sexta-feira, 1 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra (18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto, precursora do Facebook (António Matos)

1. Comentário do António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72), a um poste do meu blogue pessoal, Luís Graça > Blogpoesia (*):

[O António, ex-IMB, grande amante do karting, camarada que eu muito estimo,  é membro da nossa Tabanca Grande, e além disso amigo inscrito na nossa página no Facebook; o seu pai ainda foi meu colega de trabalho, na Direcção Geral dos Impostos; e ele, António Matos, tal como o meu velho, em Cabo Verde, 1941/43, também foi confidente e escriturário de camaradas analfabetos, neste  no TO da Guiné, 1970/72]:


Caramba, Luís, tocaste num ponto que me foi sempre enigmaticamente madastro,  sabendo-se da sua relação umbilical com o Movimento Nacional Feminino e que, numa linguagem moderna e com todos os perigos inerentes a tal extrapolação, me soava a acompanhantes (não necessariamente de luxo), ainda que desses relacionamentos tivessem surgido, inclusivamente, muitos, felizes e duradouros casamentos !


Acho que as ilusões que eram criadas na generalidade dos nossos soldados funcionavam muito mais como a namorada ausente que muitas vezes também,  elas próprias,  se envolviam num relacionamento nem sempre ingénuo.

Tal como muitos de nós, também eu acompanhei "aquele" soldado analfabeto que me elegeu como confidente das suas frustrações, dos seus anseios, das suas necessidades morais e fisiológicas,  lendo e escrevendo os seus desabafos para mães, pais, namoradas, madrinhas de guerra e sei lá para quem mais ....


Sei do que falo, portanto !

Aqui entra o elemento que consubstanciava estes diálogos com compasso de espera entre pergunta e resposta - o aerograma - que teve em Cecília Supico Pinto uma das precursoras do actual Facebook ...


As analogias funcionais serão imperceptíveis mas uma coisa era evidente:  a possibilidade de se dizer tudo aquilo que o pudor não permitia dizer cara-a-cara !!!

O tema que levantas é aliciante e concordo com quem diz que maravilhosa estória seria descoberta se se dessem a conhecer esses 300 milhões de aerogramas escritos naqueles anos ....

Obrigado,  Luís !


Beijos às madrinhas que ainda hoje existam !!

Abraços a todos e hoje em especial aos afilhados de guerra !!! (**)


António

30 Junho, 2011
___________________


Notas do editor:

(*) Setembro 10, 2008 > Blogantologia(s) II - (71): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra


Criada uma ligação ao mural da nossa página do Facebook, e que mereceu, além do comentário do António Matos,  mais dois (com data de ontem), quer em relação ao meu poema quer em relação ao meu próprio comentário: Ter-se-ão escrito mais de 300 milhões de aerogramas durante a guerra colonial...



João Pereira da Costa

Luis Graça,  é diabólico esse número. Que livro ou livros dariam as passagens dos seus conteúdos. Sei lá. Todos os tipos de sentimentos e segredos. Fiquemos por aqui.


Por casualidade entabulei amizade com um oficial do exército brasileiro q...ue dá aulas numa unidade, em que fez um trabalho (estudo) para saber as razões porque raparigas brasileiras se correspondiam como madrinhas de guerra com militares portugueses na guerra colonial.


Estou à espera que me envie um livro sobre a unidade, contudo não sei se falará sobre o assunto que coloquei.


Só de pensar o que acontecera a alguns deles quando recebidos atendendo ao seu conteúdo... Que temática maravilhosa. Seria um desafio. Haverá voluntários? (...)

José Manuel Corceiro > Parabéns e obrigado Luís Graça, pelo lindo poema que escreveste… É um hino de louvor e agradecimento às nossas queridas Mães, pelos dias de dor vividos sem dormir, em sofrimento angustiante, causado pela ansiedade e a incerteza que dominava impiedosamente o seu pensamento amargurado. Continuamente a mesma dúvida, se voltariam um dia a ter a oportunidade de ver e abraçar os seus meninos? (...)

 
(**) Último poste da série > 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8460: As mulheres que, afinal, foram à guerra (17): Público, Cinecartaz: Críticas dos leitores

2 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro António Matos: O início de férias é tramado para o nosso blogue... O pessoal dispersa-se, vai menos ao blogue, etc.... Talvez isso explique por que ainda não tens nenhum comentário relativamente à tua surpreendente apreciação sobre o papel da fundadora do Movimento Nacional Feminino... Afinal, ela criou, a partir de 1961, uma verdadeira rede social que, de alguma maneira, antecedeu em décadas o Facebook... 800 mil homens, ao longo dos 14 anos que durou a guerra colonial (1961/75), tiveram à sua disposição qualquer coisa como 300 mil madrinhas de guerra com que se correspondiam através dessa notável "instituição" que foi o aerograma... Calculo que mais 500 milhões de aerogramas e cartas se escrito durante este período...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando:
– «Partimos jovens e saudáveis e voltámos diferentes. Hoje, muita gente não faz ideia do sofrimento daquela juventude. Terrível foi também o sofrimento dos nossos pais, irmãos, namoradas, esposas, familiares e amigos, que acabaram por também ir à guerra, sem nunca conhecerem África. Lutámos em defesa de uma bandeira, por uma pátria que hoje nos esquece. Uma guerra em nada comparável às ditas missões de paz dos nossos dias. Lutámos obrigados, sem ordenado, para não morrer. [...] Também tivémos alguns bons momentos e agora, passados 40 anos, recordamo-los nos convívios de ex-combatentes. Aquilo que mais nos animava eram os milhares de aerogramas dos amigos, da família e das madrinhas de guerra. Quando o correio chegava, fazíamos fila como loucos. Fazíamos apostas de quem recebi mais cartas. Arranjavam-se namoradas e amizades loucas com as madrinhas, muitas das quais deram em casamento, tal como me aconteceu a mim.»
José Campos Portinha, veterano do PelCanh2126, Piche-Camajabá-Cabuca em Jun69-Mar71.
(in "a minha guerra", CM-Domingo 03Jul2011)