sábado, 22 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6454: Estórias avulsas (36): A sabedoria do “Homem Grande” (José Nunes, ex-1º Cabo do BENG 447)


1. O nosso Camarada José Nunes (José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo no BENG 447 (Brá, 15JAN68 a 15JAN70), enviou-nos em 21 de Maio de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Das memórias que tenho da Guiné, não posso esquecer o meu ajudante na Central Eléctrica do QG, o Iotna - o meu balanta -, soldado do contingente do CTIG.

Sempre disponível, trabalhador, leal e cumpridor.

Que terá acontecido ao IOTNA? Será ainda vivo? Que fará ele hoje na dura luta pela sobrevivência na Guiné?

Aqui vai uma estória que se passou com o IOTNA:

Certo dia vi o Iotna muito sofrido e perguntei-lhe: “Que se passa?”

“Sabes dói-me muito minha cabeça!”

Fui buscar dois comprimidos LMs, que ele tomou, e mandei-o ir para a sua Tabanca.

No dia seguinte lá regressou o Iotna com uns ramos na mão.

“Deixa eu usar o teu placa.”

A placa era o disco eléctrico, que tínhamos para aquecer as refeições e cozinhar os nossos petiscos.

Fiquei curioso e a assistir ao que ele fazia, colocando as folhas em cima da placa que entretanto ia aquecendo.

As folhas aqueciam e o Iotna começou a pô-las sobre a cabeça, bem quentes.

"Mesinho prás dores." – dizia-me ele.

O dia foi decorrendo mas as melhoras não apareciam, até que ele me disse: “Tenho de ir fazer sangria.”

Eu fiquei incrédulo, pois sabia e já tinha visto fazerem sangrias a muares, mas nunca pensei que fossem efectuadas também a seres humanos.

Disse-lhe que era perigoso cortar uma veia, pois nem todos sabiam laqueá-la, mas ele insistiu que o “homem grande” da sua tabanca sabia fazê-lo e que era a única maneira de tratar tão incómoda dor.

E mais me disse, que tinha sangue a mais e pediu-me se podia ficar na Tabanca para fazer o “mesinho”.

Não lhe podia dizer que não, pois ele estava sempre a ajudar-nos a ter a Central impecável.

“Está bem, vai lá fazer o teu mesinho.”

No dia seguinte o Iotna não veio, fiquei preocupado a pensar se teria feito bem e se lhe teria acontecido alguma coisa.

Até o Iotna aparecer andei sempre angustiado, mas ele um dia apareceu todo lampeiro, sorridente e bem disposto.

Numa das "fontes" apresentava uma cicatriz sobre uma veia, cozida com um ponto.

Fiquei boquiaberto.

Como era possível tanta sabedoria acumulada no “homem grande”?

Que universidade frequentou ele?

Havia tanta coisa para aprender naquela tabanca.

Oxalá que o Iotna tenha continuado a sua vida e, onde quer que se encontre hoje, tenha ao menos boa saúde física.

Saudações cordiais.
José Nunes
1º Cabo Mec Elect do BENG 447

Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

22 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6453: Estórias avulsas (86): Os gémeos e o Regulamento Militar (Armandino Alves, ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589)

Guiné 63/74 – P6453: Estórias avulsas (35): Os gémeos e o Regulamento Militar (Armandino Alves, ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589)


O nosso Camarada Armandino Alves (ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589 - Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé -, 1966/68), enviou-nos a seguinte mensagem, em 20 de Maio de 2010:

Camaradas,

Durante o 3º Convívio da minha Companhia, estava o pessoal junto do nosso Capitão (hoje Coronel Reformado) a relembrar os idos tempos da formação da companhia no RI 15, em Tomar, e veio à baila uma história que eu desconhecia, pois não estive lá (fui em rendição individual) e que é a seguinte.

Conforme o pessoal se ia apresentando, o 1º Sargento ia conferindo as papeladas individuais, até que, às tantas, descobriu que haviam dois irmãos gémeos na Companhia.

Pelas leis do exército dessa altura (1966), estava impedido que dois irmãos fossem mobilizados ao mesmo tempo para o mesmo TO e, se não me engano, mesmo para TOs diferentes.

Logo o 1º Sargento foi ter com o Tenente (promovido a Capitão em Fevereiro de 1967, já na Guiné) e expôs-lhe o caso em apreço, isto é, ter dois irmãos gémeos na Unidade.

Como isto se passou antes de um fim de semana, o Tenente mandou chamar os soldados ao seu gabinete e disse-lhes: “Como os regulamentos não permitem a mobilização de vós dois, ide passar o fim de semana e, entre ambos, resolvessem qual o que fica na Metrópole.”

Passou-se o fim de semana e, na segunda-feira seguinte, o Tenente voltou a chamá-los para saber qual deles ia para a Guiné e qual deles ficava.

A resposta inequívoca de ambos foi directa e clara: “Vamos os dois.”

Assim foi e felizmente vieram os dois bem vivos.

Soubemos entretanto que os dois já faleceram (morte natural).

Paz às suas almas.

Penso que esta pequena estória mostra como os nossos serviços de mobilização estavam atentos e cumpriam os Regulamentos do Exército.

Um Abraço,
Armandino Alves (Dr. Jivago)
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589
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Nota de M.R.:

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13 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6385: Estórias avulsas (85): Ataque a Jumbembem no dia de Carnaval de 1974 (Fernando C. G. Araújo, ex-Fur Mil OpEsp 2ª CCAÇ/BCAÇ 4512)

Guiné 63/74 - P6452: Em busca de... (133): Jorge Barbosa, ex-Operador de Mensagens da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, procura camaradas

Em busca de camaradas, Jorge Barbosa ex-Operador de Mensagens da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70.


1. No dia 6 de Maio de 2010 recebemos de João Barbosa, filho do nosso camarada Jorge Barbosa, a seguinte mensagem:

Boa tarde Sr Luís Graça,
Chamo-me João Barbosa e vim por este meio contactá-lo acerca do Blogue dos Camaradas da Guiné. O meu pai também esteve lá situado nos anos de 69 e 70 e costumo conversar com ele acerca dessa sua vossa altura.
Infelizmente não tem nenhum contacto com antigos camaradas, pois o contacto perde-se e torna-se difícil trocar quaisquer impressões. No entanto, lembrei-me de fazer uma pesquisa sobre o tema e contactos, inclusive cruzar informações na internet dos dados que ele me deu (hei-de também mostrar-lhe o blog, tem bastante valor).

Ele esteve em Binar, Encheia e Biambe, com os batalhões de caçadores 2861, 2864, 2865 e 2866, nos anos que já referi, nos operacionais de comandos e serviços, e o seu nome é Jorge Barbosa.

É possível descobrir alguém ou coisas desse teu tempo?
Quem sabe, como o blog propõe, descobrir camaradas com quem ele possa ter estado?

Eu sou seu filho, e interesso-me muito sobre o assunto. Em breve terei acesso a fotografias dessa altura que ele tem, pois de momento não estou em casa e poderei disponibilizá-las.
Era importante estabelecer o contacto, acho que seria bom, e como vejo tantos anúncios de antigos combatentes terem encontros podia ser que o meu pai também tivesse esse prazer.

Obrigado pela atenção, aguardando resposta sua.
João Barbosa.
joaocmbarbosa@gmail.com


2. No dia 16 foi enviada esta mensagem ao nosso amigo João Barbosa:

Caro amigo João Barbosa
O seu pai pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2861, certo?

