sábado, 26 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9099: (Ex)citações (159): O nosso mundo está a encolher (Fernando Gouveia)


1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2011:

Caro Carlos
Estou a quebrar o meu segundo período de silêncio (não quarentena como da outra vez), pois para tudo é necessário algum repouso, para refazer ideias.

Quanto ao tecer considerações sobre o blogue, o número de postes ou de visitas ao mesmo, repetirei o que disse na minha primeira comunicação ao Luís Graça: “já tenho que ler até ao fim da minha vida”.

Mais do que comemorar os dez mil postes ou os três milhões de visitas, quero dar o meu contributo para os onze mil postes e os quatro milhões de visitas com o “artigo” que se segue e que, desde já, gostaria que fosse comentado pelo Prof Luís Graça, pois é a ele que estes assuntos dizem respeito.

Um abraço.
Fernando Gouveia
P.S. – Brevemente apresentarei “contas” das vendas do Na Kontra Ka Kontra.


O NOSSO MUNDO ESTÁ A ENCOLHER

Quando no ano passado (daqui a dias terei que dizer “há dois anos”…) regressei da minha visita à Guiné, passados quarenta anos de lá ter estado, comentei com os meus familiares e amigos que, em Bafata, quando visitei a minha casa e o quartel do Comando de Agrupamento, ainda a funcionar como quartel, achei tudo muito mais pequeno. No quartel, os pés direitos e a platibanda do telhado pareceram-me mais baixos; os compartimentos, nomeadamente o meu antigo quarto, muito mais pequenos. A minha casa, que na altura a achava de dimensões normais, pareceu-me minúscula, tal como a varanda, onde, muitas vezes estive sentado e me sentei de novo, agora.

Sensação estranha. Pareceu-me que tudo tinha encolhido.

Não esquecendo o que se passou segui em frente. Mas eis que há dias fiquei surpreendido com um artigo que li numas “Seleções da Reader’s Digest” de Fevereiro de 1949, extraído da publicação ”The Christian Science Monitor”, que junto a seguir.


Tudo isso é então normal. Mais descansado fiquei…
Ainda na sequência de tudo isto relembrei um poema do livro “Magnetismo Terrestre” (Fevereiro de 2006) de Regina G.


BIG-BANG

Na minha infância, o Universo estendia-se
do Castelo até às Eiras, envolvendo a Praça
e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
À volta eram ladeiras que velavam o sono do rio
lá no fundo. Era assim o meu mundo
que, para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência,
uma das conjeturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang
o meu Universo contrai-se, não se expande.


2010 - Edifício dos quartos dos oficiais do Comando de Agrupamento.

2010 - Um jagudi em cima da que foi a minha casa.

2010 - Na varanda da minha antiga casa.

Um abraço a todos
Fernando Gouveia
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8794: Agenda Cultural (154): Exposição de fotos e lançamento do Livro Na Kontra Ka Kontra de autoria do nosso camarada Fernando Gouveia, ocorridos no dia 13 de Setembro de 2011, na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9092: (Ex)citações (158): Homenagem aos nossos mortos não tem data! É quando um homem quiser! (António Matos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Fernando Gouveia
Confesso que o teu testemunho sobre o tema "o nosso mundo está a encolher" me impressionou particularmente.
Li-o ontem à noite e povoou parte dos meus pensamentos antes do sono chegar. È que ao ao longo dos meus 71 anos nuncan senti nada de parecido. E interroguei-me. Porquê?
Julgo que consciente ou inconscientemente fui "montando" mecanismos de defesa para que o mundo não encolhesse quando passei por grandes provações. A experiência que referes do teu regresso à Guiné muito me fez pensar. E não quero passar por ela. Quero guardar o meu arquivo mental tal como está.Se podesse "voar" para um local voltaria apenas à Catedral de Bissau, onde perto do final da comissão vivi momentos de "silêncio e paz", de que muito precisava para encarar problemas que sabia que me aguardavam à chegada. E chegaram. E que se não "encolheram" a minha vida ... a alteraram profundamente. Devo-te, meu caro Fernando Gouveia, estes momentos de regresso ao passado. Que de algum modo me "encolheram"... Mas a manhã é de Sol e vou encher o peito de ar e "vestir" o meu "colete" de defesa pessoal. Sinceramente não quero viver encolhido.
Um grande abraço de Alcbaça,
JERO