sábado, 8 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7574: Portugalidade(s) (3): Salut le copain Vasco!...

1. Do nosso  Vasco, o capitão de Buarcos e do Cumbijã (só houve um, o Vasco da Gama), uma mensagem com data de  6 do corrente:  




Queridos Camarigos, em comentário ao P7512 (*) da autoria do Camarigo António Graça de Abreu, o nosso Comandante solicitou-me a tradução de uma citação nele expressa de Henri Cordier, que se notabilizou em estudos relativos ao Extremo Oriente, citação essa  intitulada de Lusitana, incluída no seu livro Histoire de la Chine.


O pedido chegou-me também via mail.


Apesar de estar doente com uma forte gripe, havia-me levantado por acaso, farto de cama , e de imediato, de imediato repito, procedi à sua tradução e ao respectivo envio no próprio dia.


Como não tivesse eco algum, voltei uma vez mais a enviar desta feita julgo que também para o C.V.


Eventualmente pelo rebuliço do Natal as coisas terão desaparecido, mas como o pedido havia sido público e reiterado em privado, alguém poderá pensar que o copain Vasco não aceitou ou não se lembrou ou não cumpriu com a sua obrigação de Tabanqueiro.


Apenas esta pequena explicação que vou estender ao poeta e camarigo Graça de Abreu, pedindo-lhe até que me envie o seu livro à cobrança ou que me indique onde adquri-lo. Cravar-lhe-ei, se ele estiver para isso, uma dedicatória.


Um abraço amigo para todos,


Vasco da Gama


2. A prova (provada) de que o nosso Vasco (o da Gama, pois claro, o nosso copain de Buarcos e do Cumbijã) ainda está em grande forma (leia-se: em estado de prontidão permanente, quer faça sol, quer faça chuva) aqui está, a seguir... Infelizmente o almirante do Grupo do Cavadal não pôde vir ao lançamento do livro do Zé Brás, presumivelmente por que continua a ter a  caravela na doca seca... Em qualquer dos casos, aqui fica o meu público reconhecimento pela sua generosidade, disponibilidade e camarigagem   (LG):




Grande Comandante e Camarigo, deitei-me às sete da tarde [ de hoje, 29 de Dezembro de 2010] com dois comprimidos no bucho para ver se a gripe se vai. Doi-me o corpo e levantei-me e claro está, Blogue com ele. Em boa hora o fiz.
 
   (i) Buarcos, vamos combinar para quando quiseres. A minha casa está à tua disposição e da Alice. Há também lugar para os filhos mas esses, não estão para nos aturar... Se tudo correr pelo melhor e se conseguir companhia irei à apresentação do livro do Zé Brás, onde falaremos.
 
  (ii) Tradução ( é mais difícil do que parece)
 
                                   LUSITANA

No extremo sudoeste da Europa, à beira do
imenso oceano que viria a tornar-se o campo das suas lutas
e o teatro das suas vitórias, um pequeno povo aguardava,
e, repentinamente iluminado por um raio de glória, alimentava o fogo
sagrado que parecia extinto no resto do mundo, (...)
Refiro-me a Portugal e Camões
 
Henri Cordier, História Geral da China, 1920 (*)
 
Et voilá... Sempre ao dispor, volto para o choco.
 
Um abraço camarigo

Vasco

______________

Nota de L.G.: 

Guiné 63/74 - P7573: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (38): Teixeira Pinto - movimentações militares e dores de cabeça

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 20 de Novembro de 2010:

Amigo Carlos
Espero que estejas já completamente restabelecido.

Envio-te mais um pouco de “Viagem…” que complementa a narrativa de uma situação vivida e não esquecida, mas com data certa perdida. Talvez o Jorge Picado ou algum outro possa ter memórias destas movimentações.

Como sempre, fica ao teu critério a análise e decisão do interesse que possa ter, para publicação.

Um grande abraço para ti e outro para todos os “Atabancados”, com votos verdadeiros de saúde e independência, neste sombrio e imprevisível 2011

Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (38)

Teixeira Pinto – movimentações militares e dores de cabeça

Passados os momentos críticos e comunicado por rádio ao Comando o que se passara (Poste 7429), há que pôr rapidamente o mini GCOMB em marcha dentro do possível acelerada, numa tentativa que se veio a revelar vã, de intercepção do grupo armado. Ao mesmo tempo, o estar fora de zona martelava-me a cabeça fazendo-me pensar não tanto na eventual ”porrada” mas, isso sim, na situação perigosa em que ficaríamos se o Comando resolvesse bater zona ou o mais provável, enviar tropa para intercepção.

Assim resolvi que caminhássemos controlando o tempo, mas o mais rápido possível na noite, para NW em direcção à estrada que de certeza não seria batida, ao mesmo tempo que, quando solicitado, íamos informando o Comando da nossa posição (pelo mapa) como se estivéssemos a fazer o percurso para Sul, em direcção a Teixeira Pinto. Deste modo iria haver um ponto em que as trajectórias fictícia e real coincidiriam e aí… estaria safo e podíamos “passar a ser visíveis”!!

O Pessoal sente que o cutelo está no ar sobre o meu pescoço e segue a mínima instrução dada, confiando cegamente ! Maravilha de Rapazes! De pistola na mão continuo guiando a Rapaziada na noite , entretanto um pouco amainada de chuva, rumo ao ponto escolhido.

Estávamos nestas andanças e já muito próximos da estrada, quando se avistam “luzes andantes” encimadas por o que me pareceram focos intensos que rasgavam a noite, vindas na nossa direcção e se começa a ouvir barulho de motores. Continuávamos fora de zona pelo que, se detectados poderíamos ser considerados IN. As luzes continuam a sua aproximação acompanhadas, já em simultâneo, pelo ronco motorizado.

Encontramo-nos a umas poucas dezenas de metros da estrada, em terrenos com vegetação rasteira, com um pequeno grupo de cajueiros(?) a uns metros de nós. Corremos para eles e colamo-nos ao chão mascarando-nos o melhor possível, ficando estáticos. A chuva ajudava. Só por muito pouca sorte seríamos detectados. Minutos depois desfilam “Daimllers” e Unimogs pela fita da estrada, com os focos varrendo a escuridão e passando por nós sem se aperceberem da nossa presença, como fora previsível .

Perdidas de vista as luzes e antes que a coluna regressasse, continuou-se o avanço prudente até que achei que era hora de informar da nossa posição real e de informar do regresso à base.

Graças a Deus tudo tinha corrido bem até ali. Para a frente… logo se veria!

A pequena “bicha de pirilau” espaçada e mal armada, começa a entrar na povoação. De súbito e chamando-me, surge- me o Castro que me traz a G3 e cartucheiras e que começa a infiltrar Rapazes e armas na fila, sem que houvesse paragem e sem explicações desnecessárias. Era óbvio que algo se passava! Ao meter a Walther no coldre… não o encontro! Mais outra porra a resolver! A arma vai para o bolso interior do camuflado onde tantas vezes andara já!

