segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8881: (Ex)citações (150 ): Louvável o esforço do nosso camarada Carlos Cordeiro de pôr a Universidade dos Açores ao serviço da divulgação do conhecimento do que foi a guerra do ultramar e do seu impacto familiar, social e económico nas nossas ilhas (José Câmara)

1. Comentário,  ao poste P8858,  pelo nosso camarada José da Câmara, que vive nos EUA, e que foi Fur Mil da CCAÇ 3327 e do Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73) [, fioto à direita]

Caros amigos,

O professor Carlos Cordeiro, com a modéstia que o caracteriza, deixou-nos com imagens que valem palavras mil.

Em boa hora o fez, na medida que nos permite usufruir da nossa capacidade interpretativa para lermos a sua mensagem.

O nosso amigo não está só nesta sua iniciativa, nem nunca pretendeu estar. Bem pelo contrário, envolveu a Universidade dos Açores, o seu departamento de História e a Comissão Científica.

Desde logo, a universidade com o seu apoio colocou-se ao serviço da comunidade onde está inserida, dando exemplo daquilo que deveria ser o paradigma de todas as instituições públicas de educação escolar, independentemente das vertentes educativas para que estão dimensionadas.

Todas elas se o tivessem feito atempadamente teriam feito o nosso país economicamente mais viável, socialmente menos dividido, mais humanista, mais sensível e culturalmente muito mais bem apetrechado.

Porém é no centro, entre as imagens que abrem e fecham a conferência e o debate, que está a essência da mensagem que se pretendeu passar e que está a ser muito bem conseguida. Aliás, o mesmo aconteceu com as conferências anteriores e certamente acontecerá com aquelas que chegarão nos próximos tempos e pelas mesmas individualidades.

Todo o cuidado tem sido posto para que estas conferências não sejam um ponto de encontro de nadas, onde se contam histórias de guerras, de minas, de fome, de ataques aos superiores hierárquicos e às instituições constituídas. Bem pelo contrário, o que nelas se pretende é contar a história humana do que foi a guerra do ultramar e o impacto familiar, social e económico que ela teve, neste caso particular na vida dos açorianos.

Presentes estiveram combatentes e as esposas que ouviram pela primeira as suas cândidas confissões de amarguras, os porquês das suas reacções, dos seus sonhos destruídos, certamente de alguns construídos.

Entre os outros, a particularidade de se verem muitos jovens presentes. Para ouvirem e para aprenderem de nós que um dia também fomos jovens como eles, com as mesmas aspirações de vida um dia truncadas por uma guerra que não escolhemos combater, mas à qual fomos chamados. Era a nossa obrigação enquanto mancebos de Portugal.

Ali souberam que nós dignificamos o uniforme que envergámos e que não envergonhámos os nossos antepassados que em outras ocasiões e outras guerras se cobriram de glória e contribuíram para a rica história dos portugueses.

Também não será menos verdade que ali aprenderam quantos dos seus irmãos ilhéus deram a vida na defesa daquilo que, pelo menos ao tempo, tínhamos aprendido ser nosso: o Portugal Ultramarino.

Como lição última, aperceberam-se que nas euforias do 25 de Abril de 1974 e do findar da guerra, a sociedade portuguesa nos definiu e nos julgou na praça pública. Que nem esboçámos a nossa defesa, porque nos faltou a coragem e a dignidade que tantas vezes nos sustentaram nos confins de África.

Por tudo isso e muito mais, há que colmatar a nossa falha colectiva, aproximando-nos dos que então estavam em linha para nos substituir nas bolanhas da Guiné e nos planaltos e planícies de Angola e Moçambique.

Temos que nos dirigir aos jovens de hoje, aos nossos netos e aos seus amigos e contar-lhe apenas e só a verdade da guerra que combatemos enquanto soldados de Portugal.

Finalmente, julgo que se pode chegar à conclusão lógica da mensagem. É imperativo que nós, combatentes que fomos nas províncias ultramarinas, façamos um esforço sincero e persistente, não necessariamente reivindicativo, para nos reconciliarmos com a sociedade portuguesa e antes de a fazermos com o nosso inimigo de então, como alguns pretendem.

Obrigado,  Carlos Cordeiro por esta lição de vida.

Um abraço amigo do tamanho do oceano que nos une.

José Câmara
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Nota do editor


4 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Meu Caro José Câmara

Permite-me salientar """Todo o cuidado tem sido posto para que estas conferências não sejam um ponto de encontro de nadas, onde se contam histórias de guerras, de minas, de fome, de ataques aos superiores hierárquicos e às instituições constituídas. Bem pelo contrário, o que nelas se pretende é contar a história humana do que foi a guerra do ultramar e o impacto familiar, social e económico que ela teve, neste caso particular na vida dos açorianos."""
Todo o teu texto merece ser relido e reflectido. Até na forma como finda...este oceano que nos une...

Estou de acordo contigo, com o que o teu conterrâneo Carlos Cordeiro faz. Só assim o nosso País caminha para o progresso. Felizmente temos muitos a pensarem e assim actuarem.

Receio que agora, com esta louca e desmedida fúria cega de poupança não estraguem muito do que foi feito. Poupar, não estragar mas, principalmente, acabar com privilégios injustos e com o culto da mediocridade. A ver vamos.

Abraços fortes que caminhem pelo Oceano que nos une. Deixo um a meio caminho, em tua Terra, e o outro segue para ti com amizade. T.

Anónimo disse...

Meu caro amigo José Câmara

Um grande abraço de agradecimento por estas tuas palavras que entendo como sendo de incentivo. Como já aqui disse, nós, das comissões Organizadora e Científica, temos recebido muito mais do que damos. Tudo se passa com grande elevação por parte dos nossos camaradas, alunos e outras pessoas interessadas. Não há, ou pelo menos não tem havido, picardias, acusações, afirmações de heroicidade própria, autoflagelação recorrente. Procura-se aprofundar algumas temáticas e debater questões.
Não há sábios e ignorantes. Ali todos estamos para partilhar conhecimentos e experiências.
O que quero dizer, em conclusão?
Que nós, organizadores, temos sido verdadeiramente privilegiados pelo modo como os nossos camaradas, alunos e demais pessoas interessadas têm acolhido esta nossa iniciativa, o que nos dá força para ir em frente.

Um grande abraço, caro amigo José Câmara.
E também para ti, meu caro Torcato. Vê se pões cá fora o livro.
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Só mais um uma coisa: na última sessão tivemos a grata surpresa e ainda maior gosto de, pela primeira vez, dois jovens alunos terem levantado questões (aliás, bem pertinentes) no período de debate.
Como se compreende, isto trouxe-nos mais força ainda para continuarmos.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Unknown disse...

Caro Zé
Desculpa entrar aqui, sem ser para comentar. Queria saber se recebeste o meu email com os contactos do Alf. Paula.
Um abraço
Jorge Portojo