sábado, 17 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6174: In Memoriam (39): Baixa na CCS/BCAÇ 2845 - morreu no dia 21 de Março de 2010 o ex-1.º Cabo Cardoso (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2010:

Carlos Vinhal
Agradeço que coloques na Nossa Tabanca este trabalho que te envio, e que a grande custo o fiz, pois era um excelente camarada afinal.

Obrigado e abraços para toda a Tabanca.
AS


BAIXA NA COMPANHIA

Informação à C.C.S.

Faleceu no dia 21 de Março o CARDOSO


José Manuel Taveira Cardoso, 1.º Cabo NM 058732/67.
Atirador de Infantaria, era Quarteleiro em Teixeira Pinto, onde era assim conhecido por todos.

Para quem com o passar do tempo já não se lembra bem, o TAVEIRA CARDOSO, era aquele militar que andava sempre a tirar fotografias (malditas) , e que ele próprio depois revelava, e das quais tu mesmo ainda guardarás alguma, já que toda a CCS foi fotografada por ele.

É em forma de Homenagem que lhe presto, ao mesmo tempo que te vou avivando a memória .
O Cardoso chegou a ter pequenos problemas por dedicar mais tempo às fotos de que à sua própria Especialidade, mas era um excelente camarada que nunca causou problemas a ninguém.

Como te deves recordar, ou talvez não, o Cardoso era o único militar que tinha lá a esposa com ele, pois era casado, bem como o Tenente Paulo Dias e o Dr. Maymon Martins.

Recordo-te que o BCaç 2845 deixou Teixeira Pinto e a Guiné, mas o Cardoso que tinha
passado à disponibilidade, portanto civil, ficou com a mulher em Bissau, com o intuito de trabalhar por conta própria como fotógrafo, e daí o seu grande azar e pouca sorte, porque enquanto militar nunca teve nada, e depois como civil foi com uma Companhia operacional para o mato para tirar umas fotos aos militares e fez accionar uma mina.

Houve mortos dessa Companhia, e o Cardoso ficou com as duas pernas amputadas, seja com a perna direita pela virilha, e a esquerda pelo joelho.

Poucos souberam , porque o Taveira Cardoso apenas com uma pequena bengala, não dava a perceber aquilo de que realmente padecia.

Foi no primeiro convívio da CCS que ele próprio organizou em Almeirim, que ele me contou o seu passado, o qual até hoje guardei.

Quis falar disto, mas presto eentida homenagem ao Cardoso, que durante alguns anos compareceu em todos os encontros da CCS, tendo ele mesmo organizado alguns, e sempre se preocupou em procurar camaradas.

Todos aqueles que participaram em diversos convívios se lembram bem dele, embora saiba que há muitos camaradas da Companhia espalhados por todos os cantos do mundo, que através da Internet vão vendo aquilo que vou escrevendo sobre o nosso Batalhão e Companhia, e muitos me contactam para saberem notícias da CCS , porque tal como eu também adoram saber onde param camaradas do tempo do camuflado e de armas.

É pois para eles em especial que tristemente dou esta notícia, lembrando que no funeral foi chamado o nome do Cardoso, dissemos presente, e assinamos o livro, em nome da CCS e BCaç 2845.

Agora onde quer que esteja será sempre camarada. Paz à sua alma

Albino Silva,
Sold. Maq. 011004/67


Comentário de CV:
É sempre com tristeza que vemos partir um dos nossos camaradas, tivesse sido ele nosso companheiro de Unidade ou não.

Caro Albino, esta tua singela, mas sentida homenagem, é digna de alguém com sensibilidade que nunca esquece os velhos camaradas, apesar de volvidos este anos todos, e já vão sendo muitos.

O teu camarada, companheiro e amigo Cardoso encontrou finalmente a paz. Para ele acabou um sofrimento de uma vida durante a qual carregou os sinais do infortúnio e da má sorte. Repito-te: Paz à sua alma.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6029: Memória dos lugares (72): Prestei o meu serviço na Guiné (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 7 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5945: In Memoriam (38): Agradecimentos (Ana Duarte)

Guiné 63/74 - P6173: Convívios (217): 3º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)

Depois de um contacto preliminar com o "nosso Almirante" Vasco da Gama, ficou marcado o 3º Encontro da Tabanca do Centro.

Dia 28 de Abril, na Pensão Montanha, em Monte Real, pelas 13h30.

Reunião no Café Central às 13h00.

Voltamos assim, ao Cozido à Portuguesa, a pedido de "várias famílias".

As inscrições podem ser feitas na caixa dos comentários da Tabanca do Centro: http://www.tabancadocentro.blogspot.com/
Ou para o mail: tabanca.centro@gmail.com
Inscrevam-se até ao dia 21 de Abril, sem falta!
Cá esperamos os "atabancados" de todas as Tabancas!
_________
Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6172: Da Suécia com saudade (24): Histórias desconhecidas do 25 de Abril: Quando Marcelo Caetano quis armar a GNR com as G3 de Beirolas

1. Texto do José Belo, com data de 13 do corrente:


Assunto: Histórias desconhecidas do 25 de Abril




Caro camarada e Amigo:

Volto a incomodar, para te chamar a atenção do que acabo de publicar na TABLAP [, Tabanca da Lapónia,]  quanto à tentativa desesperada de Marcelo Caetano de armar a GNR de G-3, a curtas semanas de Abril.

Não sei se interessa ao blogue, mas é sem dúvida uma das pequenas/grandes histórias, sempre por muitos desconhecidas, que (e quem sabe hoje?) poderá ter tido alguma influência no decorrer daquele histórico dia!

Meia-dúzia de humildes empregados civis de armazém de material de guerra, um Ten Cor para todos desconhecido e alguns jovens oficiais menos convenientes podem, nas suas obscuridades, terem evitado banhos de sangue, naquela FESTA que foi ABRIL!

Valerá a pena ser mais divulgada que...SÓ...na Lapónia?!


Um grande abraco do José Belo.




Lisboa > Quartel do Carmo > Sede da Guarda Nacional Republicana (GNR). 2007.
Foto de JSobral. Copyleft. Cortesia de Wikipédia.

