sábado, 20 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7312: Parabéns a você (176): Soldado Cristina, padeiro, municiador de morteiro e bravo do pelotão da Ponte de Caium






















Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Desta vez, optámos deliberadamente por seleccionar de fotos que mostrassem o dia-a-dia  do nosso camarada na sede da companhia e eventualmente em outros sítios, excluindo a Ponte de Caium (que já foi objecto de anteriores postes *)... Os dois álbuns, a que tivemos acesso, não tem legendas... Mas as fotos falam por si...Uma delas creio ter sido tirada em Bafatá (nas piscinas municipais)... As restantes devem ser de Piche...



Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Já tem sessenta e um,
O camarada Cristina,
Que na Ponte de Caium
Foi soldado, cumpriu a sina.

Foi soldado, cumpriu a sina,
Carregando uma espingarda,
C’a Goretti e a menina
Rezando ao anjo da guarda.

Rezando ao anjo da guarda,
P’ra que volte depressa e bem,
Honrada a Pátria e a farda,
Sem dever nada a ninguém.

Sem dever nada a ninguém,
Tomou conta do morteiro,
Bom camarada também,
E sobretudo padeiro.

E sobretudo padeiro,
Foi pau pra toda a obra,
De pescador a pedreiro,
Com muito tempo de sobra.

Com muito tempo de sobra,
Vinte e sete meses  de Guiné,
Põe-te a pau com turra e cobra,
E aguenta a ponte de pé.

E aguenta a ponte de pé,
Foi ordem do comandante,
Vejam o bravo que ele é,
Brincalhão e confiante.

Brincalhão e confinante.
Ou não fora alentejano,
Venha daí o espumante,
Que eu volto cá pr’ó ano.

Que eu volto cá pr’ó ano,
Com mais notícias de Piche,
E com saudades do catano
Dessa malta toda fixe.

Dessa malta toda fixe,
Do Sobral ao Torrão,
Mais o Carlos de Peniche,
E o resto do pelotão.

E o resto do pelotão,
Que lhe diz emocionado:
Pelo exemplo e pelo pão,
Jacinto, muito obrigado!

Os bravos do pelotão da Ponte de Caium


O Cristina (Jacinto, de seu nome de baptismo) fez anos, 61, no dia 14. Mas só hoje, sábado, que é o seu único  dia de descanso semanal, celebra a data com a família ... Pediu ao seu genro, o Dr. Rui Silva, para lhe ler estes versinhos, em nome de de todos os bravos da Ponte de Caium!... (LG) 
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Nota de L.G.


(*) Postes anteriores:


18 de Novembro de 2010 Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...








Guiné 63/74 - P7311: Blogpoesia (88): Resorts Guinéus (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  17 de Novembro de 2010:

Caro Vinhal,
Aqui vão mais umas sextilhas para editares se assim entenderes.

abraço à tabanca.
manuelmaia




"RESORTS" GUINÉUS...

Mansoa, Dugal, Pitche ou Bafatá,
Cufar, Cafine, Encheia ou Mampatá,
Bigene, S.  Domingos, Catió.
Susana, Sedengal, Xime, Farim,
Bolama, Bula, Buba, Béli e Caió.


Biambe, Injante, Dungal, Porto Gole,
Infande, Mato Cão, Quebo, Xitole,
Cacine, Caboxanque e Bouloubá.
Cacheu, Bubaque, N`hacra, Ganturé,
Sonaco, Tite, N`hala e Enxalé,
Boé, Binar, Cuntima, Missirá.


Bachile, Nova Sintra e Chugué,
Infandre, Fá Mandinga, Cumeré,
Quirafo, Olossato e Binhal.
Bufena, Camamudo e Sabá,
Madina, Catequisse e Mansabá,
Gadamael, Guilédje e Cafal.


Pelunde, Quinhamel, Tite, Varela,
Cobumba, Jemberém, Ponta Varela,
Gansambo, Canjadude e Pirada.
Canquelifá, Mansanto, Jonfarim,
Canjambari, Ponta d`Inglês, Fatim,
Canquelifá, Jugudul, Empada.


Guidage, Fajonquito e Bissum,
Paúnca, Bambadinca e Rossum,
Bironque, Samba Culo, Bajocunda.
Cacine, Cantabane e Canturé,
Teixeira Pinto, Nhal e Fulacunda.


Em todos os "resorts" aqui descritos,
e mais alguns, por certo, não inscritos,
vivência de nababos foi dos "tropas"...
Por trás das aramadas posições
os bandos "lusitanos garanhões"
gozavam com belíssimas cachopas...


D`instalações de luxo desfrutavam,
"medrosos militares" que se ocupavam
do fausto e do bem bom,cada momento...
Difícil vida teve herói esforçado,
AB, lá por Bissau acantonado,
rapando da marmita arroz/cimento...


Nos mais de cem locais que defini
`ind`outros que, por certo, omiti,
milhares por lá passamos, "vida boa"...
Igual sorte não teve, o bem amado
AB, herói lendário, tão cantado,
nas matas de Bissau, "suma Lisboa"...



Da mesma forma que não esquecemos os nomes dos locais por onde passámos e algumas das ocorências bem ou mal vividas, convirá não esquecermos a ofensa que um general nos fez enquanto militares que no terreno, sob as mais difíceis condições, conseguimos evitar o assalto à capital, onde muitos dos senhores da guerra faziam os afamados golpes de mão no Solar dos Dez...
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7292: Blogpoesia (86): Grito de protesto (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2010 > Guiné 63774 - P7296: Blogpoesia (87): As consoantes e vogais do nosso livro de estilo (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7310: Notas de leitura (174): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
A minha bagagem é própria de um djila, encontra-se ali de tudo, bacalhau, chouriços, perfume, até sementes.
O meu orgulho será desembarcar em Bissalanca com as cartas que o nosso querido Humberto Reis me ofereceu e vão direitinhas para o INEP.
Pelas mensagens que levo, tudo leva a crer que a minha agenda social em Bissau é imparável, de manhã à noite.
Contem que estarei convosco, em todos os momentos, quando visitar o cemitério de Bissau, e depois o de Bambadinca, recordarei as nossas perdas e os nossos silêncios.
Estarei aqui convosco até à hora de partida.

