segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7285: História de vida (34): Do Cunene a Gadamael ou as (des)ilusões do Portugal plurirracial e pluricontinental... Para o Cherno Baldé, com apreço (José Gonçalves)

 1. Resposta do José Gonçalves ao comentário do Cherno Baldé (*):


Meu caro Cherno, obrigado pelas tuas palavras e quero dizer-te que estou completamente de acordo contigo quando dizes que as necessidades e o querer dos homens e mulheres nativos da Guiné, que lutaram ao nosso lado, por um ideal, pelos seus próprios interesses sócio-económicos e por vezes até pelo ódio por outras etnias (depois eu explico porque uso a palavra ódio),   não foram tomados em consideração pelas Forças Armadas Portuguesas no terreno aquando da retirada e não mereciam o que lhes aconteceu.


Como deves saber,  em qualquer exército democrático todos recebemos ordens de outrem até chegar ao poder político e as ordens são para cumprir ou há consequências. Apesar de ter hoje conhecimento do que se passou com os soldados africanos,  não sei o que poderia ter sido feito diferente para salvaguardar os interesses dos nossos camaradas que decidiram ou foram esquecidos lá e continuaram a fazer a sua vida na Guiné.


A Guiné é um país independente e  Portugal não tinha e não tem o direito de intervir a não ser que os tratados fossem violados, o que veio a acontecer,  e uma intervenção na ONU por parte de Portugal a denunciar tais massacres à comunidade internacional era apropriado, mas do que serve ?


Todos nós sabemos o peso das resoluções da ONU! Não valem muito a não ser que os interesses dos grandes estejam comprometidos.

Totalmente suporto que os soldados que lutaram debaixo da bandeira portuguesa,  deviam ter uma reforma do governo português, mas quero que saibas que eu também não a recebo e nunca a receberei porque nunca descontei para a caixa de aposentações [, Segurança Social,] em Portugal  e sem o ter feito não tenho direito apesar de ser português,  nascido em Portugal. Regras feitas pelos políticos que nunca compreenderei. 

Agora um pouco de humor: dizem que os políticos são como as fraldas e que de tempos a tempos têm que ser mudados e pela mesma razão !

 Voltemos ao ideal de que falei. Apesar de natureza colonialista e muito paternalista,  o ideal porque lutámos,  continha valores muito nobres como a liberdade e igualdade entre as raças (apesar de eu pensar que só há uma, a humana!),  um país secular e multidimensional, onde brancos, pretos e mestiços podiam viver em harmonia debaixo da mesma bandeira. Só que esse mesmo ideal existia pura e simplesmente  para conveniência das classes dominantes que o utilizavam para os seus próprios fins que era o controlo absoluto do seu povo, colonizador e colonizado.

Como jovem que fui, este ideal foi-me incutido desde muito jovem, ainda me lembro de ler nos livros da escola primária toda esta propaganda e pensar nessa altura que Portugal devia ser o melhor país do mundo devido a toda a sua bravura e nobreza e assim me manipularam como manipularam a maior parte da minha geração.

Para te dar um pouco das minhas experiências pessoais deixa-me dizer-te que por muito tempo me considerei Angolano/Português e não o contrário pois vivi em Angola dos  8 aos 18 anos para onde fui com toda a minha família em Janeiro de  1961 e foi aí que se passaram os meus anos formativos (**). 

O meu pai sempre foi um guerreira da vida, à procura de sucesso para a sua família apesar de ter somente a 3ª classe da escola básica. Com esta sua vontade pelo sucesso, tentou emigrar para o Canadá aos vinte e tal anos, mas como tinha cadastro na PIDE, apesar de ter sido aceite pelo Canadá,  o governo português não autorizou a sua saída, e assim em 1960 foi-lhe feita a proposta  para ir para Angola como colono o que este aceitou,  porque era aventureiro e sabia que em Portugal as oportunidades para ele eram poucas.

Lembro-me de um jornalista perguntar ao meu pai no hospital da Junqueira onde nos encontrávamos a fazer exames médicos antes da partida, para onde íamos?  Ao que o meu pai respondeu Colonato do Cunene! . O dito jornalista,  com lágrimas nos olhos disse em voz baixa quase inaudível:
- Isto não se faz...isto não se faz...Com dois filhos assim tão novos isto não se faz !...   

Vi no rosto do meu pai pela primeira vez um ar de preocupação por todos nós, mas calou-se e não disse nada. Passadas umas semanas lá estavamos nós numa povoação chamada Castanheira de Pêra, nome bastante português mas não no norte de Portugal mas sim ao sul da Matala,  no distrito do Cunene [, no sul de Angola, vd. mapa à direita]. 


O meu pai tentou fazer o seu melhor para triunfar mas nunca tinha sido agricultor na sua vida e em Castanheira de Pêra ou se cultivava ou se morria à fome. Uma outra estipulação era a proibição de empregar qualquer nativo para não perturbar a seu modo de vida que era basicamente a criação de gado. Como poderia um casal de portugueses brancos,  vindos do Algarve,  sem nunca ter sido agricultores,  triunfarem no colonato do Cunene quando o governo lhes promete o Céu e no fim dá-lhes um casal de bois bravos, 4 hectares de terra,  uma carrroça e diz Governa-te.

O meu irmão mais velho frequentava a escola comercial em Faro o que lhe foi impossivel continuar. A opção que teve foi trabalhar no campo a cortar bissapas,  nome angolano dado a arbustos. Eu guardava os bois na bela savana angolana depois de sair da escola primária.  Como calculas,  o meu pai não aguentou muito tempo e em menos de um ano deixou o colonato e arranjou emprego como electricista numa fábrica de  papel no Alto Catumbela onde foi bem sucedido devido ao seu esforço e vontade.

Ao mesmo tempo começou a guerra em Angola e a população branca estava aterrorizada,  mesmo no Cunene. Lembro-me de dormir no sótão da nossa casa 6 meses com medo de sermos massacrados.