Este Batalhão foi composto pela CCS (Companhia de Comando e Serviços) e pelas Companhias Operacionais 2464; 2465 e 2466.

Confirme com o seu pai se ele pertenceu à CCS ou a uma das Companhias Operacionais. Ajudava saber o Posto e a Especialidade dele.

Entretanto pergunte-lhe se ele se lembra do Alferes Miliciano Aníbal Xavier Magalhães da CCAÇ 2465 ou do Furriel Enfermeiro Armando Pires da CCS.

Vá aos links seguintes e mostre-lhe os postes respectivos onde estão as fotos destes camaradas

Guiné 63/74 - P6378: Tabanca Grande (219): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Có e Bissum-Naga, 1969/70)
e
Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)

Depois diga-me qualquer coisa para eu ver se posso ajudar ainda mais.

Um abraço para si e outro para o seu pai.
Carlos Vinhal


3. No dia 19 tivemos novo contacto do João Barbosa que incluia as duas fotos reproduzidas

Sr Carlos Vinhal,
Foi com entusiasmo que recebi o seu email e mais esclarecido fiquei, pois o meu pai foi um pouco vago nas primeiras informações que me deu. Mostrei-lhe o email e em seguida a sua pagina, sobre o qual não reconheceu, mas, felizmente, o outro link que deixou sobre o Sr Armando Pires ele reconheceu logo! Em Bula e Bissorã, disse ele.

Por norma ele contou-me também que por nomes de BI era dificil ele reconhecer mais gente (dos incritos no blog) e que se tratavam lá mais pelo nome das terras donde tinham vindo. (Ex: "Oh Arouca!" Este, ao que parece, era um tipo dos morteiros, segundo ele me disse.)

O meu pai teve na CCS, era operador de mensagens, disse ele que eram no serviço dele, tratados por "charlemike". Época de Maio de 69 até Dezembro de 70. Sobre as companhias, ele disse-me que esse pessoal é que eram os verdadeiros heróis, porque íam para o mato e era norma a lei do "desenrascanso". Se no quartel pouco tinham, então os operacionais muito menos... Mais bem equipados eram os comandos e os paraquedistas, com bons camuflados e armamento, comida e etc. Ele falou-me que os uniformes não havia com números certos, eram standardizados com pouco números, que faria então eles vestirem mesmo qualquer coisa. O tecido era muito duro, e mesmo com lexívia, para amaciar, depois desfazia o uniforme.
Dado o aparte, em relação à comida, diz isto porque na Base Aérea em Bissalanca foi lá por consulta externa e viu os pequenos almoços com sumo de laranja, bife e batatas fritas que perguntou se aquilo era pequeno almoço ou almoço mesmo! (enquanto escrevo isto ele vai-me contando coisas. A organização dos soldados, disse-me por alto, que eram distribuidas 3 companhias por cada batalhão destacadas para Binar, Biambe e Encheia, diz ele, para efeitos de me fazer compreender melhor como os destacamentos funcionavam).

Perguntou-me também no momento se conhecia o Zé Maria, dono dum tasco que servia refeições, em Bissorã, antigo soldado que ficou lá.

Sobre o sr Armando Pires, o meu pai disse que jogava muito bem Ping-Pong e andava sempre de óculos, como a foto que tem na página, e que dava aos habitantes de lá que íam à enfermaria do quartel e que ele lhes dava quase sempre os comprimidos LM... "tome uma caixa deles!" quando eles se queixavam que não resultava! Injecções de água destilada às vezes também levavam! (Este email está um pouco desconexo porque estou a escrever enquanto que ele me vai contando coisas sobre esse tempo)

E que realmente o Tenente Coronel Polidoro era muito rígido, era... Diz o meu pai, que estava na tabanca da lavadeira dele, uma altura e que o Polidoro o viu, de tarde, enquanto andava a ver se apanhava algum soldado a facilitar. Mandava então o "marrachinho", o motorista dele ir buscá-los, o que aconteceu efectivamente com o meu pai uma vez, e que ficou detido durante cinco dias no quartel.

Falou-me também dum vendedor Libanês que tinha duas filhas muito bonitas, e que uma delas namorava com o alferes Barbosa, do reabastecimento. Quando ele fechava as portas do estabelecimento, cedo, era porque por norma, o quartel ía ser atacado durante a noite... Eles já sabiam que por volta das 9, 10 da noite. Nos últimos dias do mês eram quase sempre atacados, por canhões sem recuo, armas ligeiras...

Pronto, para já foram algumas notícias! Creio que se continuasse a falar com ele enquanto fosse escrevendo isto não iria sair daqui durante um bom tempo, escrevendo um ponto de vista com aspectos que nos livros não se referem e que só vocês, que estiveram mesmo lá, podem falar. Como já se faz tarde decidi resumir isto com alguns elementos que identificassem o que de comum podessem saber e relembrar. Juntamente com este texto envio-lhe duas fotografias de onde o meu pai esteve, com os colegas, de certa forma para que se quiser publicar no blogue possam alguns verem-se ou reconhecerem outros. O meu pai é o do fundo da direita direita na primeira foto e na de baixo é o segundo da esquerda agachado. Comunique o que eu lhe contei ao Sr Armando Pires, caso entenda que tenha algum valor e mostre-lhe o email que lhe enviei.

Muito obrigado pela atenção, tanto a si como o encaminhador do meu email, o Sr Luís Graça.

P.S. Se mais informação que possa prestar por parte do meu pai, (pois é comigo que ele fala muito disto, e porque eu PUXO para que ele fale, não há problema que eu colabore e lhe envie tais dados, seja a si ou ao Sr Luis Graça ou ao Sr Armando Pires!)




Cumprimentos,
João Barbosa.


4. Esta mensagem foi encaminhada por nós ao camarada Armando Pies, ex-Fur Mil Enf.º do BCAÇ 2861, do que resultou a seguinte resposta:

Camarada Vinhal
Hoje mesmo escrevi ao João Barbosa dando-lhe indicações para que ele possa estabelecer contacto com o restante pessoal da Companhia porque, como me foi dito pelo Furriel Miliciano que então chefiava as Transmissões, aquilo na foto é tudo pessoal da mesma equipa.

Foi pena só agora o João Barbosa ter batido à porta da Tabanca porque o almoço da Companhia foi no passado dia 8.

Enfim, vamos ver se o pai, que parece andar arredado dos nossos convívios, ganha ânimo para vir ao nosso encontro.

Um Grande Bem Haja pelo vosso trabalho e um abraço camarada do
armando pires
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Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6414: Em busca de... (132): Procuro Tobias Queirós, ex-Fur Mil do 15.º Pel Art.ª, Guileje e Gadamael, 1972/73 (Luís Paiva)

Guiné 63/74 - P6451: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (30): Diário da ida à Guiné - 10 e 11/03/2010 - Dias sete e oito

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2010:

Caro Carlos
Junto envio o relato, neste caso correspondente a dois dias, pois passou a haver uma certa acalmia no empreendimento onde estávamos.

Ter ido já a Bafata também ajudou a isso, embora começasse logo a pensar ir outra vez como se verá no próximo relato.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATA - 30

Diário da ida à Guiné – Dias Sete e Oito (10/11-03-2010)


Dia Sete:

Neste dia estava autenticamente na ressaca dos acontecimentos do dia anterior. A dose Bafatá tinha sido muito forte para mim.