Um abraço do
Mário


Os fuzileiros na Guiné (3): Os últimos anos

Beja Santos

1970 começou para os Fuzileiros com a operação “Contra-Ponto”, em Sambuiá. Segundo o autor, “O conceito de manobra” assentava no modo de actuação habitual do comandante Calvão pois baseava-se no emprego táctico de três grupos, dois para efeitos de fiscalização e envolvimento e o terceiro actuando como reserva junto a uma base de fogos com morteiro 81. Em Março, Alpoim Calvão voltaria a dar que falar, com mais uma acção típica de operações especiais. “O navio-motor Bandim era vital para o reabastecimento do inimigo. Fora este navio capturado pelo PAIGC em Maio de 1963 quando, saindo de Bissau carregado de géneros para o Sul da Guiné, sem qualquer escolta, foi emboscado e capturado no rio Cacine. A primeira tentativa (operação “Nebulosa 2”) falhou por causa do nevoeiro. Mas logo a seguir, na operação “Gata Brava”, o Bandim foi destruído. Pouco tempo depois, um novo ronco na zona de Cumbamori, a captura de 10 toneladas de armas. Em Abril, a Marinha activou o primeiro Destacamento de Fuzileiros Africanos na Guiné, o DFE 21. A sua preparação efectuou-se (como as dos destacamentos de Fuzileiros seguintes) em Bolama.

Luís Sanches de Baêna destaca a operação “Mar Verde” cujo relato coincide, no essencial, com o de outros autores, pelo que se dispensa a sua transcrição. O ano de 1971 volta a assistir a operações no Cacheu e em Samboiá, com o envolvimento de Fuzileiros e forças do Exército. “A actividade das forças navais na Guiné continuava orientada no sentido da fiscalização dos rios Cacheu, Mansoa, Geba e Buba, onde mantinham dispositivos permanentes apoiando as unidades de Fuzileiros na missão da contrapenetração naqueles rios e em acções de intervenção”. E o autor volta a relatar mais um lamentável incidente, desta vez ocorrido entre os Fuzileiros e a tropa africana da CCaç 16 do Bachile, sediada em Teixeira Pinto.

Como corolário de uma série de desentendimentos entre a tropa e a própria população, na noite de 16 de Maio um baile acabou em cenas de violência. No dia seguinte rebentou uma granada junto de um grupo de militares, provocando 8 feridos.

O Comandante-Chefe castigou os Fuzileiros, impondo-lhes uma batida à região da Ponta Luís Dias-Ponta João da Silva (operação “Tordo Vermelho”). Nos restantes meses, houve a registar operações na região da Caboiana/Churo e península do Gampará. Nesta região, os Fuzileiros tinham atribuído as missões exclusivamente terrestres. A vida aqui não era fácil, o inimigo flagelava com frequência, usando mesmo foguetões 122mm e canhões sem recuo. No Sul, recrudesceu a actividade inimiga e em Julho foi lançada uma grande operação para reocupar posições na região do Cubisseco. Foi assim que se criou o aquartelamento denominado Tabanca Nova da Armada. Como recorda o autor, só durante o mês de Novembro de 1972, este estacionamento foi flagelado por 11 vezes, algumas vezes junto ao arame. O Comando da Defesa Marítima entendeu que não havia razões para continuar no Cubisseco, desactivou-se o aquartelamento.

Em 1973, ocorre uma inflexão estratégica com a chegada dos misseis Strella. Nas operações “Rumo Perene” e “Maior”, visou-se a ocupação de tabancas a montante do rio Cumbijã, com o objectivo de reforçar o dispositivo montado para o controlo do Cantanhez. Entrara-se numa nova fase de reocupação do Sul, tudo dificultado pela falta de apoio aéreo. O autor recorda que “As relações permanentemente tensas entre o Comandante-Chefe e o Comando da Defesa Marítima acentuam-se cada vez mais, sendo por vezes a Marinha tratada com a sobranceria e arrogância que advém de um excesso de protagonismo e autoritarismo que chegava a roçar as raias da prepotência”. Os Fuzileiros irão intervir no cerco de Guidage. Denotando um elevado espírito crítico, vejamos como o autor de refere aos acontecimentos de Guileje: “A guarnição de Guilieje, inexperiente, sujeita a violentas flagelações, não teve força anímica para aguentar. E aproveitando a oportunidade que o inimigo, inteligentemente comandado, lhes deixou, permitindo-lhes um local de fuga em direcção a Gadamael, tomados pelo pânico fugiram desordenadamente no dia 22, abandonando o aquartelamento com tudo o que lá havia e refugiando em Gadamael Porto”. O autor vai registando crescentes dificuldades para o trabalho dos Fuzileiros, nomeadamente em Chugué. Em Setembro, o dispositivo dos Fuzileiros conta com cinco destacamentos em Ganturé, Cacheu, Cafine, Chugué e Cacine. A actividade na zona Sul redobrou de intensidade, o PAIGC incidiu em ataques a Chugué, Gadamael, Cacine e Cameconde.

No início de 1974, era um dado adquirido de que o emprego dos Fuzileiros era feito ao arrepio dos princípios para que foram criados. Se por um lado, se continuavam a realizar patrulhamentos ofensivos, em botes, emboscadas e nomadizações, por outro lado, os Fuzileiros já se confundiam com os Comandos e os Pára-Quedistas nas suas missões.

A seguir ao 25 de Abril, e ainda na previsão da continuação da guerra, propôs-se a criação de uma terceira unidade de Fuzileiros africanos. Mas aos poucos deu-se a retracção das forças da Marinha no teatro de operações. Primeiro no Chugué depois Ganturé. Em Julho, como a situação em Bissau se afigurava perigosamente instável, o DFE 4, que se encontrava em Cacheu recebeu ordens para embarcar apenas com a bagagem individual indispensável e ficou a intervir em Bissau. Segundo o autor, houve comportamentos enérgicos de reacção a alguns enxovalhos que as Forças Armadas estavam a ser sujeitas. Em Agosto, teve lugar a desactivação das unidades de Fuzileiros Africanos estacionadas em Bolama. Diz o autor: “A desmobilização daqueles militares criava uma situação delicada e melindrosa já que era uma tropa muito leal e dedicada, que se empenhara esforçadamente na guerra nos últimos anos e não conseguia entender o que se estava a passar. No entanto, o espírito de disciplina daqueles homens e a confiança de que depositavam nos seus oficiais tudo superaram. Sendo-lhes oferecida a hipótese de regressar a casa com as famílias e haveres e receber a totalidade dos vencimentos até ao mês de Dezembro, inclusive, ou, em alternativa, de poderem ser integrados na Marinha do PAIGC, a totalidade dos homens optou pela desmobilização.

Um aspecto fundamental que cumpre destacar deste livro é o documento n.º 1 do anexo, que é o relato do massacre do Pidjiquiti.

