quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8660: Recortes de imprensa (46): Guiné: Cmdt Fuz Esp Rebordão de Brito, em entrevista ao “O Diabo” (Magalhães Ribeiro/Manuel Marinho)

1. Com a devida vénia e agradecimentos ao semanário O Diabo (fundado  em em 10 de Fdevereiro de 1976) publicamos hoje, para quem ainda não conhece, mais um interessante depoimento para a catarse da história da guerra na Guiné, datado de 16 de Junho de 1992. É uma entrevista ao lendário Comandante Fuzileiro Especial Alberto Rebordão de Brito (entretanto já falecido), que de alguma forma reforça as ideias e  matérias reproduzidas nos poste P8644 e P8650.

A postagem, em formato Word, contou mais uma vez com a preciosa e amigável colaboração do nosso Camarada Manuel Marinho (1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), pelo que se registam igualmente os nossos melhores e devidos agradecimentos. (MR)

Comandante na reserva, Rebordão de Brito, em entrevista.

“ O PAIGC DIFICILMENTE AGUENTARIA MAIS UM ANO DE LUTA”
Chama-se Rebordão de Brito e é comandante na reserva. Nasceu em Cabo Verde, de onde saiu com apenas 4 meses de idade. Decidiu ser militar ao serviço dos Fuzileiros Especiais nº 12, que foram colocados na Guiné. Aí participou na conhecida operação Mar Verde e chefiou campanhas em cenário de guerra. No dia 25 de Abril estava de férias em Londres, regressando 4 dias depois da revolução. De Lisboa embarcou para a Guiné para que as tropas africanas portuguesas não caíssem na mão do inimigo. Com a chegada ao poder de Vasco Gonçalves decide abandonar o País. Parte para o exílio, no dia 11 de Março de 1975, porque a Pátria que serviu não é a mesma. Hoje tem uma vida igual à de tantos militares que, como ele, combateram nas províncias ultramarinas embora não se sinta refugiado no seu próprio país, não quer ser fotografado, nem pel’O DIABO


O DiaboEm que ano foi colocado em África?

Comandante Rebordão de Brito – Não fui colocado em África fui voluntário, para prestar serviço no Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 12 que partia em comissão de serviço para a província ultramarina da Guiné. Estranhará por certo esta diferença de terminologia, mas, o facto é que, tendo nascido em Cabo Verde, sempre me senti português de alma e corpo inteiro e nunca um colonizado.

O DiaboQuais eram os objectivos da operação “ Mar Verde”?

R B – O principal objectivo era resgatar os portugueses que se encontravam prisioneiros em Conacri. Simultaneamente dado conhecermos a enorme oposição a Sekou Touré, seria facilitar a ascensão ao poder de um governo não hostil a Portugal que interditasse ao PAIGC a utilização de santuários no território da Guiné-Conacri. A dar-se tal situação é fácil de prever que o esvaziamento daquele partido era uma mera questão de tempo.

O DiaboEssa operação destinava-se também a resgatar Amílcar Cabral?

R B – Como atrás disse, o principal objectivo não era esse. No entanto, se Amílcar Cabral se quisesse acolher à nossa protecção seria certamente
bem-vindo, e quem sabe, talvez ainda hoje fosse vivo.

O DiaboConsta-se que um dos objectivos seria apanhar uma série de aviões “MIG” que estariam estacionados numa base da Guiné – Conacri. Tem algum fundamento?

R B – Não era básico. Essa intenção fazia parte da neutralização das forças da Guiné-Conacri, o que permitiria andar por lá praticamente à vontade. O que interessava era trazer os prisioneiros, e como havia connosco uma série de dissidentes do regime da Guiné-Conacri, a ideia era dar cobertura à instalação de um poder que nos fosse favorável, e com isso, claro, desmantelar o PAIGC.

O DiaboQuem foram os principais intervenientes nessa operação?

R B – Bom, essa pergunta é de difícil resposta. Temo, por um lado esquecer-me de alguns que, convicta e orgulhosamente, nela participaram e, por outro, relembrar quem, convenientemente hoje, por ela não quer ser recordado. Ainda assim, e porque é homem que não renega o seu passado, não posso deixar de referir o inspector-adjunto Matos Rodrigues. Embora não tendo participado fisicamente na operação, ao seu entusiasmo, patriotismo e proficiência na recolha de informações, estabelecimento de contactos e apoios se deve uma boa parte da gestação da operação “ Mar Verde”.

