sábado, 3 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9132: Blogoterapia (193): Porque somos um país de marinheiros, congratulemo-nos com a recuperação dos pescadores das Caxinas (Henrique Cerqueira)

1. Porque todos os portugueses, mesmo aqueles que nunca viram o mar, terão no seu sangue resquícios de antigos marinheiros, porque nós ex-combatentes fomos transportados nos porões de navios que sulcaram as águas dos oceanos a caminho de África e da Ásia, não é despropositado publicar esta mensagem, vinda de um camarada que de algum modo se sentiu tocado pelo final feliz de uma desgraça anunciada.

Marginal de Leça
Foto: Carlos Vinhal

2. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 2 de Dezembro de 2011:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Hoje é um dia de grande felicidade tanto para mim como, creio eu, para todos os portugueses.
Não sei camarada Vinhal se é ou não motivo para ser publicado mas na realidade eu tinha mesmo que expressar esta alegria para além do meu círculo familiar.
Vamos então ao assunto que origina tão grande alegria.

Todos ouvimos e lemos as notícias em relação ao desaparecimento dos nossos pescadores das Caxinas. Ora hoje mesmo temos a feliz noticia de que todos foram salvos após longa e, de certeza, angustiante espera em pleno mar alto.

Tenho andado angustiado e revoltado com toda esta polémica dos cortes aprovados do Orçamento de Estado, pois que de uma forma ou outra todos seremos afectados e vilipendiados dos nossos bens que tanto nos custou amealhar, no entanto quando surgiram as noticias do desaparecimento destes trabalhadores do mar todas as minhas angústias e raivas passaram para segundo plano.

Hoje quando estava a almoçar fui atingido com a felicidade de saber do salvamento dos nossos pescadores, daí eu resolver escrever estas letras para de certo modo homenagear estes camaradas que foram salvos, suas famílias e assim como todos os pescadores do nosso país.

Não tenho familiares na faina da pesca, mas trabalhei vinte e quatro anos em Matosinhos com ex-pescadores e familiares de alguns ainda no activo. Sempre vivi de perto as suas angústias e tristezas.

Camarada Vinhal, se achares que não vale a pena publicar, estou de pleno acordo, pois só pelo facto de escrever estas linhas, considero que prestei uma singela homenagem a esses Homens do Mar.

Um abraço para todos os tertulianos e um especial para ti que também és um homem ligado ao Mar.
Henrique Cerqueira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9060: Blogoterapia (192): Em dia dos meus anos, na medieva Ucanha, lembrando tantos e bons amigos, incluindo o malogrado soldado Napoleão, da minha companhia, a CART 6250, Mampatá, 1972/74 (José Manuel Lopes)

6 comentários:

manuelmaia disse...

Caro Henrique,

Estou certo que essa angústia todos a sentimos aquando da primeira notícia,e a felicidade que experimentas agora é concerteza partilhada também por todos quantos ligados,ou não,às coisas do mar,sabem das carências que o estado evidencia a nível de apoio a quem diariamente arrisca a sua vida para nos alimentar de pescado.
Essa revolta que exteriorizamos,ou não,sobre os comportamentos de todos os políticos da nossa praça( cada vez me convenço mais de que não há excepções...)acentua-se quando nos apercebemos que o barco,ao que parece,não disporia dum sistema de transmissões por satélite que permitiria uma mais rápida localização.
Se o mais importante agora foi o final feliz,isso não invalida a necessidade de apetrechamento de todos os barcos que,eventualmente, ainda não possuam o dito sistema,de forma a permitir um aumento de probabilidade de salvamento e não ter que deixar às mãos de Deus tal tarefa.
Para ti Henrique,um abraço dum camarada de batalhão. fui da 2ª que foi para Bissum,e mais tarde para o Cantanhez. o Serrano e o Barbosa que estíveram no Biambe contigo,estiveram comigo antes em Viseu a dar uma recruta.

manuelmaia

Henrique Cerqueira disse...