Neste dia embora, não tivesse acontecido algo de muito relevante, houve porém algumas mudanças. O Pimentel e o Mesquita resolvem ir embora, tornando a fazer o mesmo caminho, África acima. Ficámos no “Anura Club” só eu e o Chico Allen. Até aí, e porque grande parte do equipamento dos “bangalôs” estava avariado, eu e o Allen ocupávamos o mesmo quarto. Com a saída dos dois camaradas pude mudar para um “bangalô” só para mim. Deixávamos de ouvir os roncos um do outro. Passámos a usufruir da privacidade tão necessária naquele clima.

Depois dos dois companheiros terem ido embora, resolvemos ir comprar qualquer coisa para comer ao almoço. Fomos ao mercado de Bula a uns 6 quilómetros (mercado mesmo, não de rua), onde pude constatar que havia de tudo o que se podia precisar: peixe, carne, legumes como os de cá e mais os de lá, e toda a espécie de fruta e produtos africanos.

A negociar a compra das bentaninhas.

A comprar uma abobrinha para a sopa.

Comprámos umas bentaninhas. Percorri todo o mercado e filmei grande parte das bancas repletas de produtos. Vieram-me à lembrança mercados que vira no Brasil semelhantes, quer pela diversidade de produtos, quer pelo colorido dos mesmos.

Enquanto eu fazia uma panela de arroz o Chico preparava as bentaninhas “au” caldo branco. Enquanto as coisas cozinhavam aperitivámos, como sempre fazíamos. Havia sempre mancarra, caju, presunto, salpicão.

Depois do café fiz a muda das minhas coisas para o novo quarto e fomos dormir a sesta, pela primeira vez em privado.

Em determinada altura (e porque apontei isso) perdi a noção do tempo. A ida a Bafatá, no dia anterior, parecia ter sido há séculos. A ideia de voltar a Bafatá começava a ganhar forma.

Depois devemos ter jantado e ido dormir mas toda essa parte foi cortada pela censura.
Até amanhã camaradas.


Dia Oito:

Ainda me lembro que há 42 anos, quando cheguei a Bafatá e na primeira noite que dormi no quarto com mais dois camaradas, as baratas eram tantas que nos dias seguintes depois de espalhar um pó próprio para resolver a situação, as tive que juntar com uma vassoura, num monte enorme. Nos dias seguintes era cada vez menor. Os camaradas estavam no fim da comissão e totalmente apanhados pelo clima.

Pois bem, também agora, quando cheguei ao Anura Club e entrei no “bangalô” que ia compartilhar com o Chico Allen, a quantidade de bichos rastejantes no pavimento era talvez de uns cem por metro quadrado. Eram baga-bagas, formigas de vários tamanhos, centopeias grandes e pequenas, etc. Como já não era periquito nessas questões, fui prevenido. No dia seguinte, no quarto só coexistiam dois seres vivos, o Allen e eu.

Ainda sobre bicharada: No empreendimento há um espaço comum a que chamam “gembrém” e cuja parte central, rebaixada uns 15cm, se destinaria a pista de dança. À volta dessa pista, era a onde cozinhávamos e fazíamos as refeições. Como na pista de dança havia um buraco, para escoar possíveis águas na época das chuvas, as formigas baga-baga instalaram-se lá e à noite era uma invasão à procura das migalhas. No dia anterior tinha criado um dispositivo para acabar com o formigueiro e como deu resultado, contrariamente ao cepticismo do Allen, neste dia a primeira coisa que fiz logo pela manhã foi varrer a bicharada.

O “gembrém” com a pista de dança.

Como tenho referido, esteve sempre muito calor durante a minha estadia. As temperaturas rondaram sempre os 40 graus. Nessa manhã, porém, esteve sempre o sol encoberto com uma camada de neblina o que tornou mais ameno esse princípio de dia.

Com pouca gente a deambular por ali era comum agora ver bandos de pássaros azuis muito brilhantes e esquilos a pequena distância.

Depois do café fomos a Bissau pois tinha que pagar a taxa correspondente ao adiamento do meu regresso a Portugal. À vinda e depois de passarmos pela ponte sobre o rio Mansoa (Amílcar Cabral), passa-se mais uma situação caricata: Há portagem no sentido para Bissau, mas à vinda, embora não se pague, existe também um portajeiro só para levantar a cancela!!!

À direita é a portagem (em direcção a Bissau) e à esquerda, não havendo portajem pode ver-se o funcionário que levanta a cancela.

Logo a seguir à ponte há uma venda de peixe e marisco e nesse dia paramos para comprar um balde de ostras (1,5 euros) com que iríamos aperitivar, para em seguida almoçarmos uma lebre de cebolada… bem regada.

A ponte Amílcar Cabral sobre o rio Mansoa.

O Allen a comprar as ostras, próximo da ponte.

A seguir à sesta fui apanhar kabaseras (frutos do embondeiro – em crioulo) para trazer, pois é muito agradável chupar o seu miolo.

Uma kabasera que nos embondeiros parecem ratos pendurados pelo rabo.

À noite faltou a energia eléctrica no sector dos nossos quartos. Tento ido ver se descobria a anomalia no quadro eléctrico verifiquei que através dele passava um enorme formigueiro de baga-baga e que também lá existia um ninho de rola (ou semelhante) com ovos. Porém o problema não estaria aí como mais tarde se veio a verificar. Certo é que inaugurei o toco de vela que tinha levado.

Até amanhã camaradas.
Fernando Gouveia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6384: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (29): Diário da ida à Guiné - 09/03/2010 - Dia seis

Guiné 63/74 - P6450: Ser solidário (71): Visita de Guineenses a Portugal (Agostinho Gaspar)


1. Mensagem de Agostinho Gaspar* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), com data de 17 de Maio de 2010:

Visita de uma delegação Guineense a Portugal
Caros amigos,
Comandante, sargentos de dia à Unidade e todos os oficiais, sargentos e praças tertulianos da TABANCA GRANDE:

Como ainda sou pira nesta coisa de blogues, tenho poucos conhecimentos pessoais sobre a matéria.

Hoje venho falar de guineenses que representam grandes cidades daquele país.
Muito se tem falado ao longo do tempo de Mansoa, Bafatá, Nova Lamego (Gabu) e Catió.
António Bamba, Ana, Armando Baldé e Carlos Jaló