O DiaboComo descreveria a situação da guerra ultramarina à data do
25 de Abril 74?

R B – Julgo ser suficientemente conhecido o panorama em Angola e Moçambique para que a ele me refira agora. Quanto à Guiné, em que a situação era um pouco mais complicada (dada a pequenez do território e a grande extensão fronteiriça), creio, apesar desses condicionalismos, termos sido, vítimas de bem tramada intoxicação, de deficiente informação ou ainda de ambas. E digo isto porque em Junho 1974, quando da entrada dos primeiros elementos do PAIGC, estes se apresentavam, na sua maioria esfarrapados e com péssimo aspecto. Alias, ao conversar na povoação de Cacine com o então comandante da sua marinha (Pedro Gomes), este confessou-me que dificilmente o seu partido aguentaria mais um ano de luta. Esta confissão é sem dúvida corroborada pelo insistente pedido feito às nossas autoridades para que se procedesse ao imediato desarmamento das forças africanas.

O DiaboÉ verdade que na Guiné o PAIGC levava uma grande vantagem sobre as tropas portuguesas?

R B – Nada mais falso. Se se disser que os guerrilheiros atacavam com alguma impunidade guarnições fixamente agarradas ao terreno, isso poderá, nalguns casos, corresponder à verdade. No entanto sempre que os encontros se davam com tropas especiais ou outras tropas comandadas, com determinação e vontade, o confronto era-lhes sempre e fatalmente, negativo.

O Diabo É de opinião que de um modo geral a guerra em Angola e Moçambique estava ganha?

R BEstava estacionária e em regressão.

O DiaboEntão só na Guiné é que ainda havia problemas?

R B – Na Guiné havia, mas depois vim a averiguar de que não era tão grave como isso. Após o 25 Abril vim a confirmar essa situação. Na altura não havia pilotos suficientes, nem meios aéreos, mas se tivéssemos forças de intervenção rápidas, em vez de fazermos uma guerra de quadrículas, nós tínhamos conseguido resolver a questão.

O DiaboO que aconteceu na Guiné depois do 25 de Abril?

R B – Eu estava em Londres no dia 25 de Abril. Vim para Lisboa a 29 e segui para a Guiné onde as manobras de guerra tinham parado. Havia uma situação um tanto ou quanto confusa, e como as operações tinham parado havia que dar destino àquela gente que tínhamos enquadrado, africanos, que eram bastantes. Uma das minhas preocupações, um pouco antes da independência, foi andar entre Lisboa e Bissau a ver se conseguia integrar aquelas forças nas futuras Forças Armadas da Guiné e, no meu caso, criar uma marinha onde eles tivessem um lugar, nem que fosse para lhes salvar a vida. Não se conseguiu totalmente. Nas minhas unidades consegui-o mais ou menos, pagando-lhes até ao fim desse ano (1974).
Aconselhei-os a saírem da Guiné o mais depressa possível e dirigirem-se para o Senegal para não terem a sorte que na altura tiveram, muitos comandos africanos.

O DiaboQue foram mortos?

R B – Sim, e muitos por culpa deles, porque se deixaram ficar na Guiné-Bissau.

O DiaboAcompanhou sempre todas as operações militares na Guiné?

R B – Sim, de 1967 a 1974. Saio da Guiné antes da independência.
Recusei-me a assistir à independência.

O DiaboConhece alguns episódios ocorridos durante a guerra colonial que queira contar?

R B – Como deve calcular, ao longo do tempo que passei no ultramar, milhentos episódios se passaram. Como temos falado da “Mar Verde” vou-lhe contar um, de certo modo caricato, que durante ela se passou.
Quando o meu grupo de assalto largou do navio-mãe e partiu em direcção às embarcações inimigas houve um bote que se atrasou visivelmente. Voltei atrás e insultei o seu chefe, o pobre marinheiro Sani, (mais tarde assassinado pelos seus “irmãos libertadores”). Disse-lhe que se tinha medo podia voltar para bordo, pois não queria cobardes no grupo. Ele balbuciou umas palavras que na confusão não entendi e deixei-o, voltando à cabeça da formação. Concluída a missão dei ordem de reembarque e cada um voltou ao seu bote. Isto é, cada um julgou ter voltado, ao seu. Mandei-os seguir à minha frente a fim de verificar os resultados e confirmar se não haveria algum retardatário. Verificações feitas, acelerei a fundo e da carcaça do meu potente motor saiu um profundo gemido e um tossir que assustaria o mais calejado médico dos sanatórios do Caramulo. Enfim, grunhindo e arrastando-se, o miserável bote lá conseguiu chegar ao navio onde, no negrume da noite, qual fantasma, me esperava uma branquíssima dentadura que generosamente apenas me perguntou:
“ Então chefe, a quantas cervejas tenho direito?”

