segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8739: O Nosso Livro de Visitas (116): Ex-Alf Mil Orlando Silva, CCAÇ 3325 (Os Cobras), Guileje e Nhacra, 1971/72

1. Comentários deixados por um nosso camarada que se identifica como Orlando Silva - Ex-Alferes Cobra, Aveiro, no Poste Poste 5637:

i) - Ao falar de Guileje e do Ultramar Português, vou passar a contar algumas passagens, que suponho farão para uns recordar e para outros sorrir:

Quando da nossa chegada a Guileje (Fevereiro de 1971) para rendição da C.Caç. 2617 que se iria deslocar para Quinhamel, vindos de Gadamael-Porto, e depois dos outros dois Grupos de Combate terem sido recebidos no dia anterior a "foguetão", foi a nossa vez (os outros dois Grupos).

Como não havia camas para todos, calhou-me a fava e tive que pernoitar no Gabinete do Médico (Dr. Acácio Bacelar) que se encontrava, suponho, de férias. Naquela noite, estava eu confortavelmente em cuecas, quando "elas" começaram a cair.

Como eu só me encontrava em segurança dentro de uma Caserna-Abrigo (à prova de 120 perfurante), resolvi de imediato calçar os mini-chinelos, agarrar na cartucheira e na minha companheira G3. Como o meu Grupo (2.º) estava na Caserna-Abrigo mais próxima (à entrada do Aquartelamento do lado de Gadamael), sei que atravessei a voar a distância entre o Gabinete Médico e o Abrigo. Não me lembro se pus os pés no chão ou não. Sei que me senti bem quando entrei naquele Abrigo, e que não me tinha sujado em lado nenhum. Homem feliz!

Mais tarde, no Bar de Oficiais, os sacanas do Capitão Parracho, e dos Alferes Cristina, Cunha, Rodrigues, Almeida e até o valentão do Acácio, fartaram-se de rir com a minha estafeta. Também eu me ri, mas só depois. Nunca fui herói, por isso naquele momento de perigo foi o que consegui fazer, e felizmente não me saí mal. Felizmente também, não acertaram dentro do Quartel, e como o Cristina (Alferes de Artilharia) começou logo a retaliar com os obuses 11,4, a valentia do IN acabou.

Por hoje é tudo. Um abraço.
Orlando-Ex-Alferes Cobra
Aveiro


ii) - Para falarmos de Guileje, convinha primeiro dar a conhecer a sua Zona de Acção:

O Subsector de Guileje tinha a área aproximada de 185 km2 tendo por limite, a Este a República da Guiné, a Oeste a AICC da região de Salancaur, a Norte o Sector de Aldeia Formosa e a AICC do Corredor de Guileje e a C.Caç. 2796.

A ZA tinha sensivelmente a configuração de um rectângulo com a extensão máxima no sentido E-W.
Dos itinerários do Sector, o único que era utilizável para viaturas era a Picada que saía de Guileje para Gadamael.

O único centro populacional que se encontrava na nossa ZA era Guileje, que tinha cerca de 300 habitantes, que viviam dentro dos limites do Aquartelamento.

Na n/ ZA. havia vários rios que no nosso início de comissão estavam secos com excepção de pequenos cursos de água, como o Rio de Áfia e o Rio Mejo que, apesar de tudo, atravessávamos facilmente, e um braço do Rio Cacondo que tinha bastante água mas que se atravessava também embora com muita dificuldade.

Toda a ZA. da C.Caç.3325 tinha uma mata relativamente aberta, excepto a parte compreendida entre a Estrada Guileje-Mejo e o limite Norte em que a mata era bastante fechada.

Era uma zona rica em caça, especialmente porco do mato, gazelas, galinha do mato, cabras do mato, aparecendo com certa frequência elefantes no limite com a República da Guiné.

Os produtos agrícolas eram especialmente a mancarra, batata doce e o arroz, que não chegava no entanto para satisfazer as necessidades da população.

Para ser possível efectuar este relatório, foi preciso percorrermos toda a ZA. Muito trabalho!. Nunca esperámos que o IN viesse ao nosso encontro, antes procurámos qualquer trilho que aparecesse, e por isso muitas vezes lhes aparecemos por trás onde nunca contavam que a tropa portuguesa ousasse sequer entrar. Arriscámos? É verdade, mas só devido a essa nossa insistência foi possível evitar que o IN nos incomodasse muito.

Mais tarde, já na época das chuvas, tentaram finalmente inverter a situação, enviando para a nossa ZA.

