domingo, 27 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9104: Agenda cultural (172): Fado, Património Cultural Imaterial da Humanidade





III Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine > Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 >    Fado da Guiné > Vídeo: 2 m e 19 s > Alojado no You Tube > Nhabijoes > Letra do Joaquim Mexias Alves. Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera) (com a devida vénia). Acompanhamento: J. L. Vacas de Carvalho e David Guimarães (violas). Julgo que foi a estreia absoluta mundial deste fado... As condições de execução e gravação não foram seguramente as melhores, mas o que conta(va) é(era) a atitude dos nossos artistas... (LG)

Vídeo: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.





1. No dia em que foi aprovada a candidatura portuguesa do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, a nossa Tabanca Grande (onde há muita gente, amigos e camaradas da Guiné,  que gosta do Fado, que o escreve, que o sente, que o canta, que o toca e até que o estuda), associamo-nos, com regozijo, a essa grande honra mas também grande responsabilidade que nos é conferida pela UNESCO... E a melhor maneira é relembrar (e divulgar, mais uma vez) aqui o Fado da Guiné, criado e interpretado pelo nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (*)... Mas também apelar à preservação e divulgação de letras de fado e outras canções que, de Bissau a Bajocunda, de Varela a Madina do Boé, se cantavam nos nossos aquartelamentos e destacamentos...


Sobre Fado e Fado da Guiné, temos já cerca de duas dezenas referências no nosso blogue, referentes nomeadamente a recolhas de letras de fados que eram  cantados no nosso tempo, no TO da Guiné (**)... Um dos primeiro postes do nosso blogue, I Série (em 11 de Maio de 2004), foi de resto dedicado ao famoso Cancioneiro do Niassa onde há diversas adaptações de fados conhecidos...

Como então escrevi, vários poetas e versejadores, de maior ou menor talento, pertencentes aos três ramos das forças armadas, contribuiram anonimamente, na região do Niassa, no TO de Moçambique,  para aquilo a que depois se veio a chamar o Cancioneiro do Niassa, e que passaram na então Rádio Metangula (em 1968/69).  As letras eram acompanhadas por melodias em voga na época, incluindo tangos, baladas e fados, tradicionais ou não, ainda hoje facilmente reconhecíveis (por ex., A Casa da Marquinhas, de Alfredo Marceneiro, ou a Júlia Florista, da Amália).

O seu interesse não é apenas literário mas também  documental, socioantropológico... Temos procurado também, no nosso blogue, (re)construir o Cancioneiro da Guiné, de que este fado do Joaquim Mexias é já uma peça emblemática. (LG)
Fado da Guiné


Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)

Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Bojador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,

18 de Agosto de 2007
 ________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves) 



(**) Último poste da série > 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9098: Agenda Cultural (171): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (9): Rescaldo da sessão do dia 23 de Novembro de 2011 (Carlos Cordeiro)

13 comentários:

Torcato Mendonca disse...

O FADO É MUITO BONITO. MUITO.

É PARA SER OUVIDO EM SILÊNCIO,

PARA SER SENTIDO...ENTRA E TOMA CONTA DE NÓS...

AGUENTA MUITAS TROPELIAS,MUITAS, MAS POR VEZES GRITA DE DOR...

Abraços T.

Antº Rosinha disse...

O Fado, os e as fadistas e o "regime"...as voltas que o mundo deu!

Torcato Mendonca disse...

Antº Rosinha
Estás a falar dos 3 F's.
Creio que há nisso uma certa confusão.Não tua claro.

Só um brevíssimo comentário.
-Fátima, eu não pratico mas respeito;
- Futebol, gostava e gosto. Há muitos anos que não vejo um jogo ao vivo e na TV mandei cortar a Sport TV. Não tenho paciência. As razões que apontam ser alienante tal jogo são hoje mais fortes do que outrora.Vê o que se passou ontem. Aquilo é o quê, desporto?Não.
- Fado e fadistas foram, na maioria dos casos injustamente tratados. Havia quem estivesse de acordo com o antigo regime.Mas qual a profissão que não tinha? Qual o mal? Quantos progressistas e berradores do 26 de Abril não estiveram como fervorosos defensores do regime em 24 de Abril?
O Fado tem letras que hoje se dizem ser "marialvistas" etc, etc...mas isso é próprio do Fado.

