sábado, 12 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7768: (Ex)citações (131): Saudades de quê ?... Será que sou masoquista ?... E por que é que leio o raio deste blogue e até faço comentários? (C. Martins)

1. Do nosso leitor e camarada C. Martins, ex-Alf Mil Art (que esteve em Gadamael),  e que voltou à Guiné duas vezes, como médico e cooperante,  comentário do dia 10 ao poste P7757 (*)

 Eu também não sei... e da juventude... sim e não. Saudades do calor sufocante, da fome e sede, da trinca de arroz com "estilhaços" semanas seguidas, da água da bolanha, das emboscadas e flagelações ao quartel, das minas, da micose, da imbecilidade de alguns com muitos galões nos ombros, da diarreia e do paludismo, do Old Parr que por acaso nunca faltou,...saudades disto.. não,  obrigado. Então porque é que já lá voltei duas vezes... será que sou masoquista?

Olhar para as águas do Corubal no Cheche e lembrar em silêncio os mortos,  limpando discretamente as lágrimas que me corriam pela face, e o gozo, sim o gozo,  que me deu percorrer a picada Guilege-Gadamael ( ex-corredor da morte) e admirar a paisagem sabendo que ninguém me ia dar um tiro... será que sou masoquista?... Acho que não sou...então porque será ?

AH !! E PORQUE QUE É QUE LEIO O "RAIO" DESTE BLOG E ATÉ FAÇO COMENTÁRIOS ? !

Se alguém souber, por favor, diga-me.
C. Martins

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2011 Guiné 63/74 - P7757: (Ex)citações (130): A saudade imprecisa de África ou... não sei se tenho saudades da Guiné, se da minha juventude (Nuno Dempster)

(...) Pergunto-me muitas vezes se tenho saudades da Guiné, se da minha juventude. Creio que a juventude é inseparável do cenário real por onde andamos. Com a dúvida de me perguntar, chamo no poema a essa saudade a saudade imprecisa de África. (...)

13 comentários:

Luígi disse...

Duas óptimas razões:
Estás vivo
Não tens Alzhaimer

Grande abraço.
Luis de Sousa

Anónimo disse...

Caro Luis Graça
Em primeiro lugar a fotografia que apresentas com dois camarigos junto a uma peça 11,4 nenhum deles sou eu.
Aproveito para mais uma lição de artilharia para os infantes.A diferença entre peça e obus tem a ver com a relação calibre comprimento do tubo,isto quer dizer que a peça tem o tubo mais comprido.
A orgânica de uma bateria de campanha=companhia de infantaria era constituída por PCT(posto de comando e transmissões)IOL(informação,observação e ligação)que no caso da guiné era feito normalmente pelos infantes e pilavs,sim porque nós artilheiros não eramos burros,em caso de engano não levavamos com os supostórios na mona que para isso estavam os infantes, e CAMPANHA(obuses ou peças).
O tiro de obus 14 era feito da seguinte forma,introduzia-se a granada no tubo, claro que com a respectiva espoleta,depois soquetava-se a granada com um soquete(pau comprido e mais grosso na ponta)..(ei nada de segundas intensões..este também podia servir para outras funções.. que deixo a vossa imaginação) de forma a que a granada ficasse bem acoplada ao tubo, depois introduzia-se a carga ou cargas consoante o critério do "inteligente" que comandava,fechava-se a culatra principal,introduzia-se a escorva (cartucho)na culatra auxiliar que era fechada e à voz de fogo o servente à culatra puxava o famoso cordel que accionava um percutor na escorva que ao rebentar transmtia uma chama, através do cogumelo, à culatra principal onde estava a carga que explodia fazendo sair a granada do tubo e pronto a partir era ter fé que a granada impacta-se onde se pretendia e que explodisse... oh infantes voçês depois de dispararem a G3 iam fazer coreccção da trajectória da bala.. Ah... como o tubo era estriado imprimia um movimento de rotação à granada que servia para dar uma trajectória mais correcta e também armava a espoleta.
Perceberam ou querem que vos faça um desenho.
Um alfa bravo
C.Martins

Anónimo disse...