À uns tempos atrás: 14, 15 e 16 de Outubro de 2006, esteve em Portugal uma delegação da Guiné-Bissau, a que me juntei mais dois Camaradas ex-Combatentes (que há vários anos mantemos contacto com o povo da Guiné) e acompanhamos estes nossos visitantes numa pequena volta pelo nosso Portugal.
  • De Mansoa, veio o Engº António Bamba e sua esposa Ana (quem esteve em Catió talvez conheça a família dela, pois é filha do então chefe da tabanca e régulo de Catió), que estudou em Aveiro e é professora em Bissau. O Engº António Bamba era tropa no meu tempo, 1972/74, em Mansoa e pertencia à CCAÇ 15, com o posto de furriel miliciano, pertencendo, talvez, ao grupo do nosso caramigo Mexias Alves (que também fez parte da C.CAÇ.15). Chegou a fazer parte de um Governo, como Ministro da Saúde, e quem leu, ou tem, o livro (GUERRA PAZ E FUZILAMENTOS DOS GUERREIROS, GUINÉ 1970-1980), cujo autor é o Cor Inf Manuel Amado Bernardo (que esteve presente na mesa e foi orador no lançamento do livro Amadú Bailo Djaló), sabe que lá está escrito um depoimento dele, narrando os maus momentos por que passou, em 1975, pelo facto de ter vestido a farda portuguesa…
  • De Bafatá, veio o governador da região de Bafatá - professor Carlos Adulai Jaló.
  • De Nova Lamego (Gabu), veio também o governador Armando Mamadú Alfa Baldé.
Foi um fim-de-semana em cheio.
No sábado depois do almoço seguiram-se as visitas a Tomar e barragem de Castelo Bode (os visitantes nunca tinham visto uma barragem).
No Domingo continuaram as visitas a vários locais de Coimbra, como o Portugal dos Pequenitos, a Universidade, a Biblioteca Joanina, a Igreja de Santa Cruz e mais alguns locais que marcaram a história local.
Para grande alegria dos guineenses, encontramos um grupo de estudantes também naturais da Guiné, incluindo alguns alunos do professor Carlos Adulai Jaló e uma sobrinha da esposa do Engº António Bamba.
Reparei e tomei parte neste feliz, alegre e descontraído encontro e notei grande amizade, lado a lado, falando mistamente português e crioulo.
Fixei uma frase (que me chamou mais a atenção) disse o mestre aos seus ex-alunos: “Estamos em Portugal, falamos português!”
Até parecia um combinado ponto de encontro.
Seguimos então viagem e parámos na Mealhada para o almoço, escolhemos o restaurante “Painel”,cujo proprietário é um antigo companheiro de armas da Guiné (mais conhecido por o Simões do restaurante de Mansoa).
Foi uma grande surpresa para o Simões, ver tais visitas trinta e tal anos depois de sair da Guiné e de vender o restaurante a um cabo-verdiano, que já tinha uma casa de comidas no meu tempo, em 1972-74, onde o prato mais vendido era o bife de macaco (mais rijo do que a sola de um sapato).
Dito pelo Simões, o restaurante que o cabo-verdiano lhe comprou estava fechado e o filho do cabo-verdiano era médico num hospital em Lisboa.
Depois de bem tratados, com as conversas em dia e com uma entrada oferecida e feita especialmente preparada com produtos picantes, com o sabor a Guiné (mesmo com a língua arder o prato ficou limpo), regressamos a casa.
Ao jantar éramos uma família, a que se juntaram mais quatro ex-Combatentes, as respectivas esposas e alguns filhos, num restaurante da Boa Vista – Leiria.
A ementa foi leitão e como entre nós havia pessoal de religiões diferentes (o casal Bamba é crente em Cristo, Carlos Jaló e Alfa Baldé são crentes em Alá), cada um respeitou a crença dos outros.
Pelo motivo descrito, os nossos amigos guineenses não gostaram muito de estar a ver comer carne de porco, tendo a ementa deles sido outra acompanhada de sumos de fruta.
O casal Bamba pernoitou em minha casa, os outros dois foram para casa do Manuel Faria, que também cumpriu serviço militar na Guiné, nos últimos meses da comissão ficou-se pelo bar dos oficiais (no QG) e já visitou a Guiné três vezes (na última visita foi entregar um contentor de livros e roupas para a zona de Bafatá).
Segunda-feira continuou a viagem, desta vez para Chaves (para quem não sabe esta cidade está geminada com Bafatá), com os portugueses armados em motoristas particulares dos embaixadores.
Com marcação prévia na Câmara de Chaves fomos recebidos no Salão Nobre, pelo Sr. Presidente da Câmara.
A representar Bafatá estava o Prof. Carlos Adulai Jaló, que depois das honras protocolares e de breves discursos dos dois lados, procederam à troca de oferendas.
Os edis agradeceram-nos a visita com um almoço, num restaurante da cidade, onde estiveram presentes o Sr. Presidente e os Vereadores.
Feitas as despedidas, nós os motoristas “profissionais do volante”, ajustamos o azimute directos a Lisboa, onde os deixamos sãos e salvos das “emboscadas” existentes nas nossas “picadas” (leia-se auto-estradas).
Para a próxima vez conto mais uma passagem da Guiné.

Um abraço a todos os Camaradas tertulianos e leitores Amigos,
Agostinho Gaspar
1º Cabo Mec Auto Rodas da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72
1 – Coimbra > Visita ao Portugal dos Pequenitos > Armando Amadu Baldé – Governador de Nova Lamego, Ana Bamba, António Bamba, Carlos Adulai Jaló – Governador de Bafatá, Agostinho Gaspar - "Motorista"

2 – Coimbra > Portugal dos Pequenitos > Pavilhão da Guiné
3 – Coimbra > Portugal dos Pequeninos > Pavilhão da Guiné > Bamba a explicar-me algumas das peças de artesanato
4 – Coimbra > Grupo de estudantes Guineenses que se encontraram com a comitiva (apenas por mero acaso da vida)
5 – Coimbra > Biblioteca Joanina > Agostinho Gaspar, Carlos Jaló, Ana Bamba, Engº Bamba e Armando Baldé
6 – Leiria > Santa Eufémia > Junto à casa do segundo "motorista" (Manuel Faria). Da direita para a esquerda: Carlos Jaló, Armando Baldé, Ana, António Bamba, Manuel Faria, Agostinho Gaspar, a minha Secretária Pessoal que envia os meus e-mails (a minha filha Rosa)
7 – Visita a Chaves > Executivo da Câmara Municipal de Chaves
8 – Visita a Chaves > Comitiva Guineense e “motoristas”
9 – Visita a Chaves > Troca de lembranças
10 – Visita a Chaves > Fotografia de família
11 – Visita a Chaves > Almoço

Fotos: © Agostinho Gaspar (2006). Direitos reservados.

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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P6449: O Nosso Livro de Visitas (88): Albano Dias Pereira Gomes, ex-1.º Cabo da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4615, Teixeira Pinto, 1973/74

1. Mensagem do nosso camarada Albano Gomes, ex-1.º Cabo da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4615*, Teixeira Pinto, 1973/74, com data de 13 de Maio de 2010:

Neuchâtel
Suissa

Caro Colega e Camarada
Um bom dia e muita saúde

Agradecia se publicava no seu blog, algumas fotografias minhas, enquanto militar na Guiné-Bissau.

Albano Dias Pereira Gomes
Natural de Caldas de São jorge
Santa Maria da Feira

1.° Cabo Albano Gomes, NMEC 024456873 - 73/74 - Serviço em Teixeira Pinto
Bissau - Guiné - 4.° Pelotão/2.ª CCaç/BCAÇ 4615.

Para divulgaçâo a camaradas nossos, que me têm pedido fotografias dessa época.

Um abraço a todos nossos camaradas da guerra do ultramar.
Albano Gomes.
gomesalbano@bluewin.ch


Teixeira Pinto > Albano Gomes

Teixeira Pinto > Albano Gomes, um camarada e o seu cão

Teixeira Pinto > Albano Gomes e os camaradas Vila Maior e Lourosa


2. Comentário de CV:

Caro Albano, és mais um camarada que nos lê na diáspora. É reconfortante e uma alegria para nós quando algum camarada que vive fora do nosso país se nos dirige.

A exemplo de outros ex-combatentes da Guiné na tua situação, porque não te juntas a nós. Se tens mais fotos e histórias para contares, manda uma foto tua actual e começa a fazer parte da numerosa tertúlia deste Blogue que aqui deixa por escrito e por imagens as suas memórias.

Com os mais sinceros votos de que estejas pleno de saúde, enviamos-te um abraço fraterno e solidário.

