espinafres, vinho maduro tinto Dão Quinta de Roriz, semi-frio de maracujá, café, vinho do Porto Poças. Preço: 15,00 €


- Inscrições para unicepe@net.novis.pt ou telef 22 205 66 60


Traz outro amigo também! (Após o jantar, cerca das 21h30, entrada livre)


(i) Julião Soares Sousa

É atural de Bula (República  Guiné-Bissau). Filho de Soares Sousa e de Amélia Mendonça, licenciou-se em História pela Universidade de Coimbra em 1991. Concluiu o Mestrado em 1996, com a classificação máxima de MUITO BOM, e doutoramento na mesma Universidade em 2008, com Distinção e Louvor por unanimidade. É o primeiro guineense Mestre e Doutorado pela Universidade de Coimbra.


É Investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e Professor Convidado no Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (Aveiro), onde lecciona a cadeira Cultura e Conflito, do Mestrado em Segurança Defesa e Resolução de Conflitos e da Pós-Graduação em Criminologia.


Tem proferido várias conferências em Portugal e no estrangeiro (Brasil, Dinamarca, França, Hungria, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau.

(ii) Cantus do Rio

Éum projeto musical desenvolvido em Coimbra desde Abril de 2011. É constituído por António Dinis (voz), Luís Marques (guitarrra portuguesa) e Paulo Larguesa (guitarra clássica). Faz apresentações públicas ou privadas, de sessões musicais ligadas ao universo do fado de Coimbra isto é, do canto e das guitarras.


António Dinis foi também fundador do Grupo de Fados e Guitarradas de Coimbra Verdes Anos . Já actuou no 43º aniversário da UNICEPE (http://www.verdesanos.com/index.html )


Paulo Larguesa também já actuou no 98º Jantar de Amizade (http://unicepe.com/jantares/jantares/98_jantar/98_jantar.html ) e no 46º aniversário (http://unicepe.com/jantares/jantares/46_aniversario/46_anos.html )
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Nota do Editor

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8465: Agenda Cultural (138): 16.º Aniversário da AORN, Comemorações e apresentação do Anuário da Reserva Naval, 1976-1992

Guiné 63/74 - P8487: Os nossos médicos (30): Quase cinco meses no CAOP, Teixeira Pinto, (Fevereiro / Junho de 1969), antes de ir para o HM241 (J. Pardete Ferreira)


Foto: © J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.



A. Primeira parte de uma mensagem do nosso camarigo J. Pardete Ferreira (cujo BI Militar se reproduz acima, emitido pelo QG Bissau, com data de 24 de Junho de 1969, e assinado pelo Director do HM241, Major Médico Felino de Almeida, recentemente falecido)

Data: 30 de Junho de 2011 01:28


Assunto: Médicos do HM241 e outros


Caros camarigos,


Se me permitem, vou tentar seguir uma ordem aproximadamente lógica.

1 - Caro Bino, finalmente esclareceste a história dos 15 dias (*)... mas vens logo moer-me o juízo: mas eu não me furto ao exame, fui para lá [, CAOP, Teixeira Pinto,] de helicóptero, [, no princípio do mês de Fevereiro de 1969].



Da pista levaram-me aos tombos em cima de um Daimler e, por fim, distribuiram-me um quarto cuja janela tinha sido feita por uma munição de canhão sem recuo, num dia em que chegaram ao arame farpado.


Vi o Coronel Neto e o Major Amaral fazerem um bombardeamento nocturno à Caboiana mas, para azar meu, o pescador felupe tinha-se fartado de trabalhar e lá fiquei eu sem camarões do rio.


Havia duas CCaç, uma de açoreanos e outra de madeirences, que tinham um rivalidade terrível.


Mandei evacuar para o HM241 um Cabo Enfermeiro, o que espantou toda a gente porque era o mais operacional. Detectei-lhe um sopro cardíado. Depois do HM241, veio para o HMP. Foi à junta [médica] e, na consequência, para a peluda! Pelo menos,  fiz uma boa obra. (...)
_______________



Notas do editor:


(*) Vd. comentários do Albino da Silva ao poste de 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8474: Tabanca Grande (292): José Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)


(**) Último poste da série >  29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)

Guiné 63/74 - P8486: Parabéns a você (280): Manuel Maia, o nosso bardo (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

DIA 30 DE JUNHO DE 2011

MANUEL MAIA


1. Com um abraço de parabéns do nosso camarada Miguel Pessoa:


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2. Para o Manuel Maia com toda a admiração e amizade.