O DiaboConcorda com a afirmação de que o general Spínola se terá deixado ultrapassar pelos acontecimentos aquando do 25 Abril?

R B – Não concordo de forma alguma. Acho, isso sim, que o general Spínola, raciocinando e agindo como homem e militar íntegro que era e é, foi enredado nas malhas que a traição e baixa política tecem. Convém não esquecer os vários “judas” (conscientes ou imbecis úteis), que na sua órbita gravitavam. O general Spínola queria manobrar e verificou que não tinha forças para isso, alguns não compareciam, outros saíram deliberadamente, outros faziam o jogo da esquerda sem saber bem porquê. São os tais a quem eu chamo os “imbecis úteis” e ele viu-se enredado numa confusão tremenda e só teve, a saída que teve em 30 de Setembro, que foi aquele discurso.

O DiaboComo se processou a fuga do general Spínola para o Brasil?

R B – Antes de mais refuto liminarmente a tese da fuga. Como já foi amplamente divulgado, dadas as informações que circulavam, houve um grupo de civis e oficiais (entre os quais o general Spínola), que foram aconselhados a receber a protecção de uma das poucas unidades militares não completamente conspurcadas pelo desvario pseudo-revolucionário que então grassava em quase todo o País.

Em determinada altura, por estarmos sem qualquer comunicação com o exterior, acompanhei o general Spínola à unidade vizinha no intuito de sabermos o que se passava. Quando o nosso helicóptero regressou ao ponto de onde partira verificamos imediatamente uma enorme efervescência na guarnição e soubemos que alguns oficiais já tinham sido presos. Considerei que o melhor, de momento, seria embarcar a esposa do general Spínola e a aproveitar o helicóptero para sermos colocados fora da unidade e daí seguir para onde julgássemos ser mais conveniente. No entanto, dada a perseguição movida durante algum por dois aviões, considerou-se que o mais seguro seria rumarmos a Espanha. Não foi, nesta altura, considerada a hipótese de partir para o exílio no Brasil.

O DiaboPortanto nesta altura ninguém pensava no exílio?

R B – Nessa altura apenas pensávamos em sair da base aérea e sermos colocados num sítio qualquer e dali arranjar um transporte que nos levasse aonde quiséssemos. Não havia nada a ideia de sair do País, mas dado as condições foi a melhor coisa a fazer. Assim considerámos a hipótese de ir para França, para não estarmos muito afastados de Portugal.

O Diabo Era essa a única solução?

R B – Sem dúvida. Com a loucura colectiva comandando o País, o mais provável era ter havido fuzilamentos a coberto da defesa da Revolução.

O DiaboEm sua opinião o que é que poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos nos dias que se seguiram ao 25 de Abril?

R B – É-me muito difícil dar uma resposta razoável a essa pergunta, porque, nessa altura, me encontrava na Guiné tentando salvar a vida dos fuzileiros africanos que tive o privilégio de instruir e comandar.

O DiaboO que pensa dos acordos do Alvor celebrados em 1975?

R B – Os acordos do Alvor? Poderá considerar-se acordo uma farsa montada pelos vassalos da ex-URSS com um fim único de servir o expansionismo desta e adiar o seu estertor? Creio bem que não.

 O DiaboOs acordos do Alvor, uma farsa?

R B – Não é mais do que isso. Estava tudo perfeitamente orquestrado para entregar aquilo às forças marxistas de Angola, e, aliás, com o desenrolar da situação verifica-se isso.

O DiaboComo classifica neste momento a situação vigente na Guiné?

R B – É dramática. É um país, sem economia, sem indústrias, a agricultura está destruída. Não tem quadros; uma classe dirigente e completamente corrupta; todas as ajudas exteriores que recebem são desviadas. Não vejo grande saída para a Guiné: ou é absorvida por aqueles dois grandes espaços francófonos a norte ou a sul, ou (passo o termo) encosta-se a Portugal e é a única maneira de sobreviver como país independente.