Sapadores Cubanos, que montaram vários campos de minas. Mas, os azares que daí surgiram só nos vieram dar mais força: como retaliação, fomos também montar campos de minas nos seus itinerários, incluindo no Corredor de Guileje/da Morte, donde resultaram muitos danos para o IN.

Hoje fico por aqui, meus amigos.
Um abraço.
Orlando Silva-Ex-Alferes Cobra
Aveiro


2. Comentário de CV:
Caro camarada Orlando, muito obrigado por deixares os teus comentários no Poste 5637, mas gostaríamos mais que te juntasses à nossa tertúlia e colaborasses regularmente no nosso Blogue, não só comentando, mas enviando as tuas histórias e fotografias.

Pertenceste à CCAÇ 3325, Os Cobras, formado no BII 19 do Funchal, de onde terás partido em Janeiro de 1971 para a Guiné, e que esteve cerca de um ano no Guileje.
Gostaríamos de conhecer as tuas memórias desses tempos passados nessa zona quase mítica, onde as NT passaram muitos maus bocados.

Para te juntares a nós, envia-nos uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual, de preferência tipo passe, em formato JPEG, fala-nos da tua Unidade pois o nosso Blogue não tem praticamente nenhuma referência a ela, fala-nos de ti, tudo isto numa pequena apresentação para te ficarmos a conhecer um pouco.

Esperando o teu próximo contacto, deixo-te um abraço.
Utiliza o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ou os dos co-editores.
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8672: O Nosso Livro de Visitas (115): António Agreira (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 4544, Cafal Balanta, 1973/74)

6 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Vinha por aqui a baixo destravado...e passei da comezaina a Guiledge.
Mau, o que tem Guiledge a ver com aquele banquete. Aquela gente não engorda? O Alferes dorme no quarto do médico e voa até ao abrigo...bolas, bolas eram dois postes...os "Cobras" estavam a "embrulhar". No outro poste eram uns ex Guinés a banquetear-se...e eu acabei agora o meu meio jantar: - um iogurte...

O nome Cobras para aquele aquartelamento está bem escolhido.

O nome Arroz de Forno parece mal escolhido...aquilo na minha terra são batatas, chouriço, ovo e...

Boa digestão com um abraço, T

Torcato Mendonca disse...

Juro que antes deste poste estava outro com um grande banquete.

Posso passar fome...posso não comer daquilo...nem beber álcool.
Mas estava lá,desapareceu e o meu comentário ficou pendurado pelos...isso!
Fora com ele. Ab T,

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Em vindo camarada de Guileje
Apresenta-te como deve se e partilha connosco as tuas vivências.
Jose Carvalho
ex fur mil OP/ESP
Guileje (Piratas de Guileje CCAV 8350)

Anónimo disse...

A mesma sorte não teve o nosso "querido" padeiro (fazia um pão divinal, pelo menos para mim) em Gadamael, bom cachopo e divertido,que ao fazer o mesmo, ficou sem um dedo de uma mão e levou com três estilhaços na "padaria",perdão nos glúteos.

C.Martins

Anónimo disse...

PS
obuses 11,4 !!!! PEÇAS,PEÇAS.
NÃO HAVIA NEM HÁ OBUSES 11,4
"CHIÇA", quando é que estes infantes aprendem,está bem,está bem,prontos eu perdoo.
É apenas uma reacção deste "artilheiro" rezingão ...é a idade.

C.Martins

Orlando Silva disse...

Ignorância! Simples ignorância! Ou será que estão a brincar? Não há peças (óbus) 11,40? Que raio! Quando discutimos um assunto, devemos saber o que dizemos! Tivemos 3 (três) peças óbus 11,40 que foram pasme-se, substituidas por peças 14,00. Para quê? A Aldeia Formosa tinha os 14,00 e muitas vezes nos pediram apoio para bater o Corredor de Guileje (pois as nossa peças conseguiam atingir aquela via de entrada do IN no nosso território (o que motivou numa das vezes, 7 mortos e 14 feridos, quando soubemos da entrada de uma coluna inimiga de reabastecimento). Tenho muitas fotos dessa existência. e...
quero que saibam, que não tenho vergonha de dizer que, na noite da minha chegada a Guileje, perante a flagelação com que fomos recebidos, tive medo e corri para o abrigo do meu grupo de combate (2º). Não sou nenhum herói, sei reconhecer que tive medo, mas sei dizer o que na realidade passei/passámos, e foi muito. Esta troca de experiências é que deve ser tentada. Sem vedetismo.
Até já. Orlando Silva.
Cobra de Aveiro