Eu sempre gostei e gosto.

Um abração amigo para ti. T.

Anónimo disse...

"Eu cá pra mim não igual..oh.."

Os três efes..para mim

Fátima..é-me completamente indiferente.
Fado..não gosto.
Futebol...ADORO..atenção..adoro ver alguns jogos internacionais, principalmente onde actuem jogadores portugueses..e da Selecção Nacional..claro
Fiquei muito satisfeito com a atribuição pela UNESCO ao FADO.
Tudo o que seja PORTUGUÊS e seja reconhecido internacionalmente..GOSTO..feitios.

C.Martins

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus camarigos

lembro apenas que a letra foi entretanto corrigida.

Dobrado o Bojador e não o Equador.

Quanto aos Fs.

Fátima - gosto e acredito do mais fundo do meu ser.

Fado - Gosto muito, sobretudo quando é bem cantado.

Futebol - Gosto quando é bem jogado.
Detesto tudo o que anda à volta do futebol, em gestos, atitudes e palavras, que em vez de divertirem as pessoas as transformam em energúmenos irracionais.

E um grande abraço para todos

Luís Graça disse...

Joaquim:

Com as pressas, com a preocupação de estar em cima da notícia, nem dei conta da gralha... Já na altura tínhamos corrigido: é óbvio que é [Cabo do] "Bojador" (na costa do Sara Ocidental) e não Equador... Não fomos para Angola, fícámos na Guiné, hemisfério norte... A geografia não é uma batata, é uma ciência...

Está feita a correção, com pedido de deculpa ao letrista e artista...

Há uma outra versão, também tua, no You Tube, na nossa conta "Nhabijoes", com data de 14/10/2007... Só áudio... Já teve mais de 8880 visitas, e três comentários:

(...) "Parabéns, camarada e amigo Joaquim. O teu poema e a tua interpretação mereciam acompanhamento à viola e à guitarra... E já agora, violino e contrabaixo. Ainda um dia vamos tentar! Tu mereces, os camaradas da Guiné merecem-no. Luís".

(...) "Obrigado Camarada por estes versos magnifícos.
coelhoteixeira"

(...) "É dos mais lindos poemas jamais feitos para este fado tradicional. Obrigado Mexia Alves por nos brindares com esta maravilha. Só acho que merecia acompanhamento musical. Um grande abraço. GG
arcanjo1947" (...)

http://www.youtube.com/watch?v=4gfI54NkXaA

Luís Graça disse...

Rosinha:

Fiz parte, no final dos anos 70, de uma vasta equipa de alunos de sociologia, dirigida pelo antropólogo Joaquim Pais de Brito (atual director do Museu de Etnologia), que fez a primeira abordagem séria, com rigor científico, do fado enquanto "canção popular urbana de Lisboa"... Eu e a minha equipa interessá-nos pelo chamado "fado vadio" que ainda se cantava, na época, no Bairro Alto (e mais concretamente na tasca, que já não existe, "A Princesa da Atalaia")...

Muito aprendi, nessa altura, com o meu mestre e amigo Joaquim Pais de Brito, pioneiro na abordagem socioantropológica do fado e hoje talvez injustamente esquecido...

O que te posso dizer é que ninguém se pode apropriar do fado: ao longo da sua história de dois séculos, encontras de tudo, nas letras de fados, em termos político-ideológicos: fado liberal, miguelista, marialvista, monárquico, republicano, anarcossindicalista, socialista, comunista, fascista, progressista... Pessoalmente,. não gosto de ser redutor e abusar dos "adesivos"... É a "ganga da história"... António Ferro e o SNP/SNI, no Estado Novo, quiseram fazer do fado "uma canção nacional"... O mesmo aconteceu ao flamenco, na Espanha de Franco... A partir de ontem, o fado atinge uma dimensão universal, e isso é que importa...

Juvenal Amado disse...

Os 3fs
Fátima vivo cá e gosto de viver.
Futebol estou apreensivo com a falta de jogadores portugueses, nos clubes que jogam o nosso campeonato.
Gosto de ver futebol mas agora prefiro ver o Real Madrid, o Chelsia e o Manchester. Como equipe onde actuam só estrangeiros prefiro o Barcelona.
Quanto ao fado fiquei contente com a escolha. Gosto de alguns fados e de alguns interpretes especialmente dos novos. A poesia é também motivo para gostar ou não.
O meu pai que não gostava nada de fado, tinha um dito muito engraçado, que me escuso aqui de reproduzir

Quanto ao fado da Guiné do Mexia só digo «Ah fadista»

um abraço

Torcato Mendonca disse...