2. Histórias desconhecidas do 25 de Abril: Quando Marcelo Caetano quis armar a GNR com as G3 de Beirolas (*)

por José Belo

O Regime já podre de Caetano é sacudido pela revolta militar das Caldas da Rainha. As greves, a agitação e e os confrontos com as forças policiais, tanto por parte de milhares de operários nas zonas industriais como também de jovens estudantes criavam nos círculos governamentais uma crescente preocupação com o 1 de Maio que se aproximava.

Tudo levava a presumir que a data seria uma verdadeira apoteose de agitação e as numerosas inscrições, um pouco por toda a parte, referindo um 1 de Maio "vermelho", não contribuíam para acalmar os responsáveis pela "seguranca".

Surge então, por parte do Governo, a ideia de armar a GNR com espingardas-metralhadoras G-3. O Depósito Geral de Material de Guerra em Beirolas é superiormente encarregado de fornecer alguns milhares dessas armas. O Oficial que na altura Comandava o Depósito prestara, anteriormente, serviço, durante longos anos, na GNR, tendo um conhecimento mais do que abalizado da organização e funcionamento da mesma.

A  organização do MFA dentro de Servico de Material, conhecendo-o, assim como o seu irmão, oficial de Cavalaria, como elementos democratas, já o tinham contactado, insinuando aproximar-se para breve "algo". Entretento, e invocando a sua experiência de anos de serviço na GNR, comentava o Comandante do Depósito em roda de amigos Oficiais:
- A GNR tem mantido a ordem,e de que maneira, nas últimas dezenas de anos, utilizando as espadas de Cavalaria para umas "chanfalhadas" oportunas, e a espingarda Mauser que lhes está distribuída. A coronha da espingarda Mauser presta-se às mil maravilhas para dar umas boas cacetadas, e a cadência de tiro é mais que suficiente para acções de ordem pública!... Agora a G-3?!...Uma metralhadora de guerra?.........SÓ SERVE PARA MATAR!... E reparem que, com a sua pequena coronha de plástico, nem serve para dar as tais cacetadas! E as quantidades requisitadas que significado têm? Para fazer frente a operários armados com pedras e a estudantes com livros? Não será antes para outros voos?

Mas as pressões faziam-se sentir sobre Beirolas. Apoiado por elementos do MFA, foi conseguindo protelar os fornecimentos, invocando mil e uma razões burocráticas. Mas as pressões aumentavam, por parte de quem não estava habituado a não ser rapidamente...obedecido. Tornou-se necessário utilizar o bluff para ganhar mais algum tempo precioso...

Algumas centenas de mecanismos de disparar das G-3 foram desmontados (Nota: não me refiro a culatras, mas sim à totalidade dos mecanismos de disparar), em todos os seus diminutos componentes, e espectacularmente colocados sob panos de tenda ocupando chão de enorme armazém. Quando os Oficiais da GNR, responsáveis pelo levantamento das armas, se deslocaram a Beirolas, foi-lhes mostrado todo este "espectáculo", seguido do comentário do Comandante:
- Como podem verificar, a montagem de todos estes mecanismos de disparar é trabalho demorado, e infelizmente o DGMG não dispoe de pessoal qualificado em quantidade suficiente para acelerar o mesmo como seria desejável!...

E continuou:
- Têm duas hipóteses: Ou aguardam que nós terminemos a montagem, o que será demorado, ou assinam documento responsabilizando-se pelo levantamento de todas estas pequenas peças e componentes, podendo montá-las depois vocês próprios na GNR... No entanto,e falo-lhes com experiência, não vos aconselho a segunda hipótese, pois como vêem são milhares de pequenas peças que facilmente se podem extraviar com o transporte e armazenamento, e depois sao só mais problemas e problemas.

O ar paternalista do Comandante, aliado por certo ao facto de terem que "assinar papel", levou-os a partir mais uma vez sem o armamento, perante crescente dificuldade de alguns presentes, "dentro do assunto", em conterem o sorriso irónico.

Abril aconteceu! O Largo do Carmo foi o símbolo da resistência de um Regime que caiu de podre. A GNR, honra lhe seja feita,serviu esse regime com lealdade, até ao último minuto. Foram dos poucos que, com armas na mão, demoraram a capitular. No entanto, como profissionais, sabiam e sentiam o "peso" da inferioridade do armamento individual de que dispunham frente ás forças militares que os cercavam. Teriam sido mais "arrogantes" se dispusessem das centenas de milhares de espingardas metralhadoras que nessa altura deveriam já estar-lhes distribuídas?

BEIROLAS CUMPRIU... ANTES DE ABRIL...EM HUMILDE SILÊNCIO... na pessoa de um Ten Cor desconhecido, de uma meia-dúzia de humildes trabalhadores civis de armazém, e de alguns jovens Oficiais... menos convenientes.

 José Belo

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 23 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6038: Da Suécia com saudade (21): A Tabanca da Lapónia em mudanças para a... Flórida! (José Belo)

Guiné 63/74 - P6171: Convívios (216): Pessoal do BART 645, dia 14 de Abril de 2010, em Fátima (Rogério Cardoso)


1. O nosso Camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviou-nos, em 14 de Abril de 2010, notícias da festa da seu BART 645:
Camaradas,

Anexo 2 fotos dos Camaradas do BART 645, que se reuniram em Fátima no passado sábado dia 10-04-2010.
Cerca de 90 ex-militares, que, com familiares, totalizou 210 pessoas.
Um abraço amigo,
Rogério Cardoso
Fur Mil da CART 643/BART 645
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
13 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6148: Convívios (129): Almoço/Convívio do Pessoal da CCAÇ 1590, dia 5 de Junho de 2010, em Minde / Fátima (Mário Silva)

Guiné 63/74 - P6170: Notas de leitura (94): Crónica dos dias levantados da guerra, com os horrores de Goya e tudo (Beja Santos)


1. O nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos, com data de 12 de Abril de 2010, a segunda parte da sua nota de leitura iniciada no poste P6162:
Queridos amigos,
Assim acaba a incursão pela obra de Cristóvão de Aguiar, no que tange a temática da Guiné.
Vamos agora fazer um recuo aos anos 60, às obras de Manuel Barão da Cunha e Amândio César.
Crónica dos dias levantados da guerra, com os horrores de Goya e tudo