Cherno,  a razão porque te conto toda esta história é para te dizer que as vítimas eram na maior parte das vezes os colonos e os colonizados. Nessa altura eu tinha muito orgulho em dizer em voz alta e bom som que era Angolano de corpo e alma e considerava meus compatriotas todos os pretos, brancos e mestiços que viviam no mesmo país,  Portugal. Vivia eu numa comunidade afluente onde gente de toda a raça convivia em harmonia com o objectivo de uma Angola melhor. 

Esta era a minha realidade mas bem analisada veríamos que não era bem assim. Em certas comunidades havia esta harmonia mas a maioria da população vivia marginalizada e  num estado de pobreza extrema sendo explorada por pretos, brancos e mestiços de classe sociais mais elevadas. A exploração também não tem côr.

O princípio da desintegração de toda esta compilação de sentimentos aconteceu na viagem de Bolama para Cacine quando viajava para o meu destacamento em Gadamael. Como é que uma simples viagem de barco consegue desfazer algo acumulado em duas dezenas de anos ?

Neste mesmo navio patrulha ia um sargento das tropas africanas. Acho que o seu destino era Jemberém.  Uma das declarações do mesmo foi como a percussão de todo um desencadear de pensamentos dentro do meu cérebro jovem e ingénuo.  O sargento ia falando dos roncos que tinha já feito e das operações realizadas e a certo momento diz-nos que em regra quando vai para o mato "tudo o que é preto é para matar". 

Para mim isto foi um choque tremendo pois este não era o sentimento nem o treino que tinha tido. Como africano estava ofendido (nessa altura ainda me sentia africano,  hoje sou canadiano/português) e como comandante militar senti nesse momento que havia algo de errado nesta guerra para onde ia. O inimigo para mim não tinha côr mas sim uma ideologia que era diferente da minha e que a queria impor à força, a Portugal e às populações, que viviam debaixo da mesma bandeira. Para o sargento o inimigo era preto e vivia no mato fora das zonas controladas pelas nossas tropas. Quem estaria certo ?

 Mas como podia este homem vêr os seus irmãos da mesma côr vivendo na mesma "província" como inimigos mortais ? Seria que eram todos turras ? Seria que este sargento não tinha sentimentos ? Seria que se encontrasse com um cubano branco não o matava e só mataria os pretos ? Quem teria incutido este ódio num homem que parecia afável em todos os outros aspectos ? Será que eu e os meus soldados iríamos ter os mesmos sentimentos passado uns tempos ? Esperava sinceramente que não,  mas já não tinha a certeza de nada.

Por fim cheguei a Gadamael,  entrei dentro da rotina dos bombardeamentos  mas este sargento não me saía da mente pois não queria ser como ele. O 25 de Abril diminuiu este tipo de preocupação mas começou uma nova série,  relacionada com as consequências da descolonização.  

De início não podia imaginar que Portugal poderia abandonar as então chamadas "províncias ultramarinas" porque eu conhecia bem Angola e a realidade angolana. Compreendi logo de início que a Guiné era muito diferente e que a minha experiência angolana não era a mesma na Guiné.  Lembro-me das conversas com os meus soldados tentando mentalizá-los que o regresso a casa talvez demorasse mais do que eles pensavam, que no meu parecer Portugal não ia abandonar as populações e as tropas africanas e que para tudo isto se resolver era preciso tempo.  A resposta deles era quase sempre a mesma: Eles que resolvessem isso depressa que eles queriam ir para casa. O mesmo sentimento era quase unânime  entre os outros pelotões e os oficiais e sargentos.

Foi então que entendi que os princípios e ideais porque estava lutando não eram iguais à maioria dos meus camaradas . Nessa altura eu ainda me sentia africano e tinha um peso enorme no coração por saber o que estava para acontecer a todos os meus compatriotas angolanos com a inevitável retirada. Tinha por lá ainda muitos amigos de infância e estava preocupado. A minha preocupação era legítima pois a maior parte deles veio de lá com as calças na mão como se costuma dizer.

O 25 de Abril foi um processo irrefreável como um comboio sem travões descendo uma ladeira. A descolonização ia ser feita o mais rapidamente possível desse no que desse.

Os comandos militares do MFA  sabiam que não podiam mandar a guerra continuar porque na mente dos militares a guerra já tinha acabado e agora era tudo "democracia" portanto "o povo é quem mais ordena" e o povo ordenou a entrega das colónias que foi um termo rejuvenescido para  justificar o que já estava num processo irreversível. 

Se os caixões continuassem a chegar a Portugal,  o povo revoltarse-ia e também acho que os militares não aceitariam um continuar da guerra. As negociações não contemplavam  mais nada do que a independência total e era pura e simplesmente uma questão de quando e não se nos íamos retirar. Associações de soldados, sargentos e oficias milicianos começaram a aparecer por todo o lado dentro das Forças Armadas e já não se decidia nada a não ser por comité.

Infelizmente,  Cherno,  a descolonização que se fez  não foi a que deveria ter sido feita mas a que foi possível fazer dentro de um clima que na altura se tornou caótico e que injuriou brancos, pretos e mestiços que se consideravam cidadãos de um Portugal multirracial e pluricontinental,  principalmente aqueles vivendo em África. 

Por outro lado temos também que imputar responsabilidade aos movimentos de libertação pois para bem do povo estes deviam ter insistido numa outra descolonização. Era o interesse e o bem estar do seu povo que beneficiaria de uma descolonização ordenada preservando a economia, e infraestruturas do governo como a educação e a saúde pública. Não foi isto que os movimentos exigiram de Portugal o que queriam era que saíssemos o mais rápido possível para que pudessem discutir entre eles quem reinaria, e foi isso que fizemos em detrimento do povo africano (branco, preto e mestiço) 

A minha visão deste assunto e de outros tem evoluído através dos tempos com a minha própria maturação e um entendimento mais global do mundo, vejo hoje as coisas de maneira diferente, as coisas já não aparecem a preto e branco mas sim em diferentes tons incluindo todas as cores do arco íris.  Também descobri através de muitos anos de ponderação e experiência que a culpa em coisas deste géreno não vem só de um lado e que,  para se resolver os probemas sérios, temos que escutar, analisar, reflectir,  pedir desculpa e desculpar. Um dos grandes exemplos, e filho de Africa é o Nelson Mandela que conseguiu pacificar o seu povo. Devia haver um Nelson Mandela para cada país do mundo, principalmente em África. 