Fiquei satisfeito com a atitude, com a camaradagem e apreço demonstrados pelo Pessoal. O andamento prossegue, agora já não de uma dúzia de “veraneantes” mas de um grupo fortemente armado, o que me iria “salvar” das eventuais consequências de ter saído naquelas (sem) condições, de que só eu era responsável. Tinha sido essa a intenção do Castro e do Pessoal, ao que sei. Como ele sabia por onde íamos passar… já não sei, nem ele recorda.

Passada a porta de armas e na parada, o Grupo forma e apresenta-se, à nossa maneira, ao Cap. Branco, que a reporta ao Comandante do CAOP, Cor Durão. Manga de pessoal era observador!

Com olhar penetrante e expressão cerrada perscruta o Grupo e encarando-me de frente, o que me fez ficar apreensivo e tenso, diz-me irritado,alto e bom som mais ou menos “com um grupo destes e assim armado, deixas escapar uma dúzia de gajos? Mereces é que te dê umas estaladas …”

Aguentei firme o olhar, a mão ferrou-se com força na G3 e enquanto um turbilhão de sentimentos se me passou num “flash”, ouço o Cap. Branco retorquir calmamente em minha defesa algo muito próximo de “…meu Comandante, se houver lugar a castigo, quem castiga os meus Homens sou eu…”!!

Ah, Homem de tomates este meu Capitão Branco!

Destroçada a formatura, dirijo-me ao Capitão e sem lhe contar o que se passara, digo-lhe…” na mesma situação, se fosse o Capitão a comandar teria de certeza feito o mesmo!” ao que anuiu e retorquiu que ficasse descansado. Achei uma prova de confiança. Era um Homem Militar batido, inteligente e esperto. Nunca me perguntou ou indagou rigorosamente nada! Ter-lhe-ia contado, sem qualquer problema, como tudo se passara.

Peço aos Rapazes para não se pronunciarem sobre o que se passou e recolho-me aos aposentos para descansar umas horas. Logo ao alvorecer teria que ir tentar encontrar o coldre da pistola, antes que qualquer elemento da população desse com ele e o fosse entregar ao Comando. Seria a estória do “gato escondido com o rabo de fora”! Julgava saber onde o encontrar e ao alvorecer dirijo-me numa viatura à zona dos cajueiros e… lá estava !

Toda esta estória que pôs o Quartel em polvorosa - despoletada por um grupo IN armado que afinal roubou gado e creio que raptou alguém em Teixeira Pinto ou nas proximidades (já não recordo) - teria acabado por ali, não fossem as bocas enviesadas do género “há gajos valentes…” , os olhares de soslaio… o sair de ao lado, no bar… enfim uma série de manifestações, umas reais outras talvez na minha interpretação, que a meu ver não abonavam alguns Especiais, mas que eu justificava por me terem visto regressar com um GRUPO fortemente armado que tinha evitado o confronto com uma mão cheia de “gajos” e claro, estávamos no seio de Tropa Especial! É verdade que estas atitudes criaram alguns atritos pessoais durante um ou dois dias, mas o mais difícil foi sentir a consciência tranquila e não poder esclarecer a verdade.

Os dias recomeçaram a passar com normalidade e sem mais conflitos, levando-nos a breve prazo para outras batalhas, travadas no meio do nada!

Luís Faria
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7429: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (37): Teixeira Pinto - Erro que podia ter sido fatal

[...] A decisão está tomada, só disparo se for detectado ou se eles se dirigirem na direcção dos meus Rapazes. Resta aguardar. Preparado e estático, rezo para que não se ouça a Rapaziada desprevenida.

Continuam a aproximar-se ligeiros e em silencio… dez metros, cinco metros, um metro… estou em tensão, mas calmo e frio… começo a contá-los… vão-me passando pela frente quase me roçando, dezassete elementos com espaçamentos curtos - quinze metralhadoras visíveis, confirmados dois RPG e não um - que começam a virar à esquerda, só Deus sabe porque e vão desaparecendo na noite.

Estávamos safos, graças a Deus. Três ou quatro minutos se tanto que me pareceram uma eternidade, se tinham escoado. De imediato movimento-me e instruo o Pessoal, que de nada se tinha apercebido. Pelo “banana” AVP1 contacto o Comando, alertando para eventual flagelação e informando do observado.

O mote estava lançado… movimentações bélicas iriam acontecer… outra dor de cabeça ia começar !

Guiné 63/74 - P7572: Convívios (288): 8º Encontro da Tabanca do Centro - Encontro de Ano Novo (Joaquim Mexia Alves)




1. O nosso Camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp / RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, enviou-nos a seguinte mensagem:
8º Encontro da Tabanca do Centro - Encontro de Ano Novo
O 8º Encontro da Tabanca do Centro, que por decreto do Comando da Tabanca, será conhecido por Encontro de Ano Novo, irá ter lugar no dia

26 de Janeiro, pelas 13.30 horas, na Pensão Montanha, claro, em Monte Real.

A ementa, que constituírá sem dúvida uma grande surpresa para todos, será ... Cozido á Portuguesa.

O local de reunião continuará a ser, como sempre, no Café Central de Monte Real, pelas 13.00 horas.

As inscrições terão de ser feitas, aqui na caixa de comentários, ou em tabanca.centro@gmail.com impreterivelmente até às 12.00 horas do dia 24 de Janeiro.

Cá vos esperamos de braços abertos.

http://tabancadocentro.blogspot.com/2011/01/8-encontro-da-tabanca-do-centro.html
Um abraço amigo do,
Joaquim Mexia Alves
__________
Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7571: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (11): Regresso de Madina e Belel, com paragem em Canturé

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Janeiro de 2011:

Malta,
Este dia 26 vai desdobrado, tal o estendal de encontros e desencontros. Até num lastro de camião se viajou com a motocicleta de Lânsana Sori bem empanada.
Demasiado tarde, descobriu-se que a solução para chegar aos lugares mais ermos é mesmo uma motocicleta.
O Tangomau está tocado por ter sido apanhado pelas circunstâncias imprevisíveis, ele que se julgue metódico e disciplinado como um alemão. Por engano, está a horas de regressar e os horários não sopram de feição, haverá objectivos que não se cumprirão.
É por isso que a viagem nunca termina, é sempre possível recomeçá-la, haja determinação por parte do viandante.