O DiaboComo natural de Cabo Verde como vê o futuro daquele arquipélago?

R B – O caso de Cabo Verde é um pouco diferente. Tem uma colónia de emigrantes muito grande, quer nos Estados Unidos quer na Holanda, e em Portugal, como é óbvio, mas as outras são muito mais potentes economicamente, e como tal, recebe imensas divisas. Neste momento está a dar alguns passos no turismo e tem condições para desenvolver a pesca, e, para além disso, tem quadros e uma população muito mais evoluída e culta que a Guiné. Embora também não tenha uma agricultura muito desenvolvida, porque em Cabo Verde só chove quando Deus quer, e muitas vezes Deus não quer.

O DiaboQual é a sua opinião relativamente ao diferendo existente entre o Governo e a Presidência por causa da lei dos coronéis?

R B – Eu não gostaria de ter opinião acerca disso, mas julgo que os únicos prejudicados no meio disso tudo são os militares que não foram tidos nem achados para alimentar essa fogueira e que estão nessa querela sem culpa nenhuma.

O DiaboO que pensa do serviço militar obrigatório ter passado para 4 meses?

R B – Entre haver serviço militar obrigatório com 4 meses e não haver, acho que era preferível não haver. Fazer isso, sim, mas com umas Forças Armadas profissionais, bem treinadas e relativamente pequenas, porque serviço militar obrigatório de 4 meses não dá para coisíssima nenhuma.

O DiaboÀ semelhança do que acontece nos EUA com os Fuzileiros?

R B – Porque não. Basta olhar para Inglaterra, são perfeitamente profissionais, quando são chamados estão sempre prontos, e sabem aquilo que fazem.


O DiaboOs nossos Comandos não correspondem a essa necessidade?

R B – Os Comandos são um ramo das Forças Armadas, mas como sabe têm também serviço militar obrigatório. Apenas os quadros são profissionais.

O DiaboMantém contactos regulares com os militares que o acompanharam em campanhas no ultramar?

R B – Muitos dos meus colegas que serviram nos fuzileiros não estão ao serviço ainda. Tenho contactos permanentes, quase todas as semanas um deles me telefona e anualmente fazemos um almoço para comemorar a ida para a Guiné. Os outros, os africanos, que temos aos poucos conseguido trazer para cá, quer eu, quer o meu antigo imediato, estão todos empregados, e mais não temos feito porque não temos tido apoios.
____________

Notas de M.R.:

Vd. também os postes relacionados com esta matéria em:

6 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8644: Recortes de imprensa (43): O pacto secreto de NINO com a PIDE, jornal TAL & QUAL, 14 Maio 1999 (Magalhães Ribeiro/Manuel Marinho)

9 de Agosto de 2011 >

Guiné 63/74 - P8650: Recortes de imprensa (45): Guiné: Uma diligência interrompida. Porquê? Da autoria de António Vaz Antunes (Coronel de Infantaria)

Vd. último poste desta série em:

9 de Agosto de 2011 >

Guiné 63/74 - P8650: Recortes de imprensa (45): Guiné: Uma diligência interrompida. Porquê? Da autoria de António Vaz Antunes (Coronel de Infantaria) 

18 comentários:

Anónimo disse...

Embora não esteja no alinhamento político do Comandante Rebordão de Brito,concordo com o essencial do seu depoimento.
Quero apenas destacar o seguinte; não foi o que aconteceu em Gadamael, os guerrilheiros e elementos do exército da Guiné-Conakry apresentarem-se rotos e mal ataviados, antes pelo contrário , vinham todos aperaltados talvez para fazer "ronco" e porque também foi dos primeiros sítios, senão mesmo o primeiro em toda a Guiné onde se apresentaram para conversações.A bem da verdade também nós "exército português" em muitos sítios parecíamos um bando de "maltrapilhos",devido a variados factores.
Deliciosa a história sobre o Sani, excelente militar..também eu, algumas vezes em Gadamael, ouvi da sua boca.."então chefe a quantas cervejas tenho direito" achava que qualquer coisa que fizesse tinha direito a cervejas.