Voltamos a estar de acordo meu caro Luís Graça. Começo a semana a concordar contigo e com todos.

O Fado vadio...aí...mas o Fado se bem cantado. Olha camarada (s)andem, por qualquer parte do mundo e ouçam uma guitarra tocar, mais ainda se tiver voz a cantar...arrepia? Pois arrepia. Só de escrever isto já...
Vão aparecer agora muitos a falarem do Fado correctamente, alguns incorrectamente e devemos ter o cuidado de separar o trigo do joio.Abraços T.
ps - borrifo-me nos 3 efes...e...

Antº Rosinha disse...

No dia em que nos deixemos de complexos, é que os portugueses nos entenderemos.

Mas teremos sempre complexos, seremos sempre portugueses, uns contra os outros.

No nosso tempo de jovens, não havia partidos, dizia-se que ou eramos da situação ou do contra.

Essa dos tres F`s, ontem e hoje é um exemplo.

Saramago ganhou Nobel «contra» muita gente, e, não tenho a mínima dúvida que esta distinção atribuida ao Fado, tambem vai contra muitas mentalidades.

Admiro por exemplo os ingleses, diferentes de nós, em unanimidade e em radicalismos:

Aceitam a «maternidade» de Elton John, de barriga de aluguer, e não o condenam quando intervem em certos actos nacionais, e esquece que diariamente chegam soldadinhos na horizontal, vindos do Afeganistão.

Talvez eu seja um «tremendista», mas, não resisto a analizar estas coisas por um ponto de vista de uma minoria a que pertenço:

Ex-emigrante, e retornado.

Eu não sou apreciador de fado, mas gostei de ouvir o fado no Brasil, cantado por um operário brasileiro que quando me via, portuga, como eles dizem, automáticamente cantava um de três cantores: Amália ou Francisco José ou Tristão da Silva.

Ele, praticamente só conhecia estes três, eu nem isso.

Mas tudo na vida são lições!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Não com a sapiência do Torcato, mas apetece-me escrever sem nada deixar dito, muito embora tudo aqui esteja escrito, como ele tantas vezes faz e bem.
Este meu povo, a que pertenço, quando empurrado...Lembro-me de Amália, hoje no Panteão...Lembro-me de ser menino e haver outros jogos...Lembro-me dos dias que passam e dos rostos e preocupações...Depois fala-se de Fado e surgem os três F.
Gostei do que escreveu o Torcato, o C.Martins e o Juvenal, e mais não digo, pois não posso deixar culpar o Fado...
Ai as utilizações das coisas e as fogueiras que queimam criadores e alimentam os inúteis que incendeiam ou incendiaram...
Viva o Fado, Parabéns ao Fado.
Eu que, embora goste do de Lisboa, aprecio mais o de Coimbra.
BSardinha

Júlio Madaleno disse...

Dois dos F´s, um respeito-o, outro causa-me ansiedade clubística. Quanto ao 3º amigos...ah quanto nos fazia reviver o que nos era querido e estava longe. Na altura tinha lá uma viola que nos ajudava nesses bocadinhos de nostalgia. Hoje sou intérprete de guitarra portuguesa. Só lamento não conseguir encontrar-me com rapaziada das 2 ccaç´s por onde passei, a 1685 e a 2317. Abraço a todos e viva o que os 3 f´s ainda hoja sembolizam.

Carlos Pinheiro disse...

Depois do muito que já aqui foi dito, muito a brincar mas também muito a sério, nesta altura em que ainda anda no ar alguma "festa" pela escolha do FADO como património imaterial de Humanidade, e terá sido por isso mesmo que este post foi colocado,voltando ao FADO DA GUINÉ e isso é que importa agora, goste-se ou não de fado, o mesmo tem um poema bem conseguido, a música nem se fala, mas este Fado deveria também ter oportunidade de ser melhor divulgado entre as massas combatentes. O Mexia, seu autor e seu cantor, nós todos seus ouvintes e admiradores, bem mereciam uma maior e melhor divulgação. Vamos a isso.
Carlos Pinheiro
06.12.11