Um abraço do
Mário


Operação Tangomau (11)

Beja Santos

Regresso de Madina e Belel, com paragem em Canturé

1. É indiscutível que a passagem pelo Enxalé foi empolgante, há ali vestígios que mereciam uma atenção maior, estudo aturado e, sabe-se lá, um projecto de recuperação. A vida dos camaradas não deve ter sido fácil mas o ambiente é muito belo, o Tangomau recordou as duas viagens que lá fez e até pôde, com dificuldade das imagens difusas com 40 anos, recordar como o quartel ocupava um espaço central circundado pela compactação das moranças. Agora é tudo diferente, desafogado, são panorâmicas amplas, ali ninguém se pode queixar de claustrofobia ou ter sentimentos dominados pela aridez ou falta de água. Aqui se junta a última imagem de um plinto que tanto entusiasmou o Tangomau. Há já uma outra versão que seguiu no episódio anterior. Mas fica-se a guardar muito respeito por esta pedra escalavrada onde o homem cinzelou a sua presença, nada disto tem a ver com as garrafas lançadas ao mar, são monumentos aos vindouros, qualquer coisa como: “Recorda-te, camarada subsequente, aqui lavrámos a paz e a guerra, derramámos sangue, penámos as penas do inferno, não nos esqueças, chegará a hora em que sentirás vontade de gravar as tuas alegrias e as tuas dores, neste ou num novo plinto, até à consumação deste sofrimento.



2. É um momento extraordinário, o que se passou em Belel. A tabanca é pequena, os homens ainda estão na horta. Pediu-se para falar com alguém de uma idade próxima do Tangomau. E responderam: “Vamos já chamar o chefe da tabanca e um antigo combatente aqui de Belel”. Foi assim que chegaram à fala Farazinho Pereira e Sampere Mendes, ouviram atentamente as razões da viagem, o Tangomau identificou-se, mostrou os livros, pediu informações, quis saber quem ali vivia e como vivia. O que o Tangomau reteve desta conversa que decorreu numa atmosfera amena é que aqueles senhores, elementos do antigo “inimigo” guardavam a serenidade das contas feitas e sem fantasmas, tinham curiosidade em perceber qual a trajectória desta deambulação dentro do Cuor. E fizeram perguntas sobre a Missirá daquele tempo, até se pôs um mapa em cima dos joelhos e comentavam-se nomes de localidades por onde, uns e outros, patrulhavam, minavam e emboscavam. É por isso que se vê com muito enlevo a serenidade e a postura de quem nada deve com que se enfrenta a câmara. À despedida, tanto Farazinho Pereira como Sampere Mendes insistiram: “Volta sempre que queiras. É mais fácil tu vires de Bambadinca que nós irmos lá, de bicicleta é muito longe. Gostamos de visitas, pena é tudo ser tão pobre, para repartir”.



3. O regresso é um pequeno calvário para Lânsana Sori, paragens de quilómetro em quilómetro para bombear um pneu furado. Ele insiste e pede desculpa ao cliente. Mal sabe ele como o Tangomau se deslumbra com a cantilena dos pássaros, a passagem das formigas, os mares de capim agreste. Nestas paragens, até há tempo para conversar com quem viaja ou quem está à sombra, na tentativa vã de se refrescar. Há quem pergunte sempre ao Tangomau que missão o traz ali, se é médico, comerciante ou missionário. Passe o devaneio, a pesporrência, um quase estado de delírio, o Tangomau exulta, à semelhança de Ponta Varela veio hoje bater à porta do antigo “inimigo”, só recebeu consideração, provas de afabilidade, gente curiosa que quer saber mais sobre os porquês desta quase peregrinação. Uma coisa é chegar às tabancas como Amedalai ou Samba Juli e reencontrar rostos amigos, conhecidos, confrontar diferenças, pressentir queixumes, múltiplos sofrimentos. Outra coisa é a remoçada Missirá, que se expandiu, que não tem marcas da guerra. Outra coisa mesmo é bisbilhotar por territórios novos que eram terra de ninguém, as tropas do Tangomau podiam confrontar-se com as do PAIGC, mas era terra de ninguém mesmo, ali não havia direito de posse. Assim se conversou com Aliu Fati em Mato de Cão ou com o povo de Chicri, por exemplo. Mas outra coisa diametralmente distinta é subir aos territórios onde o PAIGC tinha as suas barbacãs, torres de atalaia, pontes levadiças, ali, quanto muito, era entrar a disparar e sair-se sem quaisquer tipos de diálogo. É esta a sensação que frutifica no ânimo do Tangomau. Enquanto Lânsana Sori se desmultiplica no esforço de bombear aquele pneu inútil, o Tangomau tagarela, capta imagens, com a devida licença, destes grupos humanos perguntadores, eles vêm do trabalho, o sustento liminar estampa-se-lhes no rosto. Nisso esta imagem é um espelho fiel.



4. Deu que fazer chegar à estrada do Enxalé, houve que negociar com um camião transportara a motocicleta semiadormecida, condutor e passageiro, tudo até à Batanjã Mandinga, onde se localiza uma oficina. Na caixa desse camião, o Tangomau deslumbrou-se com o desfrute da paisagem, mais dois metros acima do solo, dá para ver o Geba ao longe, os campos de nenúfares, as fainas de gente laboriosa. O que se fotografou perdeu-se e daí o recurso a uma imagem que sobrou do passeio ao Xime, aqui estão os vestígios do porto que o Tangomau viu medrar e transformar-se na mais importante infra-estrutura portuária da região Leste, a partir dos finais de 1969. Caprichos do destino, foi quando o transferiram de Missirá para Bambadinca, por coincidência Mato de Cão perdeu a relevância que tivera todo este tempo da sua estadia no Cuor. O pneu foi substituído, a motocicleta deu meia volta, voltou-se a passar o Geba, visitou-se Canturé. Quem arquitecta romances, novelas ou contos possui alguns segredos íntimos. O Tangomau está convencido que já descobriu o ambiente em que se finaliza aquele livro que anda por aí à solta a germinar, uma viagem que começou em 1967 e que terminará em Dezembro de 2010. Mas há que confirmar diferentes lugares. Por isso se volta a Canturé, uma das encruzilhadas maiores da vida do Tangomau.



5. Não faltasse uma hora para o sol se pôr a pique e o Tangomau iria vasculhar de Finete até Malandim. Urgindo o tempo, ali vai a motocicleta na gáspea, o estradão é de uma beleza impressionante, orlado pelos possantes poilões que vêm de um passado muito mais antigo que o Tangomau. Há que simular junto do povo de Canturé que é uma curta viagem, há ali um ou dois pormenores a ter em conta e depois se regressa a Bambadinca. Até se inventa o pretexto de que é precisa uma fotografia às toranjas de Canturé. A hora a que chega é de remanço e por isso o povo e as suas autoridades vão em conversas, querem sessão de boas vindas com Malã Mané, o chefe de tabanca à cabeça e incluindo Aruma Dahaba (ineditamente um familiar de Fodé). Malã esteve na guerrilha, nas fileiras do PAIGC. Trata sempre o Tangomau por Baké, prova de consideração mais elevada não há. Entre outras coisas, Baké é o guerreiro destemido, não há bala que lhe perfure o corpo. As saudações arrancam desse passado e chegam quase meteoricamente ao presente. O Tangomau está de olhos semicerrados, mais em escrita mental que em relação social. Está sonhador, esta Canturé que ele calcorreou praticamente todos os dias é de uma rara beleza, é luxuriante, tem hortas, está quase tudo cultivado, tudo é pobre mas nada é miserável. O Tangomau põe-se de pé e ata todos os vínculos com Canturé, abraçando Malã Mané, veio a propósito, a seguir a Belel e a Madina. Convém esclarecer, em abono da verdade, que a imagem que aqui se mostra foi tirada à porta da casa do Fodé, dois dias depois, em dia de festa. O que é inesquecível foi Malã ter afirmado perante o seu povo que recebia o visitante com orgulho em Canturé, aquele Baké mais do que destemido dera provas provadas de uma estima arreigada pelo Cuor e pelas gentes. E aquela guerra eram águas passadas.



