terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa* (Coronel de Art.ª na reserva, na efectividade de serviço, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74), enviada ao Blogue em 26 de Setembro de 2011:

Guiné 63/74 - P8799: (In)citações (36): Filhos do vento, ontem, brancu mpelélé, hoje (Cherno Baldé)**

Olá Camarada
Tenho para mim que são mais as vozes do que as nozes.
Nas três localidades onde estive: Cacine, Xime/Enxalé e Mansabá conheci um caso em Cacine.

Os "Portugueses Suaves" como alguns lhes chamavam eram perfeitamente reconhecíveis pela cor da pele e, às vezes, do cabelo.


O Português Suave de Cacine era o "Manel". Era bastante claro e de cabelo louro, embora encaracolado.
Tinha cerca de cinco anos - em 1968 - e era um puto muito vivo e esperto. Num ataque, julgo que, no tempo da CCaç 1620, foi ao ar com uma morteirada e ficou com a cabeça cheia de descacadelas de estilhaços pequenos que lhe deixaram marcas na cabeça. Dizia-se que era filho de um furriel enfermeiro (qual?)

Nos outros locais, nunca dei por filhos de militares.

Creio mesmo que os contactos sexuais susceptíveis de conduzir a gravidez, a dada altura, passaram a rarear, por motivos óbvios.
Julgo que as próprias mulheres se protegiam (como? não sei) pois, embora aparentemente fossem aceites, ficavam "difamadas" e as consequências para as crianças podiam ser imprevisíveis.

No fundo, toda a gente sabia que a estes "filhos da guerra" ficariam abandonados nas suas terras, no final da comissão e a partir daí... tudo poderia acontecer. E depois da guerra acabar, como seria?

Se houvesse uma estrondosa vitória das gloriosas NT, como seria? E se fosse o insidioso e ardiloso In a cobrir-se de glória? É necessário não esquecer que estamos em ambiente rural, nos anos 60/70 quando estas actividades não estavam tão despenalizadas, quer nas cidades, quer nas áreas rurais, como estão hoje.

Julgo que "a malta" também se defendia de possíveis contaminações com doenças "sexualmente transmissíveis" (como hoje se diz) e que, ao tempo eram tratadas "à bruta" e o seu detentor não era muito aplaudido. Vá lá saber-se porquê...

Aqui tens a foto do Manel
Um abraço do
António Costa
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Notas de CV:



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