Não te quero cansar mais pois esta história já está muito comprida. Quero novamente agradecer as tuas palavras e também os teus textos que acho maravilhosos. 

Obrigado
 Jose Goncalves
 Alf Mil Op Esp


______________


Nota de L.G.:


(*) Vd. comentário ao poste de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7253: (Ex)citações (108): Transferência de soberania com dignidade ou rendição sem honra nem glória ? Quando se olha para trás, é que se enxerga tudo... (José Gonçalves)


(...) Caro José Gonçalves,

Tenho lido com muito interesse os seus depoimentos ou pontos de vista que me parecem sinceros e muito realistas, certamente, fruto de uma longa reflexão e maturidade.


Sobre o poste de hoje, a minha modesta apreciação feita mais acima continua válida, no entanto queria chamar a atenção sobre um aspecto que, na minha opinião, podia e devia ser considerado,  e não foi,  que é a opinião desses soldados nativos e das milícias que, como é sabido, não viam a questão com os mesmos olhos nem tinham as mesmas motivações. E a parte da população Guineense que se arriscou ao lado de Portugal e que era considerada pela outra parte como sendo os cães dos colonialistas mereciam ser abandonados a sua sorte? Exceptuando a pequena Bélgica, nenhuma outra potência colonial o fez.  



Um dia vou contar a história de um pequeno grupo de milícias fulas destemidos que, quase sem armas, atacou a localidade de Cuntima, no norte, e as drásticas consequências que daí resultaram para a comunidade local. Houve muitos que não se deixaram enganar pelas falsas promessas de um falso acordo que, de facto, foi uma verdadeira capitulação. Esta história faz lembrar os acordos de rendição ou capitulação da Alemanha na 1ª guerra.

Cherno Baldé (...)



 (**) Último poste desta série > 12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

19 comentários:

Luís Graça disse...

Sobre a figura do "colonato" criada pelo Estado Novo:

"Os colonatos mais paradigmáticos são criados nos anos 1950. Em Angola, o Colonato da Cela e o Colonato do Cunene; em Moçambique, o Colonato do Limpopo. O da Cela é logo no início dos anos 1950 e depois, os outros dois são inaugurados em 1954, por aí. Mas aí é um modelo imposto pelo Estado, associado ao regadio, tanto no caso do Limpopo, como no Cunene, associado a barragens, e depois todo o sistema de regadio.

"É um modelo imposto pelo Estado, as pessoas são recrutadas pelo Estado e enviadas para ali, geralmente em famílias, famílias numerosas, e aquilo que é imposto é que as pessoas devem cultivar a terra pelos seus próprios braços ou recorrendo à força de trabalho da unidade familiar, sem contratação de mão-de-obra local. Era um pouco "exportar" ou recriar em África as aldeias portuguesas, o modelo metropolitano da freguesia rural.

"Geralmente nesses colonatos, inicialmente e por opção, não havia abastecimento de água, nem rede eléctrica. As mulheres tinham de ir à fonte buscar água, o trabalho agrícola era feito com recurso a bois, uma visão muito tradicionalista e de um romantismo rural de manter as pessoas numa pobreza... Quer dizer, numa auto-subsistência que não permitia grandes voos.

"E é interessante constatar que enquanto o Estado Novo não queria e tinha pavor da ideia dos brancos pobres nas cidades, foi o próprio Estado que criou estes colonatos em que o horizonte das pessoas também era assim uma pobreza, uma mediania... Nos campos as pessoas podiam ter aquela vida pobre, nas cidades havia o pavor dos brancos pobres". (...)

Excerto de um entrevista com Cláudia Castelo, doutorada em Ciências Sociais pelo ICS. A sua tese de doutoramento, sobre o colonialismo de povoamento, foi publicada em livro (Passagens para África. O Povoamento de Angola e Moçambique com Naturais da Metrópole, Porto, Afrontamento, 2007).

Observatório da Emigração, 30/6/2010

http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/1878.html

Luís Graça disse...

Já agora mais dois excertos da interessante entrevista da Doutora Cláudia Castelo, dada ao Observatório da Emigração (em 30/6/2010):

(...) OEm - Tenho mais uma ou duas questões. Uma, que não sei se conseguiu apurar, é se as pessoas iam mais sozinhas e depois faziam reunificação familiar, ou se iam logo em família...

R - Sim, a partir dos anos 1940 é uma migração sobretudo de famílias. Uma coisa que é muito valorizada por parte do Estado é as pessoas irem em família, e também para não haver o perigo da cafrealização, dos homens irem sozinhos e acabarem por se juntar a africanas, havia também esse terror. Havia este terror e havia o discurso que exaltava à capacidade de os portugueses se miscigenarem. Isto é, por vezes, contraditório e vai evoluindo ao longo do tempo, mas quando já estamos na grande exaltação da criação das sociedades multirraciais em África, já não encontramos tanto o discurso que foi o estigma negativo dos mestiços. Mas, de qualquer maneira, ainda coexistem os dois discursos. Então, as pessoas iam sobretudo em família, muito cedo se tornou uma migração em família.

OEm - A outra questão tem a ver com o conceito de colono. Foi sempre utilizada essa designação ou houve alguma mudança para a designação de migrante? A designação consta de documentos oficiais?

R - O conceito de colono nas estatísticas reporta-se às pessoas que iam para Angola e para Moçambique...

OEm - Ah, está mesmo presente nas estatísticas!