Pela tertúlia
CV
__________

Notas de CV:

Vd. postes no marcador BCAÇ 4615

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6286: O Nosso Livro de Visitas (88): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70)

Guiné 63/74 - P6448: Notas de leitura (111): Rumo a Fulacunda, de Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Maio de 2010:

Luís,
Li os teus comentários sobre as guloseimas de Bambadinca. Seria bem interessante que se desencadeasse aí uma tempestade de recordações à volta da mesa, não os acepipes de Bissau mas os desenrascanços das gazelas de mato e peixe da bolanha, bem como os cantineiros que ainda conhecemos e que nos ajudaram a levantar a moral da muita comida sorumbática a que éramos obrigados.
Quase me sinto a entrar na loja do Rendeiro (o concorrente do José Maria de Bambadinca) onde eu encomendava o caldo de mancarra à subida da rampa, para todo o contingente que me acompanhava, naquele dia.
Estou convencido que ainda vamos fazer um livro de recordações gastronómicas...

Um abraço do
Mário


O privilégio de ter combatido com grandes amigos de hoje

Beja Santos

Em 6 de Março de 2008, aquando do lançamento do primeiro livro sobre a minha comissão na Guiné, na Sociedade de Geografia de Lisboa, recebi, com uma tocante dedicatória, “Rumo a Fulacunda”, que o Rui Alexandrino Ferreira me entregou depois de me ter abraçado. Como trabalho por objectivos, e é muito difícil sair de disciplina auto-imposta, reservei a oportunidade de o ler quando me lançasse na empreitada desde demencial inventário que ninguém me pediu. Chegou o momento azado, eis as minhas impressões.

Primeiro, desvanece ver alguém que reteve, com carinho, boas memórias dos seus camaradas do grupo de combate a que esteve associado na CCaç 1420. Ilustro com o que ele escreveu sobre o soldado António Pacheco Sampaio:

“Foi o caso mais espantoso de evolução de um ser humano a que tive oportunidade de assistir.

Completamente analfabeto, era meio marreco, deformado fisicamente pela posição em que trabalhava horas a fio, quando ingressou na vida militar. De feitio introvertido e pouco falador, mais parecia um “bicho”.

Frequentou as “escolas regimentais”, aproveitou as lições que lhes ia dando e tendo rapidamente a ler e a escrever passou a interessar-se por quanto o rodeava, ganhou complexão com a ginástica que nunca tinha tido e a correr atrás de um bola como nunca tinha feito. A par de alimentação apropriada como nunca tivera, do convívio em grupo, do contacto com elementos mais evoluídos e de ideias mais abertas, ganhou novas perspectivas do mundo. Foi se transformando aos poucos, passou a ser um elemento totalmente novo, muitas coisas em que nunca tinha reparado lhe chamavam à atenção e eram motivo de espanto.

Nunca ao longo da vida voltei a ter um caso tão extremo e tão marcante como este. Nunca mais vi alguém tirar tantos benefícios da sua passagem pela tropa. Tenho por ele um imenso carinho e uma grande amizade que nem o facto de nunca mais o ter visto os diminuem. Sei por outros camaradas que leva uma vida perfeitamente normal e que se encontra bem. É quanto me basta, me orgulha e me enche de satisfação pois sei nisso que tenho o meu quinhão”.

O Rui aparece na CCaç 1420 em condições dramáticas, vinha em rendição individual. Numa emboscada, um alferes e mais cinco militares separaram-se da coluna, desorientaram-se e andaram açulados por tropas do PAIGC. Só sobreviveu um soldado. O Rui veio substituir o alferes Vasco Cardoso. Ele descreve esses terríveis acontecimentos de modo impressionante. Antes, fala-nos da sua mobilização e, chegado à Guiné, dá-nos conta da sua inserção da companhia sediada em Fulacunda. O que à partida parecia um remedeio acabou por se transformar por uma profunda estima pela gente do seu grupo de combate. Foi uma relação gradual, com inequívocas provas dadas no terreno de combate. O Rui vai deixando desfiar a sua memória, nota-se que a cronologia não é o seu forte, é muito tentado pela divagação e pelo arrastar da corrente emocional. O que ele nos oferece em livro é o crescimento de uma amizade, da formação de vínculos entre combatentes, numa atmosfera de excepção, decorrente do trauma de, logo no início da comissão, terem desaparecido seis camaradas. “Rumo a Fulacunda” deve ser percebido pela energia positiva das suas memórias e pela construção dessa relação poderosa, inquebrantável. A CCaç 1420 irá depois para Bissorã, vai ser confrontada com emboscadas, minas e operações de grande risco, abarcando Olossato, Mansabá, Cutia e a estrada para Mansoa. O Rui torna-se um frequentador da região do Oio, passaram a andar à volta do Morés à procura de bases como Mansodé, Iracunda, Santambato e Cambajo. Tudo é descrito, as grandes capturas de armamento, os grandes dissabores, os sustos tremendos, as tropas à deriva, a selvajaria em combate, as chuvas torrenciais, a sede, o cansaço extremo. Segue-se Mansoa, a CCaç 1420 não foi descansar: reabastecimentos a Bissau, havia que os transportar para Mansabá, K-3, Bissorã e Olossato. O Rui anota inúmeras solidariedades, dá conta das refregas, o K-3 era um verdadeiro quebra-cabeças, as gentes dos Morés vinham testar regularmente a resistência deste destacamento.

O segundo aspecto que gostaria de destacar é a relação do Rui com Angola, as páginas sobre Sá da Bandeira são de uma beleza incomparável, percebe-se à légua que ele tem nesta sua infância e adolescência o filão para reconstruir o mundo que se perdeu: desde os professores aos vizinhos, a natureza dos tempos livres, as transformações operadas naquela região angolana entre os anos 50 e 60, ele tem aqui um alfobre para um livro espantoso.

O Rui prometeu voltar a escrever sobre a sua segunda comissão, aquela em que ele foi determinante na preparação da CCaç 18, a operar em Aldeia Formosa. Vamos ficar naturalmente a aguardar, com expectativa, raros são os registos (como os seus) tão detalhados no campo operacional. Estou convicto que ele irá aproveitar a oportunidade para eliminar referências e críticas desajustadas e seguramente desnecessárias para o objectivo em causa: o dever de memória do combatente. Aprendemos com a vida que há recriminações, denúncias, zangas que perdem a sua razão de ser, além disso ele foi mesmo um grande combatente e é timbre das pessoas valorosas e de bom carácter deixar no anonimato a vilania e mediocridade.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6444: Notas de leitura (110): A Guerra Colonial e o Romance Português, de Rui de Azevedo Teixeira (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Natal de 1969 > Sargentos e furriéis da CCAÇ 12 (*) e da CCS do BCAÇ 2852:

(i) da esquerda para a direita, na 1ª fila: o Jaime Soares Santos (Fur Mil SAM, vulgo
vagomestre) (sdize,-me que se formou economia e trabalhava na TAP); António Eugénio da Silva Levezinho (Tony, para os amigos, fez parte dos quadros da Petrogal, vive na Ponta de Sagres, com o amor da sua vida, a Isabel, com quem, se casou nas férias de 1970, tinha ela 17 anos); Fur Mil At Inf; António M. M. Branquinho (nunca mais o vi, era de Évora, trabalhava no Centro Regional de Segurança Social); Fur Mil At Inf; Humberto Simões dos Reis (meu vizinho, de Alfragide, engenheiro técnico, condenado a trabalhar até aos 100 anos); Fur Mil Op Esp; Joaquim A. M. Fernandes, Fur Mil At Inf) (também engenheiro técnico, reencontrei-o o ano passado, em Castro Daire):