Um dia muito feliz junto dos teus familiares e amigos e que ele se repita por muitos e muitos anos.
Um abraço
Juvenal Amado




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3. Da nossa amiga tertuliana Felismina Costa:


Meu caro amigo Manuel Maia!
É um prazer cumprimentá-lo ao completar mais um Aniversário Natalício, neste dia 30 de Junho de 2011.


Desejo que a vida lhe sorria sempre e o inspire, para continuar a cantá-la em verso ou em prosa, mas… cantá-la, porque… quando a cantamos, não só “espantamos o mal”, como participamos no seu colorido, e é por isso, que eu não deixo de a cantar!


Permita-me que transcreva uma pequeníssima…


Homenagem


Enquanto o Sol brilhar
E a água correr, 
O vento soprar
E a lua aparecer;
Enquanto eu ouvir
Os homens falar
E ver as aves voar,
Livres e belas,
Eu vou pendurar…
Colchas nas janelas!..


Felismina Costa
Outono de 2007


Permita-me, um abraço fraterno.
Felismina


************


4. Do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:


Para o Manuel Maia


Hoje faz anos o nosso bardo
Para quem rimar não é um fardo
Mas antes um respirar, um viver…
Como a onda morre na praia,
Vive na rima o Manuel Maia,
Pois a rima é o seu ser…


Enquanto farto bigode vai cofiando,
As palavras vão saindo, vão rimando,
Tudo transformando em poesia…
E do pensamento ao papel,
É um só instante para o Manel
A quem o engenho e arte alumia…


Na folha branca já se vê o traço,
Que eu envolvo num abraço
A rima também tentando…
Parabéns, Manel amigo,
A poesia é contigo,
Da lei da morte te libertando…


30 de Junho de 2011
Joaquim Mexia Alves


5. Do nosso editor Luís Graça:


 O Manuel Maia é um membro activo do nosso blogue, quer como autor quer como comentador... É, como eu costumo, dizer, um "contribuinte líquido" do nosso blogue: lê, visita, comenta, alimenta, produz, consome, exporta, importa... É, além disso, um dos nossos grandes poetas.  Bardo do Cantanhez, lhe chamei eu. Também talentoso, direi mesmo genial,  autor de uma História de Portugal em Sextilhas... É igualmente  um façanhudo e temível polemista em verso, metendo-se facilmente ao barulho com aqueles por quem tem um ódio de estimação... (Esta faceta é a que eu menos aprecio, deixa-me ser sincero contigo, Manel!, embora reconheça que, em verso,  lutando contra quixotescos moinhos de vento e marés, às vezes agigantas-te qual Guerra Junqueira contra os bretões!... Em todo o caso, concordas facilmente comigo que este não é espaço ideal para a gente travar duelos de morte, e  muito menos fraticidas )...  


Tem, o nosso Manuel Maia,  cerca de 90 referências no nosso blogue... Nestes últimos tempos (há um mês e tal) ele  não tem dado notícias... O que para meninos como nós, já membros do Clube dos SEXA, é sempre de ficar com a orelha atrás da porta: (i) Será que o gajo anda desenfiado ?, (ii) Pirou de vez ?; (iii) Passou-se para (ou foi rapatdo por) o IN ?; (iv) Morreu de morte matada ?; (v) Anda apanhado do clima ?... Mil e uma dúvidas nos assaltam quando não temos notícias dos nossos camarigos...


No caso do Manel, eu só espero que ele esteja bem, pelo menos de saúde (física, mental, psicológica, sexual, poética, económica, financeira, espiritual...). E, especialmente hoje, que é o seu dia, a gente deseja (e mais: exige) que ele esteja em grande forma! Na forma, em grande forma, devidamente ataviado e fardado como manda a p... da sapatilha!

Hoje, o nosso querido camarada faz anos. Alguns amigos e camaradas que lhe são mais chegados (ou que estavam mais atentos e disponíveis) quiseram fazer-lhe antecipadamente  uma pequena surpresa, escrevendo-lhe duas palavrinhas bonitas, ou postando-lhe um "cartanito" (caso do Miguel, que não faz fretes a ninguém, a não ser aos "camarigos e conhecidos"),  para celebrar este dia de glória.  O meu muito obrigado a todos. Para o Manel, o nosso bardo, e para o resto do tabancal, muita saúde e longa vida!!!
  
