quarta-feira, 20 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8142: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (11): Domingo de Ramos (Ernesto Duarte)

1. Em mensagem do dia 18 de Abril de 2011, o nosso camarada Ernesto Duarte* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-nos estas fotos para o espólio das Memórias de Mansabá.

Um abraço muito grande para ti Carlos e para toda a tua família e igualmente para o Luís e para toda a sua família.


Domingo de Ramos

Nesta semana a que os católicos praticantes chamam de Semana Santa, neste Domingo de Ramos, tradição tão velhinha o trocar de ramos, e hoje há quem chame ramos da paz, eu desejo a todos os Homens Grandes, gigantes mesmo, da Tabanca Gigante, e a todos os homens de todas as tabancas, uma semana de paz, já que por vezes pelas situações mais diversas não se consegue viver as 55 semanas do ano em plena paz.

Esforcemo-nos, ao menos, pondo até os fantasmas no sótão, para que se possa viver esta, em paz na sua totalidade.

Eu desapareço muito, o tempo é pouco, nesta época da minha vida em que eu queria fazer um milhão de coisas, vejo o tempo voar-me e tenho que reconhecer que tem já muito a ver com isso o peso dos anos, pesam e começa a nascer uma saudade muito grande de um milhão de coisas, muitas delas não fazia a mínima ideia que estavam adormecidas no consciente.

A casa do meu pai, a seguir à sua morte,  causava-me arrepios, hoje é um lugar sagrado e passo lá muito tempo.

Eu digo por um lado com alguma indelicadeza, ainda não consegui ler os postes com a atenção que eles merecem a um militar, especialmente que esteve na Guiné e no Oio, mas por outro lado desculpo-me a mim próprio, servindo-me de aquela verdade incontestável, o tamanho que os mesmos atingiram são enormíssimos, tão grandes que os seus criadores já não tem ideia da sua grandeza.

Mas Portugal, isto não é me lamentar, não gosto muito de fazê-lo, teve uma malapata com os seus militares no tempo das campanhas [do Ultramar], há muita gente, muito português e até muitos com responsabilidade na máquina estatal que nunca leram de lá uma página, tudo bem, não gostam, mas não podem ignorar uma parte tão importante do Portugal contemporâneo e uma parte tão importante que já é história no Portugal de Hoje.

Se calhar é por muita gente querer ignorar a história, ou querer que ela seja cor-de-rosa, que há desencontros entre o País e o seu povo.

Eu sou um básico, mas nestas datas em que uma grande parte do mundo comemora algo, eu digo,  com alguma tristeza, como foi possível nestes 2000 anos o homem não ter conseguido acabar com as guerras, até nestes últimos 100 anos, até no dia de hoje. Quantas pessoas terão morrido hoje em guerras estúpidas, afinal como todas elas, de qual a qual a mais estúpida.

Não tenho lido, eu chamo-lhe assim os sites todos como eu gostava, mas sempre tenho lido algumas coisas, e há coisas que eu já descobri e que me encantam, acho lindas, e não resisto a escrevê-las aqui!

Tabanca Grande, as nossas regras de convívio:

4ª - Carinho e amizade pelos nossos dois povos, o povo Guineense e o povo português sem esquecer o povo cabo-verdiano.

5ª - Respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado e as forças armadas portuguesas por outro.

Chamaram-me eu fui, como era meu dever, mas sempre fui consciente e gostei de pensar por mim e como tal, a partir de certa altura, já tinha as minhas opiniões, e determinadas coisas que eu fiz começaram a pesar e continuam a pesar.

Mas também é verdade que em mim e na maioria dos amadores que sustentaram a guerra não havia grandes ódios, a convicção de que não tinha sido feito para aquilo, a convicção que aquela guerra não tinha que existir era muito maior do que o ódio que poderia sentir, especialmente contra aquelas gentes com quem eu convivia todos os dias.

E ao ler a 4ª e a 5ª regras especialmente, não altera passados nem dá absolvições à responsabilidade de cada um, mas confirma dentro de certa medida o que muitos hoje sentimos, foi uma guerra, totalmente inútil, mas diferente em tudo, portanto facilmente evitável, porque havia muita e muita gente que não tinha ódio, não nos absolve mas não nos faz sentir tão sozinhos.

Serei básico, analfabruto mesmo, anarquista, louco, não me importando em nada com as crises dos sistemas, das instituições, reconhecendo que podem levar mais uma vez a sociedade ao zero, mas já há aí tanto homem livre espiritualmente e o de amanhã será ainda muito mais e sempre mais e mais livre e independente espiritualmente, logo blindado à manipulação.

Um grande Abraço
Ernesto Duarte
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (10): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8140: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (10): Obrigado, camaradas, pela chave-mestra do cofre das nossas memórias ! (Jorge Cabral)

1 comentário:

Rozeter disse...

Combatentes, sempre presentes

Combatentes, sempre presentes
Nossa pele se engelha,
O cabelo branqueia, os dias convertem-se em anos...
Fomos soldados de Portugal e não,
Soldados colonialistas
Como chama-nos alguns iluminados políticos
As nossas forças e fé não têm idade.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estivermos vivos
Continuam a lutar
Se sentes saudades do passado,
Volta e reencontrar-te com os companheiros
Não vivas de fotografias e nem nos traumas...
Continua e não desistas.
Não deixes que os ossos se oxidam.
Faz que te tenham respeito
Quando não conseguires, junta-te a nós!
Junta-te aos teus velhos camaradas do exército ou da Marinha.
Autores: os dois Combatentes Carlos Pombo (CCE307), Carlos da Silva (Fuso)

Um forte abraço