6. Foi um dia extenuante, amanhã será mais. Porque amanhã ir-se-á de Missirá a Sansão, antes de Missirá, Maná; depois Madina de Gambiel; regressar-se-á a Bambadinca, Lânsana Sori precisa de descansar uma hora para a provação que se segue, de Bambadinca ao Xime, daqui até à Ponta do Inglês. O Tangomau anda com a consciência revolvida, vai regressar a Bissau dentro de dois dias deixando na escuridão pontos fundamentais: Fá, Demba Taco, Samba Silate, por exemplo. E se ficasse mais um dia, deitando para as ortigas o que se propõe fazer em Bissau? É neste dilema que se despede do Bambadincazinho e vai ver o pôr-do-sol no Bairro Joli. É tempo de mostrar gente da casa. Como se disse, vive aqui o engenheiro Fernando Ramiro Semedo, irmão do embaixador Inácio Semedo, ambos filhos do fundador deste projecto, Inácio Semedo, um dos dirigentes históricos do PAIGC. Fernando Semedo procura pôr de pé um projecto de recuperação de diferentes culturas entre o Bairro Joli e a Ponta Nova. É casado com Dada, o casal tem dois meninos. Estamos a ver Alberto Djata, trabalhador e quase da casa. É Felupe e já estivemos a ver fotografias de danças Felupes. O Alberto cozinha magnificamente. Trata-se de um instantâneo, o Alberto está concentrado e parece feliz. Depois o Tangomau foi para o balcão, levou “Gog”, de Giovanni Papini, aproveita o esplendor dos últimos raios solares.



7. Muitos críticos consideram “Gog” como a obra-prima absoluta de Papini. Trata-se de uma sátira de alguém que saiu do manicómio, fez fortuna e agora tem meios para satisfazer imensos caprichos. Um deles passa por conhecer os grandes monumentos literários mundiais. E Papini escreve: “Tive coragem para ler aqueles livros todos, menos três ou quatro que, logo às primeiras páginas, não pude suportar. Hostes de homens, chamados heróis, que se estripavam durante dez anos a fio, sob as muralhas de uma pequena cidade, por culpa de uma velha seduzida; a viagem de um vivo à fossa dos mortos, com o fim de falar mal dos mortos e dos vivos; um doido héctico e um doido gordo que vão, mundo fora, em busca de sovas; um guerreiro que perde um juízo por uma mulher e se diverte a arrancar azinheiros pelas selvas; um pulha cujo pai foi assassinado e que, para o vingar, faz morrer uma rapariga que o ama e outras personagens diversas; um diabo coxo que levanta os telhados de todas as casas para exibir as suas misérias; as aventuras de um homem de estatura média que faz de gigante entre os pigmeus e de anão entre os gigantes, sempre de modo inoportuno e ridículo; a odisseia de um idiota que, através de ridículas desventuras sustenta que este mundo é o melhor dos mundos possíveis; as peripécias de um professor demoníaco servido por um demónio profissional; a aborrecida história de uma adúltera provinciana que se enfastia e, por fim, se envenena; as surtidas loquazes e incompreensíveis de um profeta acompanhado de uma águia e de uma serpente; um rapaz pobre e febril que assassina uma velha e que depois – imbecil – nem sequer sabe aproveitar um álibi e acaba por cair nas mãos da polícia”. O Tangomau está divertido com leitura tão saborosa e tão desviante das epopeias do seu quotidiano. É nisto que a bola de fogo anuncia o rigor da noite tropical, com os vagidos, os mistérios e os odores das florestas à volta. Vamos ter noite estrelada pela certa. O Tangomau empolga-se, aquilo não é uma bola de fogo, é um primo dos cometas que se lança num estranho oceano vegetal. E diz para si, fundamentalista: quem não aprecia este fim de dia não sabe viver. Saboreia o jantar e vai cedo para a cama, preparar a longa jornada que o espera. E que será imprevisível, aquele sábado, 27 de Novembro, reserva-lhe alguma das mais bonitas emoções de todo o sempre. Para ler depois.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)

Vd. postes da série de:

2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7370: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (1): Primeiras notícias da Guiné-Bissau

4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7379: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (2): O primeiro dia em Bissau

7 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7397: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (3): O segundo dia em Bissau

10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7417: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (4): 20 de Novembro, de Bambadinca para o Bairro Joli

15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7440: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (5): Do Bambadincazinho para Ponta Varela

18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7462: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (6): Bambadinca, recordações da casa dos mortos

26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7504: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (7): O primeiro dia no Cuor

27 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7511: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (8): O primeiro dia no Cuor (continuação)

30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7528: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (9): O dia no Xitole e o regresso a Finete

5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7570: Parabéns a você (199): Agradecimento de Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53

1. Mensagem de Paulo Santiago* (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), com data de 7 de Janeiro de 2011:

Camaradas, Amigos
Começo por agradecer aos editores por se terem lembrado do meu aniversário, fiquei mais rico... também uma palavra para o Miguel Pessoa que compôs aquele belo postal, que já está emoldurado.

Agradeço também a todos que me deram os parabéns com mensagens na caixa de comentários, e a todos os que me enviaram mail's, ou me enviaram mensagens através do Facebook.

Agradeço também a quem me fez mais jovem... ontem fiz 63 anos. Foi há 63 anos que saí do ventre de minha mãe, que ainda está comigo, que anteontem, dia 5, fez 89 anos, e vai lendo jornais e fazendo malha.

Vou também lembrar a maior prenda de aniversário que recebi até hoje... o nascimento da minha filha, Maria Luís, no dia em que fiz 39 anos.

Já que falei na Maria Luís, que a maior parte dos camaradas não conhece, mas já teve umas fotos, que tirou, publicadas no blogue, julgo que em Abril de 2009, permito-me enviar uma foto onde está num almoço da Tabanca de Matosinhos. Nesta foto, a Cátia Felix é a primeira da direita, segue-se a minha filha, de costas está o Nelson e o Zé Teixeira, meio encoberto está o Suleimane Baldé, ex-1.º Cabo do 53, actual Régulo de Contabane, vendo-se também o Álvaro Basto.