“Braço Tatuado, Retalhos da Guerra Colonial”, é o título mais recente de Cristóvão de Aguiar no seu eterno retorno à Guiné (Publicações Dom Quixote, 2008).
Valeu a pena o escritor de “Relação de Bordo” e “Trasfega” ter remexido, depurado, reestruturado páginas que foram inicialmente publicadas em 1985.
São memórias da sua comissão militar, sobretudo na região Leste. Inevitavelmente, a condição de ilhéu invade o território da mente que escancara as memórias, tudo começa com uma viagem onde só falta que os animais falem.
E os animais são cães que dão pelo nome de Andorinha e Morteiro, não sei se não são mesmo os animais maiores da literatura que nos legou a guerra da Guiné.
A viagem começa em Nova Lamego e prossegue até Dunane, passa por Jabicunda, onde se distribuem uns comprimidos do Laboratório Militar que curam todas as mazelas, desde chagas a diarreias galopantes, isto enquanto a magalagem faz directamente a psico-social com as bajudas; daqui se segue para Sonaco, altura em que o vinho de coco começou a trepar à cabeça do nosso alferes.
Este, por acaso o autor, deixa-nos uma água-forte do chefe de posto: “É um cabo-verdiano odiado pela maioria dos indígenas.
Mas possuiu o grande predicado de ter uma mulher também cabo-verdiana, perfeita de mais, muito mais moça do que o marido e pejada de apetites extra-conjugais.
Num clima excitante e puxavante como este, será muito natural e humano que exija do marido pela medida acogulada, que ele, com os seus quase sessenta, não tem forças para lhe matar o desejo com a frequência desejada.
Os alferes, na força miliciana da idade e desempenados, são por isso a sua predilecta sobremesa”.
Entra logo a seguir o capitão Carvalho que tinha por hábito desfazer-se de todos os guias, eram executados, quem já tinha colaborado com os «turras» devia desaparecer.
Depois escrevia-se no relatório que havia a lamentar a morte do guia, guerrilheiro capturado em anterior operação, preparava-se para fugir, houve patrioticamente que o abater.
As imagens de horror sulcam-se nesta simplicidade da escrita, o guia sabe que tem a sentença marcada, vai algemado, leva uma corda amarrada à cintura, o soldado que caminha atrás vai dando pontapés, mais adiante, enquanto o furriel enfermeiro dá de comer ao guia algemado o soldado aproveita, à socapa, para lhe calcar os pés com as botas.
Assim se descreve a bruteza, a tal que existiu e apetece ignorar. Relato do horrífico é-nos dado pelo tenente Roberto, a aguardar promoção ao posto imediato por distinção e louvor: “Os filhos, em férias, brincam na parada.
Vejo-os da ampla janela que para lá se debruça. Jogam ao jogo da guerra, matam e esfolam terroristas que são as crianças indígenas que aguardam, nas imediações da cozinha, os restos do rancho.
O pai treinou-os”. Eis o horror, em toda a singeleza: Como pai exemplar e extremoso, o tenente Roberto exercitou os filhos nas artes marciais.
Sempre que faz prisioneiros no mato, manda chamar os filhos e incita-os a que piquem o tronco nu e luzidio dos capturados com as navalhinhas amoladas. Apressa-se depois, num acto de caridade, a deitar-lhes álcool nas feridas abertas pelos filhos...»
Mas o reverso do horror não se pode escamotear: «Mais tarde veio a saber-se que o capitão Roberto, na altura prestes a ser promovido a major também por louvor e distinção, numa outra comissão, desta feita em Angola, onde comandava uma companhia de comandos, acabou por encontrar a mulher com o impedido na cama.
Chegara mais cedo e inesperadamente de uma operação de três dias. Matara e esfolara e trazia muitas orelhas para apresentar à mulher. Não teve coragem de matar os dois amantes em flagrante delito.
Preferiu enforcar-se num galho de uma árvore de pau-sangue.» O ramerrame, a insipidez das rotinas, a ingénua convicção de que se mal até agora não aconteceu é porque nada vai acontecer, desafiam a madre experiência, às vezes com resultados sinistros.: armas que se disparam, granadas que se despoletam sem ninguém lhes tocar, banhistas devorados por crocodilos.
Segue-se o relato da vida em Dunane, eremitério como poucos: «A caserna é um amplo barracão de adobes com telhado de zinco. Poucos se arriscam a lá pernoitar.
Descansam apenas durante o dia. A altura do barracão e a sua fragilidade transformam-no num alvo perigoso e fácil de bazuca. Eu e o furriel mais antigo habitamos um abrigo a setenta passos de distância da caserna.
Às vezes conto setenta e três, outras sessenta e oito, consoante. Esta moradia foi construída anteriormente à nossa chegada. A matéria-prima é constituída por bidões vazios de duzentos litros de capacidade.
Dezoito são eles ao todo. Seis à frente, outros seis à retaguarda com outros tantos encavalitados por via da cobertura ficar com a inclinação própria de telhado para que as águas desagúem».
Enfim, um eremitério como quase todos nós conhecemos, recebemos uma guia de marcha para Dunane, ali vivemos semanas, meses, anos. Cristóvão de Aguiar pouco mexeu no episódio de Niza e seguramente que fez bem, é uma narrativa pungente, um crucifixo de solidão e perda de identidade.
É muito difícil a qualquer Niza aguentar a partida da Lena quando se tem o seu nome no braço tatuado. Dias depois, o Uíge levanta ferro, mas é bom que os senhores leitores saibam que há guerras que não têm fim, ela regressa pela calada da noite, os nossos olhos insones são espevitados por incêndios, estrondos, gritos, metralhadoras que nunca se silenciam.
É por isso que se transmitem estes farrapos de memória, estes apelos em que nos reencontramos, há horas de horror nos nossos dias levantados, não se sabe até quando.
E assim nos despedimos de Cristóvão de Aguiar, também não se sabe até quando.

Cristóvão de Aguiar
Um abraço,
Mário Beja Santos
Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6169: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (2): Um grande contador de histórias, um homem bom, um notável condutor de homens...





Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril de 2010. Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010) (*). Breves palavras, finais, de agradecimento proferidas pelo autor, após intervenção do presidente da Associação de Comandos, Dr. José Lobo do Amaral, e dos restantes oradores, Cor Comando Ref Raúl Folques (comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, de 28 de Julho de 1973 a 30 de Abril de 1974), Cor Inf  Ref Manuel Bernardo e Dr. Nuno Rogeiro, jornalista e analista político.