R - Está. Designa as pessoas que iam com passagem paga pelo Ministério do Ultramar - ou das Colónias inicialmente, em 1951 passou a chamar-se Ultramar - para se fixarem em Angola e em Moçambique, independentemente de irem para zonas rurais ou para zonas urbanas e mesmo aqueles que não iam para nenhum colonato dirigido pelo Estado. É claro que as pessoas, a si próprias, não se viam como colonas. Pelo menos aquilo que eu constato através de conversas informais, e até vendo outro tipo de fontes, é que ninguém diz "eu fui colono em Angola ou em Moçambique".

As pessoas não se revêem muito nessa terminologia, ou então associam o colono àquele que ia para os colonatos oficiais. No meu trabalho utilizo a designação colonos para todas as pessoas que se iam fixar em Angola e em Moçambique, independentemente do que iam fazer no destino. Na documentação aparece, às vezes, o conceito de povoador, mas migrante é raro.

A designação "colono" era uma designação aceite e utilizada pelo Estado, acho que vem do latim e significa colonizar a terra, trabalhar a terra. E, então, como a maior parte dos colonos em Angola e em Moçambique até viveu em meios urbanos, penso que também será por isso que as pessoas não se reviam muito nesse conceito. (...)


http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/1878.html

Reproduzido, com a devida vénia. Claúdia Castelo é actualmente investigadora auxiliar no IICT -Instituto de Investigação Científica Tropical (herdeiro da antiga Junta de Investigações do Ultramar).

Anónimo disse...

DO CUNENE A GADAMAEL

Caro José Gonçalves

Bem visto e analisado o teu problema que viveste e sentistes.

O cherno Baldé tem outra visão.

Hoje aqui onde estamos a viver, não estamos brancos, negros, amalelos, mestiços etc. etc.?

O mundo não está Globalizado?

As condições eram outras? Verdade!

Mas a verdade deveria ser toda contada!

Há ainda muita coisa escondida.

No Alentejo os bois são chamados pelos nomes.
Por isso aqui afirmo que o problema foi Político e aqui eu deverei absterme de falar de Política.
Mas já falei do Gibi Baldé,cujo filho jogou futabol no Alverca. Alfa nan Cabo e da Maria "Balanta".

Também escrevi e senti.

Mas hoje há escritos de uma realidade atroz.

Caro José Gonçalves, lê "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola" e outros muitos testemunhos que só agora soubemos e nos envergonham.

Não! Não foi exemplar! O ABANDONO que fizemos.

São feridas que levam gerações a passar.

Raro é hoje o Ex-Soldado que por lá passou, que, não ama a Guiné.

Por isso estamos neste Blogue.

Eu confesso! Mudei muito ao saber as verdades que me esconderam e ainda tentam esconder.

Na Torre do Tombo (local próprio) não se encontra completo o expólio escrito, que faz a História do Nosso País.

Só uma explicação! O serviço militar em Portugal era obrigatório!

Quem o cumprio?

Pode parecer par alguns mal a minha posição.Respeito!

Mas a dor e a verdade que hoje tenho, só Deus ma pode tirar já que Nele acredito. Tenho muitas dúvidas sobre os homens.

Para toda a Tabanca o abraço e a saudade daquela terra.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Camaradas,
Apreciei este texto do José Gonçalves, porque, por um lado mostra a construção ideológica do regime, que enunciava que "brancos, prêtos e mulatos podiam viver em harmonia debaixo da mesma bandeira", mas a realidade ainda era um bocado diferente.
Dei-me conta, nos anos setenta, em Angola, que já havia uma progressão social acentuada entre os individuos de raça prêta, por força do desenvolvimento económico-social. Encontrava-os nas mais diferentes actividades, a par de brancos e mulatos, e evidenciando a mesma competência. Apesar disso...
Bem, eu sei que a evolução das sociedades não acontece por força de um qualquer interruptor. A evolução é lenta e, por vezes, não contempla critérios de justiça. Por outro lado, a dispersão em Angola era acentuada, pelo que os mais marginais dos residentes, seriam os últimos a ter oportunidades (o Cunene era longe, não era?).
Também concordo com as diferenças que ele achou, mas não identificou, entre a Guiné e Angola. Eram abissais: em Angola sentia-se o pulsar económico, expandia-se a administração pública, os serviços de saúde, os equipamentos escolares e, sobretudo nestes, notava-se como os jovens não faziam questão da côr da pele. Os jovens, porque em relação aos pais a coisa ia levar algum tempo. A par disso, acontecia uma verdadeira revolução em infra-estruturas. Portos, estradas, aeródromos, pontes, barragens, enfim, o necessário para a grande expansão que os números confirmam. Durante quinze anos, o crescimento económico rondou os oito por cento, e houve anos com melhor índice.
E não se pense que o negócio era totalmente honesto, porque estes números sofrem de vícios vários, conforme os relatórios do Banco de Angola deixam adivinhar (a questão dos mercados internacionais de matérias-primas).
Mas o que mais senti deste texto, foi a pressão sobre o sentir africano, que resultou das palavras daquele sargento. Havia pessoas de todas as formações, e o sargento, provavelmente, mais não faria do que tentar agradar à audiência branca, com o despudor dos fracos e traiçoeiros.
Sempre houve quem não olhasse a meios.
Abraços
JD

Anónimo disse...

O colonato da Matala do José Gonçalves era provavelmente aquele que Luis Graça leu que é o do Cunene.

Era uma zona bastante desertica irrigada por uma enorme vala de rega servida por uma enorme barragem no rio Cunene.

Foi um aproveitamento agropecuário numa área muito despovoada devido à falta de água e que com a barragaem se criou uma zona muito importante em que já passava o comboio.

À parte a política do Estado Novo, o aproveitamento que se fez naquele deserto é uma riqueza mais valiosa que minas de diamantes ou poços de petróleo.

Mas como a agricultura é a arte de enriquecer alegremente, em Portugal, tambem o pai de José Gonçalves largou aquilo como fizeram muitos.

Mas a obra ficou.

José Gonçalves, penso que era junto de Vila Folgares, Freixiel, etc? será?