O livro do Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna é um repositório de grande importância que os historiadores doravante não poderão ignorar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7304: Notas de leitura (173): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7309: Humor de caserna (20): É proibido c...em frente ao canhão (C. Martins, Gadamael, 1974)

1. Deliciosa, esta, a do nosso leitor (e camarada) C. Martins, que esteve em Gadamael (julgo que em 1974, com o José Gonçalves) e a quem convido formalmente para se juntar aos bravos do pelotão, aqui na Tabanca Grande (*):


Estando eu a fazer uma necessidade fisiológica (que ninguém fazia por mim) em frente ao espaldão do  canhão s/r, [, em Gadamael,] ouvi uma voz de "gago":
- Ooooo meeee,  alll nãnnn saaabbe leeer.


Respondi-lhe com maus modos porque estava com cólicas devido à diarreia, e ao olhar de soslaio vi um cartaz de papelão que dizia:
- É PROIBIDO CAGAR EM FRENTE AO CANHÃO.


Para que conste não fui multado, mas não repeti a cena porque aqueles desgraçados não tinham a obrigação de cheirar os odores das minhas tripas durante dias inteiros.


O gadamaelista


C. Martins (**)


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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (101): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves)

(**) Último poste da série > 24 de Maio de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7308: Em busca de... (149): Imagens ou notícias de Fuzos & Chaimites, em Bissau, em Janeiro de 1970 (a/c de Blogue Barco à Vista)




Guiné > Zona leste > Região de Gabú > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > s/d >  Chaimite, atravessando o Rio Geba   Esta viatura blindada deveria, possivelmente, pertencer ao Esq REex Fox 8840 (Bafatá, 1973/74). Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Jacinto Cristina (residente em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo), que esteve 14 meses destacado na Ponte de Caium. A foto  não traz legenda. Na imagem consegue-se "identificar" dois graduados, um capitão e um alferes...

Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Questão que um nosso leitor, Duarte, oficial superior do Exército, no activo (que eu não identifico pelo apelido, por razões de deontologia profissional),  me pede para levar ao conhecimento aos camaradas que estiveram no TO da Guiné:

 Data: 17 de Novembro de 2010 15:46
Assunto: Questão para blogue 

Caro Luís,

Tenho acompanhado o seu blogue e noto que vai de vento em popa! É um facto inegável que tem contribuído, juntamente com os seus camaradas,  para a redacção de livros sobre o conflito colonial, por tal Bem Hajam!

Desta vez peço-lhe um favor para auxiliar o meu jovem amigo, autor do blogue Barco à vista [, foto à esquerda]. Tem publicado artigos interessantes relacionados com a Marinha, no entanto merece toda a ajuda possível, dado a qualidade dos seus textos e modo agradável como escreve.

Está a escrever um artigo sobre as CHAIMITES que os Fuzileiros receberam na 2.ª metade dos anos 70, tendo apoio de muito militares da Armada.

No entanto, há coisas que a sua rapaziada certamente pode melhor ajudar ou neste caso confirmar, segundo ele teve conhecimento, alguns «Fuzos» na Guiné, ao que parece em Janeiro de 1970, fizeram um breve passeio nas Chaimites do Exército na própria cidade de Bissau, durante uma operação urbana.

A ideia é pedir o favor que questione o pessoal que participa no seu blogue, se recorda e confirma o referido.

Um abraço
Duarte

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Duarte, pelas simpáticas palavras que nos dirige... A caminho dos 7 anos de existência na blogosfera, temos às vezes dúvidas sobre o sentido e o alcance da missão, e perguntamos, como o poeta, se vale(u) a pena... É a chamada dúvida metódica,útil para nos mantermos centrados no objectivo primordial de sermos um blogue, pacífico e pacificador, de ponte(s) (não de ponta, muito menos de ponta-e-mola)... 

Mas deixemo-nos de filosofias, e vamos lá ao seu apelo... Camaradas: quem se lembra de ver Chaimites & Fuzos a passear, em Janeiro de 1970, na Praça do Império, em Bissau ? Dão-se alvíssaras a quem mandar fotos e/ou notícias...

Temos já meia dúzia de referências, no nosso blogue (II Série)  a esta viatura blindada. Clicar aqui. Em 1973/74, na zona leste, parece que era frequente as Chaimites proporcionarem alegres (e despreocupados) passeios anfíbios no Rio Geba, como se pode ver na foto reproduzida acima ... Não consta que tenha havido acidentes, no rio, com estas gloriosas máquinas anfíbias... Mais comentários, para quê ? Os artistas são portugueses...

 Mas já que falamos de Chaimites, quero recordar aqui, ao nosso camarada António Carlos Ferreira (ex-furriel Mortágua, Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840, Bafatá,  1973/74)  que ele aceitou o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, tendo ficado de enviar histórias e imagens desse tempo (ele bateu todo o leste mas também o sul com as suas gloriosas Chaimites)... É o proprietário da Adega Típica A Pharmácia,  Rua Brasil 81/85, Coimbra, E-mail: adegapharmacia@gmail.com;  Contactos:  telemóvel: 917213076 / telefone  239 404 609).
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Nota de L.G.: 


Guiné 63/74 - P7307: (Ex)citações (110): Se não discutir com os meus amigos que são diferentes, mas meus amigos, discutirei com quem? (José Brás)

1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 19 de Novembro de 2010:

Pensei, pensei... e acabei escrevendo isto que te envio com um abraço
José Brás


Se não discutir com os meus amigos que são diferentes, mas meus amigos, discutirei com quem?

Meus amigos

Se querem que lhes diga, não acredito que uma cópia seja alguma vez... uma cópia, quer dizer, a reprodução exacta da coisa copiada, seja ele um texto, uma foto, um objecto qualquer que se possa tentar imitar, colocar sobre o vidro de uma fotocopiadora ou impressora, a jacto de tinta, laser, analógica ou digital, e que saia o retrato chapado da pretensa irmã.

Nem do outro lado do espelho se poderá dizer que está a mesma coisa que exibimos deste lado, reflexo apenas ponto a ponto reproduzido virtualmente porque sem tempo nem espaço. Reparem que estou a falar apenas em coisas sem vida, folhas de papel garatujadas com boa ou má caligrafia, ortografia apurada ou descuidada, careta de tio que se pôs a jeito para a foto no dia dos anos, coisa até com volume que caiba sobre o vidro da maquineta, ou até, voltando ao espelho, as fuças de um gajo que se põe sério afagando a face depois da barba cortada.

