quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9123: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (11): Uma cena do Júlio, em combate: Furriel, os meus t... ?!



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > António Fernando Marques e Arlindo Teixeira Roda, dois camaradas da 1ª geração da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao monumento da CCAÇ 1550 (1966/68),  unidade de quadrícula do Xime que  antecedeu a  CART 1746 (1968/69), a CART 2520 (1969/70), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)... A CCAÇ 12 conheceu bem e duramente, o subsetor do Xime, entre 1969 e 1974... (LG)

Foto: © Arlindo Roda (2010)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





1. Texto do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70):


Curiosamente fui eu que fiz os prisioneiros na tal [Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas aquando da Op Lança Afiada (8-18 de Março de 1969), na região de Poindon]...

Íamos a sair da mata para uma abertura com capim,  talvez de meio metro de altura,  e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha... Se bem me lembro,  eram dois [turras] e não um... Quando nos demos conta que eles vinham na nossa direcção a conversar e, portanto sem se darem conta de nós ( ainda bem que tinha ensinado ao meu pessoal balanta os sinais aprendidos em Lamego...),  dei ordens para que se alapassem e eu deitei-me de costas para o chão, ao lado desse trilho.


Eles [, os turras,]  só se deram  conta de mim talvez a um par de metros donde eu estava deitado. Levantei o torso,  apontei-lhes a G3 e disse:
- A boó firma aí!

Tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me... Foram então levados para junto do comandante dessa operação, e interrogados. O resto da história vocês já sabem. 


Também me lembro agora de mais uma história com o  Júlio que,  como responsável pelos dilagramas, andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencadeou,  ele e eu abrigámo-nos atrás de um  bagabaga enorme. Começámos a responder, o Júlio por um lado do baga baga e eu pelo outro.


Tivemos, entretanto,  que nos desabrigar,  disse-lhe para onde atirar os dilagramas e e nisto dou-me conta de que o Júlio está de joelhos no chão a disparar dilagramas e que cai prá frente,  redondo. Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido, mas dei-me conta de que felizmente estava vivo. A primeira coisa que me perguntou, foi:
- Furriel,  os meus tomates? !


Houve mais tiroteio,  acabou o contacto,  levanto-me,  ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calçaas debaixo dos tomates,  vejo que aí estava um buraco de bala... Uns centímetros mais a cima... e pobre do Júlio!  Disse-lhe,  em descarga nervosa:
- Ah, Júlio ainda bem ..senão nunca mais comíamos galinha!
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Nota do editor:


Último poste da série > 30 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime


(...) Quando estava a recordar vendo as fotos da RTX [, Rádio Televisão do Xime,] lembrei-me de outra história do Júlio,  homem desenrascado e esperto até dizer chega...Ora bem,  havia um acordo tácito de que galinha que entrasse para dentro do arame farpado era nossa e ia para o tacho  (...) 


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