Nota-- O Sani foi guarda-costas do comandante Patrício em Gadamael.
Quis ficar na Guiné após a independência e foi um dos fuzilados.Aqui lhe presto a minha homenagem.
"Então chefe a quantas cervejas tenho direito" ..a nada..nada..dizia o Comandante Patrício meio irritado meio divertido,ainda se fosse "gin"..(detestava)...respondia o "Pedras"(que só bebia gin simples"..ah ..para mim pode ser.

C.Martins

Carlos Vinhal disse...

Pergunta do Diabo:
Essa operação destinava-se também a resgatar Amílcar Cabral?

Fiquei hoje a saber que Amílcar Cabral também estava prisioneiro em Conacri. Ontem como hoje, os nossos jornalistas desconhecem a história de Portugal.

Quanto ao ser primeiro objectivo a libertação dos prisioneiros, ponho algumas dúvidas. Já lá tínhamos o Sargento Pilav Lobato preso há sete anos.
Pelo que tenho lido, era essencial o derrube o governo de Sekou Touré, substituído por outro amigo de Portugal, já que no Senegal o PAIGC era muito controlado tanto no armamento de que dispunha como nos movimentos que fazia. Outras importantes missões eram calar a Rádio oficial, destruir a aviação militar e prender Amílcar Cabral. Falhou tudo, como se sabe, salvando-se só a acção de libertação dos nossos camaradas prisioneiros.

Um abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Carlos e restantes camarigos

A palvra "resgatar" ali utilizada parece-me uma questão semântica.

Com efeito dizia-se que Amilcar Cabral estaria de alguma forma "refém" de uma oposição interna do PAIGC ou até do próprio Sekou Touré.

Aliás a resposta de Rebordão de Brito não vai de forma nenhuma no sentido que quiseste dar à pergunta.

Quanto ao sucesso da operação, acho extraordinário que se queira tantas vezes diminuir o resultado da mesma.

Um pequeno país, Portugal, por quem ninguém dava nada, além de aguentar uma guerra em três frentes ainda faz uma operação em que toma conta da capital de outro país durante não sei quantas horas!

Nos EUA tinha havido filme, sem dúvida!

Resgatam-se os prisioneiros Portugueses e por vezes, (não merefiro a ti), parece coisa somenos importância.

Não se destroem os famosos MIGs porquê?
Por incapacidade das forças de ataque?
Não, apenas porque os MiGs não estavam lá!

Não se prende Sekou Touré e não se derruba o regime por incapacidade das forças de ataque?

Não mas apenas porque Sekou Touré não estava onde era suposto estar e porque as forças da oposição se revelaram fracas e sem implantação.

Não se prendeu Amilcar Cabral, ou "libertou", conforme se entenda por incapacidade das forças de ataque?
Não, mas apenas porque Amilcar Cabral não estava onde era suposto estar.

Mesmo perante a deserção de uma pequena parte das forças de ataque, o êxito da operação em número de baixas próprias é um êxito e a capacidade de intervenção em terreno hostil é sem dúvida confirmada.

Querer transformar esta operação num "falhanço" é algo que não entendo, com toda a franqueza.

Acredito que não fosse essa a tua intenção, mas como por aqui já vi alguns comentários e opiniões anteriores sobre tal operação no sentido de a desvalorizarem, decidi que também expôr a minha opinião.

Grande abraço para ti e para todos

Unknown disse...

Caros amigos, o tema do recorte deste jornal, daria para muita matéria, porque fácilmente desmontável, quase resposta a resposta do entrevistado.
Mas para mim é mais importante recordar que o director do mesmo jornal era Vera Lagoa.
"O Diabo" foi mesmo diabo depois do 25 de Abril, sempre ao serviço das causas colonialistas, fascistas e congregava no seu seio todo o tipo de reaccionários às mudanças do 25 de Abril.
Vindo a ser ilegalizado algum tempo depois de 25A.
Já agora a sua reputação permanece a mesma, vêr o "DN" de 18Jan 2005.
Alguns insurgem-se contra livros que com + ou - (ou até nenhumas)inverdades, os autores assumem e sujeitam-se ao escrutinio intelectual dos leitores.
Isto não tem qualquer comparação com o conteuodo de um dito 'jornal', que albergou (ou deu voz) a membros do Elp, Mirn, bombistas e outros que tais.
Por favor... creio que devia haver mais critério na escolha das fontes, para suporte do nosso conhecimento, e argumentações.

C/ um abraço Carlos Filipe
ex- CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

Unknown disse...