(ii) da esquerda para a direita, 2ª fila, de pé: 2º sargento Inf José Martins Rosado Piça (não tenho notícias dele, deve estar com os 70 e muitos anos); Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques (conhecido hoje apenas como Luís Graça); um 2º sargento, de cujo nome não me lembro; 1º Sargento Cav Fernando Aires Fragata (deixou-nos ao fim de algum tempo, para seguir o curso de oficias, em Águeda; Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins (reformou-se como enfermeiro chefe, do Hospital Curry Cabral, foiu meu aluno, tem dois filhos médicos); e um outro 1º sargento de cujo nome também já não me lembro mas que julgo ser da CCS do BCAÇ 2852 (dizem-me que tinha a especialidade de corneteiro)...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservado





Guiné > Zona Leste > Contuboel > Junho de 1969: O 2º Grupo de Combate da CCAÇ 2590 (futura CCCAÇ 12), ainda em período de instrução da especialidade . O 2º Gr Comb era comandado pelo Alferes Miliciano Carlão que aparece na fotografia, na primeira fila, ajoelhado, olhando no sentido oposto ao do fotógrafo. Atrás dele o soldado Arménio, de alcunha o Vermelhinha (era cabo, antes de embarcar mas foi despromovido, por ter apanhado uma porrada da PM). De pé, na terceira fila, os furriéis milicianos Levezinho e Reis. Na segunda fila, meio agachados, os 1ºs cabos Branco e Alves (de alcunha o Alfredo) .

Um grupo de combate da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) era constituído por 30 homens. Havia 4 Gr Comb. Cada grupo de combate, comandado por um alferes, tinha três secções (1 furriel e 1 cabo e oito soldados, estes africanos).

Casa secção era especializada. Havia a secção dos lança-granadas, com o respectivo apontador e municiador (1 LGFog 8.9, 1 LGFog 3.7). Havia a secção do Morteiro 60 (apontador e municiador ). E havia ainda a secção da Metralhadora Ligeira HK 21 (apontador e municiador). Cada combatente estava equipado com a espingarda automática G-3 e granadas defensivas. Em geral havia ainda dois apontadores de dilagrama (neste caso, 1ª e 3ª secção) (LG)

Foto: © António Levezinho (2005). Direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 123 (1969/71) > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba, regulado do Cuor (que estava reduzido a Finete e a Missirá).

No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (salvo erro), vê-se o Furriel Miliciano Tony Levezinho, ao meio, ladeado pelo 1º Cabo Branco (à sua direita) e pelo 1º Cabo Alves (à sua esquerda). Pormenor interessantes: O Branco leva duas granadas defensivas à cintura; o Levezinho tem um protector de plástico, verde, a proteger a boca do cano da G3... O homem da frente não vem de camuflado...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados





Comandante, sargentos e praças da CCAÇ 2590 que embarcaram para a Guiné, em 24 de Maio de 1960, no Niassa (a esta lista faltam os operacionais, listados mais abaixo). A CCAÇ 2590 deu origem à CCAÇ 12, que ficou ao serviço do Sector L1 / Zona,. com sede em Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70) e depois do BART 2917 (1970/72).

Capitão Inf Carlos Alberto Machado Brito [, Cor Ref, vive em Braga];
1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata [, morada actual desconhecida];
2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça [, vive em Évora];
2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive em Vila Real];
Furriel Miliciano MAR Joaquim Moreira Gomes [, vive em Esposende ?]];
Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins [enfermeiro reformado, vive em Lisboa];
Fur Mil SAM Jaime Soares Santos [, vive em Corroios ?];
Fur Mil Trms José Fernando Gonçalves Almeida [, reformado da RDP, vive em Óbidos];
Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques [, prof univ. vive em Alfragide / Amadora];
1º Cabo Aux Enf José Maria S. Faleiro [, morada actual desconhecida];
1º Cabo Aux Enf Fernando Andrade de Sousa [, vive na Trofa];
1º Cabo Aux Enf Carlos Alberto Rentes dos Santos [, vive em Amarante];
1º Cabo Trms Inf António Domingos Rodrigues [, vive em Torres Novas];
1º Cabo Cripto José António [ou António José ?] Damas Murta [, vive em Coimbra];
1º Cabo Cripto Gabriel da Silva Gonçalves [, vive em Lisboa];
1º Cabo Manut Material João Rito Marques [, vive no Souto, Sabugal];
1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedos (ou Semedeiros ?) [, vivia na Reboleira, Amadora];
1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia [, morada actual desconhecida];
1º Cabo Escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares[, morada actual desconhecida];
1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro [, vivia em Vila do Conde];
1º Cabo Radiotelegrafista Manuel da Graça S. Zacarias [, morada actual desconhecida];
1º Cabo Corneteiro Manuel Joaquim Martins Ferreira [, morada actual desconhecida];
1º Cabo Cozinheiro José Campos Rodrigues [, morada actual desconhecida];
1º Cabo Apont de Armas Pesadas José Manuel P. Quadrado [, vive na Moita];
Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto [, morada actual desconhecida];
Sold Trms Inf José Garcia Pereira [, morada actual desconhecida; vivia nos Açores];
Sold TICA António Fernando Cruz Marchão [, morada actual desconhecida];
Sold TICA José Leite Pereira [, morada actual desconhecida];
Sold TICA António Dias dos Santos [, morada actual desconhecida];
Sold Cozinheiro Henrique Manuel [, morada actual desconhecida];
Sold Corneteiro Orlando da Cruz Vaz [, morada actual desconhecida];
Sold Cornet José de Sousa Pereira [, morada actual desconhecida];
Sold Radiotelegrafista João Gonçalves Ramos;
Sold Radiot Manuel Maria Carita André [, vive na Marinha Grande];
Sold Condutor Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares [, morto em, mina A/C, em Nhabijões, em 13/1/1971];
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga [, vive em Lisboa];
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro [, comerciante, Castro Daire];
Sold Cond Auto João Dias Vieira [ vive e, Vil de Souto, Viseu];
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha [, vivia em Viseu, faleceu em 6/12/2007;
Sold Cond Auto António S. Fernandes [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho [, vive em Brejos de Azeitão];
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto António C. Gomes [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Fernando S. Curto [, vive em Vagos];
Sold Cond Auto Aniceto R. da Silva [, morada actual desconhecida];
Sold Cond Auto Diniz Giblot Dalot [, empresário, vive em Aljubarrota, Prazeres];
Sold Cond Auto Manuel G. Reis [, morada actual desconhecida];
Sold Básico João Fernando R. Silva [, morada actual desconhecida];
Sold Básico Salvador J. P. Santos
[, morada actual desconhecida].




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole > Ponte do Rio Jagarajá (?) > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)> Eu, o então Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf Henriques, pau para toda a obra, peão das nicas - como me chamava o meu capitão - e o soldado condutor auto-rodas Dalot, o Diniz G. Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou, pelo menos, o melhor que eu alguma vez conheci... E que também era conhecido como o Setúbal, sua terra natal, se não me engano.

Berliet e GMC nas mãos dele, carregadas de sacos de arroz, não ficavam atoladas na famosa estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole, a menos que rebentassem debaixo de uma mina. E mesmo assim, era preciso que os cabos de aço ou os troncos das árvores não aguentassem... Eu dizia que era preciso ser maluco para conduzir uma GMC. Ele ofendia-se: era o mais profissional dos nossos condutores auto-rodas...