 PS - O Manuel Maia está connosco desde Fevereiro de 2009... (Em termos poético-paleontológicos, diríamos que é já um dinossauro, do nosso blogue... Em todo o caso, em termos de cronobiologia, é um dinossauro júnior... Oxalá chegue à idade do Jurássico Superior, qualquer coisa como 150 milhões de... anitos!).
__________


Notas do Editor:


Manuel Maia foi Fur Mil na 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74


Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 – P8484: Parabéns a você (279): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8485: Os nossos médicos (29): O arraial minhoto do Alf Mil Med Pinheiro Azevedo no Xitole, em 4 de Abril de 1972 (Joaquim Mexia Alves, CART 3492 / BART 3873, 1971/74)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 3942 / BART 3873 (1971/73)  > Empenagens de granadas de canhão sem recuo, recuperadas depois da primeira flagelação ao Xitole em 04.04.1972. Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.

Foto: © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados





Viseu> 15 de Junho de 2007> Encontro do BART 3873 ( Bambadinca 71/74)> Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Casimiro Barata, António Silva, Álvaro Basto, António Barroso; Silva, Eduardinho, Lima Rodrigues, António  Azevedo (assinalado com rectângulo a amarelo); Maçães, Mourão, Ceia, Artur Soares e Carlos Nunes.

Foto (e legenda) : © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, aproveitando  este pequeno e feliz macaréu que foi a chegada, à nossa Tabanca Grande, mais um camarada doutor, o ex-Alf Mil Med José Pardete Ferreira (*):

De: Joaquim Alves [joquim.alves@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 29 de Junho de 2011 11:07
 Assunto: Falando de médicos


Meus caros editores: Como estamos a falar de médicos (*), envio-vos uma pequena história, que não sei se já contei aqui na Tabanca Grande.


O António Azevedo, não me leva a mal, tenho a certeza, por eu contar esta história, que foi ele próprio que a contou. O António Azevedo, médico, que o foi durante uns meses no Xitole, é uma pessoa excelente, que deixou saudades em todos nós e,  por isso mesmo, é um amigo que todos muito prezamos.


A história conta algo que, se calhar, alguns de nós vivemos assim mais ou menos parecida!


Lembro-me, como já uma vez contei aqui na Tabanca Grande, que no primeiro ataque na Ponte dos Fulas, salvo o erro, o meu pensamento ser qualquer coisa como:
- Aqueles gajos são doidos! Ainda matam alguém a disparar para aqui!


Enfim, a noção de guerra ainda era um "sonho"!


A fotografia [, acima,] mostra empenagens de granadas de canhão sem recuo, julgo que recolhidas no quartel do Xitole após a flagelação de 4 de Abril de 1972. Ao fundo, a chamada vala da "messe de oficiais", da qual se vê uma ponta do alpendre de entrada.


Um abraço bem camarigo e sorridente do
Joaquim Mexia Alves


2. Onde é o arraial ???
por Joaquim Mexia Alves


Num almoço que a CART 3492 teve em Monte Real, há dois anos, talvez, o António Azevedo, nosso médico, (que deixou saudades) (**), durante uns tempos no Xitole, contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.

Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais, e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo,  nas festas ou coisa parecida.

Conta ainda que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima!

Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala,  ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!

Se fosse hoje, com o meu peso,... esmagava-o!!!!


____________


Notas do editor:


(**) De seu nome completo, António Alfredo Viana Pinheiro Azevedo, natural do Porto, ou a viver e a trabalhar no Porto,  neurologista do Hospital Stº  António. É conhecido profissionalmente pelo apelido de família, Pinheiro Azevedo. 


A informação é do Álvaro Basto, que foi Fur Mil Enf da CART 3942 (Xitole).  No nosso blogue também aparece como António Alfredo Azevedo ou Alfredo Pinheiro Azevedo:


17 de Abril de 2009  > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

(...) Ora, esta alegada constatação do Álvaro Basto, cuja presença no Saltinho, bem como a do Alf Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, me passou despercebida no meio daquela verdadeira barafunda – pelo menos, não me lembro de os ter visto -, leva (ou pode levar) os leitores a concluírem que nenhum dos mortos terá sido identificado e os familiares a interrogarem-se mesmo sobre a realidade (o quê ou quem?) escondida naquelas urnas seladas, chumbadas, que um dia lhes remeteram para casa. (...)


(...)  P1985 (22/07/2007: “… O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, a fim de passarem as respectivas certidões de óbito. O Dr Azevedo, apesar da insistência do Lourenço (capitão da CCaç 3490) recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados…”.(...)