Vídeo (1' 07''): ©   Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes





Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril de 2010. Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010). Breve intervenção, final, do Dr. Augusto Mendes Pereira, que foi furriel miliciano vague-mestre da 1ª Companhia de Camandos Africanos, sediada em Fá Mandinga, onde conheceu Amadu Djaló.

Vídeo (2' 11''): ©   Luís Graça (2010). Alojado no You Tube > Nhabijoes




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Membros da nossa Tabanca Grande, o Alberto Branquinho e o António Costa.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Membros da nossa Tabanca Grande,o José Martins (Odivelas) e o Jero (Alcobaça e Oeiras)... Mesmo em dia de chuva, a meio da semana,  ao fim de tarde, os nossos camaradas fizeram, questão de comparecer para apoiar o Amadu e o Virgínio.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Membros da nossa Tabanca Grande, e neste caso também da Tabanca da Linha, o José Manuel Dinis e o António F. Marques.


Fotos, vídeos e  e legendas: © Luis Graça (2010). Direitos reservados
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Nota de L.G.:


(*) Vd. posterior anterior da série > 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)

Guiné 63/74 - P6168: O Spínola que eu conheci (14): Sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho do que eu, o Chefe Militar (Torcato Mendonça)


O nosso Camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil At Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69), enviou-nos, com data de 15 de Abril de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,
Parece difícil e pouco conveniente o envio deste escrito. São notas, simples notas sobre um Homem que respeitei com Comandante Militar.
Leio o que se escreve; leio uma breve biografia saída num "Diário" e vêm-me à memória tempos passados, quer encontros, quer histórias sobre este Militar.
Será sempre uma figura incontornável da guerra na Guiné. Mesmo da Guerra Colonial, pois, além de ter combatido em Angola, teve papel militar de relevo. Não esqueçamos o dia 25 de Abril e o pós-Abril.
Sobre isso não me pronuncio.

Envio as notas.

Enviei textos, talvez na semana passada. Pedi, como sempre o acusarem a recepção. Só depois soube a ausência do Vinhal e a consequente sobrecarga.

NOTAS sobre ANTÓNIO de SPÍNOLA
Recebi só hoje, segunda-feira dia 12, a Biografia do Marechal Spínola, saída num diário na última sexta-feira.

É o custo do interior ou da interioridade. Veio e esgotou porque vieram poucas. Pessoa amiga comprou-o e só hoje o tive em mão. Certamente o livro Spínola vai demorar mais. Está pedido e… espero…

Não queria escrever mais sobre este Homem. Receio que, ao ler estes dois livros, altere, modifique mesmo, não as recordações que dele tenho mas o que dele penso, mais como homem do que como militar. Difícil a alteração.

Escrevo estas notas tentando recordar vivências passadas na Guiné. Outras, que sei dele como homem e militar, se não passadas na Guiné do meu tempo nada anotarei.

A primeira vez que com ele me encontrei foi em Mansambo. A data não me recordo. Pensava ser em Junho mas tenho uma nota a dizer que ele visitou Mansambo em 2 de Julho de 68. É possível porque a actividade operacional estava intensa e sofremos um forte ataque ao aquartelamento em 28 de Junho. Irrelevante a data ou talvez não.

Convém recordar que o Com-Chefe estava atento, quotidianamente, aos acontecimentos na Província ou Colónia. Devido à efervescência na zona talvez tenha ido lá naquela data.

Ouvimos o som característico do helicóptero e rapidamente se montou segurançaAterrou e dele saíram o então Brigadeiro Spínola e o seu ajudante de campo Capitão Almeida Bruno. A recebe-los o Comandante da Companhia (que pouco por lá ficava, exercia o comando mais de Fá e Bambadinca) e vários graduados.

Em Mansambo só estavam, se bem me recordo, três grupos e o outro estava á disposição do Batalhão. Também em Fá ou Bambadinca estavam a maioria dos militares da “formação”.

Os cumprimentos normais e o Brigadeiro Spínola questionou, com uma voz rouca e pausada, sobre a nossa situação. Perguntou aos oficiais o nome e o que faziam na vida civil e falou de Angola com o Capitão. Este tinha feito uma comissão como Alferes e, ou se conheceram lá ou tinham outro conhecimento qualquer em comum.

Dirigimo-nos para uma morança, que servia de comando, refeitório de oficiais e sargentos, sala de convívio e muito mais num exíguo espaço. Sobre a mesa foi colocada a Carta da zona e falou-se, com mais pormenor da situação militar. A conversa era mais entre o Brigadeiro e o Capitão.

O ajudante-de-campo estava atento a tudo. No decorrer do breve briefing o Brigadeiro perguntou qual a principal base IN. Foi de pronto informado que era o Burontoni mas que numa noite se conseguia lá chegar saindo de Mansambo.

Sensivelmente a resposta foi esta. Eu devo ter abanado a cabeça ou ter feito outro gesto, simples e breve, de discordância. Se o Capitão não ia l, á porque dava aquela informação e sabendo que, a ir-se lá, não se sairia de onde estávamos e seriam forças superiores a uma companhia. Tudo fácil para ele.

O Capitão A. Bruno, talvez pelo conhecimento que tinha do Com-Chefe quase sem se dar por isso, disse-me algo e eu apontei na Carta.

Continuou a conversa. Já a terminar o Brigadeiro voltou-se para mim e disparou:

- Parece que aqui o Alferes não está muito de acordo com o seu Capitão sobre o Burontoni.

Olhei para ele e, quando ia responder fui interrompido pelo Capitão Bruno que disse ser uma aproximação difícil e o IN ter, antes da base, postos avançados. Dificultava assim qualquer aproximação, pior ainda se fosse feita com saída por Mansambo etc.

Safou-me e o assunto ficou por ali. O Brigadeiro veio para fora e falou às tropas. Discurso inflamado, apelando ao patriotismo, ao dever, à necessidade de ali estarmos. Um discurso com teor idêntico aos do regime vigente nesse tempo. Só que aquele homem, além da memória que mostrou ter, quando da conversa tida com o capitão sobre Angola; com o interesse demonstrado sobre a nossa situação quer face ao IN quer de vida; a visão, quase periférica e atenta a tudo o que se passava em redor e na qual eu caí; ao falar assim aos militares comovia-os e apelava a que lutassem em nome de uma pátria que tudo lhes daria e, pela qual os sacrifícios eram deveres: Alguns, mais sensíveis, tinham lágrimas nos olhos.