Imaginemos agora um ser vivo, seja gato de estimação, dizem que sem alma nem inteligência, o que, se calhar, não são a mesma coisa, seja cidadão em aldeia ou cidade nascido, moirejando o pão desde criança na escola até ao lar da terceira idade, crescendo por aí, por fora e por dentro, debaixo de calores e chuvas desiguais, apanhando nas ventas ou afagado por mães diferentes, comendo pão escuro ou carcaça afrancesada.

Mudando o ritmo a isto, torcendo um pouco direcção da fala e do pensamento, perguntemos agora a nós próprios primeiro, e a outros, depois: -que raio de condição humana que nos leva tantas vezes a fingir que queremos amigos quando afinal queremos apenas cópias, gente que nos diga sim a cada ai que soltamos, que nos sorria amistoso e falso, ou que nos grite ainda mais falso "és o maior!"?

Que raio de sina nos ata a este desejo de sermos uma espécie de deus rodeado de seus santos e anjos?
Bem sei que na teoria dos bio-sociólogos (é assim que se diz?), tudo isto se passa no íntimo da tremenda guerra no mundo dos genes pelo poder da preservação da espécie, guerra não menos feroz do que a dos arianos que no século passado destruíram meia Europa por duas vezes.

E se é assim, que poder tem essa guerra sobre a inteligência do homem, capaz de o utilizar sem mais nem ontem, de o separar do vizinho, e pior ainda, de lhe utilizar o espírito, a sensibilidade, a capacidade criadora e o próprio amor, ao ponto de se digladiarem, não para tornar mais claras e aceitáveis as diferenças, mas para romper ainda mais, como se cada um fosse um planeta afastado sem remissão.

Acabamos sempre por ir perdendo amigos, reduzindo o grupo dos que se sentem bem connosco, até ao epílogo do beijo de Judas.

E isto vem aqui a que propósito, já que algum propósito hei-de ter com este...despropósito.
Vamos lá ver!

Estive a ler vinte e cinco (que afinal eram 22) comentários a um trabalho de Beja Santos no poste, creio que 7297, sobretudo na parte que explodiu com a pergunta deste "Não há ninguém que queira escrever sobre o recuo estratégico que estava em marcha na Guiné, naquele segundo trimestre de 1974?".

Li, e a bem dizer, nem devia meter o bedelho nesta disputa porque, tratando-se de disputa, vem mesmo a calhar para a chapar aqui com a minha cagança de cima. E a disputa encarniça-se sempre, à volta da ideia "ganhámos ou perdemos a guerra?" como se fosse possível chegar a uma verdade inegável, absoluta e última, apenas porque uns acham que sim e esgrimem opiniões mas também documentos, actas de reuniões, cópias de planos, relatos de batalhas, e outros dizem que não, igualmente escudados na mistura de convicções, outros documentos, outros relatos de situações localizadas ou gerais.

Vendo bem...

- que estávamos a perder a guerra dizem muitos militares portugueses, gente bem colocada para construir opinião credível, respeitados pela sua coragem e valentia exemplar na mata, ou estrategas de Bissau, incluindo o General Caco que se demitiu justamente por isso (também na certeza que Lisboa não podia dar-lhe mais nada); incluindo o seu substituto no posto que vem agora desdizer o que disse então; incluindo Lisboa que chegou a aceitar encontros em Londres mas preferia a derrota do seu exército à "desonra do abandono".

- que podíamos ganhar a guerra dizem também valentes e esclarecidos militares portugueses (e até alguns guineenses), seguros que seria possível aguentar posições e de que também o PAIGC estava com enormes e dificilmente solucionáveis problemas, não apenas para manter a ofensiva no nivela a que tinha chegado, mas mesmo para manter a coesão interna depois da morte de Amílcar e no meio do cansaço extremo dos seus combatentes.

E quem sou eu para me colocar num dos lados da discussão, se não passei de um Furriel colocado num sítio lixado, é certo, mas limitado na minha visão das coisas, não apenas pelo horizonte dos acontecimentos, mas também pelas minhas próprias convicções morais?

Acredito que perderíamos a guerra, não no significado que damos aqui à palavra perder, construído na ideia do poder das armas, na coragem dos combatentes, na sua capacidade de sacrifício e arte militar, nos meios à disposição, etc..

Acredito que acabaríamos por a perder, por um lado por carência absoluta de razão histórica e de capacidade de nos opormos à marcha da humanidade (não cabendo aqui apreciações se para o bem ou se para o mal), mas também por esgotamento de meios disponíveis neste pequeno e atrasado País a que orgulhosamente pertencemos mas não deixamos de analisar racionalmente.

Acredito que a poderíamos aguentar ainda muito tempo se estivéssemos dispostos a mais experiências de Guidage, como no-la descreve sem ficção (que alguns repudiam) o Daniel Matos no interior do quartel e outros nas colunas de apoio, ou mais invasões aos países vizinhos, como Guiledje e Gadamael, e como tantos outros locais daquele pequeníssimo território.

Falar de Mirages e de Migs é apenas um exercício verbal, provavelmente um e outro muito distantes de qualquer possibilidade, embora me pareça mais verosímil a dos Migs por acção de cubanos ou outros quaisquer pilotos disponíveis, e não para guerra aérea com a nossa FAP, embora fosse inevitável nesse caso, mas para largar algumas "ameixas" em sítios escolhidos e para dificultar evacuações e pouco mais.

E aqui acho melhor dar de novo outro rumo à minha conversa porque já estarei a tocar rabecão, não sendo mais que sapateiro.

E para dar a volta, escolho naturalmente o terreno onde me sinto mais à vontade, pese embora nele não exibir mais que convicções morais e ideológicas, fincadas num humanismo que assumo tendo como pontos fortes ideias -liberdade, solidariedade, fraternidade, (i)legitimidade colonial, sentido da história...
Agarrado a esse campo, não tenho qualquer dúvida de que perderíamos a guerra e nem merece argumentar que "afinal perderam a guerra porque estão piores do que estavam".

Ainda hoje penso que foi um erro a separação de Leão e Castela e que esse erro continuamos a pagar caro, sem que deixe de sentir orgulho no que sou, português, ou deixando de assumir essa qualidade, as vitórias e as derrotas, a cultura, o contributo que demos para a grandeza do mundo e também os crimes que aqui se praticaram contra outros povos e contra nós próprios.

Voltando à "vaca fria" dos amigos e das cópias.