Antº Rosinha

Torcato Mendonca disse...

José Gonçalves Luís Graça José Dinis

É pena certos escritos e comentários não estarem seguidos.
Teríamos uma visão mais fácil de certos temas e, para quem assim entendesse faria a relação: - colonização, descolonização.
A pluralidade que, aqui no blogue, temos sobre esta temática. Relacionada com as Colónias ou o Ultramar, o tal Portugal multirracial, a justiça da palmatória, a humilhação de Povos feita,quantas vezes, por gentes tão ou mais humilhadas e ofendidas que eles.

Converso com um velho homem que viveu em Angola muitos anos, outro em Moçambique. Têm visões diferentes entre eles e ambos contrárias ao que eu penso, mais um do que o outro. Um é racista. Falo com um familiar que vive há muito em Angola.
Saiu numa revista semanal o viver em certo País...leiam e tirem ilações.

Tudo e só para dizer que esta temática e outras, estão interligadas e davam, com o que está publicado um excelente trabalho.

Nada mais digo.Não quero ser interpretado de forma contrária ao que penso ou ao que pretendi dizer, no seguimento do anterior e no que vocês ora escreveram

AB T

Anónimo disse...

Caros camaradas:
Nasci em 1950 e não acho nada estranho que nesses colonatos criados na década de 50, as pequenas unidades agrícolas unifamiliares não dispusessem de tractores, de água de rede pública ou mesmo de energia eléctrica. De facto, o contrário é que seria estranho pois cá, no rectângulo ibérico, era assim mesmo que se vivia e "agricultava", exceptuando os grandes centros. A propósito, a energia eléctrica chegou à minha aldeia de Medas-Gondomar, em 1947 mas chegou a outras localidades nos anos sessenta e setenta.Tractores só no fim da década de sessenta...água da rede pública só em 1985.Era (é) Portugal.

Anónimo disse...

Nesta dicotomia dos bons e maus(colonizadores versus colonizados--brancos--negros)tem muito que se lhe diga.Comecemos por exemplo pelo comércio de escravos,poucos historiadores dizem que quem capturava os futuros escravos eram os próprios negros que depois vendiam aos brancos.Um olhar sobre quase todos os países africanos mesmo aqueles que conquistaram a independência sem luta armada e o que vemos (elites politico-económicas com comportamentos e acções para com as respectivas populações, que nunca os antigos colonizadores ousaram ter).Bons e maus há em todo lado é tão só uma condição do ser humano.
um "gadamaelista"
c.martins

Unknown disse...

José Gonçalves, peço-te que aceites a minha sincera admiração por este teu texto.
‘Invejo-te’ essa linearidade de exposição.
Embora apesar de só ter ido à Guiné, mentalmente revivi vários aspectos por ti expostos, por ter familiares colonos, mas reactivos com laivos de racismo, outros acérrimos defensores do Estado Novo, e ainda outros (felizmente meus mais próximos) de origem trabalhadora com um homem que tinha na sua génese a revolta em defesa dos humildes. Marinheiro.
E portanto tive de alguma forma conhecimento de estórias africanistas e/ou situacionistas descritas por elementos familiares, cujas credenciais, me eram sobejamente conhecidas. Sendo de considerar que o ‘encanto’ familiar desses elementos, começa a cair por terra quando começo a relacionar-me com a JOC juventude operária católica. Talvez pelos 14-15 anos de idade (1964/65). O resto da estória já não cabe aqui...

De facto a juventude (a maior parte; apreciação minha) mesmo não morrendo de amores pelos dirigentes do país contudo não se negando a “servir a pátria” face a um inimigo, criado pelos mesmos dirigentes durante séculos, só lá em África é que brotava a sua consciência e compreendiam o logro em que tinham caído.
Pela afectividade dos povos africanos que apesar de explorados e sujeitos estrategicamente ao subdesenvolvimento, não negavam o melhor acolhimento apesar de nos saberem ocupantes... Quer o subdesenvolvimento que presenciavam na esmagadora maioria das áreas dos territórios.

Permite-me, complementar ou argumentar, conforme queiras o seguinte ao teu parágrafo “ Por outro lado temos também que imputar responsabilidade aos movimentos de libertação pois para bem do povo estes deviam ter insistido numa outra descolonização “, e de uma forma simples e clara:
De facto devem também ser imputadas responsabilidades aos Mov. Libertação sobre a descolonização, sem dúvida. Mas há um factor muito importante a considerar, que influenciou (ou já estava previsto pelos BloKos), é que os Dirigentes históricos dos mesmos já tinham sido assassinados ou já falecidos. Acredito que eles tinham em consciência a importância que Portugal (ou os portugueses) tinham para os seus próprios povos.
Por outro lado, lá como cá organismos secretos internacionais ‘trabalharam’ intensivamente. Se cá tivemos o romance de M. Soares com Carlucci, imagina lá em África, além dos funcionários deste último, mais os amigos do anterior Savimbe, mais ainda os do Leste, temos que admitir que era muita confusão para dirigentes saídos de uma guerra de guerrilhas e que lá como cá, não contavam (embora Spinola tivesse levantado a ponta do capacho) com o grito do piranga, que foi o 25 de Abril, traduzido por um golpe militar para acabar e tão só com a guerra colonial. E que o povo português apadrinhou para outras conquistas que não estavam previstas pelo mesmo golpe. Outros considerandos não caberão aqui possivelmente.

Caro amigo escreve mais em meu lugar porque sou um pouco azedo para o fazer em Post.

Um abraço para todos e para cada um
Carlos Filipe
Ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro

Cherno Baldé disse...

Caro José Gonçalves,

Muito obrigado pelos esclarecimentos. Na verdade, nem sempre as coisas são como nós pensamos ou gostariamos que fossem, e vejo que no meio disso tudo também há Portugueses brancos ainda com mais razões para se queixar. Nada posso acrescentar, só me resta deixar-te estas serenas e sábias palavras da escritora Africana-caribenha Maryse Conde.