Grande abraço para todos
Sejam felizes
Paulo Santiago
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490

Guiné 63/74 - P7569: Agenda Cultural (100): Fim do Império: Olhares Jornalísticos - 4.º Encontro: 18 de Janeiro de 2011, na Livraria Verney, Oeiras. Oradores: Cor Carlos Matos Gomes e o fotógrafo Fernando Farinha

1. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cav COMANDO na situação reserva, com data de 6 de Janeiro de 2011:


Meus caros amigos,


Venho convidar-vos para uma sessão da Tertúlia “O Fim do Império”, em que eu e o grande repórter e fotógrafo Fernando Farinha falaremos de África, da guerra e da comunicação social, tendo como tema de partida um livro com fotos e reportagens de Fernando Farinha e um texto de enquadramento meu. “Guerra Colonial – um repórter em Angola”.


A Tertúlia realiza-se na livraria Verney, da Câmara Municipal de Oeiras, no dia 18,  às 15 horas.


A livraria situa-se mesmo no centro da vila, no largo da igreja e existe um parque de estacionamento por detrás. Eu e o Fernando Farinha teríamos muito prazer em tê-los connosco, caso possam.


Esta iniciativa é dinamizada pelo Manuel Barão da Cunha, tem o apoio da CMO e da Liga dos Combatentes.


Um abraço amigo
Carlos Matos Gomes 
e Fernando Farinha


Junto, além do convite, algumas fotos do livro, para aguçar o apetite.



CONVITE



__________

Nota de CV:


Vd. último poste da série >  7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa

Guiné 63/74 - P7568: Blogpoesia (102): Sociedade lusa (Manuel Maia)

1. De Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), Sociedade lusa, enviado em mensagem com data de  5 de Janeiro de 2011:


Sociedade lusa

Sociedade lusa é inquietante,
passiva, obediente, inoperante
estática, parada, sem acção...
São brandos os costumes, "isto passa"...
"o povo é mui sereno, é só fumaça",
chavões da canga, jugo/submissão...

Tal qual vai o cabrito, o porco, o touro,
p`ra morte no açougue/matadouro,
assim, num "ledo engano", vai meu povo...
Aceitação de inevitável fim,
sem "espernear", gritar, tenho p`ra mim,
que anestesia alguém lhe deu de novo...

Bem forte foi, por certo, essa narcose,
com injecções de bola, em dupla dose,
de Fátima e de fado, quanto baste...
Alheamento à vida e ao futuro
evidencia o novo e o mais maduro,
no aceitar da imposição do traste...

Que um dia surja um gongue salvador
para acordar país desse torpor,
às consciências dando um abanão...
Com mais de oito centúrias, Portugal,
vive hoje o maior drama nacional
parados estão os braços, falta o pão...

MM
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7561: Blogpoesia (101): Considerações (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7567: Notas de leitura (185): Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo, de Eva Kipp (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Este álbum fotográfico é uma pequena preciosidade.
Provavelmente serviu como edição de prestígio não se sabe para qual entidade e o valor das imagens ficou circunscrito. É lastimável este tipo de edições de prestígio, sempre condenadas a não chegar ao grande público.
Ficam aqui alguns exemplos de beleza praticamente ignota. O que é curioso é que há negociantes de arte a procurar toda esta policromia bijagó que não se vê nos mercados tradicionais. É assim o mercado da arte.

Um abraço do
Mário


Tesouros da arte dos bijagós e outras instituições culturais

Beja Santos

Eva Kipp colaborou com o Governo da Guiné-Bissau em vários projectos de divulgação da cultura tradicional da Guiné. “Guiné-Bissau, Aspectos da Vida de um Povo” (por Eva Kipp, Editorial Inquérito, 1994 é o livro em que esta perita holandesa procura divulgar alguns aspectos da diversidade e riqueza cultural da Guiné-Bissau com especial destaque para a arte bijagós, cerimónias fúnebres, rituais de passagem e imagens de trabalho.

Relativamente à arte dos bijagós, a autora destaca a sua estreita ligação à religião: a representação dos irãs está a cargo dos escultores, alguns deles notáveis em Orango e Canhanbaque. A autora mostra-nos em actividade o escultor Ompane, especialista em estatuetas dos Irã Grande. Vemos as sucessivas fases do seu trabalho: as cerimónias de apresentação ao Irã com a convocação dos espíritos; a escolha da árvore na qual se pode incarnar os Irãs que também têm um vasto cerimonial. Por exemplo: “Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas terríveis, teme-se sempre o desagrado do Irã… uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta”. O escultor utiliza como instrumentos o machado e a catana.

A autora refere seguidamente os Irãs Grandes e os seus santuários. Possuem forma humana, mas nem sempre. Em princípio, estes irãs estão depositados no santuário das mulheres ou em casa dos régulos. Ao lado do Irã Grande encontram-se outros objectos sagrados (caso de chifres de gazela ou de cabra). Os Irãs são utilizados para cerimónias colectivas da tabanca e que se praticam no início da lavoura, no fanado ou quando uma doença grave atinge alguém da tabanca. Para tais cerimónias, o Irã é retirado do santuário e colocado num outro ao ar livre que é chamado de Nan. A arte dos bijagós também se destaca pelas suas famosas pinturas murais em santuários e em casas. Além destas pinturas murais, os bijagós distinguem-se pelas esculturas de enorme colorido que usam nos enfeites das suas danças, que podem incluir figuras de animais, caso do tubarão martelo e vacas. São peças de grande valor ornamental, têm grande procura no mundo do artesanato.

Barco bijagó: estatueta de Bubaque

Os bijagós são maioritariamente animistas e daí a importância que têm os djambacós, os mediadores procurados por pessoas que precisam de conselho, possuem artes de vidência e poderes de curandeiro. Realizam cerimónias com conchas, orientam sacrifícios de animais; casos há em que os djambacós praticam a cartomancia ou prescrevem tratamentos para pessoas doentes. Eva Kipp refere outras etnias animistas que possuem outros tipos de Irãs que em vez de terem formas humanas podem ser estatuetas de forma de forquilhas. Por exemplo, na etnia papel realizam-se cerimónias em que o Cansaré é de grande importância no pedido de chuva. O mediador, aquele que detém o segredo de falar com o Cansaré são os balobeiros (sacerdotes) mas também os homens grandes.

O trabalho de Eva Kipp destaca o funeral do homem grande na etnia papel e ilustra como vestem os familiares, como utilizam unguentos, como se faz a festa de “choro” e se sacrificam animais para a cerimónia: “Ao ritmo dos tambores, toda a gente dança e bebe num terreno cheio de animais sacrificados, nem dando conta do risco quando dançam sob o telhado, prestes a ruir, de uma das casas. O consumo de álcool vai aumentando a exuberância da festa. Neste mesmo dia da cerimónia, enrolado em panos tradicionais, o falecido é sepultado. O número de panos que o envolve mostra o prestígio que ele tinha na sociedade. Os animais sacrificados são repartidos pelos participantes e segundos critérios fixos pela tradição.

Rapaz tocando flauta

O fanado é comum a todas as etnias da Guiné-Bissau, mas os rituais variam de umas para as outras. O fanado balanta implica um grande consumo de arroz, milho, animais e bebidas em todas as festas. A autora descreve as danças e cantares, entre os balantas há concursos de canto e improvisações teatrais.