Não acompanhar Graça Abreu na sua sanha contra Beja Santos, nem o acompanhar inteiramente na sua ideia de que não tínhamos perdido a guerra, não proíbe de ter gostado muito do seu Diário, não apenas um relato da sua experiência que deixa antever experiências de outros, mas, em minha opinião, um bom texto mesmo do ponto de vista da construção da escrita e da comunicação, e não me proíbe de me considerar seu amigo, ainda que disponível e liberto para criticar quando disso for caso. Mais acrescenta o apreço que por ele tenho, o lirismo da escrita sobre a sua experiência chinesa e o contributo que tem dado na tradução e na divulgação de poetas da China, desse modo contribuindo para alargar a visão sobre o mundo.

Apreciar muito o trabalho que Beja Santos vem desenvolvendo à sombra da Tabanca, diligente, metódico, competente, plural e amigo, precioso para uma melhor compreensão das coisas desta guerra e no registo amplo do que sobre ela tem sido produzido, não me obriga, não me obrigará nunca, nem me pareça que ele espere tal coisa, a discordar pontualmente de opiniões suas e mesmo de certas afirmações que tenha feito ou omitido.

Não foram muitas nem agrestes as minhas discordâncias com o "nosso" tenente-general António Martins de Matos. Aconteceram e hão-de acontecer algumas vezes, mesmo sem necessidade de se expressarem, mas isso não obsta a que tenha por ela estima e respeito e que dele conte com os mesmos sentimentos.

Já expressei em mais do que uma vez a minha concordância, se não plena, pelo menos genérica, com a decisão do coronel Coutinho e Lima em Guiledje, e que por isso o considero uma boa pessoa. Tal postura, no entanto, não me proíbe de pensar (especulando, claro) que se estivesse no seu lugar, muito provavelmente teria feito coisa diferente, ainda que com a possibilidade de grandes prejuízos para toda aquela gente.

Confesso sem custo que já tive em tempos essa desgraçada tendência de considerar amigos apenas aqueles que comungavam da minha (i)religião, da minha ideologia, da minha interpretação do caminhar do mundo. Ou porque de velho me perdi... ou porque de velho me achei, hoje vou com mais calma ao pipo, gostando de vinho carrascão, ou aberto, ou verde, ou tinto, ou branco, tentando encontrar o que de bom cada um tem e não o deitando pelo cano, excepto quando é mesmo zurrapa.

E zurrapa para mim é o quê? Vinho de má qualidade, direi abreviando para não me perder ainda mais do que já estou.

E abusando da comparação entre gente e vinho, direi que gente que excluo mesmo das minhas amizades e da possibilidade de qualquer discussão, são aqueles com verdadeira saudade de um passado condenado; com desvelado amor à guerra pela guerra; capazes de proibir o pensamento, de massacrar, de torturar, de negar humanidade a outra gente só porque de outras crenças ou de outras cores, incapazes de reconhecer legitimidade no contrário.

E aqui no blogue já encontrei gente assim, que bate e foge, que vem sorrateira e pela calada, morde e baba; que se esconde no (ou quase) anonimato. Desses quero distância e escusaria sempre qualquer debate. Mas tais figuras não estão aqui em nenhum dos vinte e dois contendores do momento, nem naqueles que nomeei como exemplo das diferenças que mantemos entre nós.

Não estão, e por isso com eles estarei sempre disponível para o debate, com eles discordando ou concordando, mas irmanado nessa crença de que o melhor mesmo teria sido estudar a questão, ouvido vozes antigas, negociado saídas vantajosas para as duas partes e evitado o desperdício de meios e de gente, desviando-os de tarefas mais importantes para a riqueza e a felicidade dos povos.

E se não discutir com esses, diferentes mas meus amigos, discutirei com quem?
Com os amigos que são iguais?
Com os inimigos?

José Brás
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7250: (In)citações (22): Recordando Fatemá e Sambel Baldé, tenente de 2ª linha, régulo de Contabane (José Brás)

Vd. último poste da série de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7295: (Ex)citações (109): Alguns considerandos muito intimistas (José Belo)

Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (44): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves, ex-alf mik op esp, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974))

1. Texto de José Gonçalves (ex-Al Mil Op Esp da CCAÇ 4152/73, que vive actualmente no Canadá) [, foto à direita]:

Data: 19 de Novembro de 2010 02:12

Assunto: O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau.

Foi já ao entardecer do dia 27 de Fevereiro 1974 quando recebemos uma mensagem para tomarmos as precauções defensivas necessárias pois havia informação indicando a possibilidade de Gadamael vir a ser atacado por tanques e carros de combate [possível referência às viaturas blindadas, de origem soviética, BRDMque o PAIGC estaria em condições de começar a utilizar em 1973 nos ataques aos nossos aquartelamentos fronteiriços ]. 

Como devem calcular não foi uma notícia que pudesse ser ignorada e assim todo o pessoal do comando reuniu-se para decidir o que fazer em relação à nossa segurança e à da população sob nossa protecção.

Defesa contra tanques e carros de combate era coisa que não tinha ideia nenhuma pois nunca tive este tipo de treinamento. Nem eu nem ninguém da minha companhia, mas não podíamos ficar de braços cruzados e decidimos então ir fazer uma inspecção a todos os postos de defesa e instruir os seus responsáveis do perigo que poderia em breve aparecer para que tomassem as devidas precauções em relação às munições e funcionamento das armas de defesa.

[Imagem à esquerda: Viatura blindada BRDM 2, utilizada pelo PAIGC em meados de 1973 no sul da Guiné: Desenho e especificações... 

Cortesia de Nuno Rubim (2009)




Visitámos os postos de metralhadoras pesadas e depois fomos visitar um posto de canhão sem recuo que ficava mesmo ao lado da enfermaria/messe de sargentos. O cabo responsável por esta arma mostrava-se muito entusiasmado pela atenção que lhe estava a ser prestada e queria mostrar-nos a todos nós como a sua arma funcionava . Entretanto o capitão, alferes e furriéis estavam todos à volta do canhão, dialogando sobre as melhores opções de defesa quando o cabo decidiu trazer uma munição para nos mostrar e introduziu-a na câmara do canhão. 

Fiquei preocupado pois sabia como tal peça funcionava e disse-lhe prontamente que com todo o pessoal à volta isso era perigoso avisando-o para não fechar a culatra. A resposta do mesmo foi que não havia perigo e fechou a culatra e quase instantaneamente se deu a percussão da mesma ferindo o cabo em estado muito grave pois apanhou-o em cheio nas suas partes privadas e a mim que estava ao seu lado queimou-me quase um terço do corpo principalmente perna esquerda, braço esquerdo e peito. Valeram-me os calções que protegeram a mercadoria. O coitado do cabo não teve a mesma sorte.