Ouvia e pensava para comigo: parece que estou em plena II Guerra e isto são para fotos da “ Revista dos Aliados – Guerra Ilustrada", creio eu; só que com este ar de oficial prussiano dado pelo monóculo, pingalim e luvas pretas (O Capitão Bruno segurava a G3, a descansar a coronha no cinturão, com luvas cremes de condução auto), o Brigadeiro parecia estar noutro teatro de operações.

Depois, pouco tempo depois, começamos a receber notícias do já General e das transformações por ele operadas na Guiné. Além do respeito começo a ver uma personagem diferente do primeiro encontro. Os oficiais superiores certamente também sentiram a diferença e alguns vieram a ser bons operacionais, outros vieram mais cedo para a metrópole. Creio mesmo que todos os militares sentiram a mudança.

Encontramo-nos diversas vezes. Confesso que sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho, o Chefe Militar. Obstinado, de forte coragem e frontalidade, teimoso, determinado em vencer o inimigo mas não de qualquer maneira.

Discordava dele muitas vezes, só que impensável dizer algo. Discordei quando não permitiu montarem emboscadas na margem direita do Corubal, na operação Lança Afiada. Operação que acompanhou talvez diariamente e não se furtando a ir a zonas de maior perigo. Talvez quisesse vencer o inimigo, não destrui-lo, como diz o Cor Comando Matos Gomes. Ainda o respeito pelo IN e que não se torturassem os prisioneiros.

Quanto ás torturas não aceito e, nem me passa pela cabeça, que não estivesse informado sobre determinados comportamentos.

Encontrei-o em Galomaro a querer que retirassem, creio eu, roquetes, na parte inferior das asas de uma DO. Assunto entre ele e os Páras.

Nós estávamos no COP 7 mas, eu e o grupo, só fazíamos segurança e outros trabalhos.

Humano e pronto ajudar quem comandava. Um exemplo: Época das chuvas de 69. Estava com o meu grupo numa tabanca. Tínhamos ido por breves dias. Só que a rendição não se fez e a alimentação e não só estavam a atormentar os militares. Havia que aguentar o que estava a ser difícil.

Uma manhã sente-se o barulho de um helicóptero, foge a malta para a segurança e eu tento encontrar uns calções melhores e umas botas do nosso exército, nada. Atiram-me um quico e aí está o General a sair do héli.

A ele e a quem o acompanha me dirijo. Barba e cabelo grande, camisola, outrora branca, calções e botas não regulamentares. Haja Deus, o quico era regulamentar. Sentido, faço continência, recebo a resposta e vislumbro por detrás daquela cara uma interrogação.

Conheceu-me claro e perguntou o que se estava a passar. Disse que estávamos mal de alimentação devido á época das chuvas, ao prolongar da estadia e a roupa, a minha e de outros, estava a tentar secar depois de uma saída. Falou no tom habitual e despediu-se mais rápido do que costumava.

Talvez duas ou três horas depois novo barulho de heli. Gritam: aí está ele…aí…mas não era. O piloto e o mecânico entregam caixas com mantimentos e uma garrafa de uísque para o comandante daquela tropa. Com os cumprimentos do Com-Chefe. Conseguimos comer decentemente, beber, fumar um cigarro e sorrir.

Passados, talvez dois dias éramos rendidos.

Obrigado meu General em meu nome e dos militares que comando.

São notas, breves e poucas notas de alguns encontros com um Militar que foi meu Comandante e que respeito bastante.

Quanto ao cidadão e ao político nada digo. Na Guiné tentou a política “por uma Guiné melhor”, para saída política e negociada para o conflito. Não só. Posso discordar. Cá foi um cidadão conotado com o regime vigente. Talvez mais antes da ida para a Guiné. Não vou anotar nada sobre isso.

Pós 25 de Abril a História o julgará. Faria cem anos se fosse vivo.

Estou velho pois tenho só menos trinta e quatro anos e uns meses. Velho não, isso é feio de se dizer.

Espero a leitura dos Livros/Biografia. Ainda me falta um.

Um abraço,
Torcato Mendonça
Alf Mil At Art da CART 2339
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Nota de M.R.:
Vd. poste anterior desta série em:

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6167: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)




Lisboa > Museu Militar >  15 de Abril de 2010  > O Amadu, 70 anos, de fato completo, gravata, e as suas condecorações,  autografando o seu livro... A seu lado, a filha e o neto... Pareceu-me estar feliz, apesar do peso da idade e da doença crónica... Disse-lhe, na brincadeira: "Agora é que vais ser famoso e rico"... 


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Amadu, a filha e o neto, antes do início da sessão...  O Amadu foi apresentado como um grande contador de histórias, dotado de uma prodigiosa memória, como um homem bom, recto e profundamente religioso, bem como um grande operacional que serviu, com coragem e dedicação o exército colonial português, a partir de 1962,  ano em que fez a sua recruta em Bolama... Promovido a 1º Cabo em 1966, foi sucessivamente graduado em furriel (1970), 2º sargento (1971) e alferes (1973). Na foto, ostenta a sua Medalha de Cruz de Guerra de 3ª Classe, ganha em 1973.  O subtítulo deste poste é retirado de uma citação  do seu livro:  "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar"... Como todos os provérbios populares, e nomeadamente africanos, não tem uma leitura imediata nem linear... 



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > A filha e o neto do Amadú (que tem mais uma filha e um filho, a viverem no estrangeiro).




Lisboa > Museu >Militar > 15 de Abril de 2010 > Apesar de ter perdido ainda recentemente a sua mãe, o Virgínio Briote estava feliz pelo Amadu e  pela concretização de um projecto onde ele investiu muito do seu tempo, talento, camaradagem e generosidade.. Estevbe sempre atento ao Amadú, segredando-lhe ao ouvido algumas dicas...A felicidade do nosso querido amigo, camarada e co-editor seria completo se o Amadu tivesse aproveitado a ocasião, como era a sua intenção, para a estender a mão aos inimigos de ontem, num gesto  histórico de reconciliação, que teria grande simbolismo. Mas o Amadu não se sentiu muito confortável nem em condições de saúde para dizer as palavras que estavam nop seu coração e na sua cabeça (e que estão no seu livro).