É um livro de grande valor fotográfico e que bem merecia ser reeditado.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7560: Notas de leitura (184): O Fim do Império Português, de António Costa Pinto (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7566: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (23): Com humor também se fazia a guerra

1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 26 de Setembro de 2010:

Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Para quem conheceu a Ilha das Flores e as suas gentes ao tempo da história, sabe que os calões usados faziam parte do dia-a-dia florense. O mesmo acontecia por outras ilhas, numas mais que outras. Nem por isso havia menos respeito entre as pessoas. Tudo dependia do sentido dado à conversa e às circunstâncias.

Um abraço enorme para ti e para os nossos camaradas,
José Câmara



Memórias e histórias minhas (23)

CCAÇ 3327 - 2.ª Secção do 4.º GCOMB
Em pé, da esquerda para a direita: 
Sold. José R. Serpa, (Costa do Lajedo – Flores) – London, ONT, Canadá; Sold. João Avelar Ventura (Fajãnzinha – Flores) – Terra Chã, Terceira; Fur. Mil. José A. Câmara (Fazenda – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. António Silvestre Jr. (Urzelina – S. Jorge) – Toronto, ONT, Canadá; Sold. José C. Arruda Massa (Arrifes – S. Miguel)

Na frente, da esquerda para a direita:
Cabo José Silveira Leonardes (Topo – S. Jorge) – Praia da Vitória, Terceira; 1.º Cabo António Fernando Silva (Praia do Alomoxarife – Faial); Sold. Magno Manuel Silva (Guadalupe – Graciosa) – Lowell, MASS, EUA; Sold. José Francisco Serpa (Ponte da Fajã – Flores) – Stoughton, MASS, EUA; Sold. Emanuel A Cardoso Silva (Castelo Branco – Faial) – Newark, CAL, EUA


Com humor também se fazia a guerra

A CCaç 3327, aquando da sua passagem por Bissau, tinha a seu cargo a segurança de várias instituições militares. O Laboratório era uma delas.

Por vezes, era decretado o estado de alerta na cidade. Como era natural nessas ocasiões, o movimento de tropas ficava circunscrito aos serviços de emergência e abastecimentos e às patrulhas dos diferentes bairros de Bissau.

Também era prática generalizada reconduzir os militares nos seus postos de serviço, durante o tempo da prevenção. Portanto, ninguém se admirou de ver o pessoal de serviço ao Laboratório ser reconduzido nos seus postos por mais vinte e quatro horas.

O que não estava previsto é que os referidos militares, sem serem vistos nem achados para as circunstâncias, tivessem sido obrigados a uma dieta forçada. Alguém no AGRBIS esqueceu de dar ordens para que o rancho fosse mandado para os militares de serviço ao Laboratório.

Isso de fazer a tropa e a guerra é uma coisa. De barriguinha vazia é que não…

O José Francisco Serpa, conhecido na Companhia como o Serpa Pequenino, natural da Ponte da Fajã, Ilha das Flores, foi um dos militares apanhados de serviço ao Laboratório. Pertencia à minha Secção. Era um soldado muito disciplinado, de uma educação cívica bastante apurada e um excelente colaborador nos serviços da Secção. Uma das suas melhores qualidades era a capacidade de falar olhos nos olhos com as pessoas e com o coração bem junto da boca, fazendo jus a qualquer açoriano que se preze.

O nosso Serpa de regresso ao AGRBIS de imediato procurou pelo nosso Cap. Rogério Alves. Queria, veementemente, protestar pela falta do rancho a que tinha sido submetido nas últimas vinte e quatro horas. Encontrou-o na secretaria, e botou protesto:

- Meu capitão, quem foi o f. da p. do Oficial de Dia que esteve de serviço?! Eu quero matar o sacana que nos deixou à fome durante as últimas vinte e quatro horas!

O Cap. Alves que já se habituara à maneira de ser dos açorianos, humanamente compreendia que nesses desabafos e calões não existia qualquer maldade e muito menos falta de respeito, respondeu, serenamente, fazendo uma pergunta:

- Oh Serpa, você teria mesmo coragem de matar o seu Comandante de Companhia?

O nosso soldado não se desconcertou. Com nervos de aço e alguma graça respondeu:

- A esse não meu Capitão, mas não se esqueça de o avisar que da próxima vez deve mandar o rancho para o pessoal!

Hoje o José Serpa vive em Stoughton e é cliente na Agência de Seguros onde trabalho.

A história, contada pela sua boca, teve um final feliz. No dizer do Serpa e dos homens da Companhia, o nosso capitão era um bom homem.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)

Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas

Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Caros Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restantes atabancados.
A minha ligação ao pessoal do Pel Rec, acaba por aparecer nas minhas estórias por causa de minha relação especial com eles, desde de a viagem do Porto para Abrantes.
Ainda não sabíamos que eu ia com eles para a Guiné. Aliás de todos os Condutores que vieram do RI6 comigo só eu fui para a Guiné.

Um abraço para todos
Juvenal Amado




Estórias do Juvenal (33)

O LÉO E A MACACA CHITA

Soldado Pel Rec e carteiro dos CTT na vida civil, não sei como foi parar a padeiro da CCS do 3872.
Não sei mas foi um bom padeiro.

Após a chegada a Galomaro, não tenho ideia que de lá tenha saído alguma vez, nem para ir a Bafatá. Era afável e amigo de praticamente toda a gente, digo praticamente, pois só o ouro agrada a todos e ele era como nós de carne e osso.

No trabalho diário de pôr na mesa dos camaradas o pão nosso de cada dia, estava dispensado de formaturas, reforços, ou qualquer outro serviço para além do seu.
Fardado sempre a rigor em calções e tronco nu, ficou barato ao Exército no que diz respeito ao fardamento.

Nunca negava um pãozinho a quem lho pedisse.

Por ordem do Comando, fazia uns pães pequenos individuais na vez do famoso casqueiro onde era normal retirar o miolo, que depois de amassado servia de arma de arremesso a um camarada para chatear.

O pão era pois saboroso, praticamente todo consumível e era também o ideal para levar nas rações de combate. Também na nossa cantina havia umas sandes de queijo ou fiambre, para nosso prazer e lucro da instituição. Isto era para quem tinha dinheiro vivo, pois ao contrário de outros quartéis do nosso batalhão, ali não havia fiado.

Penso que foi uma forma de poupar uns bons quilos de farinha e em vez de desagradar, como acontece quando os nossos superiores decidem economizar nalguma coisa, esta ordem foi de agrado geral.

Está claro que o Léo beneficiava de um estatuto que o fazia presente em tudo o que fosse petisco, que muita vez era cozinhado na própria padaria.
Com os seus ajudantes de padeiro, recrutados nos garotos da população assim ele de forma bem económica poupava o esforço físico para além do estritamente necessário.

Enfim ele estava feliz com a ajuda e os garotos, que comiam no quartel, recolhiam os restos que levavam para as suas casas também eram felizes.

