quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8357: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (42): Destacamentos: Augusto Barros e o Grupo das Ostras

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 27 de Maio de 2011:

Amigo Carlos Vinhal
Cá vai novo apontamento de “Viagem à volta das minhas memórias”, que mais uma vez me fez reviver com prazer e saudade momentos temporalmente distantes, mas presentes no coração e na memória.
Um abraço para ti e outro para a Rapaziada que me possa vir a ler, com votos de saúde, serenidade analítica, independência e responsabilidade na decisão que se avizinha.
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (42)



Destacamentos:
Augusto Barros


Para a grande maioria da rapaziada da “FORÇA”, os tempos de maior incerteza teriam ficado para trás, pelo menos durante uns meses enquanto permanecêssemos distribuídos pelos destacamentos, a sul de Bula.

Mato Dingal e João Landim eram tidos de certo modo como seguros e de população fiável. A excepção era Augusto Barros onde tínhamos conhecimento de a população ser mais “fingida” e de já terem ocorrido flagelações.

A confluência dos Rios Có e Dingal com o Mansôa, configurava uma península onde Augusto Barros se localizava, o que daria (?) o nome a uma Ponta . Era um meio-burako a meu ver mal amanhado e onde beneficiações iam muito lentamente acontecendo. Por lá, e como já referi, ficaram estacionados em coabitação, o Comando e os 2.º e 3.º GCOMB.

O trabalho era o normal, feito em idênticas situações onde havia reordenamentos: Serviços ao destacamento, picagem, deslocações para abastecimento de água e géneros, umas emboscadas nos arredores, pequenas acções de patrulhamento de proximidade, observação, apoio à população, aulas à “canalhada” e não só e em especial tentar que o tempo passasse depressa, ocupando-o com actividades de lazer, intelectuais, desportivas ou outras, que no mínimo provocassem algum prazer individual ou colectivo, todas elas úteis para que as horas se transformassem em minutos.


O Grupo das ostras!

Como é mais que natural, uma das formas encontradas para atingir esse objectivo, eram as reuniões de Pessoal em redor duma mesa, onde a petiscada bem regada, era o mote e por vezes “a morte”.

Chouriças e outros víveres de “qualidade superior lusitana”, enlatados diversos e vinho "estacionados” na arrecadação, de quando em vez sofriam “golpes de mão”, o que criava atritos entre o 1.º Sargento Guerreiro e o meu bom amigo Belchiorinho, Vaguemestre que não gostando que se abusasse, fazia de conta olhando para o lado assobiando, muitas das vezes acabando por participar também na festança! Alentejano e amante das “bazucas” era e continua a ser um maravilhoso ser humano, sempre bem aparecido e acarinhado por todos.

Para além destas reuniões comuns e despretensiosas, de quando em vez juntava-se uma meia dúzia de “privilegiados”, o denominado “grupo das ostras”.

A plena carga de ostras de um “burrito” (Unimog 411) era “tratada” com carinho por competentes entendidos, para vir a ser apreciada pelos convivas reunidos à volta da mesa na messe, onde profusamente se apresentavam as “bazucas”, frescas insubstituíveis e sempre renovadas, qual “Fénix doirada“.

Citrinos temperadores em presença eram “esganados” delicadamente de modo a verter os seus sucos sobre os moluscos bivalves, condicionando-lhes o paladar a gosto.

Pelos meandros de risadas e conversas normalmente “ importantes e intelectualizantes” dos convivas, onde o calão se perfilava e a retrospectiva e futurologia analíticas podiam ter lugar, os “esqueletos externos” dos moluscos e das loirinhas, iam-se acumulando por tudo o que era espaço disponível, em montes cada vez maiores, na razão inversa da quantidade do motivo do convívio que ia gradualmente diminuindo e na razão directa das barrigas dos aderentes que se avolumavam e enrijeciam, sendo os esvaziamento de fluidos corporais cada vez menos intervalados, mais relaxantes e fontes de prazer, enquanto iam passando horas alapados naquela luta tenaz que a alguns ia levando aos limites e à consequente desistência .

Mais mortos do que vivos, de barrigões empedernidos, palavra arrastada e olhares brilhantes de vitória, satisfação e não só, era chegada a hora dos uísques e cafés em multiplicidade, na tentativa de um desejado e bem vindo “amaciamento” da digestão e optimização da circulação sanguínea e não pedonal, esta afectada com certeza e dirigida para a horizontal.

Que o digam os Fur Mil Castro, Almeida, Urbano, Belchiorinho (sempre agarrado à “bazuca”) o Alf Mil Freitas Pereira e outros não tão “empenhados”.

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8185: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (41): De volta a Bula - Destacamentos

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Luís,
Não conheci nenhum desses destacamentos, mas estive em outros.
Talvez porque o grupo militar era mais pequeno e dependíamos muito mais uns dos outros o sentido familiar também era mais evidente.
Mesmo sem ostras!
Com elas preferia o piri-piri..., venha lá outra pinga, pá!
Um abraço amigo,
José

Anónimo disse...

Desculpem...
Por aqui há muitos "José". Câmara só um.