Peço desculpa pelos erros ortográficos e texto mal amanhado,é que foi ao correr do teclado.
C.Martins

Anónimo disse...

Estás a ver como podemos estar de acordo?
Fazes tu as perguntas e gostaria eu de as fazer.
E quando penso assim é porque gosto muito do que ouvia a outro.
Não saberia eu responder-te e fica para ruminar mais tarde.
Porquê?
Vemos gente à volta que nos olha admirada e, provavelmente pensando: "estes gajos são mas é marados! Saudades ainda do que passaram por lá?".
Abraço
José Brás

Anónimo disse...

Caro ex-alferes
Para conhecimento e devidos efeitos tive oportunidade de observar o rebentamento de granadas de obus 14 cm - por acaso, ou talvez não, do mesmo em Cufar (Abril/Maio de 1968), durante o apoio a uma operação no Cantanhês.
A referida operação contou com a participação de seis obuses 14 cm e quatro obuses de 8cm. Os obuses de 8 cm, haveriam de ser substituidos, ainda durante o ano de 1968 por obuses de 10,5cm.
Em Gandembel foram instalados obuses de 10,5 cm, creio que dois, Estes obuses saíram de Guileje onde também ficaram instalados outros dois do mesmo calibre.
Quer o pelotão de Guileje, quer o pelotão de Gandembel, (5º e 6º), haviam estado em Mejo. Fiz parte do 6º pelotão em Mejo. Mais tarde, a partir de Julho de 1968, estive em Aldeia Formosa com os obuses 14cm.
Visito diariamente a Guiné através deste maravilhoso blogue.
Um abraço.
António Ribeiro
(ex-Fur. Milº.)

Anónimo disse...

Caro ex-alferes
As lições sobre o funcionamento dos obuses e da artilharia são sempre bem-vindas. Rememoriar, reviver, recordar, etc. é importante. Creio, todavia que o alcance dos obuses de 14cm, ronda os 14Kms. As peças de 16 cm tem um alcance de 16,5 kms. Não é assim?
Ainda ...Em Guileje à época ficou o 6º pelotão, o meu ex-pelotão. Fui substituído neste pelotão pelo Furriél Batista, que havia de morrer (o Batista e o alferes que comandava o pelotão. O alferes não cheguei a conhecer) durante um ataque da guerrilha, no dia 14 de Fevereiro de 1969 ... dia do meu embarque de regresso à "Metrópole", por ter terminado a "comissão". Ambos foram condecorados a título póstumo num daqueles 10 de Junho.
O Batista tinha uma filha da mesma idade da minha filha. Coisas de uma guerra sem jeito que só acaba ...
António Ribeiro

Correia Nunes disse...

Camarada Martins, aquilo que quase todos nós sentimos e nos perguntamos porquê?!
Será amor,ódio?
Òdio não será certamente,nós que de
lágrima ao canto assistimos ás reportagens,e não ficamos indiferentes,algo está cá dentro!
Que será?

Anónimo disse...

Talvez só:

"O mar da minha vida não tem longes".
(Armando Côrtes-Rodrigues, "Só", in "Orpheu", 1, 1915)

Aproveito a oportunidade para saudar a entrada "oficial" de Nuno Dempster na Tabanca Grande.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...

Caro camarada C. Martins:

Para os devidos efeitos confirmo que nenhum dos camaradas que aparecem na foto, em formato pequeno, és tu; não temos, de resto, nenhuma foto tua, pela simples razão de que fazes questão de não pertencer, formalmente, a esta comunidade virtual que é a nossa Tabanca Grande... (As razões são tuas, não me compete contestá-las).

Tens toda a liberdade, contrariamente ao que se passa na maior parte dos blogues, de fazer o teu comentário, dar a tua opinião, de aparecer sem pedir licença a ninguém, sem triagem, sem censura, sem a intermediação de moderadores, sem a chapelada do porteiro do hotel...

