quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Guiné 63/74 – P9120: Memórias de Gabú (José Saúde) (16): Protecção avançada a um avião que trazia novidades…



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.

PROTECÇÃO AVANÇADA A UM AVIÃO QUE TRAZIA NOVIDADES…

E NÓS LÁ ÍAMOS PARA PROTEGER A ATERRAGEM E A DESCOLAGEM

Dia em que o Capitão me chamava para organizar o grupo e avançar para a protecção à pista, era dia marcado pelo sofrimento. Horas a fio a olhar para o ar, tentando, por outro lado, ouvir os motores dos velhos Noratlas ao longe, era um dilema com o qual o pessoal se debatia quando a obrigação se deparava. 

No terreno, e já devidamente instalados, o frenesim do tempo imperava: “Furriel, isto é gozar com a malta!”, confidenciava-me o mais pacato militar. “Uma manhã inteira aqui e até agora avião nem vê-lo!”, adiantava o cabo Rodrigues. “São quase horas do almoço a nós aqui continuamos!”, afirmava o soldado Damásio.
Eu, calmamente, confortava rapaziada com umas dicas avulsas a fim de criar um ambiente entre o grupo. 

Num repente começavam-se a ouvir estridentes motores do Noratlas.”Vem aí, bolas, custou mas foi!”, dizia-me o soldado Carvalho com um ar bonacheirão. “Está a fazer-se à pista!”, reforçava o Silva. 

Depois de tantas interrogações seguia-se o momento de levantar voo. Tudo corria pelo melhor quando o tempo em terra era rápido. Porém, havia ocasiões que o tempo de espera se prolongava de tal forma que o pessoal desesperava por completo, voltando o trocadilho de acusações face ao sucedido. Problemas que se prendiam com o transporte de feridos que obrigavam a incertezas profundas. 

O sorriso voltava quando ouvíamos de novo o reactivar dos motores e a descolagem da aeronave. 

Num início de uma noite recebemos ordens para ir iluminar a pista com pequenas candeias imbuídas em gasóleo. Foi um trabalhão enorme! Sabíamos que se tratava de evacuar feridos vindos de Piche. Particularmente não procurei saber ao certo o que se passara. Fomos para o terreno. Todo o grupo foi incansável. Ninguém se escusou à tarefa. A nossa entrega à causa foi determinante para uma aterragem e descolagem calma do avião. Ou seja: para facilitar uma melhor visão ao comandante a bordo no momento da descolagem. 

De vez em quando uma candeia apagava-se e prontamente havia um voluntário para contornar o problema. 

Os feridos de Piche começaram a chegar. Nós, ansiosos para saber o que se tinha passado, não parávamos na nossa entrega. 

À medida que os feridos chegavam à pista trazidos em cima dos Unimog's, fomos tendo conhecimento do acidente. 

Dizia-me o Alferes, um dos feridos, que na última saída para o mato e com o grupo nos últimos retoques para saber se tudo estava em ordem, o homem da bazuca descuidou-se, virou a arma e a granada rebentou no meio do pessoal. O atirador teve morte imediata e o resto é o que se via.

Muitos feridos, gritos de dor e de revolta pelo sucedido, tendo em conta que a comissão do Batalhão de Piche já tinha terminado e o pessoal aguardava com alegria o regresso à Metrópole.

Infelizmente o imprevisto aconteceu e a revolta abateu-se sob almas desesperadas!


Eu com um camarada enquanto aguardávamos novas de uma aeronave que tardava
Esperando sinais para a chegada do avião a Gabú

Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


1 comentário:

Antónjo Santos disse...

Amigo josé saude,lembro-me perfeitamente dessa cena já lá vao muitos anos mas parece que foi ontem,ex.escrita da ccs.um abraço