Um grande abraço,

Cherno Baldé

Nota: Também do lado do PAIGC, quando atacavam uma tabanca com tropas metropolitanas, diziam: "Mata preto panha Brancu" ou seja, matem os pretos e apanhem os brancos.


1. « Il y a un temps pour tout; il y a sous le ciel un moment pour chaque chose. Il y a un temps pour naître et pour mourir ; un temps pour planter et un temps pour arracher ce qui a été planté, un temps pour tuer et un temps pour guérir ; un temps pour gémir et un temps pour sauter de joie. Il y a un temps pour jeter des pierres et un temps pour les ramasser.» (Page 25)

2. «…pas un coin sous le soleil qui ne porte son lot de désillusions. Pas une aventure qui ne se solde par l´amertume. Pas un combat qui ne se conclue par l´échec. » (Page 48)

«Les problèmes de la vie, c´est comme les arbres. On voit le tronc, on voit les branches et les feuilles. Mais on ne voit pas les racines, cachées dans le fin fond de la terre. »

Maryse Condé
In Ségou – La terre en miettes
Éditions Robert Laffont,
S.A., Paris, 1985

Joaquim Mexia Alves disse...

Ainda recentemente, falando com um angolano, (que vive em Angola), sem "cor" politica, ele me dizia da sua admiração, (no mau sentido), sobre a descolonização de Angola.

Dizia, (e eu confirmo pois nesse tempo vivia em Angola), que por exemplo o MPLA estava já completamente fora de todo o processo de luta na altura do 25 de Abril, e no entanto foi quem ficou com o pder em Angola.

Ou seja, dizemos muitas vezes que não podiamos fazer mais nada, que era impossivel inverter ou dominar as situações para levar a uma descolonização pensada e organizada, mas no entanto em Angola houve tempo e "arte" para se pegar num Movimento quase "acabado", e fornecer-lhe armamento e poder.

E nesse Movimento o seu lider histórico ainda era vivo, sabemo-lo bem.

Aquilo que não foi "possível fazer" noutros paises, foi pelos vistos possivel fazer em Angola porque era esse o interesse das forças no poder.

Um abraço para todos

Luís Graça disse...

Quem eram os portugueses que iam para as colónias, pergunta o "Observatório da Emigração" à investigadora Cláudia Castela, cuja tese de doutoramento, sobre o colonialismo de povoamento, foi publicada em livro ("Passagens para África. O Povoamento de Angola e Moçambique com Naturais da Metrópole", Porto, Afrontamento, 2007).

... Eis um excerto da resposta:

Aquilo que me apercebi é que a migração para Angola e Moçambique teve um boom relativamente tardio, acontece sobretudo já depois da 2ª Guerra Mundial e com especial incidência nos anos 1950 e 1960, embora o início das guerras coloniais - primeiro em Angola em 1961, na Guiné em 1963 e em Moçambique em 1964 - faça com que posteriormente comece a haver um abrandamento desse fluxo migratório; e isso é mais notório, se não estou em erro, para Moçambique.

Por isso, os contingentes não são muito elevados, se compararmos o movimento migratório destas colónias com o movimento migratório com o Brasil e, depois, com a França ou outros países europeus.

Eu digo migração [sem "e"] porque, na época, como estávamos a falar de um mesmo espaço imperial, não era considerado um movimento para fora do território nacional - embora geograficamente fosse disperso. E é por uma certa consistência e rigor histórico tendo em conta o contexto da época, não tem, por isso, nenhuma carga ideológica associada. De entre a emigração portuguesa são, de facto, destinos menos apetecíveis, embora nos anos 1950 e nos anos 1960 haja um pico nos movimentos. (...)

Uma coisa que é curiosa é que qualquer português que quisesse emigrar para Angola ou para Moçambique deixou de precisar de passaporte para esses destinos a partir de 1907. Isso faz com que a ida de portugueses para Angola ou para Moçambique com o intuito de se fixarem de forma permanente, não conste das estatísticas. Isto é muito aborrecido, do ponto de vista de quem quer estudar estes movimentos migratórios, porque não há números já determinados para podermos chegar à estatística e retirar que em 1908 foram não sei quantas pessoas, em 1909 outras tantas...

Aquilo que se faz é tentar ver, no movimento de passageiros - primeiro só através de barco, depois através de transporte aéreo - a diferença entre quantas pessoas foram e quantas pessoas voltaram, para termos um número aproximado daqueles que, supostamente, iam para fixar residência. Mas isto também é muito frágil, porque umas pessoas iriam de férias, outras iriam em negócios e mais do que uma vez ao ano; portanto, são números aproximados. Por isso, aquilo que eu apresento é o número de pessoas que entraram em Angola e o número de pessoas que saíram de Angola, ou de Moçambique - há também dados nas estatísticas para o conjunto das colónias, ou para o conjunto do Ultramar, mas são dados aproximados - e depois, o saldo será o que vamos seguir como, hipoteticamente, o número das pessoas que se fixaram. E nós temos, por exemplo em 1943, 1.147 pessoas que, supostamente, se terão fixado no conjunto do Ultramar. O ano em que este número é mais significativo é em 1960: 14.896 pessoas.

Por isso, estamos a falar de números muito inferiores aos números que temos para o Brasil ou para os países da Europa. (...)

(Continua)


http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/1878.html

Luís Graça disse...

[Quem eram os portugueses da Metrópole que iam para Angola e Moçambique ? Continuação da resposta de Cláudia Castela:]


(...) Em termos escolares, quem eram estas pessoas? Aquilo que nos apercebemos é que, em média, as pessoas que emigravam para Angola e Moçambique eram mais escolarizadas que a média dos portugueses. Era um conjunto de pessoas muito diversificado em termos escolares, pois estavam representados analfabetos, pessoas que só sabiam ler, pessoas que já tinham o ensino secundário ou liceal e também pessoas com o ensino superior.