Talvez o único aborrecimento sério tenha sido provocado pela sua macaco-cão Chita de seu nome. Tinha-lhe sido deixada pelo padeiro velhinho do 2912, ainda pequena, mas na altura desta estória já ela era adulta e grande, pois já foi para o final da comissão.

A Chita gostava de cerveja tanto como nós. Assim nós deixávamos no fundo da garrafa sempre um restinho, que ela bebia depositando depois a garrafa no fundo do bidão.

Está claro que ela apanhava monumentais bebedeiras e andava depois aos guinchos, agarrava a cabeça, ia de um lado ao outro da cantina para nosso regozijo.

Certo dia a Chita com os copos, decidiu pendurar-se nas árvores ainda jovens, que tinham sido plantadas na parada do quartel e que eram o desvelo do nosso Comandante Tenente Coronel J.M. Castro e Lemos.

Escusado será dizer que as pequenas árvores ficaram como se tivesse passado por elas um tufão. Braças partidas, desfolhadas e meio arrancadas eram a visão de um autêntico desastre.

Quem foi? De quem é a macaca?

Logo chegaram os nomes ao nosso Comandante. O castigo foi sem apelo. O Léo tinha que se livrar da sua Chita.

Abatê-la estava fora de caso. Ninguém era capaz de o fazer.
A única solução à vista foi enviá-la para Cassamba, onde estava um pelotão na altura que se não estou em erro do Dulombi, que tomaram conta dela e a traziam sempre que vinham a Galomaro.

Era ver o Léo com a macaca abraçada a ele e vice versa. Mais tarde trouxeram-na às escondidas para Galomaro, onde passou a ser vigiada e estando presa a maior parte do tempo.

Quando havia revista, lá um dos ajudantes de padeiro se escapava com ela para a tabanca.

Penso que o Léo a deixou ao seu substituto na padaria.

Infelizmente o nosso camarada veio a falecer pouco tempo depois do nosso regresso. Foi atropelado em Lisboa quando exercia a sua profissão de carteiro.
Recordo-o com saudade hoje.

Há 37 anos por esta altura, só pensávamos no regresso não sabendo, que ele nos deixaria pouco tempo depois.

Paz à sua Alma
Juvenal Amado
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7265: Estórias do Juvenal Amado (32): Carne para o quartel

Guiné 63/74 - P7564: Agenda cultural (99): Lugares de Passagem, de José Brás: Apresentação hoje, 6ª feira, 7, às 18h30, no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa




Capa e contra-capa do livro do nosso camarigo Jose Brás, Lugares de passagem, editado pela Chiado Editora,  Lisboa, 2010, 191 pp., e ontem apresentado em Loures, na Biblioteca Municipal José Saramago. Na mesa, estiveram prtesentes, além do presidente da edilidade, Carlos Morgado, amigos e camarigos do Zé, como o Vitor Ramalho, conhecido especialista na área do direito do trabalho,  além de mim, Luís Graça, em representação da nossa Tabanca Grande, e do Mário Beja Santos  a quem coube fazer a apresentação da obra. O autor, que naturalmente estava presente e feliz, contou com a camaradagem, amizade e camaridagem de algumas dezenas de leitores que se deslocaram, em noite de invernia,  à Biblioteca José Saramago, cujo acesso não é fácil...para quem vem de fora de Loures.



1. Recorde-se que o José Brás foi Fur Mil Trms, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), está connosco desde Janeiro de 2009. Esteve profissionalmente ligado à aviação comercial, além de ter sido sindicalista e autarca. 

 Hoje haverá uma nova apresentação do livro no Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Av Gago Coutinho, 90, Lisboa, às 18h30, para a qual também estão convidados todos os nossos camaradas, amigos e camarigos, e demais leitores do blogue. Ao Zé desejamos o melhor sucesso para este seu segundo livro.

Recorde-se que o Zé Brás é autor  de um dos mais importantes e pioneiros romances sobre a guerra colonial, publicados na década de 1980, a obra Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura. Com chancela da Europa-América, venderam-se mais de 30 mil exemplares, o que é absolutamente notável no nosso pequeno mercado livreiro.

No V Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, 26 de Junho de 2010, o Zé mais o seu Gupo do Cadaval (Belarmino Sardinha, Vasco da Gama, Hélder Sousa, José Dinis e Jorge Rosales) aproveitaram a circunstância (a presença de centena e meia de convivas) para homenagear o nosso blogue, na pessoa do seu fundador, da sua equipa editorial e dos demais colaboradores. Esse texto, na altura lido pelo Belarmino Sardinha, vem agora reproduzido no livro (pp. 7-9). Tomo a liberdade de o reproduzir aqui, com a devida vénia ao autor e à editora, e com um abraço a todo o grupo. E naturalmente agradecer, mais uma vez, em público essa homenagem ao blogue que já não é de (embora fundado por) o Luís Graça: chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Encontrar-nos-emos mais logo, no auditório do SNPVAC, por volta das 18h. Quanto á recensão do livro e ás fotos e aos vídeos de ontem, ficarão naturalmente para mais tarde. Agora vamos festejar o feito que é sempre a escrita e o lançamento de um livro de um camarada nosso, onde estamos todos retratados enquanto caminhantes de muitos caminhos desta vida, incluindo as  picadas e os trilhos das matas da Guiné, em tempo de guerra, bem como  as pontes e demais lugares de passagem que temos vindo a construir, das memórias aos afectos... (LG)


2. A dedicatória ao nosso blogue começa com esta quadra:

"É rica, tem nome fino,/ É pobre, tem nome grosso, / É rica,  teve um menino, / É pobre, pariu um moço" (Célebre quadra de Manuel António Castro, vila de Cuba, Alentejo, 1885.). O livro tem também uma um belíssimo prefácio do António Loja, madeirense, que foi Cap Mil da CCAÇ 1622, e já aqui reproduzido.



Capa original da autoria de Cátia Brás, filha do José Brás, artista plástica, autor do blogue Sonhos a Pincel, assistente de bordo, enfim, uma mulher de talentos...












Guiné 63/74 - P7563: Parabéns a você (198): Agradecimento de Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490

1. Mensagem de Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, Região de Farim, 1963/65), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Amigo Carlos.
Já se passaram alguns meses sem que eu tenha dito nada ou seja, dando a saber a todos os Camarigos Tertulianos, que além dos meus 69 completados precisamente hoje 05/01/2011, ainda ando no Reino dos vivos, e com vontade de viver pelo menos mais 31. Mas que raio de 31. Isto é um número um pouco suspeitoso. O melhor é avançar mais (um) porque os pares são sempre melhores.

Bem! Com esta vontade firme de viver, e, através desta mensagem, retribuo um abraço de Amigo a todos os Camaradas que fazem parte deste grande Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, e que durante estes (31) ou (32) que eu espero de palmilhar os trilhos do nosso planeta Terra ”não com a G-3” mas sim com uma Granada cheia de TINTO do famoso Dão, Douro, ou Alentejano. Todas estas Granadas são óptimas para fazer explodir e abrir um pouco mais os Neurónios das Cabeças envelhecidas, porque como todos sabemos, e o ditado é antigo, os anos não perdoam.