Com a explosão voei pelo ar e caí em cima do Alferes Lobo (que estava algures ao meu lado ou por trás de mim) que se queixava não enxergar nada. Olhei então para o Lobo e verifiquei que as pálpebras dos olhos dele se tinham chamuscado e colado não o deixando abrir os olhos correctamente. Ao mesmo tempo olhei para o meu braço e vi que estava todo preto e com sangue, tentei limpar o braço passando com a minha mão direita sobre ele e um bocado de pele automaticamente se descolou. Olhei então para a minha perna e também não estava lá muito católica e resolvi então correr para a enfermaria à procura de ajuda.

Quando cheguei ao abrigo onde os enfermeiros estavam alojados disse-lhes que tinha havido um acidente e que havia vários feridos. Com esta informação saíram todos correndo pela enfermaria a fora em direcção ao canhão e deixaram-me lá sozinho, por fim um voltou para trás para tomar conta de mim. Foi então que me disseram que o cabo tinha ficado mesmo muito mal e que felizmente tinha só sido eu e ele a ficarmos feridos e que teríamos de ser evacuados pata Bissau. Por sorte não estava ninguém em frente do canhão senão o resultado teria sido muito pior.

Começaram então os preparativos para nos evacuar e foi-nos prontamente dito que a evacuação teria que ser feita de Cacine porque os helis não vinham a Gadamael. O sol já estava posto quando nos meteram em dois sintexes do exército e lá fomos rumo a Cacine. Tive então o conhecimento real que a maresia em queimaduras dá dores horríveis e como não me tinham dado e não me deram nada para as dores, tive que aguentar até ser evacuado o que só aconteceu no outro dia de manhã. O cabo estava cheio de morfina mas apesar do meu pedido para me darem também morfina para as dores, foi-me recusado dizendo que os efeitos secundários da morfina não eram justificados no meu caso.

No sintex no meio do rio Cacine sentia um alívio enorme e um sentimento de sorte, apesar dos ferimentos que tinha, pois ia deixar o inferno de Gadamael para trás, os bombardeamentos diários e o suposto ataque   [de BRDM-2] que felizmente nunca chegou a acontecer. As minhas preocupações eram com os meus soldados e camaradas caso o ataque previsto se realizasse: será que tudo estaria bem com eles, será que o treinamento que lhes tinha dada e com o comando dos furriéis poderiam ser dignos militares e não porem a sua vida em risco ? 

Tudo isto me ia na cabeça e também uma grande preocupação de ficar muito cicatrizado (um pouco de vaidade que é normal de quem é novo) . Tinha que escrever aos meus pais e contar-lhes o sucedido mas como fazê-lo sem preocupar mais a minha mãe pois sabia que esta (já vivendo no Canadá com o resto da família), sofria de muitas emoções por me encontrar na Guiné a combater. 

Passei uma noite horrível na enfermaria de Cacine ao lado do meu companheiro,  1º cabo apontador de canhão s/r, pois este estava totalmente sedado com morfina mas com conhecimento do que lhe tinha acontecido. Passou a noite a chamar pela namorada e pela mãe. A uma certa altura pediu aos enfermeiros para urinar e estes diziam um para o outro que não encontravam nada com que ele o pudesse fazer. Foi uma noite horrível escutando aquele homem gemer e chamar pelos seus entes queridos e pedi aos enfermeiros para me mudarem para outro lado pois já não suportava mais a agonia do meu camarada que me causava mais transtorno que as minhas próprias dores. Também me foi dito que não podiam pois que eu tinha que ser monitorizado e que tinha que ficar perto deles. 

De madrugada lá apareceu um heli com uma enfermeira pára-quedista que nos evacuou para o hospital militar de Bissau onde passei os próximos dois meses só regressando a Gadamael no dia 21 ou 22 de April de 1974 (já não me recordo bem da data).

Quando cheguei a Bissau um dos enfermeiros na sala de recepção levantou o lençol que me tapava o corpo totalmente nu e disse : "pensei que era pior" o médico que se encontrava a seu lado olhou para mim e respondeu : "ainda querias pior?". Nunca mais me esqueci destas duas frases. Medicaram-me e puseram-me em soro todavia passadas umas boas horas comecei a ter convulsões que era o começo de envenenamento do corpo devido a quantidade de pele queimada. 

Tudo passou, e um dia apareceu na sala de cuidados intensivos o governador (general Bettencourt Rodrigues) que me perguntou como me estava a sentir e de imediato me ameaçou com um auto por andar a brincar com canhões. Respondi-lhe que agradecia ele mandar averiguar a situação pois eu também estava interessado em saber o que se tinha passado mas que tal acto não foi devido a nenhuma brincadeira com canhões. Não me deu resposta e lá se foi para a sua vida e eu fiquei mais mês e meio em Bissau a recuperar.

Lembro-me de várias vezes ouvir passar tropas cantando, (presumindo ser tropas especiais e talvez africanas) em camiões em direcção a Bissalanca , e logo pela manhã do dia seguinte começavam os helis a chegar com os feridos. Foi um tempo preocupante e interessante pois estive cerca de 3 semanas com alta do hospital (indo às consultas externas ao hospital 1 vez por semana ) nas instalações dos oficiais onde se comia e bebia bem, com piscina e até cinema ao ar livre tinha. 


Comparado com Gadamael,  era um paraíso mas tive alta no dia 21 de Abril e voltei de novo para o "inferno de Gadamael" pensando sempre que talvez fosse o meu último destino, o que não veio a acontecer devido ao 25 de Abril. 

Foi também em Bissau que comecei a conviver com outros oficiais mais experientes que ali se encontravam de baixa ou de passagem e que contavam as suas histórias e preocupações e o seu sentimento de revolta com tudo o que se estava a passar. Em Gadamael, no COP 5 falava-se pouco da situação em que estávamos talvez pelo choque e o pouco tempo que lá estive. Do tempo de Gadamael lembro-me das noites de Poker, dos uísques e dos gins tónicos e do fugir para os abrigos que podia ser várias vezes por dia. 

José Gonçalves | alf mil op esp | CCAÇ 4152/73,
Gadamael e Cufar, 1974)
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Nota de L.G.: 

Último poste da série > 16 de Novembro de 2010> Guiné 63/74 - P7291: Estórias avulsas (100): A mina, que seriam duas (António Branquinho)

Guiné 63/74 - P7305: Parabéns a você (175): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Tertúlia / Editores)

Salvé, 19 de Novembro de 2010

Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa

1. Estamos hoje a festejar o aniversário do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72).

O nosso camarada Mário Migueis, apesar de não dar notícias desde Julho passado (esperemos que esteja bem) tem no nosso Blogue a sua marca, por via da sua colaboração.
Destacou-se principalmente aquando do afloramento do caso do nosso camarada António Ferreira, morto durante a emboscada na picada entre Madina Bucô e Quirafo, no dia 17 de Abril de 1972.