A nossa Tabanca Grande é generosa, tu ganhaste, na Guiné, em Gadamael, o direito de entrar e sair sempre que te apetece... Tenho pena que não queiras ficar mais tempo, aqui sentado debaixo do nosso poilão...

De ti sabemos apenas que foste nosso camarada, em Gadamael, comandando um pelotão de artilharia... Vejo, aliás, com agrado, que há mais malta dos bravos pelotões de artilharia que defenderam a nossa malta e os nossos aquartelamentos, a vir aqui visitar-nos todos os dias...

É o caso, por exmeplo, do António Ribeiro, que eu saúdo e que esteve na região de Tombali entre 1967 e 1969, se bem entendi... Escreveu ele o seguinte, em comentário anterior:

(...) "Quer o pelotão de Guileje, quer o pelotão de Gandembel, (5º e 6º), haviam estado em Mejo. Fiz parte do 6º pelotão em Mejo. Mais tarde, a partir de Julho de 1968, estive em Aldeia Formosa com os obuses 14cm.

"Visito diariamente a Guiné através deste maravilhoso blogue.
Um abraço. António Ribeiro (ex-Fur Mil)". (...)

Luís Graça disse...

A foto que se publica é de Guileje > c. 1970... E deve pôr-se a seguinte legenda: "Dois militares portugueses, junto a um das peças 11,4. Segundo informação do nosso amigo Pepito (Eng Agr Carlos Schwarz da Silva, fundador e director executivo da AD -Acção para o Desemvolvimento), "a fotografia junto da peça 11,4 [e não obus 14...] foi-me dada por um militar português que lá esteve entre 70 e 71, na CCAÇ 2617, de nome Abílio Alberto Pimentel da Assunção, que é um dos 2 militares".

O Abílio Pimentel era Furriel Miliciano... Desconhecemos o seu paradeiro...

Anónimo disse...

Amigo C.Martins,
Duas questões pertinentes. Porque leio? Resposta fácil. Porque gosto, porque encontro respostas para perguntas que nunca fiz. Porque não as sabia fazer? Talvez.
Comentar. É mais dificil ainda de explicar. Comentamos e depois, temos de aguentar certos insultos. Mas existe um ditado muito antigo que até faz sentido. Quem vai à guerra dá e leva.
Abraços para todos
Filomena

Anónimo disse...

Camarigos
Aproveito para fazer algumas correcções, se bem que a importância é muito relativa.
O alcance máximo do obus 14 era de 16500 m.não existiam peças de 16mas sim de 11,4,assim como não existia o obus 8 mas sim 8,8.O alcance máximo da peça 11,4 era de 18500 m. e a granada pesava 25 kg ,enquanto a do 14 era de 45 kg.
Penso que todos os que vivemos a experiência da guerra sentimos mais ou menos o mesmo ,são sentimentos dificeis de explicar aos que não tiveram essa experiência e não podemos ficar surpreendidos se houver parcial ou até total incompreênsão.O voltar aos locais por onde andamos e onde tivemos a vida em risco e vimos camaradas e amigos morrer ou ficarem feridos, a psicologia explica isso, trata-se tão só de desublimar ou fazer a "catarse".Infelizmente nem todos o podem fazer, mas digo-vos que é uma excelente terapia.

Um alfa bravo

C. Martins

Manuel Reis disse...

Camarigo Martins:

A necessidade que sentes em regressar à Guiné é comum à maior parte daqueles que por lá passaram e para a qual parece não existir explicação razoável.
Sente-se um grande alívio, a nível traumático, o reviver dos locais onde estivemos envolvidos em situação de guerra. A ligação àquela gente também nos deixou marcas muito fortes, sabemos que somos sempre bem recebidos, e deve ser esta a razão primeira.

Aparece por aqui ou nos nossos convívios.

Um abraço.

Manuel Reis