Por detrás dele, sentada, a Maria Irene, sua esposa, professora do ensino secundário que sempre o acompanha nestes actos públicos. Na foto, à direita, o nosso camarada Carlos Santos, que veio de Coimbra (Recorde-se que foi  Fur Mil da CCAÇ 2700, Saltinho, 1970/72). A malta do nosso blogue esteve presente em força, querendo com isso testemunhar o seu apreço e carinho ao Amadu. Em próximos postes, apresentaremos mais fotos e vídeos.




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro "Guineense, Comando, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010). Aspecto geral da assistência, completo a ala central das famosas caves manuelinas... Na primeira fila, do lado direito, reconheço a Dra. Maria Irene, esposa do Virgínio Briote bem como o comandante Alpoím Galvão, além do representante do Chefe do Estado Maior do Exército.





Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > A apresentação do livro este a cargo de três oradores: O Cor Comando Ref Raul Folques (de que lamentavelmente não temos foto, apenas um vídeo que será aqui reproduzido noutro poste; foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos), o Cor Inf Ref e escritor Manuel Bernardo (na foto) e  ainda o jornalista e analista político Nuno Rogeiro.  




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Outro orador, o Nuno Rogeiro, apresentado como um amigo da Associação de Comandos... Disse que leu o livro de um trago. Fez uma análise original, que temos registado em vídeo.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 >  O Autor, Amadu Bailo Djaló, membro da nossa Tabanca Grande, e o presidente da Associação de Comandos, Dr.  José Lobo do Amaral... Nas suas palavras de abertura fez questão de, em nome da associação,.  agradecer "ao sócio comando Virgínio António Moreira da Silva Briote a disponibilidade, competência e dedicação com que acompanhou esta Memória, sem a qual não teria sido poossível esta edição"... No final, também me agradeceu a divulgação dada pelo nosso blogue e manifestou o seu regozijo pela entusiasmo com que foi recebida o 1º volume das memórias do Amadu bem pelo pluralismo das abordagens dos oradores.



Fotos e legendas: ©   Luis Graça (2010). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P6166: Tabanca Grande (212): Manuel Carvalho Passos, Pel Rec Inf/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/73 (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 30 de Março de 2010:

Caro Luis, Vinhal, Magalhães e restante Tabanca Grande
Algum tempo atrás recebi via Luís e Vinhal um pedido de contacto do meu camarada Passos do PELREC do BCAÇ 3872.

Rapidamente respondi ao nosso camarada, que eu já não via há alguns anos, após termos mantido contacto regular durante algum tempo. A vida troca-nos as voltas e o Passos e família, embora não aparecessem, eram sempre falados nas reuniões anuais da CCS e Companhia.

Mas tudo isto faz parte do pedido que o Passos me fez, que foi o de o apresentar à Tabanca uma vez que está a dar os primeiros passos na Arte de Navegar em Toda a Net.

Assim, o Manuel Carvalho Passos foi incorporado na Carregueira onde tirou a Recruta, daí foi para RI6 do Porto para tirar a Especialidade de Reconhecimento e Informação.
Finda a mesma, foi um dos meus companheiros de comboio até Abrantes, ao RI2.

Foi mobilizado juntamente com o seu Pelotão de Reconhecimento e Informação e foi um dos responsáveis pelo enquadramento amigável que eu tive no seu PELREC.

Regressou a casa, que fica em Matosinhos, mais cedo, penso por motivos de saúde.

Ele já me prometeu que quando estiver mais à vontade, escreverá a tal estória da praxe para os novos tertulianos, mas até lá ficam estas linhas e as fotos que ele me enviou.

Um abraço
JA

Abrantes > No chão: Passos e Ferreira. Sentados, da esquerda para a direita: Silva, Ivo, Léo, Ermesinde e Santarém. Em pé, Amado

Silva, Amado e Passos

Pel Rec com legendas


2. Comentário de CV:

Caro Juvenal, obrigado por trazeres até nós o Manuel Carvalho Passos.

Caro Passos, bem-vindo à Tabanca Grande, onde entraste apadrinhado, embora não fosse preciso, pelo Juvenal que é um dos veteranos do nosso Blogue, com imensos trabalhos publicados. E que trabalhos.

De ti ficamos a saber pouco. Sabemos que tens a Especialidade de Reconhecimento e Informação e que foste para a Guiné integrado na CCS/BCAÇ 3872. Não sabemos o teu antigo posto. Vê se te apuras, como diz o teu padrinho, na Arte de bem cavalgar em toda a net, para nos completares os teus dados.

Como vês, tens muito para nos contares. Podes escrever-nos para luis.graca.prof@gmail.com, carlos.vinhal@gmail.com e magalhaesribeiro04@gmail.com. Qualquer destes endereços estão à tua disposição para receber a tua correspondência. Podes e deves enviá-la sempre para dois deles para teres a certeza de que não se perde.

Tanto quanto me disse o Juvenal, moras em Matosinhos, junto ao Wall Street cá do sítio, digo eu, deduzindo pelo número da tua porta.
Eu moro em Leça da Palmeira, mas Matosinhos foi muito importante na minha vida, desde local de estudo, de trabalho, de encontro da última namorada e de morada durante quase 5 anos no edifício New Ark, bem perto de ti.

Eu mais alguns camaradas organizamos o Convívio Anual dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos que tem lugar no primeiro sábado do mês de Março, pelo que ficas desde já convidado a participar no próximo Encontro.

Caro camarada, deixo-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia. Aguardamos as tuas notícias e a tua colaboração.

Pelos editores
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6100: Tabanca Grande (211): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74 (Agostinho Gaspar)

Guiné 63/74 - P6165: Em busca de... (124): Procura-se o pedreiro Amaral que pertenceu à CCAÇ 2791 (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66, com data de 8 de Abril de 2010:

Boa tarde companheiros da tabanca grande.
Não sei quem está de serviço, mas como estive a rever uns vídeos que fiz de uma das minhas idas à Guiné, e reparei nestas fotos, que são referentes um aqueduto feito pela nossa tropa quando da abertura da estrada de Teixeira Pinto-Cacheu, lembrei-me de as enviar.
O pedreiro foi um camarada chamado Amaral que era de Sabrosa e pertencia à CCaç 2791. Era interessante se este colega pudesse ver a sua obra passados estes anos.

Eu filmei isto em 1993, estava na zona de Capó. Voltei lá novamente em 2000 e ainda lá continuava, mas em 2008 já não fui capaz de localizar. Sei que a estrada nalguns sitios mudou de traçado, mas não vi o dito aqueduto.