(...) Não corresponde, pois, à realidade a ideia de que não terá sido possível a identificação dos corpos, conforme poderia inferir-se do teor do P4117. Na verdade, o Fur Álvaro Basto e o Alf Médico Alfredo Azevedo poderão não o ter conseguido fazer (e, se calhar, é justamente isso que o Álvaro pretende dizer), justificando-se perfeitamente a eventual recusa de emissão das certidões de óbito (não conhecendo pessoalmente as vítimas e perante corpos tão maltratados, mais não se lhes poderia exigir, mesmo disponibilizando-lhes os documentos de identificação, com foto, da totalidade das vítimas). Mas, outros puderam fazê-lo com segurança: traços fisionómicos e/ou outros característicos permitiram, felizmente, esse reconhecimento, pelo que não havia razões para inventar nada, como terá sido o caso em situações análogas (constava, não sei se de facto existiram) verificadas nos três teatros de operações. De qualquer modo, acredito que, na Guiné, durante o consulado de António de Spínola, isso seria absolutamente desaconselhável de tentar, dado o pendor patriarcal do General e a sua reputação de Comandante-Chefe implacável para com os incompetentes e irresponsáveis. (...).








(...) [Comentário a este poste] Mensagem do Álvaro Basto, nosso prezado camarada, que é trambém um dos animadores da Tabanca de Matosinhos, e que foi Fur Mil Enf, na CART 3492 (Xitole e Ponte dos Fulas, 1971/74)















Luis: Excelente texto, este do Mário Miguéis a quem na passada quarta-feira tive o prazer de conhecer pessoalmente embora não o relacionando nem de perto nem de longe com este assunto. O esforço pela síntese da verdade na amálgama de tanta informação, alguma até contraditória, é merecedora do nosso mais vivo respeito e daqui quero expressar-lhe desde já os meus parabéns.















Muito do que tenho procurado transmitir tem sido ventilado com o Dr. Pinheiro Azevedo com quem continuo a ter excelentes relações e que por diversas vezes tenho tentado trazer à liça com as suas informações obviamente credíveis e esclarecedoras.















Adianto que irei uma vez mais insistir para que, também ele, dê o seu contributo esclarecendo e confirmando alguns dos aspectos mais relevantes desta tragédia especialmente no que concerne à identificação dos corpos. 















O horror dessa tarefa teve em mim duas acções contraditórias no tempo, por um lado nunca mais esqueci as suas imagens mais gerais e por outro (se calhar ditado pelo meu inconsciente), o de ter esquecido muitos dos pormenores.















Ficou-me com especial nitidez a imagem do [Alf] Armandino que jazia inanimado em cima de um unimog e os corpos mutilados e carbonizados nas casas de banho. Recordo-me da dificuldade que reinava em reconhecer muitos deles. Recordo-me que dois deles estavam especialmente mal tratados e que não haveria concenso quanto a saber-se quem era quem. Acho que o Dr. Alfredo Pinheiro Azevedo se recusou mesmo a assinar as respectivas certidões de óbito desses dois tendo-me contado que, mais tarde, em Bissau de partida para férias, foi confrontado com a insistência do Capitão Lourenço e tanto quanto sei do primeiro sargento da companhia que queriam.... arrumar aquela papelada... tendo-se no entanto este mantido firme e não tendo assinado... 















Mas para evitar mais especulações estou a mandar cópia deste mail ao Dr. Alfredo Viana Pinheiro Azevedo com um pedido solene aqui expresso de se pronunciar.... Esperemos que ele se decida a faze-lo depois de ler a síntese do Miguéis no Post 4194 e no Post 4200.Um grande Alfa Bravo. Álvaro Basto (...)







  

Em 2008, o Dr. Pinheiro Azevedo estava também registado como investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto (UP)


Fica uma dúvida:


 (i) o Joaquim Mexia Alves diz que ele, Dr. António   Azevedo, ou Pinheiro Azevedo [, foto da época, à esquerda], pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), que tinha companhias sediadas em Xitole (CART 3492), Mansambo (CART 3493) e Xime (CART 3494); 


(ii) o Álvaro Basto garante-me que o médico em causa (Dr. Pinheiro Azevedo) pertencia ao BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74), com companhias em Cancolim (CCAÇ 3489), Saltinho (CCAÇ 3490) e Dulombi e Galomaro (CCAÇ 3491)...



22 de Julho de 2007  > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

(...) O Álvaro Basto tem uma questão pertinente. No dia da emboscada, ele e o Alf Mil Médico Azevedo [, foto actual à direita], que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, afim de passarem as respectivas Certidões de Óbito. O Dr Azevedo, apesar das insistências do Lourenço [, capitão da CCAÇ 3490], recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados.

Pergunta o Álvaro e agora também eu [, Paulo Santiago,] pergunto :
- Quem assinou as ditas certidões? (...)