Reguila, setubalense, condutor de pesados na vida civil, apanhou logo no princípio da comissão, em Julho de 1969, cinco dias de detenção. Por ser reguila, setubalense, condutor de pesados, descendente de franceses, e se calhar por ser o melhor condutor de GMC que eu alguma vez vi na vida... Já há tempos lhe mandei, em vão, esta missiva: "Gostava de te rever, Dalot. Sinceramente, gostava de te rever. Tu fazes parte da mítica galeria dos meus (anti)-heróis, tu e todos os bravos soldados condutores auto-rodas que passaram pela Guiné"... Revi em 1994, em Fão, Esposende, e há pouco tempo, em Marçoi passado, em Coruche.

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Furriéis Mil Fernandes, Reis, Roda e Levezinho.Foto: © Vitor Raposeiro (2009). Direitos reservados.




A ficha-resumo da CCAÇ 12, constante no Arquivo Histórico Militar... Entre 1969 e 1974, a CCAÇ 12 teve cinco capitães...Quando é que a gente reune esta malta toda ?


GuinéGuiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Tabancas de Bambadincazinho onde estava instalada a Missão do Sono. Estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole. Foto do Luís Moreira (ex-alf mil da CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/71; BENG, Bissau, 1971; será gravemente na explosão de uma mina anticarro, em 13 de Janeiro de 1971, em Nhabijões, no mesmo sítio onde duas horas depois rebentaria outra mina que atingiu a viatura onde ia um Gr de Combate da CCAÇ 12, e onde seguia o editor do blogue) .

Foto:
Luís Moreira (2005). Direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Contuboel > 15 de Julho de 1969 > CCAÇ 2590/CCAÇ 12 > Um das raras fotos do Alf Mil Moreira, à esquerda, acompanhado pelo Tony Levezinho (furriel), o António Marques (furriel), o Rodrigues (alferes, já falecido) e o Fernandes (furriel), preparando-se para sair até Sonaco (a nordeste de Contuboel).



Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


Composição orgânica dos grupos de combate (Fonte: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo I).
1º Gr Comb

Comandante Alf Mil Op Esp 00928568
Francisco Magalhães Moreira1ª secção

1º Cabo 8490968 José Manuel P Quadrado (Ap dilagrama)
Soldado Arvorado 82107469 Abibo Jau (F) [, dado como fuzilado depois da independência]
Soldado 82105869 Demba Jau (F)
Sold 82107769 Braima Jaló (Ap LGFog 8,9) (FF)
Sold 82106069 Sajo Baldé (Mun LGFog 8,9) (FF)
Sold 82106869 Suleimane Djopo (Ap Dilagrama) (FF)
Sold 82105469 Baiel Buaró (F)
Sold 82106269 Mamadu Será (FF)
2ª Secção


Fur Mil 04757168 Joaquim João dos Santos Pina [, natural de Silves, onde ainda hoje vive]
1º Cabo 17765068 Manuel Monteiro Valente (Ap Dilagrama)
Soldado Arvorado 82106369 Vitor Santos Sampaio (Mancanhe)
Soldado 82106469 Mamadu Au (Ap Metr Lig HK 21)
Sold 82105969 Samba Camará (Mun Metr Lig HK 21) (FF)
Sold 82105269 Sherifo Baldé
Sold 82106669 Mussa Bari (FF)
Sold 82106969 Mamadu Jau (F)
Sold 82105369 Mamadu Silá (Ap LGFog 3,7) (F)
Sold 82107669 Ussumane Sisse (Mun LGFog 3,7) (M)
3ª Secção

Fur Mil 19904168 António Manuel Martins Branquinho [, reformado da Segurança Social, Évora]
1º Cabo 18998168 Abílio Soares [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82107169 Mamadu Baló (F)
Soldado 82106569 Mustafá Colubalii (Ap Mort 60) )(FF)
Sold 82106169 Sana Camará (Mun Mort 60) (FF)
Sold 82105669 Amadu Baldé (FF) [, mais tarde da CCAÇ 21, poderá ter sido fuzilado após a independência]
Sold 82106169 Saico Seide(F)
Sold 82107569 Gale Jaló (FF)
Sold 82105569 Sana Baldé (Ap Dilagrama) (F)
2º Gr Comb

Comandante: Alf Mil de Inf 13002168
António Manuel Carlão [, comerciante, vive em Fão, Esposende]1ª secção

Soldado Arvorado 82107969 Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7)
Soldado 18968568 Arménio Monteiro da Fonseca [, vive no Porto]
Sold 82118169 Samba Camará (FF)
Sold 82115369 Iéro Jaló (F)
Sold 82118869 Cheval Baldé (Ap LGFog 8,9) (F)
Sold 82103269 Aruna Baldé (Mun LGFog 8,9) (F)
Sold 82105169 Mamadú Bari (FF)
Sold 82116369 Sidi Jaló (Ap Dilagrama) (FF) [,dado como tendo sido fuzilado depois da independência]
Sold 82118669 Mussa Seide (F)
Sold 82117669 Amadú Camará (FF)
2ª Secção

Fur Mil Op Esp 05293061 Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, Alfragide / Amadora]
1º Cabo 17626068 José Marques Alves [, vive em Fânzeres, Gondomar]
Soldado Arvorado 82116569 Mamadu Baldé (F)
Soldado 82101469 Udi Baldé (FF)
Sold 82101069 Sajo Candé (F)
Sold 82108069 Alfa Jaló (F)
Sold 82116469 Iéro Juma Camará (Ap Mort 60) (FF)
Sold 82111969 Mamadú Jaló (Mun Mort 60) (F)
Sold 82111069 Adulai Baldé (F)
Sold 82117269 Adulai Bal (F)
3ª Secção

Fur Mil 17207968 Antonio Eugénio S. Levezinho [, reformado da Petrogal, vive em Sagres, Vila do Bispo]
1º Cabo 18880368 Manuel Alberto Faria Branco [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82116969 Braima Bá (F)
Soldado 82116669 Gale Colubali (Ap Metr Lig HK 21) (FF)
Sold 82116769 Mamadú Uri Colubali (Mun Metr Lig HK 21) (FF)
Sold 82111369 Amadú Turé (F)
Sold 82117469 Demba Jau (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82107869 Iero Jaló (FF)
Sold 82116869 Gale Camará (F)
3º Gr Comb

Comandante: Alf Mil Inf 01006868
Abel Maria Rodrigues [, bancário reformado, Miranda do Douro]
1ª secção

Fur Mil Luciano Severo de Almeida [, já falecido]
1º Cabo 02920168 Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã]
Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (F)
Sold 82108569 Sambel Baldé (F)
Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (F)
Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (F)
Sold 82109169 Malan Baldé (F)
Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82109969 Malan Nanqui (M)
2ª Secção

Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal]
1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F)
Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F)
Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F)
Sold 82108869 Quembura Candé (F)
Sold 82109769 Sherifo Baldé (F)
Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF)
Sold 82110169 Madina Jamanca (F)
3ª Secção

Fur Mil 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros]
1º Cabo 12356668 José Jerónimo Lourenço Alves [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82108469 Sajo Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Soldado 82109669 Cherno Baldé (Mun Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82109469 Sanuchi Sanhã (Ap LGFog 3,7) (F)
Sold 82109269 Sori Jau (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82110569 Mamadu Embaló (F)
Sold 82110769 Chico Baldé (F)
Sold 82115169 Demba Jau (F)
Sold 82108669 Cutael Baldé (F)
4º Gr Comb

Comandante: Alf Mil Cav 10548668
José António G. Rodrigues [, já falecido, vivia em Lisboa]1ª secção