Será que o Oficial de dia publicava isto no jornal da caserna e aparece alguém da CCaç 2791, e quem sabe até o pedreiro?

Companheiro, se por acaso for inconveniente a publicação, tambem não há problema. Agradecia se davas um jeito ao texto pois não sou muito famoso a escrever.

Muito obrigado e desculpa, sempre ao dispor
Ex-1.º Cabo do Pelotão Caçadores 953
António Paulo Bastos








Comentário de CV:

Quem da CCAÇ 2791 se lembra do camarada Amaral que seria pedreiro na vida civil?

O camarada Amaral é natural do concelho de Sabrosa que fica no Alto Douro Vinhateiro que por sua vez pertence à Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo.

Ao concelho de Sabrosa pertencerá, dizem alguns, Fernão de Magalhães, e com todos de acordo, o poeta Miguel Torga, o General Loureiro dos Santos e a nossa querida camarada Enfermeira Pára-quedista Giselda Antunes Pessoa.

Vamos então encontrar o camarada Amaral algures em Sabrosa.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6142: Em busca de... (123): Procuro informações sobre Camaradas da CCAÇ 1612 / BART 1896 (Fernando Manuel Belo)

Guiné 63/74 - P6164: O Spínola que eu conheci (13): Os ananases que não chegaram à mesa do Palácio do Governador-Geral (Jorge Félix)


Guiné > Algures > O Alf Mil Pil Heli Al III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)
Foto: © Jorge Félix (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do Jorge Félix, com data de hoje

Assunto: Aniversário meu e do Spinola

Caro Luís Graça,

Não sei como te agradecer os momentos que vivi com as mensagens que recebi nos dia dos meus anos, algumas de "gente" que eu nem conheço.

Como sabes, era nesse dia 11 de Abril que também comemorava o Gen António  de Spinola [n. em Estremoz, em 1910, de pais madeirenses, e do lado do pai,  aspirante de finanças, de ascendência italiana].

Tem aparecido histórias e saíram vários livros a recordá-lo (*). A minha especialidade não é a escrita, ou não ando com paciência para grandes relatos, mas não podia passar este momento sem homenagear o homem que tanto admirei.

Junto uma foto do Caco, com a minha pessoa nos comandos do Heli Al III, podendo ver-se no banco  uma arca que variadas vezes o Cap Almeida Bruno [, o ajudante de campo,]  transportava, e que continha alimentação para o nosso Chefe.

Segue uma mensagem que recebi, [em 14 do corrente, no Facebook,] do José Ramos, piloto que já foi falado no nosso Blog e que julgo também devem conhecer:
Está bonito o filme, parabéns. Sempre que me lembro de ti, não posso esquecer um bombardeamento de ananases em Galomaro que ficaram a faltar na mesa do Spinola.
Um abração

O Ramos recorda-me que um dia, no regresso a Bissau levando uns ananases que deveriam chegar à mesa do Spínola, eu resolvi, numa passagem por Galomaro, "oferecê-los" à D. Maria, esposa do comerciante Regala, num estacionário "perfeito", dando liberdade ao mecânico para atirar um a um os "ananases".

Mais tarde informaram-me que a loja esteve uma semana semi-fechada para limpar o pó que o heli levantou e foi parar dentro da casa. Dos ananases nada se aproveitou, nem a D Maria os saboreou, nem o Gen Spinola os recebeu algum dia.

Foi o Ramos que ma recordou, se achares que vale a pena contar, "posta-a".
Abraço
Jorge Félix


2. Comentário de L.G.:

Jorge, ainda não te agradeci, pessoalmente o magnífico vídeo (mais um!) com que brindaste a comemoração do nosso blogue, que também vai fazer aninhos (seis!) no dia 23 de Abril próximo. O teu trabalho, que me sensibilizou, já teve perto de 800 visualizações no You Tube.

O Carlos Vinhal já  fez os devidos agradecimentos. Mas também me fica bem reforçar aquilo que tenho escrito sobre ti e os trabalhos audiovisuais... Tu és o nosso mago,  dás o tal  toque de magia às imagens que publicamos no nosso blogue (e às outras, do teu arquivo). Uma imagem pode valer mais do que mil palavras, mas tu ascrescenta-lhes  vida, ritmo, emoção, poesia...
 
Obrigado também, meu glorioso maluco das máquinas voadoras,  pela tua deliciosa história dos ananases (ou não seriam abacaxis, variedade guineense do ananás ?) que não chegaram à mesa do Bispo (alcunha por que era também conhecido o Spínola, em linguagem cifrada)...  As deliciosas maluqueiras que um homem (não) faz aos vinte anos para chamar a atenção de uma mulher... E, a propósito,  o Regala não te apresentou a conta dos estragos no estaminé ?  LG

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 15 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6160: O Spínola que eu conheci (12): Missirá, Dezembro de 1970, vésperas de Natal: Quando Sexa, o Caco, ia perdendo o dito... (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P6163: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (16): Comemorações do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço

1. Mensagem do nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em Março de 2010, a quem peço desculpa pela demora:

Amigo Carlos
Aqui vão fotos do dia 10 de Junho de 1966 no Terreiro do Paço em Lisboa.
Os tabanqueiros podem tentar descobrir eles mesmo ou algum camarada amigo.
De seguida segue as fotos em pormenor.

Um abraço
RC


CERIMÓNIA PROTOCOLAR DE IMPOSIÇÃO DE CONDECORAÇÕES NO DIA 10 DE JUNHO DE 1966



À esquerda da foto o Cor Braamcamp Sobral, CMDT do BART645, e à direita o Fur Mil Rogério Cardoso, ambos assinalados na foto.



Fur Mil Manuel Basílio Soares Domingos da CART 564, assinalado na foto
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6094: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (15): As famosas costeletas do Asdrúbal, e não só

Guiné 63/74 - P6162: Notas de leitura (93): Braço Tatuado, de Cristóvão de Aguiar (Beja Santos)

1. O nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos, com data de 6 de Abril de 2010:

Queridos amigos,
A viagem açoriano prossegue, o vento sopra de feição, não se prevêem os desfavores da meteorologia atlântica.
Continuo suspenso da solidariedade de todos aqueles que eventualmente tenham mais livros publicados nos anos 80 e 90 e queiram ter a amabilidade de me os emprestar.
Aqui estou, estátua de pedra, a aguardar os vossos sinais.