Já agora se me permitem, deixo um abraço de real apreço ao nosso Camarigo Virgíno Briote por ser somente ELE e EU a fazermos parte desta TABANCA de um conjunto de aproximadamente de 600 Homens que formaram o BCAV 490. Não por minha culpa, porque nos convívios anuais faço sempre o incentivo para aderirem ao Blog e publicarem as Histórias. Muitos já partiram, os que ainda andam por cá remetem-se ao silêncio.

Também para o Rui Alexandrino meu amigo de verdade e meu vizinho aqui na Cidade de Viriato (VISEU) que se encontra em perfeita convalescença da operação urgente que fez à máquina no Hospital de Santa Maria, aqui vai o meu apreço para uma recuperação rápida para continuarmos a fazer umas ferritas.

Por "ultimo" um grande Abraço de agradecimento a todos que neste dia se lembraram de dizer que para o ano cá estaremos novamente.

Para os Editores o meu bem-haja.
Valentim Oliveira
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7554: Parabéns a você (196): Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P7558: Parabéns a você (197): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7562: Tabanca Grande (259): O casal Vinhal, um dos totalistas dos nossos cinco encontros nacionais, anuais (desde a Ameira, em 2006, a Monte Real, em 2010)


Montemor-O-Novo > Ameira > 2006 >  I Encontro Nacional da Tabanca Grande > Algumas das nossas companheiras... A  Dina Vinhal (*) é a segunda a contar da esquerda... Refira-se que ao casal Vinhal é um dos totalistas dos nossos encontros anuais (cinco, desde 2006).

A explicação é simples: a Dina é inseparável do Carlos (e vice-versa)... O Carlos (**), desde que entrou  para a nossa equipa editorial (foi o primeiro, em 2006, depois da Ameira), tem estado na comissão organizadora dos nossos encontros nacionais desde então. Recorde-se que o II foi em Pombal, em 28 de  Abril de 2007, sob a batuta do chefe de orquestra Vitor Junqueira... Desde 2009, o Carlos tem parelha com o Joaquim Mexia Alves na organização dos encontros nacionais da Tabanca Grande em 2008 e 2009, na Quinta do Paul, Ortigosa, Momnte Real; e em 2010, no Palace Hotel, de Monte Real...


Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados






Matosinhos > Leça do Balio > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Bar Vilas > Jantar-convívio de Natal > 27 de Dezembro de 2007 > Da esquerda para a direita: (i) Dina Vinhal, mulher do nosso co-editor Carlos Vinhal; (ii) A esposa e a filha do José Teixeira, respectivamente Maria Armanda e Joana, respectivamente... À esquerda, de costas, está a Eduarda, a esposa do Albano Costa e mãe do Hugo Costa...

Foto: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.

  

Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > 2009 >A Dina Vinhal, na oprimeira fila, ao centro (é a quinta  a contar do lado direito)

Foto: © David Guimarães (2009). Direitos reservados





Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 > O nosso camarigo Rui Alexandre Ferreira (que neste último Natal esteve internado com sérios problemas de saúde)  mostrando um documento, de eventual interesse para o blogue, ao Carlos Vinhal, sob o olhar atento da Dina.


Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7559: Tabanca Grande (258): Agradecimento à tertúlia (Dina Vinhal)

(...) Chamo-me Maria Leopoldina, Dina para os amigos, e estou casada com o Carlos há quase 39 anos. Há que somar a este tempo mais 4 de namoro, e nestes, uma “comissão de serviço” na Guiné. Coincidências da vida, andámos no Ciclo Preparatório na mesma Escola e nos mesmos anos lectivos, mas daí não veio nenhum conhecimento, porque se bem se lembram, naquele tempo as meninas eram separadas dos meninos. Por outro lado eu morava no extremo sul de Matosinhos e ele no extremo norte de Leça da Palmeira, logo bem afastados um do outro. (...)



(**) Vd. poste de 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
 
Poste DCLI (em numeração romana, 651...)
 
(...) Amigos e camaradas de tertúlia: Abram aulas para receber mais um camarada da Guiné. Aqui vai o testemunho do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):


Caro Luis Graça

Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram. (...)

Passo a apresentar-me:

(i) chamo-me Carlos Esteves Vinhal, fui Furriel Miliciano Atirador com a especialidade de Minas e Armadilhas;

(ii) fui incorporado como instruendo do CSM em Abril de 1969 nas Caldas da Rainha (RI5);

(iii) a especialidade de Atirador tirei-a em Vendas Novas (EPA);

(iv) em Novembro fui para Tancos (EPE) onde tirei o 33.º Curso de Minas e Armadilhas;

(v) em Dezembro rumei para o Funchal onde ajudei a dar a Especialidade de Atirador a um grupo de militares madeirenses com os quais se formaram as duas primeiras Companhias do Grupo de Artilharia de Guarnição n.º 2 (GAG2) a irem para o Ultramar: a CART 2731 foi para Angola e a minha, a CART 2732, embarcou no Cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de Abril de 1970, chegando a 17;

(vi) uns quantos dias em Brá e no dia 21 do mesmo mês seguimos para Mansabá, situada entre Mansoa e Farim, onde permanecemos até finais de Fevereiro de 1972.

Como se tratava de uma Companhia independente ficámos dependentes administrativa e operacionalmente ao BCAÇ 2885, sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a carne para canhão. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta. Verdadeiros heróis anónimos, embora alguns reconhecidos e louvados até pelo General e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Perdemos três militares madeirenses, dois em combate quase no fim da comissão (o Vieira e o Barbosa) e um por acidente (o Silvestre). O soldado Malcata, oriundo do continente, morreu de doença. Perdemos também o Alferes Couto que, tendo como eu o Curso de Minas e Armadilhas, viu-lhe rebentar nas mãos uma mina antipessoal.

Futuramente escreverei mais umas coisas, porque memórias não faltam.



 Guiné > Região do Oio > Mansabá> CART 2732 (Mansabá, 1970/72)> 1970 > : 3º Pelotão, secção do Fur Mil Vinhal (na primeira fila, à direita, ladeado pelo seu amigo Ornelas).

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Todos os direitos reservadios


 
É com muita honra e a título de homenagem aos meus valorosos camaradas madeirenses da CART 2732 e em particular ao meu 3º Pelotão que anexo duas fotografias. Na de cima a minha Secção  (...).

Refira-se que nesta altura - e só tínhamos 6 meses de comissão - já a Companhia se encontrava desfalcada. Já havia morrido o Alferes Couto e estava hospitalizado o Alferes Bento comandante do meu Pelotão, vítimas do mesmo incidente. Por que estou presente nas fotografias, na Secção estou em baixo à direita, ladeado pelo meu grande amigo Ornelas  (...)