Caro Camarada Maia
Tenho lido sempre com muito interesse todos os teus poemas e outros artigos.
Lembro-me perfeitamente de ti em especial quando estivemos em Évora a formar Batalhão.Mais tarde penso que ainda te encontrei em Bissum aquando duma viagem de Heli com o comandante de sector,mas aí já não tenho tanta certeza.
Com o Serrano nunca mais o encontrei,mas com o Barbosa tem havido alguns contactos.
Quanto ao tema dos nossos "Heróis"do mar das Caxinas,estou plenamente de acordo que ainda haverá muito a fazer para protecção de todos os pescadores.Na realidade fiquei mesmo muito feliz com o desfecho de tão anunciada tragédia.È que tenho uma ligação sentimental muito profunda com as gentes do mar.
Bom camarada Maia um grande abraço para ti e restantes camaradas da Guiné.
Henrique Cerqueira

Rogerio Cardoso disse...

Caro Henrique
Quem nasceu ligado ao mar, como eu, pois só natural de Cascais, outrora uma vila de pescadores, com barcos ás centenas, não só de Cascais, como vindos de Peniche, Setubal, Sesimbra, portos do Algarve, Figueira da Foz e portos do Norte. Isto para dizer que quando existe acidente grave, nós os oriundos da beira mar, sentimos muito.
Lembro que no ano (?)1962, faleceram 5 amigos meus, porque a embarcação afundou pela madrugada, lá para os lados ao largo do Cabo da Roca, só apareçeram 2, e ainda hoje quando passo junto ao Cabo e olha para o oceano, me faz lembrar a angustia daquelas familias.
Quando as pessoas se alimentam de peixe, nunca lhes vem ao pensamento quanto perigo os pescadores passam.
Rogerio Cardoso

Henrique Cerqueira disse...

Caro Rogerio Cardoso
Na boa verdade nós que vivemos ou nascemos junto á Costa,provavelmente estaremos mais propensos á sensibilidade deste tipo de situações com os Homens do Mar.Naturalmente este é o meu caso pois que alem de nascido e criado á beira-mar privei sempre de muito perto com pescadores de Mar-Alto.
No entanto fico sempre muito sensibilizado com qualquer tipo de situação de tragédia seja de natureza profissional ou não.Mas de certeza que a maior parte dos Portugueses são assim pelo facto de sermos um Povo que eu considero dos mais Humanizados do Mundo.Chamem-me de pretensioso mas é esse o meu pensamento.
Bom camarada Rogerio um abraço e tudo de bom para toda amalta do blog.
Henrique Cerqueira

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Henrique Cerqueira

Fizeste bem em expressar a tua preocupação e os teus sentimentos em relação a este caso.

De facto, e assim à partida, não parece ter nada a ver com a Guiné. Mas é um engano.
Na realidade a angústia perante as situações de incerteza vividas é a mesma.
A alegria pelo sucesso, pelo regresso com o mínimo de danos possível, também.

Há todo um paralelismo que não é de somenos. E depois, somos pessoas!
Ainda temos sentimentos!

Fizeste bem!
Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Temos tido algum cuidado em manter uma linha de separação da temática do nosso blogue em relação à atualidade (política, social, económica...).

Mas, por outro lado, não somos ETês, não vivemos noutro planeta, nem a guerra da Guiné "acabou" (pelo menos enquanto houver um combatente, de um lado ou de outro, vivo)...

È difícil não partilhar as grandes alegrias e as grandes tristezas do povo a que pertencemos, aqui e agora... O drama dos pescadores de Caxinas tocou-nos a todos... Eu próprio, que sou de uma região de gente do mar e tenho o seu ADN, não posso deixar de manifestar o meu regozijo pelo salvamento destes bravos portugueses...

Fico triste ao mesmo tempo por ver repetir-se amiudadas vezes, demasiadas vezes, estes dramas e estas tragédias, desde há décadas...

Sendo também um homem da saúde e segurança do trabalho, não aceito aqui o "fatum", o destino, a fatalidade... Estes acidentes têm que se prevenir. É escandaloso que se continua a morrer no mar, a trabalhar...