Um abraço do
Mário


O Braço Tatuado:

O criminoso (às vezes) volta ao local do crime

Beja Santos

A expedição de Arquelau de Mendonça em terras da Guiné, publicada em “Ciclone de Setembro” (1985) deve ter sabido a pouco quer ao escritor quer aos leitores. Arquelau é um ilhéu típico: foi à guerra para não se demorar, andou lá a correr, acompanhado de um casal de rafeiros, comandou o 1º grupo de combate da C Caç 666. As suas correrias, tanto quanto parece, centraram-se no Leste, procurou alhear-se da guerra, era impossível, viu execuções sumárias, dez mortos numa emboscada, entre Piche e Canquelifá. Sofreu as solidões do aquartelamento de Dunane, sentiu a sombra da loucura, depois o Niza, o tal soldado do braço tatuado, resolveu suicidar-se quando a Lena (cujo nome estava tatuado) o preteriu por outro. Não é difícil perceber como o episódio do Niza lhe ficou gravado, obriga Cristóvão de Aguiar a revisitações: “Tento de onde estou parado parlamentar com ele. Faço-lhe ver que aquela loucura o poderá desgraçar para o resto da vida. Não me dá ouvidos. Desgraçado já ele estava, nenhuma outra desgraça o poderia afectar tanto. Dão uns passos a medo e muito devagar. Mal nota que me vou aproximando, dá dois tiros para o ar. Estaco estarrecido. Muito subtil, levo a mão ao bolso e palpo a arma. Ele olha-me com a fixidez de um dementado e entende o meu gesto sorrateiro. Diz ele: Se o meu alferes sonha em tirar a pistola, abato-o de seguida... E despeja, em rajada, quase todo o carregador da G-3 para o ar, mas não tanto para o ar que não sinta o assobio de uma bala rente ao ouvido direito. Não me dou por achado, mas entro em pânico por dentro. A minha cabeça é um carrossel de fogo. Mordo os beiços numa tentativa de autodomínio, se calhar de autodefesa. Verifico que o Niza não traz cinturão nem as cartucheiras. Respiro de alívio”.

O Braço Tatuado, garanto ao leitor, ainda tem muito para dizer. Em 1990 vai pela primeira vez aparecer desafectado do Ciclone de Setembro. Tem inúmeras parecenças mas foi à forja, aparece clarificado, tonificado, menos ilhéu. O autor esquematiza menos, aviva detalhes, tece maiores considerações sobre o que os oficiais do quadro permanente pensavam dos outros, os seus subordinados:

“ – Veja bem, nosso alferes, quem são os militares que se deixam abalar por problemas do foro psicológico e têm na sua maioria de ser evacuados para a psiquiatria: alguns – poucos – furriéis e uma caterva de oficiais milicianos, sobretudos os provenientes das universidades de onde saíram abarrotados de filosofices políticas e anti-patrióticas...

O mesmo já não sucedia, por exemplo, os graduados oriundos da Academia, nem aos que saíram, por falta de vocação, dos seminários. Ambas as castas se encontravam compenetradas do dever, da obediência, da resignação, habituada que foi a primeira à dureza da tarimba e às correntes da disciplina da vida militar profissional, formada que foi a segunda no amor e temor à religião dos nossos maiores, no respeito pelo cilício da pátria, que a todos uniu na justa luta.

– Mas é no soldado bronco e simples que se encontra, alferes Mendonça, o nosso melhor material humano e logístico; vê na tropa um súbito céu de fartura, pouco lhe interessando a destrinça entre justiça e injustiça; nem sequer lhe preocupa os porquês desta guerra que de fora nos impõem, o que nos facilita a tarefa de explicar; por isso, o nosso alferes nunca viu nem de certo há-de ver um soldadinho dos genuínos sofrendo da caixa dos pirolitos; logo que se lhe dá vinho tinto ou mesmo branco, rancho suculento e correio a tempo e horas, nada, mesmo nada deste mundo o fará esmorecer...”

Cristóvão de Aguiar cultiva as emoções-limite, os comportamentos da crueldade paradoxal (aquela que precisa de ser vista por detrás do espelho): pessoas ternas, só na aparência, capazes da mais imprevista sanha homicida; o fanfarrão acobardado; a solidão que nos torna mais frágeis quanto, como um raio, nos chega uma notícia aterradora (é o caso do Niza). O suicidado recebe os benefícios da burocracia militar: fora criado na companhia um saco azul (mediante um pequeno desconto mensal no pré de todo o pessoal) destinado à aquisição de urnas de chumbo e caixões condignos. “Teve o Niza um vistoso e moderno caixão de madeira de pau-sangue envernizada que servia de invólucro a uma bem vedada urna de chumbo. O nosso Primeiro Gervásio abateu-o ao efectivo da Companhia 666 em Ordem de Serviço e não se esqueceu de mencionar que o soldado número tantos, barra 64, ia abonado de alimentação e de pré até hoje inclusive...”. Há os ataques de abelhas, as flagelações, mas havia sobretudo o silêncio lunar em Dunane. Mas um ilhéu confessa-se, sempre: “A Ilha espera-me do outro lado do tempo, que já não é o meu, e da palavra, que ainda me vai pertencendo, e com a qual vou procurando ressuscitá-la. Como voltar agora à Ilha, que me espera, sempre me esperou, na sua fidelidade de amante antiga que, de tanta esperança desgastada, põe luto fechado e chora uma morte ainda não acontecida mas já há muito pressagiada?”. O autor está exausto, interrompe a narrativa, estão todos de abalada até Bissau, o Uíge já os espera perto do Pidjiquiti. O regresso parece fácil. Nunca será, há sempre gritos, vozes, incêndios, até animais espavoridos nos seus currais de morte. É uma guerra pronta a regressar, insidiosa, fica à espreita, na penumbra do tempo. Cada um voltou à sua ilha, agarrou no arado, remexeu a terra, fez filhos, teve uma profissão, procurou iludir os tais gritos, vozes, incêndios. Os sons, as imagens, as palavras têm esse condão de regressar e deixar a marca do ferro em brasa. É assim com todos nós. Por isso percebo muito bem este cerco lançado por “O Braço Tatuado” e matéria congénere. É uma questão de vermos a edição seguinte.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6155: Notas de leitura (92): Trasfega, de Cristóvão de Aguiar (Beja Santos)