Mas apesar desta representação heterogénea, em média eram mais qualificados que a média dos portugueses. E eram mais qualificados que os emigrantes no conjunto para os outros destinos. Em termos de ocupações profissionais na origem, eram sobretudo pessoas ligadas ao sector terciário, embora quando este movimento atinge o seu pico - entre os anos 1950 e 1960 - estejam mais representadas pessoas do sector primário.

Depois, no destino, as pessoas iam sobretudo dedicar-se ao comércio, à administração pública, aos serviços. Embora o Estado Novo tenha constituído, tanto em Angola como em Moçambique, colonatos e núcleos de povoamento rural, as pessoas mobilizadas para esses núcleos eram uma ínfima parte, uma minoria; as pessoas concentram-se sobretudo nas cidades.

Em Angola concentram-se sobretudo em Luanda, Nova Lisboa, Lobito, Benguela, Sá da Bandeira... E em Moçambique isso é ainda mais notório porque a concentração é sobretudo em duas cidades: Lourenço Marques e Beira. (...)

[E quanto à origem geográfica...]


Aquilo que eu reparei é que a maioria dos colonos para Angola, como para Moçambique, era de Lisboa. As outras origens ou naturalidades que aparecem mais representadas são Porto e região Norte, salvo erro. Foram também pessoas da Madeira e dos Açores e, tendo em conta as populações na origem, se calhar essas migrações foram muito numerosas mas, em termos gerais, podemos ver que os maiores contingentes vinham de Lisboa.

Temos aqui sempre Lisboa e o Porto, Viseu também é muito representativo, Bragança e Aveiro... Isto vai oscilando, mas aqui é para Moçambique, salvo erro, e Lisboa está sempre à frente. Depois o Porto...

(...) Em Angola, estão mais equiparados Lisboa e Porto, mas isto depois também é por fases. Há bocado, o que eu estava a querer dizer é que em números absolutos a maioria dos migrantes era natural de Lisboa; depois Porto, Viseu, Guarda, Aveiro, Bragança, Vila Real.

As regiões que menos contribuíram foram Alentejo, Setúbal, mas também algumas do Norte, como Viana do Castelo e Braga, também Faro. Mas se levarmos em conta a proporção dos migrantes na sua região de origem, constatava-se que o Norte e o Centro interior eram zonas de onde mais se partia para África, destacando-se em termos relativos o distrito de Bragança, depois a Guarda, depois Vila Real e Viseu. (...)

http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/1878.html

Luís Graça disse...

[Sobre o fluxo migratório par Anola e Moçambique... Resposta de Cláudia Castelo:]


(...) E há a tendência [, no período de 1950-60,] para se acentuar este povoamento eminentemente urbano. Na semana passada, numa conferência ali no ISCTE, esteve cá um historiador francês, René Pélissier, que em 1973 conseguiu autorização para ir visitar os postos militares portugueses na fronteira Leste de Angola e, de facto, naquelas zonas não havia praticamente colono nenhum, eram zonas muito pouco povoadas de portugueses idos daqui.

O que houve muito nos anos 1960, consequência da Guerra Colonial, foi um desenvolvimento das cidades e das infra-estruturas de todo o género, sobretudo das comunicações, das estradas e dos portos, para potenciar esse desenvolvimento urbano.

Por isso, aquela ideia do português no interior, no sertão, com uma fazenda de proporções pequenas ou médias, associada a um pequeno comércio de permuta com as populações autóctones daquela região, é claro que existia em Angola e em Moçambique, mas envolvia um número muito menor de portugueses.

E eu também dou números por aqui [edição da tese] que mostram bem essa concentração urbana. Por todo o território de Moçambique a actividade comercial estava muito nas mãos de comerciantes indianos. E uma coisa que eu não disse, ainda há uma diferença relativamente a Angola: vão mais pessoas trabalhar na Administração Pública e esta estava concentrada na capital da colónia, no caso em Lourenço Marques, e as pessoas são ligeiramente mais qualificadas do que aquelas que vão para Angola.

É uma diferença que não é muito notória, embora quando falamos com pessoas que vieram de Angola ou de Moçambique, elas costumam enfatizar que para Moçambique seria uma emigração ainda mais qualificada, ainda que os números não mostrem que a diferença fosse assim tão acentuada. (...)

Vd. sítio do Observatório da Emigração

Testemunhos > 2010-06-30 >
Em média, as pessoas que emigravam para Angola e Moçambique eram mais escolarizadas que a média dos portugueses [entrevista a Cláudia Castelo]

http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/1878.html

Unknown disse...

Caros Amigos,
Contendo em si mesmo, o texto de José Gonçalves tanta e variada matéria a ter em consideração e merecedora de desenvolvimento, depois o coments de Luis Graça, que suporta o anterior na área sociologica (apoiado em estudo académico) e a acrescentar com o conteuodo da participação de JD.

Creio ser um pouco redutor a concentração da atenção sobre "gritos de guerra" que a inteligentia militar define como "gritos de acção psicológica em combate".
Que aliás, diga-se de passagem, também daria um curioso tema para troca de impressões.

Ao amigo, Mexia Alves, está a falhar-lhe quarquer coisa, talvez o 'diz que disse', ou a ser traído pelas 'imagens' que tem da época em que esteve em Angola, não tendo tido (mais que provável) temporal e localmente a possibilidade ou condições, para apreender o que se passou no estadio imediatamente anterior e durante a independência.
Sendo verdade (no meu entender) que no respeitante a Angola há muita, mas mesmo muita coisa a esclarecer e a desvendar onde alguns portugueses, foram e continuam sendo, activos protagonistas, talvez já não os mesmos na totalidade, mas seus seguidores.
Sendo certo que (recuando um pouco) em muitos países do mundo, quando um movimento de independentista, avançava na luta e/ou começava a 'ganhar pontos' o (neo)colonialismo local ou internacional, tinha o cuidado de criar um segundo peseudo m.libertação, geralmente liderados por "assimilados" ou absolutamente convertidos às autoridades nacionais.