Desculpem a minha reentrada.
Somente para recordar que será interessante (re)lêr "Operação Mar Verde" de Alpoim Galvão. E vêr as diferenças.

Carlos Filipe

Luís Dias disse...

Caros Camaradas

Como refere o Joaquim Mexia Alves um país como o nosso, que consegue efectuar uma operação daquela natureza, entrando na capital de um outro país, tomando conta da mesma durante várias horas é obra.
Em termos militares pode-se afirmar que a Op. decorreu satisfatoriamente. Foi conduzida com surpresa total para as forças da Guiné-Conacri e só não conseguiram totalmente os objectivos por deficiente informação. A libertação dos prisioneiros portugueses foi importante e deve ter deixado a impressão ao governo da Guiné-Conacki que, em qualquer altura poderíamos voltar.
Um abraço
Luís Dias

Carlos Vinhal disse...

Caro Mexia Alves, caros camaradas.
Se a Operação Mar Verde tivesse obtido os resultados planificados, Portugal ter-se-ia metido num enorme sarilho internacional. Invadir um país soberano, derrubar os seus governantes e substituí-los por outros mais favoráveis às nossas pretensões, ia causar incómodo na ONU, já de candeias às avessas connosco. Assim, ainda se conseguiu tapar o sol com a peneira, nunca se tendo "provado" a origem do ataque.

Os alvos não atingidos, como diz o Mexia Alves, não foram resultado da ineficácia das forças no terreno, mas das deficientes informações previamente recolhidas. A libertação dos nossos camaradas valeu toda a acção.

Quis deixar esta minha opinião, porque no primeiro comentário não me expressei claramente, tendo deixado no ar a ideia de que para mim, libertar os nossos camaradas foi a terminação de uma sorte grande não atribuída.

Um abraço
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Anónimo disse...

Para mim, a operação foi um grande êxito. Não posso imaginar a alegria dos prisioneiros ao verem a luz da liberdade e a satisfação dos que os libertaram.
O que projectaram os altos comandos pouco me interessa, neste caso concreto. Conta somente o facto de os nossos antigos camaradas de armas terem terminado o penoso cativeiro em que se encontravam e de isto ter sido conseguido através de uma operação do Exército Português.
Honra a uns e a outros.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

NB: É evidente que todos os camaradas rejubilam com a libertação dos prisioneiros naquela operação. A única diferença (e daí o meu comentário) é que para mim só isto é importante. Estou, portanto, com o amigo Carlos (V) quando diz: "A libertação dos nossos camaradas valeu toda a acção".

Anónimo disse...

Cá me tava a parecer!...
Tava na mala!
Mais um bocadinho e inda ganhávamos aquilo...
Afinal ainda acabávamos a mocada uns aos outros, por falta de inimigo.
Um Ab. do
António Costa

JD disse...

Camaradas,
O Carlos Cordeiro refere "o grande êxito", que me parece expressão sentimental pela libertação dos nossos compatriotas, que também corroboro. De vários objectivos, só esse vingou. Coisas da contra-informação?
O Jamanca falhou, o Januário foi-se embora, mas os governantes e os dirigentes não estavam, os mig's não estavam... é muita coincidência.
O Carlos Vinhal pode ter-se enganado, quando referiu que não se provou nada, na medida em que me constou que o Januário terá sido entrevistado antes de ir à corda, dias depois.
Se tivesse resultado, teria sido um grande êxito, e as eventuais sansões nos orgãos internacionais, não seriam impeditivas de Portugal celebrar o êxito de um golpe profundo no inimigo. Reconheço ter havido valentia e detrminação da maior parte.
No geral, concordo com o Vinhal, mas ainda me faltam conhecimentos sobre a operação, para distinguir o horizonte sem nebulosidade.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Caros Camaradas:

Nestas coisas sabe-se sempre menos do que se julga saber. Porém,julgo não ser preciso chamar aqui o Sr. Emanuel Kant, para resolver esta questão: a operação Mar Verde permitiu a libertação dos nossos camaradas e este é um facto indesmentível, experimentado e racionalizado por todos nós como um dos momentos mai positivos da guerra colonial.
Quanto á forma de acabar com a guerra...o melhor era tê-la evitado
mas não era a primeira vez que se mudava o governo de outro país(por muito menores motivos,países de esquerda e de direita o fizeram).

Um grande abraço

Carvalho de Mampatá

Unknown disse...