Só quem tem um coração de oiro é capaz de ter feito ao António Ferreira, em forma de homenagem, o acrílico e o poema, publicados na devida altura, e que agora reproduzimos.

"António Ferreira"
Acrílico: © Mário Migueis da Silva (2010). Direitos reservados


Rosto de Menino

Rosto de menino
Criança traquina
E mataram-te


Vampiros
Filhos da puta
Bando de abutres
Sacanas
Corja de carrascos assassinos!


Corpo chisnado
Em putrefacção
Réstia de pó
Montículo de cinza
E eras vida


Saltinho, 19 de Abril de 1972
Mário Migueis


2. Caro Mário, a Tertúlia deseja que estejas bem, que tenhas um feliz dia de aniversário junto da tua família e amigos, que tenhas uma festa bonita e alegre, e que esta data seja festejada por muitos anos.
Marcamos desde já encontro, para este efeito, no próximo ano, ou então até um dia destes uma das ruas de Esposende.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)
e
19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5297: Parabéns a você (44): Mário Migueis, ex-Fur Mil Rec Inf (Bissau, Bambadinca, Saltinho, 1970/72) (Editores)

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7283: Parabéns a você (174): Coronel Pacífico dos Reis, ex-Comandante da CCAÇ 5 (José Martins / José Corceiro)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7304: Notas de leitura (173): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Bloqueei a minha veia à volta do diário quase improvável, já não tenho idade para misturar trabalho e ficção, de manhã à noite.
Ontem depois do jantar nem coragem para ler tinha, fiquei especado uma hora a ver “Fala com Ela”, do Pedro Almodóvar.
Hoje de manhã, após os deveres essenciais cumpridos, foi até à Rua do Arsenal à procura do bacalhau do alto e azeite em lata.
Amanhã vou para o lançamento do livro do Armor Pires Mota.
Na 3.ª feira, participo no lançamento do livro “Tempo Africano”, do Manuel Barão da Cunha.
Nos intervalos, recolho encomendas que vão para a Guiné.
O Jorge Cabral continua sem me dar notícias sobre o tipo de morança que eu devo comprar em Finete, se ele pensa que vai comprar a crédito que se desiluda já, ele não conta comigo nem para o contrato de promessa de compra e venda, só com um cheque de 2 milhões de CFA é que lhe adquiro habitação e pessoal administrativo.

Um abraço do
Mário


Os fuzileiros na Guiné (2), entre 1961 e 1974

Beja Santos

O relato “Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné”, é o inventário minucioso destas tropas especiais a que se propôs o Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna (Edições Inapa, 2006). No primeiro texto, deu-se realce aos acontecimentos vividos entre 1962 e 1966. Deu-se conta que a Armada pugnou, desde a primeira hora, para encontrar missões adequadas para os Fuzileiros que tiveram um papel de grande importância, nos primeiros anos da luta armada nos rios e rias da Guiné. O Comando da Defesa Marítima pretendia ver os Fuzileiros adestrados para os combates com o uso de meios anfíbios, o que nem sempre acontecia e que veio a alterar-se substancialmente em 1968, com Spínola.

Voltando a 1967, o autor refere que o ano se iniciou com um incidente deplorável que foram os confrontos entre Fuzileiros e Pára-quedistas depois de um jogo de futebol no estádio Sarmento Rodrigues. Escreve ele: “Os Páras, completamente descontrolados, seguiam atrás dos Fuzileiros, investindo contra as esplanadas e destruindo tudo à sua passagem. Ao tomar conhecimento da situação, o Oficial Comandante de Segurança às Instalações Navais de Bissau sai com uma Secção armada, monta uma barreira de protecção cem metros a montante e, como os Pára-quedistas não se detivessem, abriu fogo abatendo dois deles”.

As operações desencadeadas nos primeiros meses tiveram aspectos críticos, com as tropas atoladas no lodo. O autor destaca um comentário de Alpoim Calvão que é bastante impressivo: “Quem já andou na Guiné sabe o que significa andar no lodo. Põe-se o pé com toda a cautela na superfície escura e escorregadia e afundamo-nos até à coxa. Sente-se uma ventosa que suga as pernas e as prende ciosamente. O esforço necessário para dar um passo é violentíssimo e muitas vezes a prisão do lodo apodera-se das botas e há que caminhar descalço. Se por acaso o lodo é mais fluído e o homem se enterra até ao peito, é necessário desatolá-lo e ensinar-lhe a nadar no lodaçal que se agarra à roupa e à pele, cobrindo-o de uma estranha película que o calor do sol transforma em carapaça quebradiça e a água tem dificuldade em lavar”. Para além das operações do Sul, os Fuzileiros actuaram na região do Morés e Cacheu. Com o alastramento da guerra, os Fuzileiros, passaram a alternar com os Pára-quedistas quer a Norte quer no Sul. O autor aproveita para registar dois factos notáveis na história da Marinha de Guerra no teatro de operações da Guiné, concretamente a operação “Eridanus” e mais um capítulo da saga da LDM 302. Esta lancha já tinha sofrido vários contactos de fogo quando, no final do ano, foi alvo de um violento ataque no rio Cacheu, tendo ficado à deriva meio submersa, depois foi rebocada para Ganturé onde se afundou. A lancha que a foi buscar descobriu que podia ser rebocada, foi posta a flutuar e voltou ao activo, como se verá adiante. Quanto à “Eridanus” foi um golpe de mão executado na região de Tombali, onde se encontrou uma arrecadação de material de guerra, um armazém e uma enfermaria. Era tanto o material que foi necessário dividir o destacamento em pequenos grupos até concluir o transbordo de material, durante horas a fio.

Nos primeiros meses de 1968 os Fuzileiros continuaram operativos em golpes de mão, batidas e emboscadas, mas deu-se um incremento de acções helitransportadas. Escreve o autor: “O conceito de utilização dos Fuzileiros com a atribuição da responsabilidade sobre bacias hidrográficas, defendido pelo general Schulz, estava prestes a ser alterado. Spínola encarava a guerra de um modo diferente do seu antecessor, não nutria especial simpatia pela Marinha nem pelos seus Fuzileiros.

Guiné - A LDM 202 a navegar lado a lado com outra LDM, com fuzileiros embarcados.
Foto retirada do site reservanaval.blogspot.com, com a devida vénia.