Fur Mil 15265768 Joaquim Augusto Matos Fernandes [, engenheiro ténico, vive no Barreiro]
1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (F)
Soldado 82109869 Samba Jau (Mun Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82115269 Cherno Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82117569 Mamai Baldé (F)
Sold 82117869 Ansumane Baldé (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82118269 Mussa Jaló (Ap Dilagrama) (FF)
Sold 82118969 Galé Sanhá (FF)
2ª secção

Fur Mil 11941567 António Fernando R. Marques [, vive em Cascais, empresário reformado]
1º Cabo 17714968 António Pinto [, morada actual desconhecida];
1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (F) [, vive em Amedalai, Xime, Guiné-Bissau]
Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (F)
Soldadado 82110469 Mamadú Baldé (F)
Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60) (F) [, já falecido, vivia na Amadora]
Sold 82118769 Alá Candé (Mun Mort 60) (F)
Sold 82118569 Mamadú Colubali (FF)
Sold 82119069 Mamadu Balde (F)
3ª secção

1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação [, vive em Barcarena]:
Soldado 82116069 Sajuma Jaló (Ap LGFog 8,9) (FF)
Sold 82110269 Suleimane Baldé (Ap LGFog 8,9) (F)
Sold 82111069 Sori Baldé (F)
Sold 82115669 Sherifo Baldé (F)
Sold 82115769 Tenen Baldé (F)
Sold 82117169 Ussumane Baldé (F)
Sold 82117769 Califo Baldé (F)
Sold 82118469 Califo Baldé (F)
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Legendas:

F= Fula
FF= Futa Fula
M= Mandinga
Mc=Mancanhe
Ap= Apontador
Mun= Municiador
Mort= Morteiro
LGFOg= Lança-granadas foguete
Met= Metralhadora
Lig= Ligeira

Observações - Dados a completar... Pede-se a ajuda dos nossos leitores
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Em tempos escrevi, na
I Série do nosso blogue, que podia parecer fastidiosa, inútil, irrelevante... a minha lista de Baldés, a lista de cerce de uma centena de guineenses do recrutamento geral que se juntaram às cinco dezenas de metropolitanos da CCÇ 2590 para formnar mais tarde a CCAL 12...

A minha explicação, pouco afectiva, era então a seguinte: pode ter (ou vir a ter) algum interesse documental, historiográfico, eu sei lá... Pode facilitar a pesquisa de informação, de testemunhos, de depoimentos... Na época, não tinha esperança que os guineenses alguma viessem a interessar-se pelo nosso blogue...

Mas também acrescenatava:

É um pequeno, modestíssimo, gesto de elementar justiça para com aqueles guineenses que lutaram ao nosso lado, que fizeram parte da CCAÇ 12 e, portanto, da nova força africana com que sonhou Spínola e que tanto atemorizou o PAIGC. Infelizmente, uma parte deles (quantos, exactamente?) já não hoje estarão vivos. Uns foram fuzilados, como o Abibo Jau, outros terão morrido de morte natural, que a sua esperança de vida era muito menor que a nossa, em 1969...

E antecipando-me a eventuais críticas imiginárias, acrescentava, com um misto de sinceridade e ingenuidade:

Eu estou à vontade para publicar esta lista: sempre critiquei a africanização da guerra da Guiné, embora longe de imaginar que, no dia seguinte à nossa retirada, começasse a caça aos traidores, aos contra-revolucionários, aos mercenários, aos colaboracionistas... Em 1969, ainda estava vivo o Amílcar Cabral e eu admirava-o, intelectualmente... Achava que na Guiné, depois da independência, tudo seria diferente, e não aconteceriam os ajustes de contas que se verificaram noutras revoluções ou guerras civis, na Rússia, na China, na Espanha franquista, na França depois da libertação, etc. Pobre de mim, ingénuo...

Mas, por outro lado, também fui cúmplice da sua integração no nosso exército: mesmo sendo de da especialidade de armas pesadas, e não fazendo parte formalmente de nenhum dos quatro grupos de combate da CCAÇ 12, participei em muitas das operações em que estes participaram, fui testemunha da sua coragem e do seu medo, dormi com eles nas mais diversas situações, incluindo nas suas tabancas... Foram meus camaradas, em suma.

E a respeito da sua origem aduzia ainda mais a seguinte informação;
Soldados ex-milícias, a maior parte com experiência de combate, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (originalemnte, CCAÇ 2590), eram oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé, com excepção de um mancanhe, oriundo de Bissau.
“Todos falam português mas poucos sabem ler e escrever", lê-se na história da CCAÇ 12 (O que só verdade, 21 meses depois de os termos conhecido e instruído em Contuboel, em Junho e Julho de 1969). Foram incorporados no Exército como voluntários, acrescentou o escriba, para branquear a instustentável situação dos fulas, condenados a aliarem-se aos tugas.

Tirando o 1º Cabo José Carlos Suleimane Baldé (promovido ao actual posto em 16 de Setembro de 1969),eram, todos Praças de 2ª classe. Samba Só, Mamadá Baldé, Braima Bá e Quecuta Colubali passaram a soldados arvorados na mesma data, por reunirem qualidades para uma eventual promoção ao posto de primeiros cabos: 'ascendente sobre os camaradas, experiência de combate e aprumo militar' (sic). Entretanto, houve mais promoções no final da 1ª Comissão da CCAÇ 12 (a rendição individual dos quadros metropolitanos fez-se a partir de Fevereiro de 1971).

Por fim, dizia algo de temerário, baseado em informações dispersas, contraditórias, orais e não sujeitas ao exercício do contraditório:
É muito provável que todos ou quase todos os graduados africanos da CCAÇ 12 ( e da CCAÇ 21, para a qual transitaram em 1973) tenham sido fuzilados, em 1974 e 1975...

E perguntava-me, com um misto de sentimentos contraditórios, de admiração, de tristeza e de culpa:
O que será feito destes homens, portugueses e guineenses, que foram meus camaradas ? Lembro-me, com um sentimento de gratidão e de admiração, sobretudo dos soldados condutores auto que tantas vezes fintaram a morte nas picadas do leste da Guiné, na estrada do Xime-Bambadinca ou na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole... O Bastos, o Braga, o Monteiro, o Vieira, o Rocha, o Fernandes, o Patronilho, o Almeida, o Gomes, o Curto, o Silva, o Dalot, o Reis...

Por onde andam vocês, velhos malucos das GMC, Berliet, Unimog ? Houve, pelo menos, um que não sobreviveu, que pagou com a vida a lotaria russa que era andar pelas picadas da Guiné: chamava-se Manuel da Costa Soares, morreu no dia 13 de Janeiro de 1970, na estrada Nhabijões-Bambadinca ...

A única vez que me tinha encontrado com alguns deles, malta que tinha ido comigo no velho Niassa, integrado a estranha e minguada CCÇ 2590, tinha sido em Fão, Esposende, em 1994... A eles se juntaraima também alguns dos camaradas da CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Alguns deles já os encontrei, por aí... Alguns inclusive fazem parte do nosso blogue... Mas dos africanos tenho escassas notícias... Amanhã vai realizar-se em Óbidos o 16º Encontro do Pessoal que passou por Bambadinca, entre 1968 e 1971... Não vou poder estar com eles desde o início, mas ainda espero poder dar lá um salto por volta das 16h...

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Notas de L.G.:

(*) Sobre a CCAÇ 12, há pelo menos um centena de referências ou marcadores... E sobre Bambadinca mais de 280... Vd. também a I Série do Nosso Blogue (Abril de 2004 a Maio de 2006), que não tem marcadoresão

Realiza-se amanhã, em Óbidos, o 16ª convívio do pessoal que passou por Bambadinca entre 1968 e 1971 (**):