Face à possibilidade de os amigos não poderem obter o livro "Operação Mar Verde" de Alpoim Galvão (que eu possuo), poderão consultar uma sínteze bastante extensa, no seguinte link:

http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html

É só fazer copy/past para o Browser e pronto.

Atenção que no fim de c/ pág, tem o link para a pág. seguinte.

Carlos Filipe
ex- CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando Alberto Rebordão Brito*:
– «Todas as operações de contra-guerrilha, são iguais e vulgaríssimas. 1 operação, seja ela bem ou mal sucedida, resulta sempre de 2 coisas apenas: 1 planeamento de 5 dias e 1 barulheira de 1 minuto, do qual 45 segundos são estrondos e sons de metralha, e o resto o exercício do português mais vernáculo; a seguir, é a recolha de informações, as contagens de mortos e feridos. Uma operação a nível de pequenas unidades, é rigorosamente isto.
«Depois, há aquelas situações de confronto, do tipo emboscada. Criamos e enraizamos o hábito de carregar sobre o inimigo, a disparar e gritar insultos e "vamos a eles, vamos apanhar um à mão". É preciso correr e disparar, obrigando o inimigo a correr de costas ou a correr mais depressa que nós. Uma técnica estranha, mas muitíssimo eficaz durante todo o tempo em que estive no Ultramar, contrariando o que pode classificar-se como tendência natural - que é a de mergulhar quando se ouvem tiros - e, chegando a determinada altura de habituação ao combate, o instinto de sobrevivência dá-nos a sensação mais segura de estarmos a saber o que se passa e de onde vêm as coisas, e não ter a cabeça na terra onde nada se vê, a não ser as raízes e a poeira levantada pelos tiros. De pé têm-se uma visão de conjunto e sabe-se como se há-de manobrar ou para que lado havemos de carregar. Pode dizer-se que a melhor defesa é o ataque, carregar sobre o inimigo fazendo a maior barulheira possível, isso tem um efeito psicológico muito grande. Mas não pode ficar toda a gente de pé. De pé fica o comandante, que não interessa que faça fogo, mas que perceba o que está a passar-se para poder actuar e acabar com o perigo o mais depressa possível. Além disso, o facto de o comandante ficar de pé, dá segurança ao resto do pessoal e isto é importante para que uma operação corra bem. Quando vamos para áreas muito complicadas e os homens estão receosos, levo só um pingalim ou uma pistola, para lhes fazer sentir que não há razão para ter medo. Um homem bem treinado tem muito mais possibilidade de sobrevivência na guerra, do que um homem mal treinado. Mas talvez eu tenha mais sorte que outros, no aspecto em que participei em mais missões com êxito.
«De resto, a minha carreira é uma carreira que qualquer militar, medianamente dedicado ao seu conceito de Pátria, faria: era apenas cumprir. Talvez eu tivesse tido mais ocasiões de o fazer. Talvez também as tivesse procurado. De resto, a minha carreira militar nada teve de especial.»
* (nascido a 06Nov1942 em São Vicente do Cabo Verde, falecido a 23Nov1994 no Hospital da Marinha em Lisboa; capitão de mar-e-guerra fuzileiro especial, Medalha de Prata de Valor Militar com palma, Cruz de Guerra de 1ª Classe, Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada com palma; Medalha de Mérito de 3ª Classe, Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas com a legenda "Guiné", e Medalha de Promoção por distinção em combate)
A entrevista, que concedeu ao semanário "O Diabo", foi publicada em 16Jun92.
.
Sábado, Agosto 13, 2011 12:01:00 PM
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JD disse...
experien
Sábado, Agosto 13, 2011 8:15:00 PM

Anónimo disse...

Bonita prosa.O Sr.Comandante viveu-a com valentia no terreno.Outros experimentaram-na em manobras e leituras.De qualquer modo,sempre é melhor que nada. Carlos Oliveira.

Sandra Pires disse...

Caríssimos,
Alguém me saberá dizer se o comandante Rebordão de Brito fez alguma comissão em Cabo Verde, depois da retirada das FAP da Guiné? Ainda em 1974.
Obrigada!

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Negativo

Sandra Pires disse...

Obrigada!

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... a quem interessar, sugere-se leitura de...

http://ultramar.terraweb.biz/ArmadaPortuguesa/ComNavalGuine/Condecoracoes/AlbertoRebordaoBrito.pdf