Com um abraço para todos
Carlos Filipe

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Filipe, camarigo

Não me enganam quaisquer imagens, fossem elas quais fossem porque só saí de Angola uma semana antes da indepedência, mais coisa menos coisa.

Assim todo aquele período o vivi ali e como tal sei do que falo, com mais ou menos acuidade, obviamente.


A minha condição de ex-militar recente, (tinha acabado de sair da Guiné e fui para Angola), levava-me a ter contacto permanente com os nosso militares no terreno e posso afirmar, pelo que me era dado conhecer e constatar que o MPLA operacionalmente estava praticamente acabado.

Referes-te com certeza à UNITA, mas a verdade é que "filho" se revoltou e era nessa altura o Movimento que mais trabalho dava às nossas tropas, que mesmo assim era pouco.

Isto é aliás do conhecimento geral, e todos os que ali estavamos, sabemos que foram algumas forças portuguesas que rearmaram o MPLA, sobretudo nas grandes cidades.

O que devia ter sido feito era exactamente o contrário, ou seja o desarmamento de todos, mas em vez disso deixaram-se entrar em Luanda três movimentos armados até aos dentes e o resultado foi o que foi.

Vivi tudo isso e tive até de resgatar de suas casas alguns e algumas amigas, cercados que estavam pelos movimentos em luta.

Houve tempo para isso, só que esse tempo não foi aproveitado para fazer mais e melhor!

Um abraço camarigo para todos

JC Abreu dos Santos disse...

Castanheira de Pera, foi um aldeamento estabelecido no distrito da Huíla em 1956 (cf Port.9526 publicada no BO.47), concretamente no (antigo) concelho do Alto Cunene – o qual integrava os postos administrativos do Quipungo, Capelongo e Mulondo –, a partir de 18Jan1964 designado Concelho do Quipungo (cf Port.13089 BO.25), e nada tem a ver com o distrito do Cunene.
A sede concelhia do Quipungo, estava em Vila Paiva Couceiro (estação do CFM a 135km de Sá da Bandeira). Em 1901 havia sido criado o posto militar do Quipungo e que em 1920 passou a posto civil, integrado nos 14 anos seguintes na circunscrição da Chibia [Vila João de Almeida], a qual desde 1890 pertencia ao concelho (depois distrito) da Huíla.
A cerca de 50km leste de Paiva Couceiro, tinham sido pouco antes estabelecidos (Port.9155 de 14Fev55) o aldeamento da Matala (cuja "Barragem Salazar" nada tinha a ver com a "Barragem do Calueque" construída muitos anos depois no Rio Cunene, integrada no "Plano Cunene" iniciado em Agosto de 1969), e a sul daquele os aldeamentos de Algés-a-Nova (± 70km de Paiva Couceiro) e do Freixiel, os quais – incluindo o citado aldeamento de Castanheira de Pera –, em 31Dez65 eram já prósperas povoações comerciais que, juntamente com o posto administrativo de Folgares, passaram a integrar o novo concelho do Capelongo.
Concluindo: em Janeiro de 1961, quando a família Gonçalves chegou ao aldeamento de Castanheira de Pera, implantado numa região central do distrito da Huíla, o local não era desértico nem desabitado, além do que em redor já existiam outros aldeamentos, onde viviam e trabalhavam muitas outras pessoas nas mesmas circunstâncias, que ali permaneceram, prosperaram e a grande maioria foi forçada a abandonar em meados de 1975.

Anónimo disse...

Um esclarecimento

Castanheira de Pêra aquando da nossa chegada em 1961 já tinha luz eléctrica água e saneamento. Quando chegamos à casa designada a ser nossa ainda estava em construção e foi-nos dado uma casa temporária na qual vivemos cerca de 3 meses até que a nossa estivesse pronta. Do que me lembro, a casa onde morávamos era uma casa boa com cozinha, dispensa, sala e 2 quartos e também havia um quintal com armazém e curral para os bois.

O casal (o que chamavam à fazenda) ficava a cerca de 3 Km à beira do rio Cunene.

Como o Abreu dos Santos refere ouve muitos que por lá ficaram até ao 25 de Abril mas poucos os que triunfaram na vida.

Muito mais posso dizer sobre este assunto apesar de ter sido uma criança quando lá estive, mas foi um assunto que me interessou e tenho feito várias pesquisas sobre o assunto e ouvido muitas histórias do meu pai.

O Colonato foi formulado com a idéia de produzir principalmente tabaco, trigo e milho cuja comercialização era totalmente controlada pelo governo, assim como os preços dos mesmos. O tomate e derivados do tomate apareceu mais tarde.

Os colonos estavam totalmente à mercê dos preços que o governo lhes queria pagar pelo produto o que muitas vezes nâo era suficiente para comprar os alimentos necessários para a família.

Vários estudos feitos sobre estes colonatos mostram claramente a ineficácia dos mesmos devido principalmmente às premissas erradas da sua estruturas e de objectivos falsos.

Para os interessados aqui está um link com alguns factos e explicações em inglês

http://books.google.ca/books?id=G8j5ja5mOFEC&pg=PA124&lpg=PA124&dq=colonato+do+cunene&source=bl&ots=WqJN1tHT1Y&sig=CvdkPJ9f-7UG8VngQR_XyuDNRnw&hl=en&ei=h6PkTJq9MJGwngfSzKn4BQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CCwQ6AEwBA#v=onepage&q=colonato%20do%20cunene&f=false

Anónimo disse...

... um romance autêntico, de galinhas cacarejando os seus ódios e amores!
Galos ufanos em esclarecer os seus infortúnios, porque a culpa "foi da politica"... não foi da politica, "foi do racismo"... não foi do racismo, "foi das etnias"... não foi das etnias.
Querem todos demonstrar, hoje, como são bons corações. Então por que o não fizeram? Por que deixaram fazê-lo? Por quê abandonar terra nossa? E os nossos amigos?
Tantas palavras, sem "nada"....

Rui Gonçalves dos Santos (ex-alferes miliciano, veterano da guerra na Guiné)