Não percebia porque é que sempre que delineavam uma operação, os Marinheiros alegavam objecções quanto às marés, pretendendo sempre alterar os locais e horários que haviam sido superiormente determinados. O novo Comandante-Chefe defendia uma estratégia diferente, privilegiando a defesa das fronteiras até as tornar impermeáveis à penetração do inimigo vindo do exterior, pelo que desencadeou operações de grande envergadura no rio Cacheu e em todo o Norte da Província, afrouxando, descurando e mesmo abandonando a pressão sobre a extensa região do sector do Sul onde habitualmente os Fuzileiros andavam empenhados e o Exército se encontrava estabelecido”. O Comandante da Defesa Marítima da Guiné procurou reagir pedindo a intercessão do Chefe de Estado-Maior da Armada, no sentido de que os Fuzileiros não ficassem em bivaque e se mantivessem atreitos às operações específicas para manutenção da segurança e liberdade da navegação dos cursos de água. Para o autor, com Spínola a Marinha perdeu o comando completo de alguns meios navais e de todos os destacamentos de Fuzileiros Especiais que detinha no tempo de Schulz. A partir de 1968, os Fuzileiros passaram a ter missões como tropa de quadrícula, patrulhando os rios, nomadizando e envolvidos em operações de maior envergadura. Em 1968 recomeça a saga da LDM 302 que tinha voltado ao rio Cacheu, já recuperada do primeiro afundamento. No decurso da operação “Via Láctea”, a descer o rio Cacheu, foi duramente atacada pelo inimigo emboscado nas margens. Um grumete foi atingido mortalmente, o interior da lancha incendiou-se, houve que recolher todos os elementos da sua guarnição. No dia seguinte, a LDM 302 foi rebocada para Ganturé, ainda a arder procedeu-se a trabalhos de reparação e em 1969 voltou a ser atingida no Rio Grande de Buba, tendo ficado a cobertura parcialmente destruída. Mas só foi abatida em Novembro de 1972. Esta operação “Via Láctea” procurou fazer abalos nos corredores de infiltração e nas cambanças do PAIGC no Cacheu. Os dirigentes da Armada foram críticos quanto à montagem de um dispositivo que reduzia drasticamente a fiscalização dos rios do Sul (por exemplo, a fiscalização do rio Cacine foi praticamente abandonada. Spínola pretendeu bloquear as linhas de infiltração e ampliou o dispositivo para 60 quilómetros. Foi por essa razão que se constituiu uma base em Ganturé. O autor relata um conjunto de operações destinadas a montar segurança, a começar pela operação “Andrómeda” e passando pela operação “Grande Colheita”, na península de Sambuiá onde foi apreendido imenso material.

Estava-se já em 1969. A seguir ao desastre da jangada no rio Che-Che, a Marinha enviou 12 fuzileiros e alguns mergulhadores com a missão de recolher cadáveres. Foram resgatados 11 corpos e sepultados em vala aberta. Vão prosseguir violentos combates na região do Cacheu, o PAIGC não abandonava as suas posições.

Intensificaram-se os ataques na região de Buba, mas também em Mansoa e no Geba-Corubal. Em Agosto de 1969 ocorreu a operação “Nebulosa”, dirigida pelo capitão-tenente Alpoim Calvão e na região do rio Inxanxe. As embarcações a motor que tinham sido roubadas em 1963, perto de Cafine, eram o alvo da operação. Os Fuzileiros atacaram a embarcação Patrice Lumumba, que afundaram e foram aprisionadas 24 pessoas. E assim chegámos a 1970.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Novembro de 2010de 15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7284: Notas de leitura (170): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7297: Notas de leitura (172): África A Vitória Traída, de Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga, Bethencourt Rodrigues e Silvino Silvério Marques (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...








Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Gr Comb > O Jacinto Cristina, soldado, municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10,7... Na foto imediatamente acima, o Cristina posa para a fotografia junto de um canhão s/r 75 mm, m/52 (se não me engano...); esta arma era meramente decorativa, já que estava, de  há muito,  inoperacional (no TO da Guiné, usava-se ainda os calibres 57 mm e 106 mm, este sobretudo montado em jipes, e destinado a defesa a aquartelamentos e destacamentos; era uma arma pouco popular, perigosa para as guarnições por causa do cone de fogo, um dos meus camaradas de Bambadinca, o Sargento Parente, morreu, no Saltinho, com um disparo inadvertido de canhão s/r 82 mm, uma arma muito utilizada pelo IN, tal como o canhão s/r 75 mm).


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Jacinto Cristrina, um bravo de Caium,  fez 61 anos no dia 14, domingo. Este fim de semana vai comemorar com a família. Infelizmente, desta vez, não poderei sentar-me à mesa, com ele, a esposa Goretti, a filha Cristina, o genro Rui Silva, a neta (a Princesa)... Mais a Alice, a minha cara-metade.  O petisco vai ser borrego assado no forno do padeiro, como só a Goretti sabe fazer. 

Não podendo aceitar o convite, por razões de agenda, prometo que, na melhor ocasião, quando lá passar,  por Figueira de Cavaleiros, concelho de Ferreira do Alentejo, sentir-me-ei honrado e feliz por lhe poder dar, ao vivo  o abraço de parabéns (ou o quebra-costelas) que ele merece, de camarada para camarada. 

Aproveitarei ao mesmo tempo para dar-lhe notícias do Carlos Alexandre, outro caiumense, natural de Peniche que nos veio esclarecer sobre a história da concepção e construção do monumentos aos mortos do 3º Gr Comb... Acabo, entretanto, de transmitir por telefone o essencial desta história extraordinária de amizade e de camaradagem dos bravos de Caium, à Goretti, já que o noctívago do Jacinto estava a descansar; sei também que o Carlos, depois da publicação do seu primeiro poste,  telefonou ao Cristina, mas que este ainda não viu a foto que prova, por A + B, que o referido monumento foi colocado no tabuleiro da ponte da  ainda no tempo da malta do 3º Gr Comb da CCÇ 3546; o Carlos não compreende e tem dificuldade em aceitar a amnésia que deu a estes caiumenses, e nomeadamente aos alentejanos Cristina, Sobral e Barroca. 

Tenho comigo o outro álbum fotográfico que ele me emprestou, em Setembro passado, e que está pronto para lhe ser devolvido, depois de seleccionadas as fotos que me interessavam. É desse álbum que retiro as imagens, digitalizadas por mim, que documentam uma outra faceta do Jacinto, a do municiador (e, às vezes, apontador) do morteiro 10.7 (*).

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Nota de L.G.: