domingo, 18 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9227: Blogoterapia (194): Como é bom não termos dúvidas (Juvenal Amado)

O Unimog do Falé destruído por mina anticarro na picada de Dulombi

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado*, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 15 de Dezembro de 2011:

Carlos e Luís
Os dias vão passando invernosos, mais solitários, pensamos em tudo o que por nós passou e acabamos por descarregar no depósito de memórias que é o blogue.

Bom fim de semana e um abraço
JA


Quantas vezes duvidamos se o caminho que traçamos será o mais correcto? Afastamos as alternativas pois o contrário é nos doloroso, assombra-nos, azeda-nos e faz-nos infelizes.

Como é bom não termos dúvidas
Nunca nos questionarmos
Termos sempre a certeza
Não haver lugar para arrependimentos
Que os nossos actos foram os correctos.
Afastar os pesadelos como fossem moscas
Vangloriarmo-nos sem rebuço
Falar da guerra como se fosse inócua
Sonhar com bravura em tempo de Paz
O heroísmo sem orgulho
Dar com a esquerda sem que a direita veja
Pensar sempre no patriotismo dos que morreram
Acreditar que morreram por algo, que valeu a pena
Pensar mais em honra que em choro e dor
Que o destino tem sempre hora certa
Ter desculpa para o indesculpável
Acreditar que o crime tem sempre castigo
Ter mais piedade do que vontade
Que cada ruga no nosso rosto conta uma estória

Enfim acreditar que Deus está do nosso lado.


LDG e o apoio aéreo
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9148: O meu Natal no mato (33): Um conto natalício (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9132: Blogoterapia (193): Porque somos um país de marinheiros, congratulemo-nos com a recuperação dos pescadores das Caxinas (Henrique Cerqueira)

8 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, Juvenal, em especial neste anual repasto de bondade e de desejos de boas festas.
Contudo não há que dramatizar porque na culpa nascemos todos pelo mundo fora e não apenas aqui no rectângulo e menos ainda no coração dos que embarcaram de G3 na mão para defenderem um colonialismo que era tudo menos português porque o próprio Portugal era desde o século XVIII um País dependente do capital financeiro mundial e apenas entreposto dos grandes trusts que roubavam à vontadinha na África dita portuguesa, sem que soldados que disparavam dos dois lados soubessem disso.
Abraço
José Brás

Torcato Mendonca disse...

Um forte e apertado abraço, meu caro amigão Juvenal.

Tudo de Bom para ti e para os Teus

Um ab do T.

manuelmaia disse...

Caro Juvenal,

Há que acreditar que a justiça se fará um dia,por mais longínquo que possa estar.
Pode ser que no tempo dos teus netos ou bisnetos surja uma corrente a exigir a verdade sobre aquilo que foi a guerra e os seus participantes, e que esta corja política tem vindo a tentar apagar com o ignorar contínuo sobre os seus protagonistas.

manuelmaia disse...

Caro Juvenal,

Há que acreditar que a justiça se fará um dia,por mais longínquo que possa estar.
Pode ser que no tempo dos teus netos ou bisnetos surja uma corrente a exigir a verdade sobre aquilo que foi a guerra e os seus participantes, e que esta corja política tem vindo a tentar apagar com o ignorar contínuo sobre os seus protagonistas.

antonio graça de abreu disse...

Oh, meu caro Zé Brás, falas de

"um colonialismo que era tudo menos português porque o próprio Portugal era desde o século XVIII um País dependente do capital financeiro mundial e apenas entreposto dos grandes trusts que roubavam à vontadinha na África dita portuguesa."

Acreditas mesmo nisto?

Para uma análise justa da realidade é necessário frieza, distanciamento e -- muito muito importante -- descomprometimento ideológico. E já agora, alguns conhecimentos da História e da natureza dos homens.

Será que me faço entender?

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Fazes-te entender e de modo muito pouco distanciado, António.
Quanto à verdade do que digo não se prova de outro modo senão consultando a realidade do investimento nas colónias portuguesas antes da guerra, a sua origem financeira, os enormes trusts que era realmente donos do sub-solo, da agricultura, dos transportes ferroviários, do petróleo quase em produção. E também a formação e a exportação das mais valias e dos lucros fabulosos daquele modo de exploração.
Dar-me-á algum trabalho mas se quiseres dou-te números, nomes e valores.
E já agora talvez te ficasse melhor uma acabares com essas merdas das referências ideológicas porque isso são apenas tiques de quem denuncia. Além disso uma menor arrogância intelectual também te faria bem.
Isto tudo com o abraço que nos une e que suporta desabafos destes.
José Brás

Hélder Valério disse...

Ai Juvenal, Juvenal...

Ao menos, és 'transparente'.
E sincero.
E coerente.
E ingénuo? Há quem diga que sim! E tu, que dizes?

Pelo menos duma coisa tenho a certeza que és 'culpado'. Por que raio tinhas que ser 'operário'? E tão novo...?
É assim, o povo tem destas coisas, destas 'faltas de gosto', destas faltas de visão para maiores e mais altos voos. Porque é que não foste para doutor? Sempre podias ver as coisas por outros prismas!

Em relação ao poema/desabafo, gostei.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Poema com cheiro a ganga lavada e aroma de sabão natural.

Ganga tecida com algodão alvo e puro, atrevo-me mesmo a chamar-lhe inocente (ao algodão que não engana), tal a sua candura, e não bastara isso, ainda a emanar o aroma do sabão natural, tão nosso, tão português.

E porque estamos em crise, vou apostar naquilo que é nosso, em detrimento das sedas que por aí andam, a grande maioria sintéticas e a cheirar aqueles pauzinhos, que se vendem nas lojas dos chineses.

Afinal o que queria mesmo dizer-te amigo Juvenal é que gostei. Continua. O resto é ficção, provavelmente por estar a sonhar acordado, a hora já vai adiantada.

Saudações de um combatente, escriturário de G3, c/especialidade tirada em Tavira

A.Almeida