quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7757: (Ex)citações (130): A saudade imprecisa de África ou... não sei se tenho saudades da Guiné, se da minha juventude (Nuno Dempster)

1. Comentário de Nuno Dempster [, também bloguista, A Esquerda da Vírgula,], com data de ontem, ao poste P7747 (*):
  
Luis Graça & Camaradas, antes de mais obrigado por existirem e por me ver junto de vós. Depois quero agradecer ao Luís Graça o belíssimo post que me apresentou a todos. Já vinha aqui desde o início de Março, quando comecei a avivar a memória para o poema [, K3,]  que iria escrever.


Penso publicar convosco alguns textos de memória em prosa, à medida que os for escrevendo. Pergunto-me muitas vezes se tenho saudades da Guiné, se da minha juventude. Creio que a juventude é inseparável do cenário real por onde andamos. Com a dúvida de me perguntar, chamo no poema a essa saudade a saudade imprecisa de África.


Tenho orgulho, não por mim, mas por nós todos em ter escrito esse poema. Era preciso que alguém falasse também desse modo, já que a pátria nunca tratou bem os soldados anónimos como nós que lutaram por ela, no séc. XX e nos séculos para trás. 


O livro é mais nosso do que de ninguém, e isso alegra-me e põe-me em paz comigo mesmo em relação a esse nosso passado. Quando o livro saiu, senti ter cumprido um velho dever que estava por pagar a quantos, antes e depois de mim, deram às armas o melhor da sua juventude.

[Fixação / revisão de texto / bold a cor / título: L.G.]
____________


Nota de L.G.:


(*) V d. poste de 

 9 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7747: Tabanca Grande (266): Nuno Dempster, autor do poema K3, agora publicado em livro, ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 1792 (Saliquinhedim/K3, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, 1967/69)

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu também não sei...e da juventude..sim e não.Saudades do calor sufocante,da fome e sede,da trinca de arroz com "estilhaços" semanas seguidas,da água da bolanha,das emboscadas e flagelações ao quartel,das minas,da micose,da imbecilidade de alguns com muitos galões nos ombros,da diarreia e do paludismo,do old parr que por acaso nunca faltou,...saudades disto.. não obrigado. Então porque é que já lá voltei duas vezes...será que sou masoquista?
Olhar para as águas do corubal no che-che e lembrar em silêncio os mortos limpando discretamente as lágrimas que me corriam pela face, e o gozo ...sim o gozo que me deu percorrer a picada guilege--gadamael( ex-corredor da morte" e admirar a paisagem sabendo que ningém me ia dar um tiro...será que sou masoquista?...acho que não sou...então porque será ?
AH !! E PORQUE QUE É LEIO O "RAIO" DESTE BLOG E ATÉ FAÇO COMENTÁRIOS
Se alguém souber, por favor, diga-me.
C. Martins

Hélder Valério disse...

mmncnc

Anónimo disse...

Caros camarigos, em geral, e em particular ao Nuno Dempster

Alertado por um amigo, verifico que saiu uma série de consoantes, sem nexo, como um comentário meu.
Não sei explicar bem o que aconteceu. Tentei por 4 vezes fazer um comentário e por 4 vezes o texto, longo, desapareceu. Devo-me ter passado e teclei ao acaso e isso saiu...

Então, na expectativa que me desculpem pela indelicadeza involuntária, passo a tentar de novo deixar expresso o que queria dizer.

E o que queria começava por saudar o Nuno Dempster, congratulando-me pela sua entrada e justificando o facto de o não ter feito em tempo oportuno.

Depois, procurava desenvolver a magna questão por ele colocada de que não sabe se tem saudade da Guiné ou da sua juventude. Disse que, curiosamente, já me tinha colocado a mim próprio tal questão e que não tinha chegado a uma 'conclusão conclusiva', refugiando-me numa idéia de que "cada um lá deverá saber quais a suas razões".

A nossa presença na Guiné ocorreu num periodo das nossas vidas em que as circunstâncias vividas nos obrigaram a crescer muito rapidamente. A passagem de 'menino a homem' ocorreu muitas vezes em situações dramáticas e em convívio com relações de "poder".
Havia poder sobre os subordinados, havia poder sobre os nativos (que estávamos a ajudar...), tínhamos poder sobre o IN, quando capturado. E, é sabido, o poder é viciante.

No entanto hoje recordamos com muita nitidez as paisagens, o clima, a chuva, as tempestades, etc., tudo coisas que nos marcaram e que são irrepetíveis.
Até mesmo as 'pragas', de mosquitos, de formiga-de-asa, de baratas, gafanhotos, sapos, são recordadas com bonomia.
E os magníficos pôr-do-sol, a fauna e a flora, os frutos, as ostras, a cerveja.
E, principalmente, as populações, destacando-se as crianças que, também como se sabe, e é particularmente verdade na Guiné, "são o melhor do mundo".

Em boa verdade tudo isso aconteceu no período da nossa juventude e, exactamente, na Guiné. Daí que fica redundante pretender que a razão dessa saudade está numa ou noutra das causas pois estão de tal modo interligadas que se justificam complementarmente.

Difícil não é saber se é a busca da 'juventude perdida' ou a Guiné em si mesmo, que nos faz sentir assim, difícil é fazer entender esse sortilégio a quem nunca lá esteve, a quem 'sabe' que a Guiné é o 'cú do mundo', é o cúmulo das dificuldades, das insuficiências, é o país narcotraficante, é o local da instabilidade permanente. Dificilmente, para não dizer 'nunca', irão entender as nossas viagens da saudade, o reencontro com os fantasmas. Acredito que se tiverem a coragem de ir lá possam entender. Sabemos de jovens da actual geração, que não estiveram em tempo de guerra (pelo menos na 'nossa' que isso de guerras...) que acabam por ganhar tanto gosto por aquela terra e por aquelas gentes como nós temos vindo a descobrir.
Dissemos tanta vez "Guiné, nunca mais!" e afinal....

Portanto, caro amigo, a tua questão pode ter a resolução que eu lhe dou de "cada qual saberá o seu porquê" mas, na verdade, na prática, trata-se de uma falsa questão. As duas situações estão irremediavelmente ligadas.

Um abraço
Hélder S.